A ENFERMAGEM E A PREVENÇÃO DO CÂNCER DE PRÓSTATA



O método foi constituído de revisão da literatura sobre a temática, realizada a partir de uma abordagem qualitativa. O material revisado foi estudado a partir da técnica de análise de conteúdo. A discussão dos resultados do estudo se desenvolve a partir de uma categoria de análise: O cuidado de enfermagem e as medidas de prevenção do câncer de próstata. Concluímos que há muito que se avançar em relação às medidas de condução na prevenção deste tipo de neoplasia. Estas não podem se restringir a iniciativas associadas a exames diagnósticos, devem perpassar as barreiras do preconceito e da negligência, ainda presentes na atenção a saúde do homem.

Palavras-chave: Câncer de Próstata, Prevenção, Enfermagem.


1-INTRODUÇÃO



O Câncer de próstata (CaP) é definido como a neoplasia de maior prevalência no homem, sendo considerada a segunda em no gênero, tendo sua progressão lenta e de difícil diagnóstico em cursos iniciais. Muitas são as preocupações associadas ao crescimento no número de casos e os esforços em sua prevenção, porém ainda não se configuram como significativos na redução desses índices. (FILHO, et al,2002)
Em estudo realizado pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA), observou-se que o número de mortes por câncer no Brasil aumentou 24,7% entre homens entre 1979 e 2004. Neste período, as mortes por câncer entre homens subiram de 85,58 para 106,74 por mil casos. O INCA estima que, a cada ano, 140 mil pessoas são vítimas da doença no Brasil e que 500 mil novos casos são diagnosticados. Estes números representam a somatória de todos os tipos de câncer, mas entre homens, o número de mortes por câncer de próstata aumentou 95,48%, em números absolutos é o segundo tipo de neoplasia que mais mata homens no país, depois do câncer de pulmão. JORNAL DO COMÉRCIO (2007).
De acordo com Rouquayrol (2006) a prevenção deste tipo de neoplasia está associado, a nível primário, a redução dos fatores de risco que colaboram para seu aparecimento estabelecendo uma relação de mudança de comportamentos em saúde que promovam sua redução.
As pesquisas relacionadas aos fatores que podem contribuir para o desenvolvimento do câncer de próstata permitiram identificar, até o momento, um conjunto de fatores de natureza intrínseca e extrínseca. Como exemplos de fatores de risco intrínsecos estão a idade, o gênero, a etnia ou raça, e a herança genética. Já no grupo de fatores de risco extrínsecos, diversos já foram identificados, como o uso de tabaco e álcool, hábitos alimentares inadequados, inatividade física, agentes infecciosos, radiação ultravioleta, exposições ocupacionais, poluição ambiental, radiação ionizante, alimentos contaminados, obesidade e situação socioeconômica. Há ainda na lista o uso de drogas hormonais, fatores reprodutivos e a imunossupressão. Essa exposição é cumulativa no tempo e, portanto, o risco de câncer aumenta com a idade. Mas é a interação entre os fatores intrínsecos e extrínsecos que vai determinar o risco individual de câncer. (INCA, 2008)
Em nível secundário, a prevenção se estabelece através da incorporação de meios e métodos de diagnóstico precoce do câncer de próstata, utiliza-se habitualmente o exame retal dirigido (toque retal), dosagem do antígeno prostático específico (PSA), os exames de imagem (ultrassonografia transuretral e tomografia computadorizada). (BRANCO, 2005)
Para Gomes, Nascimento e Araújo (2007) atualmente as campanhas de intervenção relacionadas a prevenção buscam um enfoque maior nessas medidas, abrindo possibilidades para a não disseminação de informações e dificuldades na educação continuada do grupo de homens, que já se apresenta como uma parcela de difícil intervenção e lotada de desprivilegios associados aos programas de atenção a saúde em nível primário.
Até o surgimento do programa de atenção integral a saúde do homem, não existiam programas com atuação específica ao gênero, com exceção do programa de atenção a saúde do trabalhador, o que demonstra uma despreocupação com os índices alarmantes de morbimortalidade pelas causas que os acometem. Os tumores, em especial os prostáticos, tem sua incidência em destaque como metas de intervenção deste programa, porém ainda não são enfatizados os métodos de prevenção em nível primário, e sim, associados a reabilitação do individuo submetido a intervenções cirúrgicas curativas e terapias associadas nesse tratamento. (MIRANDA, 2004)
A prevenção do câncer tem o enfermeiro como membro de uma equipe multidisciplinar para cuidado ao paciente. Vanzin e Nery apud Cestari (2005) destacam esse como um profissional chave na equipe de saúde oncológica, sendo ele capaz de realizar atividades de prevenção e promoção a saúde, porém esta ainda é uma especialidade pouco explorada pelos profissionais, sendo necessário nessa atuação preparação profissional e habilidade com as estratégias de intervenção coletiva.
Essas dificuldades são apoiadas pela formação e atuação corriqueiras do profissional enfermeiro no modelo biomédico, onde há enfoque na reabilitação e cura dos agravos e não atuação nos ideais da saúde publica.
O câncer de próstata é notadamente reconhecido como um problema de saúde pública, dado a sua magnitude no quadro de morbimortalidade masculina, já possuindo consenso entre órgãos oficiais sobre o seu controle e a sua prevenção. Para que se avance na discussão de medidas específicas de prevenção desse tipo de câncer, faz-se necessário investigar qual é o estado da arte das recomendações sobre o assunto divulgadas acerca dessa temática.




2 - REVISÃO DE LITERATURA



2.1- CÂNCER DA PRÓSTATA: GENERALIDADES.


O câncer é uma doença relativamente comum no mundo. Nos países desenvolvidos, atualmente e em média, cerca de uma pessoa em cinco morre de câncer. Esta proporção nos países em desenvolvimento é de uma morte para cada 15 indivíduos, porém deve-se considerar a estrutura etária mais jovem das populações destes países. (FILHO, et.al.,2002).
Como decorrência da constante queda da mortalidade por doenças cardiovasculares observadas em diferentes partes do mundo desde a década de 60, o câncer já assumiu em alguns países o papel de principal causa de morte na população. No tocante às neoplasias malignas no Brasil, a industrialização, a urbanização, a exposição freqüente a uma gama de produtos cancerígenos e a expectativa maior de vida contribuem para que o câncer venha assumindo uma importância relativa cada vez maior entre as causas de morte. (GUTIÉRREZ, et. al., 2000).
Com o aumento da expectativa de vida, doenças como o câncer de próstata, que surgem com o envelhecimento e que potencialmente podem ser detectadas e tratadas precocemente, vêm assumindo uma dimensão cada vez maior, não somente como um problema de saúde pública, mas pelo impacto socioeconômico sobre a população. (DINI, 2006).
O câncer de próstata é um crescimento maligno das células glandulares da próstata, caracterizando-se como o mais comum dos cânceres entre homens, assumindo o segundo tipo de neoplasia que mais mata homens. (BRUNNER & SUDDARTH, 2006)
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o CaP é a neoplasia mais comum entre homens e o segundo maior causador de mortes no Brasil. Raramente este tipo de câncer causa sintomas até que se encontre em forma avançada. Todavia, nos casos sintomáticos, o portador pode se queixar de retenção urinária e sensação de não esvaziamento da bexiga. (TONON E SCHOFFEN, 2009)
Para Rouquayrol (2003) todos os homens estão expostos à condição de desenvolver câncer de próstata. A prevalência aumenta com a idade, sendo esta variável o melhor indicador do seu risco de morte, e este aumento é maior com o câncer de próstata do que com qualquer outro câncer.

Tabela 1 ? Prevalência do Câncer de Próstata de acordo com a idade.
Faixa Etária Prevalência
< 39 Anos 1: 100.000
40 ? 59 Anos 1: 103
60 ? 79 Anos 1: 8
Fonte: ELLSWORTH, Pamela; HEANEY, John; GILL, Cliff. São Paulo, 2003.

Basicamente, a cada dez anos após a idade de 40 anos, a incidência de câncer de próstata praticamente dobra, com um risco de 10% para homens com 50 anos, aumentando para 70% em homens com 80 anos. (ELLSWORTH, et. al. ,2003).
Dados do INCA (2008) mostram que o número de novos casos diagnosticados de CaP no mundo é de aproximadamente 543 mil por ano, representando 15,3% de todos os casos incidentes de câncer em países desenvolvidos e 4,3% dos casos em países em desenvolvimento. O CaP é o tipo de neoplasia mais prevalente em homens, com estimativa de 1,5 milhões de casos diagnosticados nos últimos anos. Este tipo de câncer é raro antes dos 40 anos, mas a incidência aumenta constantemente com a idade, atingindo quase 50% dos indivíduos com 80 anos, e quase 100% dos com 100 anos.
De acordo com Ellsworth, et. al. (2003) o câncer de próstata está relacionado aos hormônios sexuais. Raramente se desenvolve em homens submetidos à orquiectomia precoce. Existe uma correlação entre câncer de próstata e altos níveis de testosterona. Não parece haver uma correlação clara entre tamanho corporal e risco de desenvolvimento desse tipo de neoplasia; entretanto, homens com câncer de próstata que tiveram um aumento de peso no início da idade adulta, tendem a ter cânceres mais agressivos. O fumo não parece aumentar o risco de câncer; entretanto, os fumantes têm cânceres mais agressivos que os não fumantes. A atividade física parece diminuir o risco de câncer de próstata. Fatores alimentares e genéticos desempenham um determinado papel no risco de desenvolver este tipo de câncer.
De acordo com Brunner & Suddarth (2003, p. 1248) o câncer de próstata, em seus estágios iniciais, raramente produz sintomas e não existem sinais ou sintomas que sejam específicos deste tipo de câncer. Os sintomas que se desenvolvem devido à obstrução urinária ocorrem tardiamente na doença. Quando o câncer de próstata é detectado em estágio inicial, a probabilidade de cura é alta. Todo homem com mais de 40 anos de idade deve realizar em Exame Retal Digital (ERD) como parte de seu histórico regular de saúde. A palpação retal repetida rotineira da próstata é importante, pois o câncer precoce pode ser percebido como um nódulo dentro da substância da glândula, ou um endurecimento excessivo do nódulo posterior. A lesão mais avançada é fixa e endurecida. O ERD também fornece informações clínicas úteis sobre o reto, esfíncter anal e qualidade das fezes.
Outra forma diagnóstica para câncer de próstata é, Segundo Miranda, et al. (2004). A dosagem do Antígeno Prostático Específico (PSA), uma protease da serina neutra, é produzido pelo epitélio prostático ductal normal e neoplásico e secretado na luz glandular. Um exame de sangue simples pode detectar e mensurar os níveis do PSA. A concentração do PSA no sangue é proporcional à massa prostática total. Embora o nível de PSA indique a presença de tecido prostático, ele não significa necessariamente a malignidade. O exame de PSA é rotineiramente utilizado para monitorar a resposta do paciente a terapia contra o câncer e para detectar a progressão local e a recidiva precoce do câncer de próstata. A combinação do ERD com o teste do PSA parece ser um método com boa relação custo-benefício para detecção do câncer de próstata. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cancerologia, recomenda-se que a partir dos 50 anos, o ERD anual e a mensuração do nível do PSA sejam oferecidos aos homens que apresentam uma expectativa de vida mínima de 10 anos e para homens mais jovens que estejam em alto risco.
O diagnóstico de câncer de próstata é confirmado por um exame histológico do tecido removido por meio cirúrgico através da ressecção transuretral, prostatectomia aberta ou biópsia transuretral por agulha. A aspiração por agulha fina é um método rápido e indolor de obter células da próstata para o exame citológico. O procedimento também é valioso para determinação do estágio da doença. (ELLSWORTH, et al, 2006)
Os exames ultra-sonográficos (TRUS) são indicados para homens que possuem níveis elevados do PSA e achados anormais no ERD. Os exames TRUS ajudam na detecção de cânceres de próstata impalpáveis e auxiliam com o estagiamento do câncer de próstata localizado. (BRUNNER & SUDDARTH, 2006)
Outros exames incluem imageamento ósseo, para detectar a doença óssea metastática: radiografias do esqueleto, para identificar metástases osteoblásticas: urografia excretora, para detectar alterações provocadas por obstrução ureteral: testes da função renal e imageamento por tomografia computadorizada (TC) ou linfangiografia, para identificar metástases nos linfonodos pélvicos. (ELLSWORTH, et al, 2006).
Os homens com câncer de próstata comumente experimentam disfunção sexual antes que o diagnóstico seja feito. Cada tratamento para câncer de próstata aumenta ainda mais a incidência de problemas sexuais. (BRUNNER & SUDDARTH, 2003)
O tratamento do câncer de próstata baseia-se no estágio da doença e na idade e sintomas do paciente. Partin et al. Apud Brunner & Suddarth (2003) combinaram os níveis de PSA com o estágio clínico e o grau patológico do tumor visando criar um nomograma para predizer o estágio patológico do câncer de próstata localizado.
De acordo com (ELLSWORTH, et al, 2003) existem diversas opções de tratamento para o câncer de próstata, cada um dos quais com seus próprios riscos e benefícios ao paciente, sendo estes a cada dia mais aprimorados, o que possibilita que os mesmos se tornem mais efetivos, menos mutilantes e menos traumáticos. No entanto as principais armas terapêuticas contra o câncer de próstata continuam sendo o tratamento cirúrgico (prostatectomia radical e crioterapia da próstata), a radioterapia e a terapia hormonal.
Segundo Figueiredo (2003), quando o câncer de próstata é detectado em seu estado inicial, o tratamento pode ser a radioterapia curativa - quer a teleterapia com um acelerador linear, quer a radiação intersticial (implante de pérolas radioativas de iodo ou paládio), também referida como braquiterapia. A teleterapia envolve cerca de 6 a 7 semanas de tratamento diários com radiação (5 dias/semana). O implante de pérolas intersticiais é efetuado sob anestesia. Cerca de 80 a 100 pérolas são colocadas com orientação ultra-sonográfica. O paciente retorna para casa depois do procedimento. A exposição de outras pessoas à radiação é mínima. O contato íntimo com mulheres grávidas e lactentes é evitado. As orientações de segurança para radiação incluem o uso de uma peneira para coar a urina e recuperar as pérolas e o uso de preservativo durante a relação sexual até 2 semanas após o implante.
A cirurgia é o tratamento encetado com maior freqüência, permanecendo, ainda, como procedimento cirúrgico preconizado para os pacientes que apresentam doença em estágio inicial, potencialmente curável, e uma expectativa de vida de 10 ou mais anos. Envolve a remoção da próstata inteira, podendo ser feita através de uma incisão que se estende da região mesogástrica (periumbilical) até a sínfise púbica, através de uma incisão perínea (entre o escroto e o ânus) e mais recentemente por laparoscopia. (ELLSWORTH, et al, 2003).
A crioterapia da próstata é usada para ablação do câncer de próstata por pacientes que não poderiam tolerar fisicamente a prostatectomia radical ou naqueles com recidiva de câncer de próstata. As sondas transperineais são inseridas dentro da próstata com orientação por ultra-som, a fim de congelar diretamente o tecido. A quimioterapia, como a doxorrubicina, cisplatina e ciclofosfamida também pode ser empregada. (BRUNNER & SUDDARTH, 2006)
De acordo com Brunner & Suddarth (2006) , a terapia hormonal é um método empregado para controlar, em vez de curar, o câncer de próstata. No início dos anos 40, ficou determinado que a maior parte dos cânceres de próstata eram androgênio-dependentes e que poderiam ser controlados com a retirada do androgênio. A terapia hormonal para o câncer de próstata avançado suprime todos os estímulos androgênicos para a próstata por diminuir os níveis plasmáticos circulantes de testosterona ou interromper a conversão ou fixação da diidrotestosterona. Em conseqüência disso, o epitélio prostático sofre atrofia. Esse efeito é obtido por orquiectomia ou através da administração de medicamentos.
Seja qual for o tipo de tratamento, faz-se necessário que a enfermagem esteja plenamente capacitada para prestar assistência de qualidade para estes clientes, sem desconsiderar, no entanto, a visão holística no momento do cuidar. Assim a enfermagem precisa estar atenta a toda queixa ou manifestação do cliente, procurando valorizá-las. (FIGUEIREDO, 2003).
Como grande número dos pacientes afetados apresentam tumores localmente avançados ou evidência de doença metastática no momento em que procuram o tratamento pela primeira vez, as medidas paliativas estão indicadas. Embora as curas sejam improváveis como câncer de próstata avançado, muitos homens sobrevivem por longos períodos, aparentemente sem a doença metastática. (ELLSWORTH, et al, 2003).



2.2 - PREVENÇÃO DO CÂNCER DE PRÓSTATA



Prevenção é definida como a arte de evitar doenças, prolongar a vida e desenvolver a saúde física e mental e a eficiência, através de esforços organizados da comunidade para o saneamento do meio ambiente, para o controle de infecções comunitárias, organização de serviços médicos e paramédicos para o diagnóstico precoce e o tratamento preventivo das doenças, e o aperfeiçoamento da máquina social, que irá assegurar em cada individuo, dentro da comunidade um padrão de vida adequado a manutenção da saúde. (ROUQUAYROL, 2003)
Os métodos preventivos podem ser estabelecidos pré-patogênicos e patogênicos. Nesse sentido o conhecimento da história natural da doença favorece o domínio das ações preventivas necessárias. Se um dos fundamentos da prevenção é cortar elos o conhecimento deste é fundamental para que se atinjam os objetivos colimados. Devem, ainda, ser considerados os aspectos relacionados com o agente, o suscetível e o meio ambiente, e com a evolução da doença no indivíduo.
A prevenção primária se estabelece com a intercepção dos fatores pré-patogênicos incluindo medidas de promoção a saúde e proteção específica. Relacionado ao panorama em que se encontra os índices epidemiológicos e as atuais estimativas da doença para o futuro se estabelece como prioritária a atenção na mudança de comportamentos em saúde que previnam o CaP e que possibilitem hábitos de vida desejáveis para minimização deste agravo na população masculina.
A prevenção secundária é realizada no indivíduo, já sob ação do agente patogênico, ao nível do estado da doença e inclui medidas diagnósticas e de tratamento precoce inviabilizando a invalidez. Há alguns anos, o sistema público de saúde tem disponibilizado à população a realização do exame de prevenção do câncer de próstata. Porém, a demanda ainda é insignificante, possivelmente em decorrência do homem não ter hábito de buscar o serviço de saúde, nem mesmo na vigência de queixas. Quando se trata de exame dessa natureza, a adoção dessa conduta preventiva é bloqueada também pelo preconceito, além do déficit de educação sanitária da população inerente à prevenção. Todavia, o fato mais preocupante é que muitos profissionais de saúde ? enfermeiros e médicos ? não orientam esses clientes para o exame de prevenção do câncer de próstata, uma vez que esses clientes são acompanhados sistematicamente pela equipe de saúde a fim de serem controlados os seus próprios problemas de saúde. Além desse controle, há uma recomendação do Ministério da Saúde para a realização anual dessa conduta pela clientela com idade a partir dos 40 anos. (VIEIRA, et al,2008)
Levando-se em consideração as evidências científicas até o momento e partindo-se do preceito ético que o conjunto das estratégias de detecção precoce e tratamento de um câncer deva resultar em mais benefício do que dano, tanto na perspectiva do indivíduo quanto da população, recomenda-se, de acordo com o INCA (2008):
? Não indicar o rastreamento populacional, baseado na ausência de evidências da efetividade das modalidades terapêuticas propostas para o câncer em estádios iniciais e do risco de seus efeitos adversos. Esta posição será reavaliada após os resultados dos ensaios clínicos atualmente em andamento nos Estados Unidos (Prostate, Lung, Colorectal, and Ovarian Cancer Screening Trial ? PLCO) e Europa (European Randomized Screening for Prostate Cancer Trial ? ERSPC);
? Sensibilizar a população masculina para a adoção de hábitos saudáveis de vida (dieta rica em fibras e frutas e pobre em gordura animal, atividade física e controle do peso) como uma ação de prevenção do câncer; ? indicar o rastreamento oportunístico (case finding), ou seja, a sensibilização de homens com idade entre 50 e 70 anos que procuram os serviços de saúde por motivos outros que o câncer da próstata sobre a possibilidade de detecção precoce deste câncer por meio da realização dos exames do toque retal e da dosagem do PSA total, informando-os sobre as limitações, os benefícios e os riscos da detecção precoce do câncer da próstata. Para tanto, foi apontada a necessidade de se propor alterações na Lei 10.289, para adequá-la a critérios técnico-científicos. Com as correções propostas, o Parágrafo II do Art. 4º tomaria a seguinte redação: "parcerias com as Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, colocando-se à disposição da população masculina, acima de cinqüenta anos, exames para a detecção precoce do câncer da próstata";
? Sensibilizar os profissionais de saúde (generalistas e especialistas), capacitando- os e reciclando-os quanto a novos avanços nos campos da prevenção, detecção precoce, diagnóstico, tratamento e cuidados paliativos no câncer da próstata;
? Estabelecer parcerias com instituições universitárias visando ao melhor conhecimento de temas relacionados à prevenção, detecção precoce, tratamento e cuidados paliativos no câncer da próstata e sua inclusão no currículo das escolas biomédicas.
Por sua vez, a prevenção terciária consiste na prevenção das incapacidades através de medidas destinadas a reabilitação.



2.3 - ESTRATEGIAS DE PREVENÇÃO DO CÂNCER E ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM.



A prevenção do câncer a nível primário estabelece a necessidade de intervenções associadas a educação em saúde para mudança de comportamentos e hábitos em saúde dos indivíduos. A educação se configura como uma ferramenta de intervenção apropriada na identificação dos fatores de risco que a população está exposta e que podem corroborar com o aparecimento de doenças neoplásicas. Fator de risco para uma neoplasia configura-se como qualquer fator intríseco ou extrínseco que proporcione aparecimento e evolução de um determinado tipo de tumor. Como exemplos de fatores de risco intrínsecos estão a idade, o gênero, a etnia ou raça, e a herança genética. Já no grupo de fatores de risco extrínsecos, diversos já foram identificados, como o uso de tabaco e álcool, hábitos alimentares inadequados, inatividade física, agentes infecciosos, radiação ultravioleta, exposições ocupacionais, poluição ambiental, radiação ionizante, alimentos contaminados, obesidade e situação socioeconômica. Há ainda na lista o uso de drogas hormonais, fatores reprodutivos e a imunossupressão. Essa exposição é cumulativa no tempo e, portanto, o risco de câncer aumenta com a idade. Mas é a interação entre os fatores intrínsecos e extrínsecos que vai determinar o risco individual de câncer.



3 ? METODOLOGIA



Trata-se de um estudo bibliográfico, do tipo revisão de literatura, com abordagem qualitativa.
Para tanto foi realizada busca sistemática das fontes de pesquisa em bancos de dados on line de acordo com os descritores da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS): Câncer de próstata, prevenção e Enfermagem oncológica. Nesse sentido foram acessadas as plataformas de dados on line Scielo, Bireme e Lilacs de onde obteveram-se 15 artigos para análise dos dados. Após esta etapa iniciou-se a leitura dos artigos para evidenciação dos pontos chaves e estruturação da discussão das variáveis que foi arquitetada em uma categoria de análise: O cuidado de enfermagem e as medidas de prevenção do câncer de próstata.
A partir desses pressupostos, foram percorridos os seguintes passos para análise: 1 ? leitura dos artigos para elucidação da temática; 2- identificação das idéias e sua coerência com os os objetivos do estudo; 3- organização dos artigos e construção do texto de discussão. Após estas etapas, na categoria de análise se estabeleceu a comparação das medidas de prevenção do câncer de próstata de acordo com o nível de complexidade e atuação da Enfermagem.



4 ? DISCUSSÃO



? O CUIDADO DE ENFERMAGEM E AS MEDIDAS DE PREVENÇÃO DO CÂNCER DE PRÓSTATA.



A enfermagem, desde seus primórdios, vem acumulando um corpo de conhecimentos e técnicas empíricas e hoje desenvolve teorias relacionadas entre si que procuram explicar estes fatos à luz do universo natural. Essas técnicas e conhecimentos acumulados ao longo dos séculos contribuem, nos dias atuais, na tomada de medidas de atenção em saúde que ajudam na promoção, prevenção e reabilitação de agravos. Relacionando estas práticas e saberes a luz da enfermagem oncológica percebemos que os avanços do ponto de vista preventivo ainda caminham a passos curtos, o que dificulta a implementação de medidas que promovam a mudança de uma realidade ainda pouco conhecida.
As medidas de prevenção de agravos se estabelecem em níveis de complexidade assistenciais que determinam como se dá o comportamento dos serviços no recebimento e norteamento do paciente nas redes de encaminhamento propostas. O CaP é um agravo que possui uma rede de prevenção organizada nesses níveis de atenção, porém existem percalços que impedem a sua prática, sendo a resistência e a estereotipação da doença na sociedade que coloca o ser masculino em situação de vulnerabilidade em relação a doença, já que culturalmente aprende-se que o Homem é o ser inatingível e supremo em relação as moléstias e que por assumir este papel, não deve se ater a preocupações com seu estado de saúde. Este comportamento é comumente assumido em muitas regiões do Brasil, tendo ênfase maior nas regiões Norte e Nordeste.
Num contexto geral a prevenção primária ao CaP é uma modalidade pouco explorada, as atividades educativas ainda não são o foco primordial no despertar de comportamentos saudáveis na população masculina jovem ou na faixa etária de risco para desenvolvimento da doença. Alguns fatores tornam-se determinantes na não adesão das comunidades masculinas a estas propostas, sendo: 1- O grupo de profissionais das Estratégias de Saúde da Família (ESF) ainda não enxergam o CaP como um agravo que mereça abordagem nesse nível de atenção; 2- O nível de instrução das comunidades não é satisfatório, do ponto de vista de assumir os comportamentos desejáveis e mantê-los como rotineiros para manutenção do estado de saúde; 3- O programa Nacional de Atenção a Saúde do Homem ainda não é implementado no que diz respeito as suas políticas em saúde e as premissas da prevenção do aparecimento das neoplasias.
Os níveis secundários de prevenção se organizam com o intuito de promover o diagnostico precoce das doenças neoplásicas e assim promover o mapeamento e encaminhamento dos indivíduos portadores do tumor. Os órgãos municipais e estaduais em saúde entendem que a atividade é uma forma de promover a atenção a grupos que antes não eram privilegiados e incluem em seu calendário de atividades em saúde momentos campais com a presença de equipes que promovem esta coleta de amostras e um possível rastreamento da população de risco para o agravo, porém observa-se que esta prática utiliza apenas a dosagem do PSA na elucidação diagnóstica, com o intuito de aproximar a população masculina afastada e amedrontada quanto a realização do ERD. Nesses momentos se esquece o quanto há uma situação adequada para o estabelecimento de medidas preventivas de baixo custo e fácil adesão, como a educação em saúde, por exemplo, e se troca momentos de escuta e troca de informações pela realização de exames laboratoriais, que por muitas das vezes não são entregues aos pacientes e quando assim acontece não são mais efetivos, pois a doença já tomou proporções maiores e incapacitantes ao individuo.
Os serviços de atenção em saúde, em nível hospitalar estão se deparando com um momento de "boom" na admissão e tratamento de pacientes com diagnóstico de câncer, principalmente o CaP, estando em estágio avançado e demandando um custo maior na contrapartida dos serviços em saúde. Realidade esta que atinge não só os serviços especializados nem os de alta complexidade em oncologia, mas também os serviços com caráter distinto implicando em déficits assistenciais do ponto de vista da equipe de enfermagem, não capacitada para este tipo de trabalho, e principalmente para o paciente que em maior parte das vezes tem sua doença em estágio avançado e não tem possibilidade de agir contra toda a corrente que tende a manter as equipes de atenção em saúde distantes da assistência ao paciente com câncer.



5 ? CONSIDERAÇÕES FINAIS



Em suma, a Enfermagem precisa desenvolver estratégias de maior impacto social em saúde nas comunidades para assim ter resultados significativos na redução dos índices de hospitalização e morbimortalidade pela doença. Essa efetivação deve englobar o programa nacional de atenção a saúde do homem no sentido de utilizar suas políticas como norteadoras da assistência e possibilitar estratégias multiprofissionais na atenção básica em saúde, prioritariamente, para medidas preventivas de baixo custo e de poder efetivo de alta adesão. A formação acadêmica em enfermagem ainda não prioriza a oncologia como foco de formação médico-cirúrgica e de intervenção na atenção básica, outro fator contribuinte para esquecimento do paciente oncológico nestes níveis de atenção.



REFERÊNCIAS



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Autor: Diego Augusto Lopes Oliveira


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