Sofrimento De Uma Familia
JOVELINO:
Bom dia compadre, tudo bem?
ATHAYDES:
A gente vai levando compadre.
JOVELINO:
Fiquei sabendo que o compadre está querendo vender a colônia?
ATHAYDES:
Estou sim compadre.
JOVELINO:
Mas porque compadre?
ATHAYDES:
É que com este juro de 7% é bem melhor que ter terras.
JOVELINO:
Tive uma idéia compadre.
ATHAYDES:
Que idéia é esta compadre?
JOVELINO:
Eu compro sua colônia e fico com o dinheiro a juro.
ATHAYDES:
Está bem, negócio feito.
JOVELINO:
Compadre, quando o senhor precisar de remédio para seus filhos pode ir buscar.
ATHAYDES:
Mulher, vamos vender este gado, e comprar aquela colônia lá naquela serra em Cristalina, lá é um ótimo lugar para criar éguas de raça.
ZITA:
Athaydes, as mercadorias acabaram, e o que vamos fazer?
ATHAYDES:
Está bem mulher, amanhã cedo vou até a cidade e pego o juro do dinheiro da colônia com o compadre.
JOVELINO:
Compadre, não o esperava o senhor por aqui tão cedo.
ATHAYDES:
Porque não compadre, o jurodo mês passado já venceu, e eu vim busca-lo.
JOVELINO:
Há compadre, é que estou desprevenido, tudo o que posso arrumar para o senhor hoje é só remédio.
ATHAYDES:
É mulher, acho que entramos pelo cano. O compadre Jovelino parece estar nos enrolando.
ZITA:
O que o compadre disse.
ATHAYDES:
Quando pedi a ele o juro do dinheiro da colônia, me disse que estava desprevenido e me disse que o que poderia me adiantar er só remédio.
ZITA:
O compadre não pode fazer isto conosco, aquele dinheiro é resultado de todo o trabalho de uma vida.
ATHAYDES:
Hoje achei um bom negócio no gado.
ZITA:
Que negocio foi que você achou?
ATHAYDES:
Lembra da colônia que eu falei em Cristalina.
ZITA:
Diga logo homem.
ATHAYDES:
Eu estive com o dono da colônia e ele disse que faz negocio com o gado.
ZITA:
Que bom, vai fazer este negocio logo homem.
ATHAYDES:
Amanhã cedo eu vou fechar o negocio com ele.
VALDEMAR:
E daí seu Athaydes, veio fazer o negocio?
ATHAYDES:
A sim seu Valdemar, conversei com a mulher e resolvemos fazer negocio.
VALDEMAR:
Esta bem a colônia então é sua.
ATHAYDES:
Seu Valdemar, que dia o senhor vai me entregar a colônia?
VALDEMAR:
Entrego hoje mesmo. Amanhã cedo vou buscar o gado e tirar minha mudança.
ATHAYDES:
Mulher pode arrumar as coisas que amanhã cedo vamos mudar para a colônia que compramos.
ZITA:
Que lugar bonito!, E a terra é fértil.
ATHAYDES:
Vamos levantar crianças, já são 6 horas.
JOÃO:
Pai! Vem ver uma coisa.
ATHAYDES:
O que aconteceu menino?
JOÃO:
Os patos estão todos mortos.
ATHAYDES:
Meu Deus olha ai uma cobra, deve ser ela que os matou.
ZITA:
É homem as cobras mataram todas as galinha e patos. O que vamos fazer?
ATHAYDES:
É mulher a única maneira é fazer angu de banana para comermos.
ZITA:
Com que vamos temperar o angu de banana?
ATHAYDES:
Eu vi esta noite um gambá que quase não agüentava andar de tãogordo. Vou fazer uma arataca e pegar um para fazer gordura.
JOÃO:
Esta carne de gambá com angu de banana está ótima papai.
ATHAYDES:
Comam meus filhos que é a única coisa que temos no momento.
ZITA:
Athaydes, não sabe da maior.
ATHAYDES:
Diga mulher o que aconteceu desta vez?
ZITA:
Encontrei duas daquelas éguas picadas pelas cobras e mortas.
ATHAYDES:
Amanhã vou cedinho até São Roque ver se o compadre Jovelino me arrume os juros do nosso dinheiro.
JOVELINO:
Oi compadre, o que faz por aqui?
ATHAYDES:
Vim buscar meu dinheiro uai?
JOVELINO:
Há compadre, me meti em um garimpo de cristal e estou falido.
ATHAYDES:
O senhor deve estar brincando compadre. Meus animais morreram todos picados pelas cobras. Eu e minha família estamos quase passando fome. A única coisa que temos comido é angu de banana com gambá.
JOVELINO:
É compadre, esta é a verdade, estou falido.
ATHAYDES:
É mulher. Fui procurar os juros do dinheiro emprestado para o compadre e ele disse-meque está falido.
ZITA:
É homem o único jeito é vender estas terras para podermos sobreviver. Neste lugar nada vai para frente.
ATHAYDES:
Acho que vou oferecer para o Dico Sequim, uns diasatrás ele perguntou se eu vendia as terras.
ZITA:
Vai logo homem.
ATHAYDES:
Vendi as terras mulher.
ZITA:
Que negocio você fez?
ATHAYDES:
Vendi com um prazo de 90 dias para receber. Só que o homem que comprou quer que desocupamos a colônia daqui uma semana.
ZITA:
Você pegou algum documento dele?
ATHAYDES:
A sim, ele assinou uma letra.
ZITA:
Athaydes hoje já faz 90 dias que vendemos a colônia e esta na hora de irmos receber o dinheiro.
ATHAYDES:
Bom dia seu Dico, ontem venceu o prazo para o senhor pagar minha colônia e eu vim receber.
DICO:
Sinto muito seu Athaydes, não tenho seu dinheiro. Comprei algumas madeiras e vendi para uma pessoa mal pagadora e fiquei sem receber e acho que nunca poderei pagar o senhor.
ATHAYDES:
A meu Deus! Isto parece castigo. A outra colônia não recebi, esta pelo o que estou vendo também não receberei.
EDIGAR:
O compadre Athaydes, fiquei sabendo do ocorrido. Se quiser ir morar em minha fazenda lá tenho muito trabalho.
ATHAYDES
É mulher,já se faz 10 anos que estamos trabalhando nesta fazenda e só fazemos muito mal para comer.
ZITA:
Athaydes, tem uma família na vilaque estão indo para um lugar chamado Rondônia, e disseram que lá terra é de graça, qualquer um pode apossar das terras.
ATHAYDES
A única coisa que temos é pouquinho de dinheiro para pagar as passagens no Pau de Arara.
ZITA:
Vamos embora homem.
Autor: João do Rozario Lima
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