Paraíso Terreal: a rebelião sebastianista na Serra do Rodeador.



Paraíso Terreal: a rebelião sebastianista na Serra do Rodeador.

João Paulo Filgueiras, Caio e Rodrigo.


1 ? A Serra possui uma grande pedra, em cujas fendas dizia-se ouvir vozes, ruído de batalha e sons de instrumentos. Era considerada encantada. Criou-se o mito de que Dom Sebastião, um rei português perdido no Marrocos, voltaria através desta pedra e enfrentaria forças inimigas por mais poderosas que fossem. A forma do rochedo, ou alguma batalha esquecida poderia ter dado origem ao mito. Crenças indígenas ou africanas somaram-se ao imaginário religioso ibérico.

2 ? O ano em que a rebelião ocorreu, 1820 foi crucial para a história do país, havia um conflito entre as elites portuguesas e brasileiras sobre a localização da capital do Reino Unido, Rio ou Lisboa. Os mais conservadores portugueses queriam que o Brasil voltasse a condição de colônia. Os exércitos reais precisavam de um exemplo de sua força que intimidasse as elites brasileiras sem toca-las. Os pobres coitados do Rodeador incomodavam não só o monarca. Os exércitos das províncias locais estavam perdendo recrutas que desertavam para lá, os fazendeiros perdiam não apenas terras, mas principalmente, mão-de-obra. E o exemplo poderia motivar outros grupos a desafiar a ordem estabelecida. Foram sacrificados.

3 ? As tropas do major Lobo e do tenente-coronel Carneiro atacaram os moradores à noite, massacraram alguns, roubaram, incendiaram e certamente violentaram. Os prisioneiros com formação militar foram recrutados para servir ao exército em outras regiões. Os inúteis soltos. Crianças pequenas criadas pelos soldados. Mulheres cativadas para servirem como prostitutas. Madureira Lobo dividiu as tropas e atacou alegando que os revoltosos atiraram primeiro. Para se justificarem as autoridades fizeram julgamentos alegando que os nativos portavam armas, compunham-se de desertores, feiticeiros e conspiradores.

4 ? Os revoltosos pediam terra, liberdade religiosa, o fim dos recrutamentos obrigatórios, o fim da carestia e serem sepultados como os ricos nas igrejas. Analisando essas reivindicações, descobre-se que eles queriam reforma agrária, estado laico, exército profissional, acabar com a inflação e o fim da desigualdade social. Não foram fanáticos como as elites os descreviam, mas pessoas que encontraram uma forma de se organizar socialmente e lutar por seus direitos, pois o que desejavam é o que hoje nos chamamos de "estado do bem-estar social".

Autor: João Paulo Filgueiras


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