O Estresse no profissional de Enfermagem



O Estresse no profissional de Enfermagem
André Luis dos Santos Custódio (1)
Egle Sateles Mendonça (1)
Tatiana Carvalho Socorro (2)

(1) Acadêmicos do 8º semestre de Enfermagem da Faculdade São Francisco de Barreiras ? FASB.
(2) Docente da Faculdade São Francisco de Barreiras - FASB, Mestre em Psicologia Clínica e orientadora do artigo.


Resumo: O presente artigo pretende relatar o estresse no profissional de enfermagem, por ser um assunto de grande importância devido o desgaste que acomete esses profissionais. O estresse trata-se de uma reação que o individuo experimenta (de acordo com suas crenças, valores e cultura) ao criar uma situação que ele não mais consegue suportar, provocando manifestações de ordem emocional, social e psicológica. Pensando-se nesses aspectos o presente artigo buscou verificar qual o nível de estresse do enfermeiro hospitalar, bem como seus fatores determinantes. Tendo a finalidade de abordar as diversas causas que levam o enfermeiro em seu ambiente de trabalho a situações estressoras, desmotivando-o.
Palavras ? chave: Enfermeiro hospitalar; nível de estresse; fatores determinantes.

Abstract: The present article intends stress to tell it in the nursing professional, for being a subject of great importance due the consuming that comet these professionals. It stress it is about a reaction that the individual tries (in accordance with its beliefs, values and culture) when creating a situation that it more does not obtain to support, provoking manifestations of emotional, social and psychological order. Thinking about these aspects the present article the level searched to verify which of stress of the hospital nurse, as well as its determinative factors. Having the purpose to approach the diverse causes that take the nurse in its environment of work the stressors situations.
Keywords: Hospital nurse; level of stress, factors determined.




Introdução

O estresse é um processo psicológico e a compreensão dos eventos estressantes é afetada por variáveis cognitivas; não é a situação nem a resposta da pessoa que define o estresse, mas a percepção do indivíduo sobre a situação. O enfermeiro, por ser um dos profissionais de saúde que mais tempo permanece no hospital, vive com maior intensidade as situações que dele emanam. O presente artigo teve como problema a seguinte pergunta: Qual é o nível de estresse do enfermeiro hospitalar e os fatores determinantes?Constitui-se como objetivo principal, a analise do nível de estresse nos enfermeiros na cidade de Barreiras, e como objetivos específicos adquirir conhecimento aprofundado sobre a ocorrência do estresse nos enfermeiros, identificar os sintomas psicológicos e fisiológicos e detalhar os fatores determinantes.
O trabalho desenvolvido teve um caráter de estudo qualitativo, descritivo de estudo de caso, que foi desenvolvido no Hospital do Oeste na cidade de Barreiras, sendo a amostra composta por 5 enfermeiros através de um questionário com o intuito de adquirir conhecimento a respeito do estresse no profissional de enfermagem.

Revisão de literatura

O conceito de estresse foi usado na área de saúde, pela primeira vez em 1926, por SELYE, que notou que muitas pessoas sofriam de várias doenças físicas, e reclamavam de alguns sintomas em comum. Foi introduzido na biologia também por SELYE, em 1956 e 1959, designando um conjunto de fenômenos complexos, evidenciados nos organismos biológicos, que vieram então a ter uma conotação análoga à da física. Suas pesquisas foram decisivas para propor as primeiras explicações inerentes ao processo de estresse e, seus conceitos ainda hoje, representam apoio teórico para a maioria das pesquisas desenvolvidas nesta área (GUIMARÃES, 2000).
O organismo, quando exposto a um esforço, desencadeado por um estímulo percebido como ameaçador a homeostase, seja ele físico, químico, biológico ou psicossocial, apresenta a tendência de responder de forma uniforme e inespecífica denominada síndrome geral de adaptação (GUIMARÃES, 2000).
O estresse pode ser definido como um desgaste geral do organismo, causado pelas alterações psicofisiológicas que ocorrem quando o indivíduo é forçado a enfrentar situações que o irritem, excitem, amedrontem, ou mesmo que o façam imensamente feliz(LIPP,2000).
Segundo COUTO (1987), estresse ocupacional é um estado em que ocorre um desgaste anormal do organismo humano e/ou diminuição da capacidade de trabalho, devido basicamente à incapacidade prolongada de o indivíduo tolerar, superar ou se adaptar às exigências de natureza psíquica existentes em seu ambiente de trabalho ou de vida.
Para STACCIARINI (2001), a carga de trabalho é o estressor mais proeminente na atividade do enfermeiro, além dos conflitos internos entre a equipe e a falta de respaldo do profissional, sendo a indefinição do papel profissional um fator somatório aos estressores.
Os enfermeiros cuidam de clientes e familiares e, às vezes, pelas contingências do cotidiano, esquecem de se preocupar com sua qualidade de vida, em especial com sua saúde. Neste contexto, destaca-se a dupla jornada de trabalho, vivenciada por grande parte destes profissionais, que de certa forma, acaba por favorecer a diminuição do tempo dedicado ao auto-cuidado e ao lazer, potencializando o cansaço e, conseqüentemente, gerando o estresse.
Segundo BIANCHI (1992), o estresse pode se agravar quanto menor for a autonomia do enfermeiro. A insatisfação no trabalho também pode influenciar no desenvolvimento das atividades diárias do enfermeiro, causar desânimo, falta de interesse e, por sua vez, gerar cada vez mais estresse.
O trabalho dos enfermeiros, em ambiente hospitalar, é um tipo de trabalho desenvolvido em circunstâncias altamente estressantes, as quais podem levar a problemas como: Desmotivação; Insatisfação profissional; Absentismo; Rotação e tendência a abandonar a profissão.
O fato de o estresse estar tão presente em nosso cotidiano leva a preocupação. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, 90% da população mundial é afetada pelo estresse, tomando aspectos de uma epidemia global (BAUER, 2002).
Os sinais e sintomas que ocorrem com maior freqüência são do nível físico como: aumento da sudorese, nó no estômago, tensão muscular, taquicardia, hipertensão, aperto da mandíbula e ranger de dentes, hiperatividade, mãos e pés frios, náuseas. Em termos psicológicos, vários sintomas podem ocorrer como: ansiedade, tensão, angústia, insônia, alienação, dificuldades interpessoais, dúvidas quanto a si próprio, a preocupação excessiva, inabilidade de concentrar-se em outros assuntos que não o relacionado ao estressor, dificuldades de relaxar, tédio, ira, depressão, hipersensibilidade emotiva (LIPP, 2000).
Segundo LIPP (2000), o estresse relaciona-se diretamente com a produtividade do indivíduo, uma pessoa que não tem estresse não produz, pois ela acaba não produzindo adrenalina, tornando-se uma pessoa apática, desanimada, totalmente improdutiva. Portanto quanto mais estresse, maior a produção de adrenalina, conseqüentemente maior a produtividade. Quando o estresse extrapola o limite do indivíduo, sua produtividade começa a diminuir, e ele pode contrair doenças e até mesmo morrer.
O estilo de vida frenético decorre; muitas vezes, de necessidades financeiras e manutenção de um padrão social, fazendo com que o (a) trabalhador (a) estabeleça para si um ritmo rigoroso de atividades envolvendo os vínculos empregatícios e a vida domestica, desta forma, propiciando o estresse. Soma-se a isso, o fato de trabalhar em situações adversas impostas pela profissão que impõe grande demanda de atividades variadas - em turnos diferentes - pode afetar o desempenho físico, gerar distúrbios mentais, neurológicos, psiquiátricos e gastrintestinais como comentam Costa, Morita e Martinez (2000, p.554).
Os riscos para a saúde relacionados com o trabalho dependem do tipo de atividade profissional e das condições em que ela é desempenhada. Os serviços de saúde, e de um modo particular os hospitais, proporcionam aos seus funcionários condições de trabalho reconhecidamente piores do que as verificadas na grande maioria dos outros setores de atividade. Para além dos acidentes de trabalho e das doenças profissionais propriamente ditas, a atividade de enfermagem contribui de forma decisiva para a ocorrência de doenças relacionadas com o trabalho. Os enfermeiros encontram-se expostos do ponto de vista etiológico aos fatores de risco de natureza física, química, biológica e psicossocial; que se fazem sentir com grande intensidade e justificam a inclusão da profissão de enfermagem no grupo das profissões desgastantes (GASPAR, 1997).
As relações interpessoais na equipe de saúde são referidas por muitos profissionais como fator contributivo para estresse oriundo do ambiente onde se desenvolvem as atividades laborais, bem como o ritmo e a exigências de serviços, pois o problema de um indivíduo estar estressado ou não conjuga a influência da estrutura do sistema com a forma como o indivíduo afronta as demandas do meio, portanto o modo de vida e a atividade de uma pessoa contribuem para determinar sua saúde e sua enfermidade (LABRADOR; CRESPO apud LAUTERT; CHAVES; MOURA, 1999, p. 421).

Metodologia

Segundo Michel (2005), metodologia pode ser definida como um caminho que se traça para atingir um objetivo qualquer. É, portanto, a forma, o modo para resolver problemas e busca respostas para as necessidades e dúvidas. A metodologia é um caminho que procura a verdade num processo de pesquisa, ou aquisição de conhecimento; um caminho que utiliza procedimentos científicos, critérios normatizados e aceitos pela ciência.
Os sujeitos da pesquisa foram enfermeiros que trabalham no Hospital do Oeste, na cidade de Barreiras. A amostra foi casual simples, composta por 5 enfermeiros que se dispuseram a participar do estudo através do consentimento livre e informado. Assim, as coletas de dados, obedeceram alguns critérios para o seu desenvolvimento, pois foi necessário esclarecer sobre o objeto da pesquisa e anonimato do participante.
Quanto aos dados qualitativos, foi possível confirmar a importância da abordagem do tema estresse, que vem sendo amplamente explorado não só pela Psicologia como também pela Enfermagem.
A coleta de dados foi desenvolvida com questionários em forma de entrevista, buscando o enriquecimento e entendimento sobre o nível de estresse desses enfermeiros.
Os sujeitos não foram identificados por nome ou qualquer descrição que permita caracterizá-los de qualquer forma, garantindo assim o sigilo das informações.

Resultados e discussão

A pesquisa foi realizada no Hospital do Oeste (HO), construído pelo governo do estado no município de Barreiras em junho de 2006 e é assumido pela OSID (Obras Sociais Irmã Dulce). Conta com unidade de urgência e emergência funcionando durante 24 horas, Unidade de Terapia Intensiva (UTI), clínicas médica, cirúrgica e obstétrica, emergência obstétrica, Centro Obstétrico, UTI Neonatal e Lactário. Destinado exclusivamente para os usuários do SUS, o hospital dispõe de 175 leitos, sendo 24 de UTI.
Os dados abaixo serão analisados a partir de categorização, tais como: nível de estresse, fatores determinantes, e mecanismos usados pra enfrentar o estresse.
São evidenciados na literatura os motivos que determinam o estresse, no qual as condições externas, internas, a sobrecarga de trabalho, o esforço exigido são algumas características ligados ao exercício da profissão. Sendo que essas causas também foram observadas nas entrevistas feitas aos profissionais de enfermagem. Com relação à sobrecarga no trabalho, os enfermeiros responderam que se sentem sobrecarregados no trabalho e com isso se sentem mais vulnerabilidade a situações de estresse, provocando assim, desmotivação da equipe.
Os problemas emocionais, que se manifestam por depressão, desinteresse, apatia e insatisfação, que pode em casos extremos, chegar a estados de agressividade. Com relação aos salários pagos a situação fica ainda pior, uma vez que os entrevistados declararam a sua insatisfação com relação aos salários pagos à categoria.
Em relação ao nível de estresse dos enfermeiros do Hospital do oeste, apenas 2 sujeitos apresentaram os sintomas declarados no questionário, podendo demonstrar que o nível de estresse é moderado, porém, cuidados devem ser tomados para uma melhoria na qualidade profissional, evitando possíveis alterações nesse nível.
Os mecanismos de adaptação ao estresse pelos profissionais de enfermagem são individuais, conforme a necessidade de cada um. O final de semana é usado para repor as energias pessoais, através do convívio com a família, descansar, passeio com os amigos e férias são os mecanismos identificados para relaxar e enfrentar os problemas dos dias de trabalho.

Considerações finais

A história da enfermagem revela problemas relacionados à profissão que surgiram já no início de sua implementação, no Brasil e em outros países, e que ainda hoje são latentes, como a marginalização, que leva o enfermeiro a buscar, constantemente, sua afirmação profissional perante outros profissionais. Além disso, existem vários outros problemas relacionados ao estresse na enfermagem, como o número reduzido de enfermeiros na equipe, a falta de reconhecimento profissional e os baixos salários que levam o profissional a atuar em mais de um local de trabalho, desempenhando uma longa carga horária mensal.
Nas últimas décadas, a expressiva mudança em todos os níveis da sociedade passou a exigir do ser humano uma grande capacidade de adaptação física, mental e social. Muitas vezes, a grande exigência imposta às pessoas pelas mudanças da vida moderna e conseqüentemente, a necessidade imperiosa de ajustar-se à tais mudanças, acabaram por expor os trabalhadores em especial à uma freqüente situação de conflito, ansiedade, angústia e desestabilização emocional.
Com esse estudo foi possível identificar o nível de estresse dos enfermeiros pesquisados e as situações enfrentadas por eles que interferem em sua qualidade de vida e trabalho. O nível de estresse foi o moderado o que mais freqüentemente os enfermeiros referiram ter. Todos os fatores lembrados pelos entrevistados provocam um consumo de muita energia em um esforço adaptativo contínuo ao trabalho. Por sua vez, um profissional insatisfeito pode apresentar um comprometimento em suas habilidades, no resultado de seu trabalho e nas suas relações.
Os conteúdos reportam aspectos importantes no ambiente hospitalar que devem ser trabalhados, na medida em que o enfermeiro necessita prestar uma assistência com qualidade ao paciente. Acredita-se, portanto, que para preservar a saúde, é necessário que o funcionário esteja inserido, não só no universo de seu trabalho, mais também no mundo exterior que o beneficia interiormente, visto que este conjunto complementa-se para que ele permaneça em equilíbrio e obtenha a satisfação no seu cotidiano.

Referências Bibliográficas


BAUER ME. Estresse: como ele abala as defesas do organismo. Ci Hoje 2002; 3(179):20-5.
COSTA, E. S; MORITA, I; MARTINEZ, M.A.R. Percepção dos efeitos do trabalho em turnos sobre a saúde e a vida social em funcionários da enfermagem em um hospital universitário do Estado de São Paulo, Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 16, n.2, p.553-555.abr-jun.2000.
COUTO, H.A. Stress e qualidade de vida dos executivos. Rio de Janeiro: COP, 1987. 95p.
GASPAR PJS. Enfermagem profissão de risco e desgaste. Rev nursing 1997;109(3):23-24.
GOLEMAN, D. .Mente e medicina. In: - Inteligência Emocional. Rio de Janeiro: Objetiva, 1996. p. 179-200.
GUIMARÃES, L.M. Série Saúde Mental e Trabalho. 2.ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000. 220 p.
LABRADOR F.J.; CRESPO M. Estrés: transtornos psicofisiológicos. Salamanca: Eudema, 1993.
LIPP MEN. Inventário de sintomas de stress para adultos de Lipp (ISSL). São Paulo: Casa do Psicólogo; 2000.
MILCHEL M. H. Metodologia e pesquisa científica em ciências sociais. 1ª São Paulo: Atlas, 2005.
SILVA A, Bianchi ERF. Estresse ocupacional da enfermeira de centro de material. Rev Esc Enferm USP 1992; 26(1): 65-74.
STACCIARINI JM, Trócoli BT. O stress na atividade ocupacional do enfermeiro. Rev Latino-am Enfermagem 2001 março-abril; 9(2):17-25.




















































.







Autor: Egle Sateles


Artigos Relacionados


O Estresse Do Enfermeiro Na área De Emergência

O Estresse Do Enfermeiro Na Sala De Trauma

Estresse Do Enfermeiro Em Ambiente Hospitalar

O Estresse Nos Profissionais De Enfermagem

Estresse Em Estudantes

SÍndrome De Burnout: Referências Bibliograficas

Artigo De Revisão: SÍndrome De Burnout Na Equipe De Enfermagem De UrgÊncia E EmergÊncia