O Pobre e o Rico



O POBRE E O RICO
O pobre é teimoso
Sobrevive de invocado
Vive ajudando o rico
E nunca é respeitado
É o rico que rouba
É o pobre o culpado
Se o rico matar
O pobre é condenado
Pois não tem dinheiro
Para pagar advogado
O rico roubando
É cumprimentado
O pobre sem roubar
É cachorro e safado
O rico chega no bar
Toma vinho importado
O pobre bebe cachaça
Se lhe venderem fiado
O rico fuma charuto
Negócio bem preparado
O pobre fuma fumo de rolo
Numa palha enrolado
E para acender o cigarro
Pede fogo emprestado
O rico viaja
Para o lugar desejado
O pobre para viajar
Só se for amarrado
Quando o sequestrador
Confunde o desgraçado
Onde o rico chega
É logo bem notado
Se o pobre chegar
Já é ignorado
O rico vai na festa
Tem lugar reservado
O pobre só entra
Se for muito abusado
Na mesa do rico
Só produto ilustrado
E na mesa do pobre
Só tem revirado
É arroz e feijão
E jiló ensopado
O pobre para o rico
Só serve de empregado
Quanto mais trabalha
Mais fica quebrado
De roupa rasgada
E sapato furado
Vai empurrado a vida
Num perrengue danado
O pobre é sofrido
Mais é sempre animado
Tem vontade sorrir
Mais fica acanhado
Pois tem apenas um dente
E ainda é estragado
É o rico que manda
No pobre coitado
Rico tem vida boa
Pobre é sacrificado
Mas o rico não vive
Sem o pobre do lado
O rico anda de carro
Quase sempre zerado
O pobre para andar de carro
Só se for algemado
Se o pobre comprar carro
É do século passado
Por onde o carro passa
Fica tudo enfumaçado
Pneus todos carecas
Motor quase pifado
A cor ninguém sabe
Pois está todo enferrujado
Carburador entupido
Defeito no platinado
Licenciamento do carro
Está 20 anos atrasado
O pobre é o cavalo
Que o rico está montado
Com espora e chicote
De arame farpado
O rico e pobre
Tem um acordo traçado
Desde o começo do mundo
Foi bem elaborado
Tudo que o rico tem
É do pobre tirado
O rico não dá valor
Ao pobre esforçado
Paga-se muito pouco
Pelo serviço prestado
Durante todo o tempo
O pobre é explorado
Sem outra alternativa
Já está acostumado
Para não morrer de fome
O pobre é obrigado
Aguentar desaforo
E suportar calado
Casamento de rico
É tudo bem programado
Passa até na televisão
Em jornais é registrado
Tem uma festa imensa
Dez dias de feriado
O casamento do pobre
É no meio do povoado
Só tem os noivos e o padre
E um cachorro sentado
O padre fala três palavras
E dá o caso por encerrado
Em todo lugar que vai
O pobre é descriminado
E tem aquele pobre bobo
Que me deixa revoltado
Porque é metido a rico
E vive no rico colado
Bebendo resto de bebida
Que o rico está enjoado
Quando se trata de mulher
O pobre é descartado
Pois mulher gosta de dinheiro
Que só o rico tem guardado
O pobre não tem dinheiro
Por isso não é amado
O rico anda na rua
Elegante e educado
Olha as coisas na vitrine
E o que for de seu agrado
Compra e leva de presente
Ao parente mais chegado
O pobre anda na rua
De um jeito desajeitado
Olha as coisas na vitrine
Fica bobo admirado
Sem dinheiro para comprar
Fica com o peito babado
Até na hora da morte
Chega ser engraçado
O velório do rico
É tudo tumultuado
Mais de cem funerárias
Para enterrar o finado
O velório do pobre
É bem simplificado
Por falta de dinheiro
Enterra o corpo pelado

Autor: Marco Oliveira


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