O Velho Raul E O Mais Velho Ainda, Heráclito: Raul e a Filosofia



Em 1969, após uma experiência frustrante com o lançamento de seu primeiro Lp "Raulzito e os Panteras", Raul Seixas volta desiludido para Salvador, onde retoma seus estudos e cursa Filosofia, que por sua vez já não era tão estranho à vida de raulzito, pois o referido Lp tratava de questões que envolviam o ceticismo, uma tendência filosófica, também observamos esta ligação do Raul com a filosofia quando nosso cantor cursava Direito, onde terminava as aulas quase sempre em discussões de cunho filosófico, o que levou o mesmo a abandonar este curso mais tarde.

O fato de Raul estar ligado a questões filosóficas fora demasiado reflexivo em suas obras. Observamos essa grande influência filosófica num de seus maiores sucessos: "Metamorfose Ambulante", contida em seu terceiro álbum solo "Krig-Ha Bandolo!" de 1973, que será aqui brevemente analisada.

Nela e Raul faz referência clara a um dos mais importantes filósofos pré-socráticos, que por muitos foi "o pai" da filosofia conjuntamente com Tales de Mileto, este filósofo é Heráclito de Éfeso, também conhecido como "Heráclito, o obscuro", devido a sua filosofia, um tanto quanto obscura.

Heráclito pregava a máxima do "Panta rei", ou seja, a idéia de que tudo flui, portanto, o mundo é um fluxo eterno ou mudança contínua de todas as coisas, dentre elas, os seres humanos.

Aristóteles comentando Heráclito, diz que ele "afirmava que é apenas um o que permanece; disto todo o resto é formado, modificado, transformado; que todo o resto fora deste um flui, que nada é firme, que nada se demora".

Também é clássica a metáfora por nosso filósofo produzida onde compara o caráter mutável das coisas com a entrada de uma pessoa em um rio, o mesmo afirma que jamais poderemos entrar duas vezes num mesmo rio, pois nós não seriamos os mesmo, nem o rio, pois ambos são mutáveis.

É neste ambiente que situamos a "metamorfose ambulante" de Raul, na letra da mesma, raulzito afirma o papel do indivíduo como ser mutável, retirando dele o caráter de tranqüilidade e de estabilidade, pois segundo o Heráclito o obscuro, estas características são próprias aos mortos.

Ou seja, "eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo" segundo o filósofo, significa preferir o mutável ao estático, preferir a pulsação da vida à estabilidade da morte.

Seguindo esta linha, Heráclito "também diz que os opostos são características do mesmo, como, por exemplo, 'o mel é doce e amargo' - ser e não-ser ligam-se ao mesmo", portanto tem plena razão o nosso rocker ao cantar, "eu vou desdizer agora o que disse antes", pois o ser e o não-ser formam uma unidade.

Dessa unidade se depreende a guerra dos contrários, onde uma entidade possui todas a suas características possíveis, sendo que está "guerra" decidirá quais caracteres sobressairá, assim, o quente esfria e o frio esquenta, ou seja, o quente é o frio após esquentar, e o frio é o quente após esfriar, o que significa dizer que ambos são versões distintas da mesma unidade.

O mesmo ocorre com os seres humanos, podemos ser e não-ser ao mesmo tempo, o que implica dizer que somos uma eterna metamorfose, o que põem por terras a idéia de uma "opinião formada sobre tudo", pois esta será impossível de ocorrer, por conseguinte, quem compartilha desta idéia, ou está morto, ou é um asno por desconhecer a unidade mutável das coisas.

Para encerar, podemos afirmar com certeza que após ler este texto, nossos leitores não serão o mesmo, podemos afirmar até mesmo que este texto poderá não dizer a mesma coisa que dizia há algum tempo, pois tudo flui, nada permanece o mesmo, nem mesmo as palavras...


Autor: Thiago Boy de Oliveira


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