O Dia Chegou



O Dia Chegou.
Este riacho é aqueles simples e cândido, nada de especial, um temperamento amável e banal. Tem a inocência clara de vidro, sem hipocrisias nem falsidades, sem águas escuras fingindo que é profundo; é raso e límpido, e na lama verde do fundo vêem-se panelas amassadas e o cadáver de um sapato de cordões. De resto, é suficientemente fundo para servir de moradia a belos peixe prateados e ágeis, que fogem em ziguezague quando nos aproximamos. O riacho alarga-se em vários pontos, formando pequenas lagoas, com belos salgueiros nas margens, um dos quais é o meu predileto. Cresce já no barranco, portanto a alguma distância da água. Mas um dos ramos estende-se nostalgicamente para o riacho, e consegue que suas folhas prateadas sejam respingadas pelas águas.
Nossa, como é bom andar aqui, docemente acariciado pelo vento e pela aquela grande bola de fogo que se perde no horizonte, que vem quente e majestosa, mas esquentando a alma e todo meu corpo. Quando faz muito calor, adoro caminhar na água e refrescar a barriga, porém a parte superior do corpo fica fora. Posto-me ali, com ar de absoluta felicidade, e deixo que as águas espumem ao meu redor, como um jacaré flutuante. Que emoção, que sensação boa, puro êxtase!
Ouço um barulho, um sino a tocar ao longe, paro e fico a observar, o barulho é insistente, tento desviar-me daquele incomodo e voltar as minhas emoções, mas o barulho é ensurdecedor e cada segundo é absurdamente irritante. Decido investigar e acabar de vez com aquele sino enlouquecedor, aguço os ouvidos, concentro-me com os olhos. De repente, o inusitado, toda a imagem construída foge da minha mente e se espalha como fumaça no ar, a água, o vento, o sol, tudo.
Levanto devagar, espreguiço o corpo, estico a coluna, passo as mãos nos cabelos, calço o chinelo e desligo o despertador. O sonho acabou!

Autor: Renilda Alves De Albuquerque


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