Ato Analítico
Estamos na dimensão do que foi nomeado posteriormente como acting out. O acting out aponta, sob a forma de um agir, para uma falha de simbolização na história do sujeito. Entretanto, na medida em que é relatado ao analista, tem como objetivo uma decifração, uma leitura do texto inconsciente no ponto onde necessita de um reconhecimento simbólico através da palavra. Não se trata de incompetência do analista, mas de um apelo à sua escuta. Às vezes, o analista se equivoca quanto ao que lhe está sendo demandado.
Consagro ao ato analítico o instrumento através do qual, algo radicalmente novo pode ser constituído. Passar ao ato analítico, não tem nada a ver com os sacrifícios corporais ou com algumas práticas suicidas que assistimos hoje. Não é explodir junto com uma bomba, mas significa justamente se livrar dela. Quem passa de analisando para analista, o faz atravessado por um saber que permite não se ficar paralisado ou desesperado diante do inexorável do que o sujeito é como objeto para o Outro.
O Ato em Freud: Para Freud o sujeito não é dono de sua vontade. A ação não implica no exercício, pelo sujeito, de sua vontade. O ATO para Freud é pura interpretação e as interpretações têm um peso muito grande. Isso porque a concepção freudiana de sujeito não se identifica com a noção de pessoa, e o sujeito se funda no inconsciente. E se o sujeito não se identifica com a instância do ego (pessoa), mas se funda no inconsciente, a vontade não se impõe e não se coloca para a teorização da psicanálise. O sujeito se constrói à medida que se interpreta.
O ato em Lacan: Para Lacan o ATO é um processo analítico que tem o corte como algo a ser realizado pela figura do analista. A tematização do conceito de ATO se realiza no percurso final de Lacan quando este se indagava sobre o registro do Real nas suas articulações com os registros do Simbólico e do Imaginário. O ATO é, então, um procedimento metodológico da figura do analista, em que este também se insere no processo analítico como objeto "a", o objeto causa do desejo e não apenas como objeto do desejo. Para Lacan a figura do analista além de ocupar a posição de interprete estabelecida por Freud, ocupa, também, a posição de objeto causa do desejo.
O ATO é para levar o sujeito a possibilidade de se recriar, levar a possibilidade de produção tendo contato com a falta.
Bibliografia
Freud, Sigmund. Recordar, repetir e elaborar. Obras Completas, vol.VII. Ed. Imago,
1969.
Lacan, Jacques. A direção da cura e os princípios de seu poder. In: Escritos. Ed. Zahar,1998.
Autor: Ludmilla Furtado Da Silva
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