ISABEL, A CAMPONESA
Belo Horizonte, 11-12-1976
Era uma noite esplendida,
A lua clareava tudo
Exceto o longo caminho
Da camponesa Isabel,
Que voltava do trabalho
E caminhava para casa.
Estava morta de cansaço,
Quase que não andava.
Lutava contra a distancia
Que a separava da paz.
Debatia-se consigo mesma.
Sem saber de onde,
Aparecem dois rapazes
Filhos do fazendeiro
E barra o seu caminho,
Triste e miserável,
Como sua própria vida
De camponesa trabalhadora,
De donzela honrada.
Sem nada falarem
Os rapazes agarraram-na,
E Isabel grita
E de nada adianta.
Em seguida é jogada
Brutalmente no chão,
E os rapazes a possuem
Com a força do demônio,
Só para se divertirem.
Malditos latifundiários.
Não vêem que Isabel
É uma pobre camponesa
Miserável e surrada,
Pelo trabalho do dia a dia?
E agora?
Que será da camponesa?
Quando seu pai souber
Não a aceitará em casa.
Qual será o seu caminho?
Que dirá seu noivo?
Ele é um camponês trabalhador.
Qual será a sua tragédia?
De agora em diante
Seu caminho será único.
Os prostíbulos miseráveis
Da cidade mais próxima.
Os rapazes chegam em casa,
Contam ao pai o acontecido.
Este sorri orgulhoso
E apenas responde:
-Vocês são machos mesmo...
No dia seguinte
O pobre pai de Isabel,
Vai reclamar as contas
Com o poderoso fazendeiro.
O camponês reclama
A honra de sua filha,
E pede ao fazendeiro
Que seu filho se case
Com a pobre camponesa.
Ele lhe deve a honra.
O fazendeiro, sarcástico
Solta uma gargalhada
Que faz o pobre camponês
Chorar de humilhação.
O fazendeiro deixa claro
Que um filho seu
Não casará com uma "vagabunda"
Que nem tem o que vestir.
Deixa claro também
Que se o camponês insistir
Em cobrar a "falsa" honra
Da camponesa Isabel,
Ele e sua família
Serão expulsos da fazenda,
E morrerão de fome.
O camponês volta chorando.
Ao chegar em casa,
Isabel tinha ido
Morar num prostíbulo.
Seguia a escola do mundo.
Seguia a escala do submundo.
Agora Isabel se alugava
Pelo café da manhã.
Agora Isabel se vendia
Pelo almoço do meio-dia.
Autor: Gilberto Nogueira De Oliveira
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