Gestão do Conhecimento nas Instituições Públicas




A POLÍTICA PÚBLICA DE MIGRAÇÃO PARA SOFTWARE LIVRE E A OBTENÇÃO DE ATIVOS DE CONHECIMENTO ORGANIZACIONAIS PARA SUA SUSTENTABILIDADE

Autor: Miller de Freitas Barata
Orientador: Ms. Rodolfo Palazzo Dias

RESUMO

O principal objetivo deste trabalho é discutir a eficiência da política pública de migração para software livre, quanto a capacitação e valorização dos atores internos envolvidos diretamente no processo. O sucesso desta empreitada está intimamente ligado ao cumprimento do planejamento estratégico situacional, imprescindível ao projeto. Embora, em alguns raros casos, a falta deste fator não se traduza em fracasso, a sustentabilidade destas políticas dependem de investimento em infra-estrutura, tecnológica e, principalmente, em obtenção de ativos de conhecimento organizacionais. Este último é formado por profissionais capacitados pela instituição interna ou externamente; de forma planejada ou tácita, mas que desempenham as funções mais relevantes no processo de migração. O entendimento dos gestores públicos sobre a real necessidade da geração e manutenção do conhecimento em projetos desta natureza, os levariam a maximizar a atenção dada aos ativos de conhecimento organizacional inerentes à política de migração para software livres. Ações de mudança na Infra estrutura organizacional de uma instituição pública não se apoiam apenas em aportes financeiros, compra de equipamentos e boa vontade. É premente um bom planejamento estratégico que contemple investimentos em aquisição de conhecimento. De certo que novas tecnologias trazem a necessidade de conhecimentos técnicos com ela relacionadas. Essa máxima precisa ser exaltada pelos gestores públicos responsáveis pela implementação da política nacional de migração para software livre.
Palavras-chave: Software Livre. Ativos de Conhecimento. Público.

ABSTRACT

The main objective of this paper is to discuss the efficiency of the public policy of migration to free software, and training and development of internal actors directly involved in the process. The success of this enterprise is closely linked tocompliance with the situational strategic planning, essential to the project. Although in some rare cases, the lack of this factor does not result in failure of these policies depend on the sustainability of investment in infrastructure, technology, and especially in obtaining organizational knowledge assets. The latter is formed by professionals trained by the institution internally or externally, in a planned or implied, but they play more important roles in the migration process. An understanding of public sector managers on the actual need of the generation and maintenance of knowledge in projects of this nature, would maximize the attention given to organizational knowledge assets inherent in migration policy to free software. Shares of organizational change in the Infrastructure of a public institution does not rely only on financial contributions, purchase of equipment and goodwill. It is a good compelling strategic planning that includes investments in knowledge acquisition. In a new technology that brings the need for technical knowledge related to it. This maxim needs to be exalted by the public managers responsible for implementing the national policy on migration to free software.

Keywords: Free Software. Knowledge Assets. Public.



1. INTRODUÇÃO

No Brasil, a política de migração para software livre está bem disseminada entre os órgãos públicos. O grande problema está nas execuções desta políticas. Apesar de existir vasto material de estudo para apoiar as boas práticas de planejamento, implantação e manutenção, os gestores públicos seduzidos pela máxima da economia gerada ao erário, quando da aplicação da política nacional de migração, endorssam, de forma assodada, o início da política, sem muitas vezes preocuparem-se com suporte técnico que a mesma deve ter. Pesquisas elaboradas por empresas engajadas na luta pela excelência dos softwares nacionais provam que a política de migração para plataformas livre promove muita economia aos cofres públicos. Um estudo solicitado pela ITI (Instituto Nacional de Tecnologia da Informação), no ano de 2004, a SOFTEX avaliou o uso do software livre em prefeituras brasileiras. A empresa verificou que das 5560 prefeituras existentes no país, 60 já adotavam o Software Livre. De acordo com o coordenador de planejamento e estudos da SOFTEX, Giancarlo Stefanuto(2004),

o software livre viabilizou economicamente, nas prefeituras, a informatização ou ampliação de informatização; mudança na composição dos custos relacionados à informatização. A infra-estrutura é de viabilidade indiscutível. A utilização de softwares livres nos desktops é viável, mas apresenta custos de capacitação; a gestão apresenta custos com legados de empresas que prestavam serviço tecnológico".
Estas pesquisas trazem novos questionamentos sobre a política disseminada pelo governo federal, e adotada pelas instituições públicas dos estados e municípios: A execução da política pública de migração para software livre está proporcionando a capacitação técnica dos atores envolvidos no processo? Os gestores públicos têm discernimento dos ambientes de aprendizagem e dos ativos de conhecimento que se criam com a adoção de plataformas tecnológicas livres em suas instituições? Podemos observar que no estudo supracitado houve referências a elementos subjetivos da política de migração. Elementos como: autonomia, criatividade, capacitação, valorização, disseminação de conhecimento, visão de mundo e etc. Todos esses elementos contribuem para a composição do personagem principal da migração: os usuários dos sistemas de tecnologia da informação e comunicação (TIC).
Utilizaremos como referência documentos criados pelo governo federal que tem a função de nortear as instituições públicas em seus planejamentos estratégicos. Serão usados alguns dados constantes de pesquisa da SOFTEX, empresa supracitada. Entenderemos como as instituições públicas seu beneficiam adminstrativamente dos projetos de migração. Assim como, a grande contribuição dada à melhoria das relações interpessoais dos participantes do projeto.
Os casos analisados neste trabalho servirão para se ter uma ideia da dificuldade encontrada pelos gestores dos órgãos públicos em obterem êxito em um projeto desta natureza. Principalmente quando as diretrizes do planejamento estratégico não são seguidos.
Auxiliado por fundamentações teóricas de intelectuais e acadêmicos envolvidos com processos de gerência de recursos humanos e de recursos tecnológicos, será traçado um panorama real dos casos escolhidos para demonstrar como se dá um plano de migração na prática.
Abordaremos um estudo de caso mais detalhado feito no âmbito da administração direta federal, no Destacamento de Controle do Espaço Aéreo de Maceió, DTCEA-MO. O estudo está mais completo, tendo em vista a maior quantidade informações obtidas através das entrevistas desenvolvidas com vários participantes do processo de migração daquele destacamento. Deste estudo de caso, os nomes das fontes, à pedido dos entrevistados, não serão reveladas.
Serão relacionados neste trabalho informações sobre o processo de migração para software livre do parque computacional da Prefeitura de Arapiraca, que foram obtidas através de palestras e entrevistas cedidas pelo gestor de tecnologia da informação daquele município.
Por último teremos citados os dados estatísticos levantados sobre o projeto de migração para plataformas livres de 2(duas) prefeituras municipais: Recife-PE e Solonópole-CE; relacionados em um estudo solicitado pela ITI ( Instituto Nacional de Tecnologia da Informação ), em 2004, à SOFTEX (empresa de fomento ao uso de software livre).

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 A Política Pública de incentivo ao uso do Software Livre

No ano de 2004, a política de uso do software livre, que consistia no uso de sistemas operacionais, suítes escritórios, sistemas automatizados e aplicativos para execuções de serviços funcionais diários nas instituições públicas federais, foi apresentada aos gestores públicos como uma nova e desafiante proposta que daria mais autonomia às decisões relacionadas à gerência de recursos tecnológicos. O intuito de livrar os cofres públicos dos exorbitantes gastos quando da aquisição de softwares era apenas uma das bandeiras defendidas por este projeto. Utilizar plataformas suportadas pela rede de internet, fomentar a adoção novos modelos de negócios em tecnologia da informação, garantir ao cidadão maior acesso aos serviços públicos, ampliar a malha de serviços prestados ao cidadão; eram, também, outras premissas que faziam parte desse documento. Todas essas ações foram criadas para perpetuar a política de migração; e estavam pautadas no documento elaborado pela Câmara Técnica de Implementação do Software Livre (CISL), Comitê subordinado ao Ministério da Casa Civil, no primeiro Planejamento Estratégico ( 2003 ? 2004 ), Diretrizes, Objetivos e Ações Prioritárias (Anexo "A"), que delineava a migração de plataformas tecnológicas proprietárias para plataformas livre.
O projeto inicial, uma rede de informação e comunicação para todo o Governo Federal, baseada em tecnologia livre, possibilitaria ao país uma independência tecnológica, deixando de ser apenas consumidor de tecnologia, para ser um produtor de soluções tecnológicas. O responsável por esta ação também seria a Câmara Técnica de Implementação do Software Livre (CISL). Em 2005, o CLSI adaptou um guia de ações europeu para utilização de tecnologias livres, assim nasceu o "Guia Livre", referência de Migração para Software Livre do Governo Federal( Anexo "B"), que seria lançado no ano seguinte. Já em 2006, cerca de 30(trinta) órgãos públicos federais ligados aos ministérios de da Ciência e Tecnologia, Comunicações, Desenvolvimento e do Planejamento já haviam aderido ao plano. Contudo, não operacionalizar o que foi planejado, gera problemas piores que a situação constante do cenário organizacional anterior.
Depois desse ano, houve uma corrida para por em prática a política de migração para software livre. Contudo, não foi levado em conta que uma ação desta magnitude não contempla apenas por em prática os trâmites burocráticos de costume. Não são simplesmente certames licitatórios que darão vida e continuidade a uma política de migração. O processo de implementação dessa política requer quebra de paradigmas, capacitação de usuários e de técnico, criação de uma nova cultura organizacional e etc. Em suma, prover a sutentabilidade do programa.
É diferente de comprar um software de uma empresa multinacional, cujos processos de manutenção e utilização já estão pré definido.
Por que então as instituições públicas devem aderir ao projeto de migração? Já que existem tantas dificuldades para valer as diretrizes políticas inerentes a esse projeto. No intuito de fundamentar a necessidade de adesão a essa política por parte dos gestores públicos, iremos citar três importantes fatores. São eles:
O Primeiro e mais visado, o financeiro. Tão óbvio, quanto rápido. A economia nos contratos de prestação de serviços baseados em tecnologia é tão animadora que fez muitas instituições o adotarem rapidamente sem criar muitas vezes um planejamento pautado nas diretrizes estabelecidas pela Câmara Técnica de Implementação do Software Livre (CISL) em seu Planejamento Estratégico ( 2003 ? 2004 ), Diretrizes, Objetivos e Ações Prioritárias.
O segundo, evitar o aprisionamento tecnológico "processo de dependência ao qual as organizações são submetidas ao fazerem a opção de uso de uma determinada tecnologia em virtude da dificuldade associada à troca dessa tecnologia por uma outra, em razão dos altos custos envolvidos" (Ernani Marques, 2001, pág. 62). Ele minimiza as alternativas tecnológicas disponíveis aos gestores públicos para a tomada de decisão frente às necessidades de uma instituição pública.
O terceiro, totalmente implícito, e de grande importância, a geração de ativos de conhecimento organizacional. De acordo com NONAKA e TAKEUCHI(1997, citado por Leonardo Moraes; 2006, p. 43) " Entendida como um processo que amplia ?organizacionalmente? o conhecimento criado pelos indivíduos, cristalizando-o como parte da rede de conhecimentos da organização..." . Para um país em franco desenvolvimento, a habilitação de pessoas em tecnologias livres e o apredizado que elas adquirem em contato com novas tecnologias, trazem maior autonomia para os gestores das instituições poderem decidir qual ambiente tecnológico se torna mais viável e adequado às suas necessidades.

3.2 Software Livre, ambiente de interação

Faz muito tempo que as plataformas de software livre deixaram o meio acadêmico e ganharam o mundo, ultrapassando fronteiras inimagináveis para o idealizador da filosofia do software livre, Richard Stallman. A união entre Stallman e o criador do Kernel linux, Linus Torvard, viabilizou possibildades para a criação de tecnologias na área de softwares, desvencilhados do aprisionamento corriqueiro proporcionado por tecnologias proprietárias .
A criação da Free Software Foundation - FSF, por Stallman, organização sem fins lucrativos, fundada em 1985, gerou uma das maiores revoluções comunitárias já vista pelo homem. Ela dedica-se à eliminação de restrições sobre a cópia, redistribuição, estudo e modificação de programas de computadores. De acordo com Silveira e Cassino (2003, citado por Lucas Leão; 2010, p. 5),

software livre representa uma opção pela criação, pela colaboração e pela independência tecnológica e cultural, uma vez que é baseado no princípio do compartilhamento do conhecimento e na solidariedade praticada pela inteligência coletiva conectada na rede mundial de computadores.

Pessoas do mundo inteiro contribuiram para sustentabilidade da ideia. Isto porque no software livre, as formas colaborativas se multiplicam dando vazão ao sucessivo nascimento de comunidades interativas que atuam nas áreas de desenvolvimento e manutenção; além de criar extensas redes de auxílio que capacitam ou simplesmente ajudam os usuários no uso dos softwares.
O monopólio funcional e ideológico, de empresas multinacionais, não é sadio para nenhum segmento da sociedade. Isto afeta diretamente a capacidade produtiva dos integrantes da cadeia tecnológica de uma nação. Afetam, também, os processos administrativos inerentes às instituições públicas, cujo avanço encontram barreiras impostas pela falta de repasse do conhecimento tecnológico das soluções desenvolvidas aquelas empresas. Os códigos fonte, a alma dos softwares, desenvolvidos por empresas particulares do mundo da informática não são disponibilizados aos usuários da tecnologia que o adquiriram. Em suma, isso gera o aprisionamento tecnológico. A migração para uma plataforma tecnológica livre nas instituições públicas, não invocam sentimentos de radicalização ou mesmo aversão às empresas que auferem lucros abusivos produzindo tecnologia. Ela tem por principal objetivo o crescimento tecnológico quantitativa e qualitativamente da infraestrutura tecnológica nacional. O empenho de um gestor público em utilizar uma plataforma livre, utilizando toda filosofia do software livre cria um sentimento de ajuda mútua entre os integrantes do projeto. Otimiza os recursos públicos destinados a implementação de soluções tecnológicas. Integra e capacita pessoas para um novo momento: "A era do conhecimento".

3.3 Os integrantes do projeto

Numa de migração para software livre temos diversos atores envolvidos no processo de implantação e manutenção do projeto. Relacionaremos aqueles que têm envolvimento com o projeto no âmbito das instituições públicas. São eles:

Ï Gestores públicos: São os responsáveis por endorssarem a ideia, tornando-a uma meta de seu plano de trabalho governamental;
Ï Gestor de projeto: Podem ter qualquer formação acadêmica, porém precisam ser dotados de qualidades que o levem a desenvolver liderança perante a equipe;
Ï Técnicos de suporte: Responsáveis pela operacionalização do projeto;
Ï Desenvolvedores: Também são técnicos. Respondem pela criação e melhoria de softwares escolhidos para suprir as necessidades das instituições;
Ï Irradiadores de conhecimento: São reponsáveis por cumprir a fase de capacitação de técnicos e usuários finais;
Ï Usuários finais: Sem dúvida, a personagem mais sensível deste "cast". São agentes administrativos, profissionais de áreas técnicas, que utilizam ferramentas de software específicas. São verdadeiros indicadores de qualidade da implementação do projeto.

4. A IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO DE MIGRAÇÃO

4.1 Os fatores de risco

A implantação de uma política de migração para plataformas tecnológicas livres nas instituições públicas brasileiras fazem muito bem aos atores envolvidos no projeto. O processo de mudança, a assimilação de novas tecnologia e suas peculiaridades, deixam uma herança inestimável para as pessoas envolvidas e para organização pública. As experiências adquiridas pelos funcionários públicos neste contexto apresentam-se entrelaçadas com um novo ambiente tecnológico baseado em software livre. Ao criar este cenário, os gestores públicos provocam nos usuários finais a necessidade de aprendizagem que deve ser encarado como desafio; não como dificuldade. Muitos resistem a mudança, mas proporcionar sua efetiva participação no projeto minimiza a rejeição. Fazemos isso todos os dias ao comprar uma TV nova, um novo micro-ondas e etc. A motivação em usar o novo equipamento adquirido, faz ele abstrair a suposta dificuldade em aprender a utilizar o novo recurso tecnológico. Portanto, o desafio de dominar novas técnicas já faz parte do instinto humano, basta criar uma atmosfera favorável a vontade de aprender. Segundo Drucker (2002, p. 211):

Para que se crie um ambiente corporativo propício à geração de inovação, é necessário que os líderes das organizações promovam a inovação, sendo que a melhor forma de o fazer é trabalhar para que os conceitos e estratégias de inovação sejam assimilados por todos os colaboradores, clientes e fornecedores. Isso, provavelmente, provocará a "contaminação" da cultura organizacional pelo "vírus" da inovação . Esta pode ocorrer em todo e qualquer ponto da organização. Não é apenas fazer coisas diferentes, mas, também, fazer as mesmas coisas de formas diferentes, criando, novos potenciais de satisfação .

Por outro lado, a migração tende a ser indigesta quando ocorre de forma desordenada e imperativa. De acordo com Luiz Queiroz( Revista Convergência Digital, 2009 ), o Auditor do Tribunal de Contas da União( TCU ), André Pacheco, defendeu em um encontro sobre "compras governamentais", que a migração para software livre tem sido adotada como uma política de governo e, portanto, deve ser respeitada. Porém, ele alertou que naqueles locais onde o software livre entrou "por decreto", os resultados não foram satisfatórios e os órgãos acabaram assumindo custos para a retomada da plataforma proprietária. Nota-se claramente que o planejamento redigido em 2004 não está sendo seguido em muitas instituições em sua plenitude. O planejamento estratégico da CLSI contemplava em suas diretrizes, ações que anaulariam o efeito entrópico citado pelo auditor do TCU. Segundo o texto do Planejamento Estratégico, elaborado pela Câmara Técnica de Implementação do Software Livre, em 2003-2004, nos seus itens "11", "16" e "17"; a migração dos sistemas proprietários para plataformas livres deveria ser gradativa, deveriam haver condições propícias para a mudança da cultura organizacional e, por último , deveriam ser promovidos programas de capacitação e formação de servidores públicos para utilização de software livre, respectivamente.
O grande entrave destas políticas estão nos elementos subjetivos. A dependência de mudança de comportamento por parte dos atores envolvidos, a aquisição de novos conhecimentos, a valorização da informação, o cuidado com os usuários finais da tecnologia, todas essas condições são subjetivas, não podem ser encaradas simplesmente como um processo burocrático qualquer. Os elementos essênciais à mudança são as pessoas;
não os contratos e equipamentos. Conforme Souza, Miglino e Bettini (2005, p. 13) "a interação entre os agentes acontece a partir do momento em que os atores cooperam a fim de inovar".
A bem da verdade, as ações institucionais de mudança tecnológica utilizando softwares livres dependem da vontade das pessoas em empreender, em mudar uma cultura organizacional, em coadunar com a missão da instituição; não se vê, porém, por grande parte dos gestores públicos, uma atitude condizente com essas necessidades. Mas a resistência à mudança por parte de integrantes da instituição pública não é desnecessária. Ela tem um importante papel na construção e manutenção da cultura organizacional. Consoante à realidade ROBBINS(2003, citado por Junior, Mateus e Sandra; 2008, p.3) disserta que, uma das descobertas mais bem documentadas nos estudos sobre comportamento individual e organizacional é que as organizações e seus membros resistem às mudanças. De certo modo, essa resistência é positiva. Proporciona certo grau de estabilidade e previsibilidade no interior das organizações. Se não houvesse resistência, o comportamento organizacional assumiria características de casualidade caótica.
O alinhamento e o comprometimento dos gestores públicos com as diretrizes traçadas pela política pública de migração para software livre, no que tange o apoio para com a parte humana, oxigena o processo de implatação e manutenção das diversas fases inerentes ao projeto. Além de dar credibilidade às ações administrativas. O contrário cria um sentimento de desânimo e de insastifação que podem ganhar coro dentro da instituição prejudicando todo o processo de mudança organizacional.

4.2 O Pragmatismo das Migrações para Software Livre

A economia para o erário com a implantação das políticas públicas de migração para plataformas tecnológicas livres são indiscutíveis. Os equipamentos anteriormente utilizados para suportar tecnologias proprietárias, em sua grande maioiria, são compatíveis com soluções livres, e não causam maiores problemas na implementação da migração. Então porque muitas ações de migração dos parques computacionais de instituições públicas dão errado? De certo que a maior falha é não usar o planejamento estratégico em sua plenitude. Contudo dentre as diretrizes do planejamento estratégico a que merece mais atenção é a capacitação. Deve ser uma preocupação constante do gestor público, a busca pela melhoria da capacitação dos atores envolvidos no projeto. Assim como o comprometimento dos mesmo. Grande parte dos gestores públicos avalizam a mudança, mas não dão suporte ao projeto de mudança. Esquecem que nos objetivos elencados no documento elaborado pela CISL estão descritos nos itens "A", "B" e "C";
respectivamente, ampliar a capacitação dos técnicos, ampliar significativamente a adesão e o comprometimento dos servidores , públicos com o software livre e desenvolver um ambiente colaborativo para permitir a expansão do software livre. Essas premissas devem nortear as ações administrativas dos gestores à frente das mudanças nas instituições públicas. Elas devem constar em seu planejamento estratégico e devem ser cumpridas.
As verbas economizadas em virtude de ações provinientes da política de migração são, quase sempre, aplicadas em áreas distintas à tecnologia informação. Uma grande parte desses recursos deveriam realimentar a política de migração, dando sustentabilidade ao projeto. A contratação de cursos de capacitação para as equipes darem suporte técnico de qualidade ao projeto, seriam contempladas como prioritárias, e receberiam a maior parte aplicação dos recursos públicos economizados; não é este cenário, porém, que nos deparamos. De acordo com ROMEO e SILVA(Site da DIRECTION RH, 2004) que, novas soluções técnicas requerem o envolvimento das pessoas da organização que estejam dispostas a alterar seus comportamentos e formas de pensar. Para alcançar isto é preciso tempo, motivação, habilidades e prática. Como as mudanças de comportamento e maneiras de pensar são intangíveis e geralmente consomem mais tempo do que as soluções técnicas, os aspectos humanos acabam não recebendo a devida atenção.
O conhecimento é um dos mais valiosos recursos intangíveis. A atenção dispenda ele deve ser imperiosa. Os gestores das instituições publicas, que não seguem o planejamento estratégico, confiam plenamente na capacidade dos atores envolvidos em resolverem os problemas advindos das ações no projeto de migração. Nem sempre é possível, por parte dos atores envolvidos no projeto, um desempenho extraordinário que resolva todas as pendências demandadas pelo projeto.
Com todos os entraves citados, elencar casos de fracasso na operacionalização da política de migração, não seria difícil. Contudo, abordaremos casos em que as políticas públicas de migração nas instituções obtiveram êxito. A abordagem destes cenários serão superficiais, sem grandes pesquisas estatísticas, porém darão uma boa noção das ações que impulsionaram ao sucesso os projetos de migração para plataformas livres nas instituições públicas nacionais.

5. ESTUDOS DE CASO

5.1 Considerações sobre a Migração do Parque Computacional do DTCEA-MO
DTCEA-MO, unidade destacada do Comando da Aeronáutica, situada no Aeroporto Zumbi dos Palmares, que faz parte da malha de controle do espaço aéreo do Nordeste, subordinada administrativamente ao CINDACTA 3 ? Terceiro Centro Integrado de Defesa e Controle do Espaço Aéreo - Recife, cuja missão é gerenciar o fluxo de aeronaves que voam num raio de 120 km a partir de sua localização, teve no ano passado uma difícil empreitada: migrar todo o seu parque computacional para plataforma livre.
Com aproximadamente 110 integrantes. Nesta instituição o planejamento de migração desenvolvido pela equipe técnica local, não pôde ser implantado, apesar de pronto e revisado. De acordo com o cronograma do projeto, levariam seis meses para se efetuar uma transição sem grandes traumas, do sistema operacional Windows, plataforma proprietária, para o sistema operacional GNU/Linux Ubuntu, platarforma livre. A utilização da suíte escritório Broffice ? desenvolvida pela SUN Corporation ? hoje de propriedade da ORACLE, já fazia parte do uso diário da instituição o que facilitaria muito o processo. No projeto, constavam todos os sensíveis pontos elencados no plano estratégico de migração do primeiro Planejamento Estratégico ( 2003 ? 2004 ), Diretrizes, Objetivos e Ações Prioritárias, Câmara Técnica de Implementação do Software Livre (CISL) subordinada à Casa Civil da Presidência da República do Brasil.
Uma ação executada, antes da implementação do projeto, impossibilitou a adaptação gradativa dos usuários e técnicos locais. Com a determinação de se fazer a transição o mais rápido possível, uma equipe, subordinada diretamente ao CINDACTA 3, executou toda migração em duas semana. Não obstante a conclusão da migração, no parque computacional que compreendia aproximadamente 60 máquinas, foram contrariados os preceitos da política pública de migração embasa no plano estratégico da CISL. A equipe incumbida de implementar a migração não dispunha de nenhum documento que os orientassem. Houve diversos problemas, mas os técnicos do CINDACTA 3 tinham pouco tempo, apenas as duas semanas para a conclusão do serviço; ficaram as sequelas.
A falta de preparação do ambiente para a migração gerou uma certa insatisfação dos usuários. Não foi dada a oportunidade para o usuário participar do processo de mudança. Para eles, simplesmente foram mudados os ambientes gráficos do seus antigos equipamentos. Foi assim que eles enxergaram a mudança, de forma superficial e desnecessária. Sobre isso, ROBBINS(2003, citado por Junior, Mateus e Sandra; 2008, p.8) considera, "É difícil os indivíduos resistirem a uma decisão de mudança da qual participam." Esse preceito não foi seguido, não houve a interação dos usuários com parca política de migração. A consequência desta atribulada ação foi uma sobrecarga dos técnicos ao atenderem muitos chamados dos usuários em virtude de panes provinientes de hardware, panes de operação, ou, simplesmente, para dirimir dúvidas. Muitas vezes, nem mesmos os técnicos sabiam resolver esses problemas, pois não haviam sido preparados para este cenário.
O desorganizado teatro de operações estava criado. As ações para cumprir a missão foram tomadas de forma atribulada. Com isto a confiança dos usuários na habilidade técnica da equipe de manutenção ficou muito comprometida. Não houve tempo de se montar um plano de contingência para os percalços que viriam. Alinhados com esse fato da profunada mudança organizacional que estava por vir, JUNIOR, MATEUS e SANDRA(2008, p.8) discorrem que se

deve criar um catálogo de cursos para a equipe do projeto e usuários finais, identificar os treinandos, definir os modelos de treinamento, assim como os padrões e os modelos para a geração dos materiais de treinamento, identificar, negociar e formar os multiplicadores, definir os ambientes de treinamento, certificar para a entrada em produção e montagem da estrutura de helpdesk.

Sabendo-se que as capacitações não seriam proporcionadas em tempo hábil, e que o sucesso do projeto dependia de conhecimento para mantê-lo, toda equipe técnica local mobilizou-se criando um movimento voluntário de aquisão habilidades inerentes ao processo de migração. A internet, revolução tecnológica que proporciona a interação de grupos de discussão, cuja função também é de ajudar a obtenção de conhecimento para as ações no mundo software livre, foi uma eficiente ferramenta utilizada para adquirir os subsídios necessários à minimização dessas falhas administrativas.
Novamente, vemos que na era do conhecimento, quem faz a diferença são as pessoas, atores envolvidos no processo. Os ativos de conhecimento organizacionais obtidos nesse evento, proporcionaram muito mais que uma simples migração de sistema operacional e de softwares, proporcionaram engrandecimento profissional e humano das pessoas que frente a uma dificuldade uniram-se e superaram-se, dando um suporte satisfatório a todo processo de migração. Neste caso, obteve-se para a administração pública, da forma mais difícil e mais arriscada, os ativos de conhecimentos organizacionais que seriam necessários para a implementação e manutenção da política de migração.
A política pública de migração para software livre nesta instituição seguiu os moldes tradicionais da adminstração pública. Ela atuou como por "decreto", fazendo minhas, as palavras do auditor do TCU citado anteriormente nesta dissertação. Com uma diferença, esta instituição não assumiu o ônus do retorno às tecnologias proprietárias. Pelo contrário, o DTCEA-MO, segundo o estudo feito pela equipe técnica local, e lançado em seu plano de migração que não foi aproveitado, economizaria diretamente cerca de R$ 60.000,00 por ano apenas em licenças de software. Isto sem falar na economia indireta que seria gerada pela diminuição nas manutenções de hardware, o que geraria uma operacionalidade maior do parque computacional e, consequentemente, mais horas de trabalho para consecussão das atividades fins do serviço público: atender a sociedade brasileira com eficiência.

1. 4.2 Considerações sobre a Migração do Parque Computacional da Prefeitura de Arapiraca

Arapiraca um município do estado de Alagoas, cuja população se aproxima de 200 mil habitantes, orçamento anual de 147 Milhões de reais que tem uma máquina pública que integra cerca de 6 mil funcionários, iniciou um plano de migração para plataformas livres no ano de 2001, utilizando cerca de 150 máquinas dentre computadores pessoais e servidores. Esta ação aconteceu antes mesmo do governo federal lançar a política pública de migração para software livre em 2003. Hoje, é um dos modelos nacionais de política de migração para software livre e conta com cerca de 1600 máquinas em seu parque computacional. Destas apenas as estações destinadas a trabalhos relacionados com projetos arquitetônicos e artes gráficas ainda continuam com sistema operacional proprietário. Isto porque os fabricante destes softwares específicos não os produzem com compatibilidade para plataformas livres.
O planejamento estratégico estabelecido pela GTInfo (Gerência de TI de Arapiraca) dita uma crescente aquisição de máquinas afim de informatizar o máximo possível os processos administrativos. Segundo Lucas Leão(BR-linux.org, 2005), gestor deste grupo, previa que com a migração para software livre "...até o final de 2006 terem 90% das máquinas com Linux. Sendo lançado Autocad e Coreldraw para linux fariamos 100%. Deixando apenas o terminal server com windows para emergências e programas do governo que exijam este sistema".
Essa mudança organizacional foi motivada pelas seguintes metas governamentais: Modernização Administrativa municipal, Inclusão Digital, Serviços Online e transparência nas ações municipais. O projeto foi financiado pelo BID (PNAFM) e pela Prefeitura de Arapiraca. A ação teve pleno apoio da autoridade máxima municipal. O prefeito através de decreto municipal instituiu as diretrizes do plano estratégico traçado pela equipe de tecnologia da informação daquele muinícipio ? GTInfo. São elas: Institui o Broffice como Suíte Office oficial; Define a Utilização de Linux; Orienta sobre a preferência pela aquisição de aplicativos com a disponibilização de código fonte; Obriga a receber um parecer da equipe técnica da Prefeitura para aquisições de licenças de software e Combate a pirataria obrigando a existência de licença para uso de aplicações proprietárias.
O decreto apenas determinou que seria prioritária a mudança. O processo em si foi demorado, cerca de 2 anos para se obter um nível aceitável de satisfação dos usuários finais. O plano de migração para as plataformas livres contou com um planejamento que incluia teste de usabilidade de diversas plataformas de software livre disponíveis afim de encontrar aquela que proporcionasse maior compatibilidade com o hardware legado e facilitasse ao máximo as manutenção em ambientes com um número elevado de estações. Esse plano contemplava também o levantamento de necessidades de todos os órgãos da prefeitura feita através da implantação de estações beta (experimentais) com ambientes gráficos distintos nos diversos setores da prefeitura.
Um dos maiores problemas encontrados pela equipe de migração foi a resistência imposta pelos usuários finais foi a substituição e utilização da suíte escritório Office(microsoft) pelo BROffice(SUN, hoje da ORACLE). Contudo a substituição de alguns componentes do software e o suporte dado pela equipe técnica foi primordial para que as barreiras da insatisfação fossem transpostas. A decisão sobre a aquisição de materiais inerentes ao setor de TI, de acordo com o planejamento estratégico, deveria ter o aval, passar pelo crivo da GTInfo. Dessa forma, o gestor de compras não poderia executar pedidos de materiais de tecnologia sem antes consultar o gestor de TI sobre as especificações técnicas dos produtos licitados. Conforme Lucas Leão(2005; citado por Gazeta de Alagoas, 2005),

O compartilhamento de informações e de aplicativos [programas com finalidade específica] será possível graças ao novo formato dos processos de licitação para aquisição de programas. De agora em diante, a Prefeitura fez opção pela compra não apenas da licença para utilização do produto, mas também de seu código fonte de licença para redistribuição. O vencedor da licitação terá que concordar com a produção de um produto que será compartilhado por quem dele necessitar.

Isto economizou tempo da equipe técnica e dinheiro ao erário do município de Arapiraca. A eliminação de alguns equipamentos que prejudicavam a migração também foi necessária. Muitos fabricantes de equipamentos de informática se negam a compatibilizar seus produtos com plataformas livres, tornando assim inviável o uso dos mesmos. É o caso de muitas impressoras de jato de tinta. Neste caso a trocas dessas por impressoras laser com comuinicação via rede ethernet otimizou o uso do recurso, e ainda tornou mais fácil o processo de auditoria de impressões. Os recursos economizados com a migração para plataformas livres foi muito satisfatório com ele a prefeitura aumentou consideravelmente seu parque computacional.De acordo Lucas Leão, o projeto permitiu que o parque computacional fosse ampliado em 400%. Passou de 400 para 1600 máquinas.
Falamos dos recursos materiais e um pouco da insatisfação dos usuários finais perante às migrações das suas estações de trabalho para software livre. Vejamos agora quais medidas foram adotadas pela equipe de migração para que os efeitos da mudança organizacional não fossem traumáticos para os usuários finais. Ficou decidido pelo planejamento estratégico desenvolvido pela GTInfo que sistema de informação grande porte seriam adquiridos externamente, de acordo com as regras de compatibilidade tecnológicas, pois a equipe não dispunha de desenvolvedores habilitados para o serviço. Já os sistemas de pequeno e médio porte seriam desenvolvidos pela equipe técnica da GTInfo que, mediante treinamentos ministrados do próprio gestor de TI, estava habilitada para este contexto. Para que todo o recurso computacional extra (comprado com recurso economizado nas licenças de software) adquirido pela prefeitura de Arapiraca fosse usado em prol do cidadão pelos usuários finais dos sistemas de informação, de forma eficiente, era necessário a promoção de treinamentos nas novas tecnologias implantadas. Daí foram contratados, junto ao SENAC-AL, uma série de cursos de capacitação em operação básica de microcomputadores e softwares livres. Com esta iniciativa, além do cidadão ser atendido mais rápido e melhor, colocou-se em prática um belo exemplo de inclusão digital executaso pelas políticas públicas. A capacitação da equipe técnica ficou a cargo do próprio gestor de TI da GTInfo, Lucas Leão, que irradiou seus conhecimentos em TI e especificamente em software livre, adquiridos ao longo dos anos, em trabalhos que executou e em pesquisas que participou, sempre na área de tecnologia e sistemas da informação. Conforme ele relatou, a capacitação da equipe de TI ocorreu internamente e foram ministrados cursos de conhecimento em: Banco de dados (PostgreSQL), Linux Desktop e Linux Servidores(infra estrutura). O aproveitamento foi muito bom e o suporte técnico foi satisfatório.
Vemos que o comprometimento dos atores envolvidos com com o projeto foi um dos fatores que mais influenciaram no sucesso da empreitada. O apoio dado pelo prefeito também foi de suma importância para que o projeto ganhesse força. O gestor tinha conhecimento avaçado das plataforma livres, e fez questão em pulverizá-lo a sua equipe. A equipe técnica por sua vez fez bom uso dos conhecimentos passados a ela, além de buscarem conhecimento em outras fontes. Os usuários finais tiveram sua participação ampliada em cursos e workshops, promovendo-se um verdadeiro processo de inclusão digital dentro das seções de trabalho do município de Arapiraca. A filosofia, "dividir para crescer", se aplica perfeitamente a este caso. Observamos um compartilhamento constante da informação criando os necessários ativos de conhecimento organizacionais para a sustentabilidade do projeto. Hoje, depois de quase uma década de ações, o projeto no Município de Arapiraca, conta com o reconhecimento nacional obtido junto ao Ministério do Planejamento. A prefeitura utiliza, além dos "desktops" com software livre, diversos sistemas de informação suportados por plataformas livres de código de programação abertos. São sistema na área de educação, saúde, tributária, atendimento ao cidadão, captação de recursos que proporcionaram grande eficiência no atendimento ao munícipe e um bom controle dos recursos públicos empregados nas ações dos projetos sociais. O município está no caminho da transparência com a coisa pública. Seria essa a direção que todos os municípios brasileiros deveriam buscar. Como afirma Lucas Leão em comentários feitos em diversos blogs e fóruns "Vamos fazer a nossa parte e espero que as outras cidades façam o mesmo, pois o dinheiro público deve ser usado com responsabilidade."

1. 5.3 Considerações sobre a Migração do Parque Computacional da Prefeitura de Recife

O entrevistado foi um membro da Assessoria de Tecnologia da empresas Municipal de informática de Recife (EMPREL). Acompanhando a entrevista estava o diretor de Tecnologia e Serviços de Informática, também da EMPREL. Os dois entrevistados, são engajados no movimento de Software Livre com grande conhecimento de tipos de licenças, metodologia de desenvolvimento, distribuições e outros assuntos correlatos.
O município conta com uma legislação que regulamenta o uso preferencial de software de código aberto por secretarias e órgãos públicos. Recife foi a primeira cidade do mundo a contar com esta legislação e a Lei é a 6639/2001. A Política de Software Livre para a Prefeitura portanto consta da Lei 16.639/2001 de 16.04.2001.
Desde 1997, a Prefeitura de Recife, através da EMPREL, vem utilizando software livre, o Linux em seus servidores. A opção pelo Linux foi em substituição ao AIX, uma estação RISC, da IBM que danificou e pelo levantamento realizado verificou-se que a empresas não tinha condições financeiras de arcar com as despesas do reparo. Neste ano então a plataforma RISC, AIX foi substituída por uma plataforma Intel, Linux. Para esta substituição a empresa contou com a parceria de um provedor de acesso da cidade que tinha capacitação no ambiente de infra estrutura livre. Depois desta substituição iniciou na empresa uma substituição gradual e controlada do ambiente de infra estrutura para soluções livre. A empresa decidiu que seria um laboratório para a experimentação de soluções livre que pudessem ser aplicadas na sua própria gestão e desenvolvimento e na prefeitura e todas as suas unidades administrativas. Atualmente o processo encontra-se dentro da própria EMPREL.
Incitado pela EMPREL o prefeito de Recife assinou em 2001 a Lei 6639/2001. Depois da assinatura da lei, os desktops da empresas começaram a ser substituídos por soluções com Linux e Openoffice sendo que hoje aproximadamente 20% das estações estão migradas.
Nota-se que a estruturação do plano de migração contemplou sabiamente o planejamento. O pleno apoio por parte dos gestores públicos fez com que as dificuldades fossem minimizadas. A passagem para plataformas livres foram feitas de forma gradativa e coordenada por uma empresa pública, a EMPREL. A criação desta empresa foi primordial para fomentar as ações em TIC demandadas pelo município. Consultoria por parte de instituições de capacitação profissional na área tecnologia foram uma constante, o que tornou o projeto mais operacional e com condições para se implantar ações de grande porte.

5.4 Considerações sobre a Migração do Parque Computacional da Prefeitura de Sobral(CE)

O entrevistado foi o Programador de Suporte Técnico, lotado na Coordenadoria de Informática, que ligada diretamente ao gabinete do prefeito com status de secretaria municipal.
O município não conta com lei de priorizarão de uso do software livre no serviço público. Existe na cidade uma ONG, Instituto de Comunicação e Informática que presta serviços em sua área da competência para a Prefeitura de Sobral e outras prefeituras da região. A ONG por exemplo, tem competência em elaboração de projetos para serem submetidos ao PNAFM e PMAT. A maior fonte de arrecadação é o IPTU. A prefeitura conta para o ano de 2004 com um orçamento de R$ 197.192.300,00 sendo que não há um orçamento específico para TICs.
Os riscos de implantação considerados pelos entrevistados foram referentes a migração do legado e o fato de que os aplicativos de produtividade, logo no início de seu uso não eram localizados para o Brasil. Um dos fatores para o sucesso foi citado o redirecionamento de recursos não gastos com licenças para melhoria do parque instalado. A prefeitura tem dois provedores de acesso sendo que um deles é de uso gratuito.
Sendo implantado no final da década de 90, o plano de migração para software livre da prefeitura de Sobral começou tímido. Porém ao longo dos anos ganhou força. Como primeiras ações no âmbito da tecnologia da informação, determinou a instalação de um provedor corporativo de acesso a Internet, colocando a administração municipal na era da globalização, e a aquisição de 25 novos microcomputadores e 2 servidores de arquivos. Embasado na sua experiência, manteve os olhos voltados para a qualidade dos equipamentos, fator crucial para o único funcionário de informática da época definir as especificações técnicas. Logo começou a crescente procura de todos os secretários pela informática. Surge a necessidade de contratação de pessoal. Foram celebrados alguns contratos de mão-de-obra especializada. As atividades da Prefeitura tornam-se cada vez mais organizadas e, por conseqüência, precisam de mais tecnologia para fazer bem feito. Daí em diante, adquirir novos computadores passou a ser rotina para todos os departamentos, até estarem adequadamente estruturados. Novas tecnologias foram se incorporando às atividades antes executadas manualmente, agilizando processos, garantindo a integridade das informações e permitindo maior acesso de quem precisa delas.
Nos anos seguintes houve o primeiro concurso público, cujo cargos de programador de computador e analistas foram ocupados por 2 profissionais, iniciando-se assim, o quadro de pessoal da Assessoria de Informática.
O plano de migração na prefeitura de Sobral inicialmente não obteve o apoio necessário para que fossem obtidos resultados satisfatórios. Os recursos economizados não foram aplicados nas TIC. O pessoal utilizado no processo de migração era insipiente e tinha um conhecimento limitado quanto a plataformas livres. Contudo era o que se tinha para começar o projeto. Com o aumento da demanda pública por soluções tecnológicas foi necessário maior investimento. Foi lançado edital para concurso de profissionais da área de desenvolvimento de softwares. Criou-se uma lei que destinava uma parte dos recursos economizados com os custos computacionais proprietários anteriormente utilizados nas secretarias. Dessa forma houve uma injeção de ânimo no projeto.
O comprometimento dos atores envolvidos foi maior e a resistência imposta às mudanças foram minimizada. O serviço de acessoria fornecido pela equipe técnica de informática minimizou os custos com manutenção. Hoje a prefeitura de Sobral é uma referência em aplicação de plataformas livres para soluções tecnológicas no âmbito da administração pública.

5.5 Considerações sobre a Migração do Parque Computacional da Prefeitura de Solonópole(CE)

Os entrevistados foram o Prefeito da cidade e empresário em Fortaleza e São Paulo, sócio da empresa Liberty, de Fortaleza, uma filial da Brasil Informática de São Paulo e um cidadão de Solonópole e apoio técnico da empresa Liberty que presta serviços a prefeitura de Solonópole.
O município conta com Lei 614/2001 que recomenda a priorizarão de uso do software livre no serviço público. O município conta como única fonte de arrecadação os repasses do governo estadual e federal. A arrecadação com IPTU é mínima, a agricultura é de subsistência. A prefeitura conta para o ano de 2004 com um orçamento de R$ 6.000.000,00 sendo que não há um orçamento específico para TICs. Do orçamento são utilizados 30% em educação, 20% em saúde. A cidade tinha, no início da gestão, o maior índice de mortalidade infantil do país. Segundo o entrevistado 98% das crianças estão na escola e 80% das escolas possuem laboratórios. Quando do início da atual gestão a prefeitura não contava com uma área de informática. O parque computacional de resumia a 3 computadores Pentium 100. Em 2000, quanto o atual prefeito assumiu o mandato foi implementada a solução de software livre em Solonópole. A solução foi implementada 60% pela equipe da empresa Liberty, suporte, técnicos e parte do desenvolvimento, e 40% pela equipe da empresa Informática Brasil, que ficou com a implementação da parte técnica pesada. Dentre as primeiras decisões da prefeitura estava instalar Internet wireless em Solonópole. em R$1000,00, fonte IPECE A empresa do prefeito vem trabalhando com Linux há 6 anos. A motivação para uso de SL foi ideológica e financeira. Após implantação percebeu-se os fatores técnicos de qualidade, segurança e liberdade. Hoje Solonópole possui 40 computadores com Internet. Conseguiram computadores sucateados por R$ 400 em Fortaleza e fizeram laboratórios nas escolas.
Como os riscos de implantação foram citados a rejeição dos membros do legislativo com o argumento de que para que dar informática se o povo precisa de arroz e feijão(sic). O contra argumento utilizado, segundo o entrevistado, foi que o povo precisa de informação, cultura e educação. É necessário que alguém no entorno operacional tenha conhecimento de SL, e na região existe a dificuldade de encontrar profissionais capacitados em tecnologia Java.
Neste caso a prefeitura teve bastante dificuldades por vários motivos: falta de mão de obra, resistência dos demais setores públicos do município, infraestrutura computacional precária, plano de investimento em TIC inexistente. As vantagens da migração para softwre livre foram a possibilidade da informatização devido a existência de soluções livres de baixo custo e a disponibilização de cultura e informação para a população. A primeira página web da prefeitura foi desenvolvida por um funcionário público sem nenhum conhecimento da área. Podemos explicar isso? Quando um processo de mudança tecnológico é implementado em um ambiente onde existe ausência de conhecimento da área tecnológica obtém-se uma necessidade de aprendizado. Isto leva os atores, se bem liderados, com um planejamento estratégico bem elaborado, uma motivação extra. Diferente de adquirir uma tecnologia já estabelecida sem participação no processo de mudança.
O caso da prefeitura de Solonópole é considerado um caso de sucesso. O prefeito tinha como meta a instalação de um pólo de treinamento de Linux e a implementação de Call Centers como alternativa ao desemprego. O projeto captou financiamento junto ao Banco do Nordeste. A prefeitura do município adotou o sistema operacional Linux no seu provedor de acesso, tanto nas estações como em servidores. Este serviço é disponibilizado gratuitamente para os habitantes da região eneltecendo o pragrama de inclusão digital.
A prefeitura acredita que a adoção de sistemas de código aberto poderá facilitaria o
município a se adequar à Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) criada pelo Governo Federal. E estavam certos, pois a economia com licenças de software e manutenção das estações de trabalho (desktops e servidores) contribuiu para o enquadramento do município na LRF.

6. CONCLUSÃO

Percebe-se que a implantação do software livre nas instituições públicas está intimamente ligada ao conhecimento existente sobre essa tecnologia, engrandecendo, portanto, o papel dos responsáveis pela implantação e manutenção do sistema. O investimento nas pessoas que participam do processo de mudança não propõe a total solução dos problemas relacionados à implantação do software livre nos órgãos públicos, mas é uma das principais ações que proporcionam o sucesso da implantação desta difícil política.
A política de migração para software livre mexe com modelos estagnados a décadas. A mudança de paradigmas causada pela filosofia do software livre vai de encontro ao mercado dos softwares proprietários, cujos representantes têm grandes aliados na esfera política nacional. Financiando contratos vultosos, fechados com empresas multinacionais de tecnologia, paira a mão trêmula do cidadão, cansado de ver seus impostos serem remetidos para fora do país. Entretanto, temos a certeza que os gestores públicos desse páis conscientizar-se-ão que podem gerir com excelência gastando menos com a compra de tecnologia estrangeira e mais com o desenvolvimento de tecnologia nacional. Felizmente, mesmo com todas as dificuldades, conseguimos em prol da implantação de uma tecnologia livre a união de diversos grupos - cientistas, estudantes, curiosos e etc - afastados geograficamente por milhares de quilômetros, mas unidos virtualmente pela internet, dispostos a compartilhar conhecimento e resolver problemas. O estudo de caso do DTCEA-MO mostrou uma equipe consciente do seu papel para com o serviço público. O comprometimento foi fundamental para que a equipe conseguisse a implementação e a manutenção dos sistema operacionais migrados.
Dentro do contexto apresentado é possível notar a mudança presente no dia-a-dia da organização quando se efetua uma política de migração para tecnologias livres. Dependendo do grau de participação dos usuários vemos bastante comprometimento para com a implantação e manutenção do novo cenário proposto a ele. Já a resistência a mudança existe, porém é prevista. Está inclusa nos riscos calculados dentro do planejamento estratégico. A geração de ativos de conhecimento para as instituições públicas é uma das melhores heranças que podemos atribuir a migração para o software livre. Isto porque avanços tecnológicos dependerão da criatividade dos atores envolvidos no contexto., nas suas habilidades em encontrar soluções para os diversos problemas relacionados à migração que fazem parte das necessidades operacionais de cada instituição. A capacitação desses atores é muito bem vinda. Economiza tempo, dinheiro e traz resultados menos traumáticos para todos, durante o processo de migração. Contudo, em casos onde a ação de capacitar demora ou não ocorre, e os participantes se sentem imbuidos desta vontade de vencer as adversidades, o processo de migração não retrocede. As barreiras impostas, tanto por multinacionais de software, quanto por gestores públicos, insipientes em seus planejamentos, não minam a perseverança daqueles que lutam para tornar as instituições públicas âmbitos de excelência em tecnologias sustentáveis. Os recursos que destinamos aos investimentos em tecnologias, escorregam pelas mãos dos gestores públicos e vão parar em outros países que simplesmente nos impõe um processo de soluções tecnológicas baseadas em "aprisionamento tecnológico". As instituições públicas brasileiras precisam de avanço tecnológico em seus processos administrativos, e o primeiro passo para se obter resultados positivos neste contexto, seria os gestores públicos acreditarem que o dinheiro destinado a capacitação dos envolvidos nos processos de melhoria das tecnologias de informação públicas não são gastos públicos; são investimentos.

7. REFERÊNCIAS

-Bacic, Nicolas (2006) - Estratégia Competitiva na Economia da Informação

-Baiardi, Amílcar (2008)- As dimensões regional e municipal na política de C&T&I Brasil

-Barata, Miller (2010) - Plano migração software livre parque computacional DTCEA-MO

-Cesar, Paulo(2010)Implantando um política software livre no município GEC

-Guia Livre (2005) Referência de Migração para Software Livre do Governo Federal - Brasília.

-HTTP://www.convergenciadigital.com.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=20079&sid

-Implementação do Software Livre (CISL) (2004)- Planejamento, Estratégia e Diretrizes.

-Junior, Edval Dan; Mateus, Jaqueline; Souto, Sandra (2008), Mudança organizacional: Técnicas empregadas para minimizar impactos e gerar comprometimento

-Leão, Lucas (2008) - Modernização administrativa com software livre

-Leão, Lucas (2010) - Relevância da implantação de software livre no setor público

-Luiz, Queiroz (2009) - Entrevista Auditor TCU

-Mendes, Cássia (2007) - Software Livre na Economia do Conhecimento

-Mendes, Cássia Isabel Costa - Software livre e inovação tecnológica: uma análise sob a perspectiva da propriedade intelectual / Cássia Isabel Costa Mendes.Campinas, SP, 2006.

-Quadros, Dante (2008) - Comportamento Organizacional

-Softex(2005).O Software livre nas prefeituras brasileiras: novas alternativas para a informatização da administração pública / Softex, Campinas.

-Relatório Anual (2004) ? Associação para Promoção da Excelência do Software Brasileiro

Autor: Miller Freitas


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