Infeliz do povo que precisa de heróis



No percurso da humanidade, nomes ficaram escritos na história através de atos de heroísmo. Certamente que se é louvável o reconhecimento daqueles que surgem como salvação para alguém que necessite. No entanto, até que ponto o heroísmo se faz louvável, tendo em vista que seu ato, em entrelinhas, representa uma certa dependência do mais" fraco" pelo mais "forte"?
Para se criticar o heroísmo é preciso entender antes o porquê de uma sociedade que se diz tão evoluída ainda necessitar desse perpétuo socorro. Não é necessário ir muito fundo na história para notar que o heroísmo surge como resposta à carência de um povo. Desde que passou a se organizar em comunidades o homem adquiriu a necessidade de sentir-se protegido, e como nem sempre se viu auto-suficiente desta proteção, passou a atribuir a algo ou alguém essa eminente tarefa. Das esculturas fincadas nos portões de Roma aos deuses gregos ou ainda ao moderno Super-herói, o que se percebe é a fragilidade dos grupos que formam tanto a atual como as já passadas sociedades. A carência de um povo apresenta-se como um reflexo de problemas no sue contexto, e daí surge tanto o heroísmo solidário, que parte do coletivo em busca de um objetivo, quanto o heroísmo oportunista, que se constitui de uma forma vertical onde um indivíduo age em favor da carência de alguém, com segundas intenções. É claro que os relatos da humanidade estão repletos de enredos heróicos bem-sucedidos, mas o revés também é verídico. O problema está no fato de que por vezes o herói de uns é o algoz de outros.
O perigo do heroísmo, no entanto, está também associado ao elo de dependência e determinismo que cria, e é isso que ocorre na atual sociedade, onde esta já se encontra viciada em heróis, e o reflexo disso é uma geração cada vez mais acomodada, esperando que os "heróis" as salvem e com a idéia fixa de que nem todos são capazes de fazer algo em prol do bem comum. Na verdade, esta necessidade de heróis que sempre nutriu a nação, só fez fortalecer o egoísmo e preguiça humana, onde passar a responsabilidade para o próximo torna-se cada vez mais corriqueiro. Sem dúvidas que ter heróis é bem cômodo, afinal, tira-se do coletivo a responsabilidade pelo sucesso ou fracasso de algo e se atribui apenas a uma figura. E o drama ainda torna-se pior quando esta figura decepciona ou se volta contra os interesses de grupo que representa, o que se sabe não ser tão incomum quanto aparenta.
Precisa-se investir em uma educação crítica para as emergentes gerações, só assim estas se blindarão quanto ao possível ataque de heróis oportunistas, verdadeiros abutres que esperam levar vantagens da necessidade de alguém. Só se pode obter o verdadeiro e voluntário heroísmo quando se tem ciência que o ato heróico não pode virar rotina, pois uma sociedade que precisa de heróis é uma sociedade estática, acomodada e que não evolui. Precisa-se entender que heroísmos bem-sucedidos surgem de atos coletivos.

Autor: Fernando Álisson Santos Sampaio


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