Roubar Sorteio De Quermesse



A coisa que eu mais gosto de fazer e a que eu mais fiz em minha vida foi jogar futebol.

Eu sei que é a consagração da alienação deste país e que aquele famoso jogador francês já disse que o brasileiro joga futebol como ninguém porque não vai para a escola e fica jogando pelada na rua.

Um desses brasileiros que não foi à escola já retrucou dizendo que o menino francês não joga futebol porque tem que cuidar da mãe na zona.

Que falta de educação! Bem se vê que não foi à escola!

Confesso para vocês que é uma das coisas que mais me dá prazer, depois de fazer amor com a minha mulher, é claro (Ela acaba de sentar aqui do meu lado)! Fazer amor com ela é como um gol de bicicleta! E nos descontos! Fazendo amor com ela eu esqueço de tudo, inclusive do futebol. É como se eu estivesse no Maracanã lotado em jogo noturno, como vendedor-ambulante: só servindo aos seus caprichos!

No futebol, um dos fundamentos mais básicos e, por isso mesmo mais importantes, é o passe.

Eu sou do tempo de quem errava um passe deveria procurar outra atividade. Até porque o primeiro movimento do futebol, que é o pontapé inicial, começa com um passe lateral para o companheiro. Se o cara erra um simples passe, vai me dizer que ele vai decidir o jogo, fazendo um gol de falta nos descontos?

Mas o que eu queria mesmo dizer é que a adrenalina liberada pelo organismo na correria do jogo em si, faz com que eu fique mais irritadiço que o normal.

E xingo, brigo, reclamo, aplaudo, incentivo, grito e reclamo de novo.

Numa dessas vezes, ao sair de casa, eu decidi mudar. Passaria aquele jogo inteirinho sem falar nada, sem reclamar, sem sequer abrir a boca.

Só que no primeiro lance, o meu companheiro de equipe desarmou um zagueiro do outro time e fez um belo gol. Sendo um jogo sem juiz, a equipe adversária, tomando para si uma responsabilidade divina, decretou que havia sido falta no seu companheiro naquele desarme e que o gol não fora válido. Diante de nossa perplexidade, saiu jogando com todos os nossos jogadores imóveis, tentando entender aquela atitude e invadiu a nossa meta e fez um gol para eles, carnavalescamente comemorado.

Só para vocês entenderem: nós fizemos um gol legítimo, eles decretaram que o lance foi ilegal, que o nosso gol não valeu e cobraram à revelia de um entendimento geral um novo lance e converteram para si uma vantagem, alterando o placar de "um a zero" para nós para um "um a zero" para eles.

Eu resolvi adiar para o próximo jogo a minha tentativa de não perder a calma e reclamar.

Até porque, me pareceu ter ouvido um certo sotaque francês naqueles adversários!

Sérgio Lisboa.


Autor: Sérgio Lisboa


Artigos Relacionados


Saudosa Seleção.

O Jogo

Voltar Descalço

Quebrando Paradigmas.

O Futebol E A Sociedade

O Negócio é Escrever

Organizações No Futebol