Efeitos Do Ruído Em Motoristas De Ônibus Do Município De Itaperuna - RJ



1 INTRODUÇÃO

A rápida urbanização e o avanço tecnológico trouxeram ao homem uma melhoria de vida proporcionando-lhe bem-estar e comodidade, contudo trouxeram também por conseqüência, alguns efeitos prejudiciais à sua saúde como o aumento dos níveis de pressão sonora das cidades (MARTINS et al, 2001).

O ruído de tráfego é um grande responsável pela poluição sonora urbana. Podemos perceber isso facilmente nos cruzamentos de avenidas movimentadas, pela má conservação dos veículos automotores, falta de isolamento acústico dos motores e escapamentos, atrito dos pneus com o asfalto, a má conservação da pavimentação das vias públicas e as buzinas. (FREITAS & NAKAMURA, 2004).

Diariamente estamos expostos a elevados níveis de ruído. Dessa forma, tudo nos leva a crer que o ruído nas vias de transito, pode ser tão prejudicial quanto o industrial, que é abordado com maior freqüência em estudos e pesquisas (MARTINS et al, 2001).

Desde o século passado, existe a preocupação com a questão da poluição sonora nas cidades, tendo sido elaboradas algumas leis com o objetivo de controlá-la. Segundo pesquisas realizadas, o ruído dos veículos automotores é o que mais contribui para a poluição sonora nas cidades, estando os ônibus em primeiro lugar, seguidos por outros, como ambulâncias, caminhões e motos (FREITAS & NAKAMURA, 2004).

Os altos níveis de pressão sonora tornam-se mais perigosos quando se trata de ruído no ambiente de trabalho devido a sua intensidade, tempo de exposição e efeitos combinados com outros fatores de risco, como produtos químicos ou vibração (SILVA, 2002 apud MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006; DIAS, et al 2006).

Os Motoristas de ônibus de motor dianteiro são exemplos de trabalhadores que convivem diariamente com o ruído e conseqüentemente sofrem com os danos causados por esta exposição contínua, tanto do ruído do tráfego das vias públicas como do ruído proveniente do seu próprio veículo (Siviero, 2005).

Segundo Fernandes et al. (2004), o trabalho do motorista de ônibus urbano torna-se arriscado, do ponto de vista auditivo, devido à localização do motor na posição dianteira, grande potência desse motor, ao alto nível de ruído do ambiente urbano, ao tempo de exposição ao ruído e à falta de manutenção dos veículos.

Rossi & Junior (2004), afirmam que a exposição sistemática e prolongada ao ruído traz efeitos nocivos ao organismo humano. Um desses prejuízos é a Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR), definida como sendo alteração irreversível e progressiva, decorrente da lesão das células ciliadas do Órgão de Corti.

Além da Perda Auditiva, já se reconhece hoje que o ruído também é responsável por diversas manifestações patológicas não-auditivas, como cefaléia, tontura, distúrbios gástricos (gastrite e úlcera gastroduodenal), estresse, distúrbios de atenção, do sono, do humor entre outros. (AZEVEDO, 2004).

Os distúrbios atribuídos à exposição do ruído vão depender da freqüência, intensidade, duração e o ritmo do ruído, assim como do tempo de exposição e da suscetibilidade individual (VIEIRA, 1999).

De acordo com Kasper et al (2005), os sons contínuos são menos traumatizantes que os sons interrompidos, pois apesar do primeiro impacto sonoro ser recebido sem proteção, os demais são atenuados pelo mecanismo de proteção. No entanto, em ruídos interrompidos, os impactos não têm atenuação, já que entre um som e outro há tempo para o mecanismo de proteção relaxar-se.

Deve-se levar em conta também que há outros agentes causais das perdas auditivas ocupacionais que independentemente de exposição ao ruído ou que ao interagir com este, potencializam os seus efeitos sobre a audição. No caso dos motoristas de ônibus, podem ser citadas as exposições ao Monóxido de Carbono (CO) e as vibrações de corpo inteiro (VCI) (LACERDA et al, 2005; Silva & Mendes, 2005).

A saúde do trabalhador é um assunto que atinge a todos e é do interesse da sociedade como um todo (PALMA, 1999).

Diante disso, é importante conhecer as principais alterações auditivas e extra-auditivas provocadas pela exposição ao ruído ocupacional em motoristas de ônibus urbano. Esta pesquisa abordará motoristas do município de Itaperuna-RJ.


2 Justificativa

Sabemos da necessidade do bem estar físico e mental para um bom desempenho do indivíduo, tanto em atividades profissionais como na vida social.

Assim, é de grande importância pesquisar a respeito da saúde e dos efeitos do ruído em motoristas de ônibus de Itaperuna - RJ, pois estes profissionais estão submetidos continuamente a ruído intenso, poluição e outros potencializadores da perda auditiva e de alterações extra-auditivas. Além disso, a maioria dos estudos nessa área está voltada para o setor industrial, dando-se pouca ênfase à saúde auditiva dos condutores de ônibus.


3 objetivos

 

3.1 Objetivo Geral

·Analisar os principais efeitos do excesso de ruído em motoristas de ônibus urbano do município de Itaperuna.

3.2 Objetivos específicos

·Levantar aspectos teóricos e legais sobre o ruído urbano e saúde auditiva ocupacional.

·Conhecer e estudar, as condições de saúde do grupo pesquisado.

·Relacionar a presença de sintomas ao tempo de serviço exposto ao ruído.

·Relacionar os possíveis problemas detectados com os efeitos descritos na literatura


4 RUÍDO: DEFINIÇÃO E EFEITOS

O ruído é um sinal acústico aperiódico, de grande complexidade, originado da superposição de vários movimentos de vibração com diferentes freqüências que não apresentam relação entre si (RUSSO, 1999). Seu espectro sempre será uma confusa composição de harmônicas sem qualquer classificação ou ordem de composição (FERNANDES, 2002).

Em relação à Psicoacústica, enquanto o som é utilizado para descrever sensações prazerosas, o ruído é usado para descrever sons indesejáveis ou desagradáveis (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006).

De acordo com CARMO (1999), o ruído afeta o organismo humano de várias maneiras, causando prejuízos tanto no funcionamento do sistema auditivo quanto no comprometimento da atividade física, fisiológica e mental do indivíduo a ele exposto.

Os efeitos nocivos do ruído sobre o organismo humano podem ser classificados de duas maneiras. O primeiro tem ação direta no sistema auditivo e é chamado de efeito auditivo. O segundo é o efeito extra-auditivo, resultando numa ação geral sobre várias funções orgânicas (MEDEIROS, 1999).

4.1 EFEITOS AUDITIVOS DO RUÍDO

Segundo CARMO (1999), os efeitos do ruído sobre a audição podem variar desde uma alteração passageira até a perda irreversível da mesma. Estas podem ser divididas em três categorias: (1) Trauma Acústico (exposição aguda); (2) Mudança temporária no limiar (exposição aguda); (3) Mudança Permanente do Limiar (exposição crônica).

OTrauma Acústico consiste numa perda auditiva de instalação súbita, provocada por ruído repentino e de grande intensidade, como uma explosão ou uma detonação. Normalmente é unilateral e acompanhada de zumbido (SANTOS, 1999 apud PINTO, on line). Eventualmente, o trauma acústico pode acompanhar-se de ruptura da membrana timpânica e/ou desarticulação da cadeia ossicular, o que pode exigir tratamento cirúrgico (MELLO, 1999).

Já Mudança Temporária do Limiar, conhecida também como Alteração Transitória da Audição, ocorre após a exposição a ruído intenso, por um curto período de tempo causando uma redução na sensação auditiva, mas que retorna ao normal após um período de repouso auditivo (VIEIRA, 1999). SegundoMELLO (1999), um ruído capaz de provocar uma perda temporária será capaz de provocar uma perda permanente, após longa exposição.

A Mudança Permanente do Limiar ou PAIR é resultante de exposições a ruído, geralmente diárias, que se acumulam devido à repetição constante durante um período de muitos anos (RUSSO 1993 apud RIGO, 2001). Como sua instalação é lenta e progressiva, a pessoa só se dá conta da deficiência quando as lesões já estão avançadas (MELLO, 1999).

Na maioria das vezes, a perda é bilateral e mais ou menos simétrica. A audiometria exibe um traçado bem característico, com um entalhe inicial em torno de 4.000 e 6.000 Hz. Com a continuação da exposição sem proteção, o entalhe tende a se aprofundar e a se alargar na direção das freqüências vizinhas (PALMA, 1999).

A perda auditiva é somente um dos efeitos negativos da exposição crônica ao ruído. Os zumbidos são queixas constantes de trabalhadores com lesões auditivas induzidas pelo ruído (DIAS et al, 2006). Segundo ATTIAS & BRESLOFF (1999) apud AZEVEDO (2004), os zumbidos costumam estar presentes em aproximadamente 30% das PAIR.

O recrutamento é um outro sintoma associado a esta perda auditiva, que se manifesta como uma sensação de incômodo para sons de alta intensidade. Nele, a percepção de "altura" do som cresce de modo anormalmente rápido à medida que a intensidade aumenta. É característica das patologias cocleares (MELLO, 1999).

Segundo o MINISTÉRIO DA SAÚDE (2006), a orelha normal opera numa faixa de audição que se estende desde um limiar mínimo (de audibilidade) até um limiar máximo (de desconforto). Quando o indivíduo é portador de PAIR ocorre uma redução na faixa dinâmica entre o limiar auditivo e o limiar de desconforto, provocando um aumento na ocorrência de recrutamento. AZEVEDO (2004),afirma que os recrutantes têm o limiar de desconforto menor e, muitas vezes, o limiar auditivo maior, o que reduz sensivelmente seu campo dinâmico de audição.

Outro sintoma que os portadores de PAIR freqüentemente se queixam é a dificuldade para entender a fala em ambientes ruidosos, o que prejudica o trabalhador com relação a sua segurança e ascensão profissional, além de aumentar o risco de acidentes. A incapacidade de distinguir freqüências superpostas ou subseqüentes fica evidente principalmente nos momentos de conversação em grupo ou para acompanhar um programa de televisão em meio ao ruído doméstico. O que pode levar o indivíduo a ser considerado desatento e anti-social (PALMA, 1999).

4.1.1 Perda Auditiva Induzida Pelo Ruído – PAIR

A Perda Auditiva Induzida pelo Ruído - PAIR é uma diminuição gradual da acuidade auditiva que afeta muitos trabalhadores expostos a ambientes de trabalho ruidosos (BARROS, 1998). Freqüentemente é considerada oagravo mais comum à saúde dos trabalhadores, estando presente nas indústrias, nos meios de transporte, entre outros (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006; Rossi & Junior, 2004).

Inicialmente a PAIR não traz grandes prejuízos auditivos, lesa a orelha de modo insidioso, sendo imperceptível pelo trabalhador afetado e pelas outras pessoas. Os indivíduos tendem a negar seus problemas, não exteriorizam suas dificuldades auditivas, atribuindo a outras causas: falta de concentração e interesse. Com a evolução do quadro surgem desabilidades auditivas, gerando insatisfação e pouca compreensão pelo trabalhador e sua família (PARAGUAY, 1999).

Segundo o Anexo I do Quadro II da NR7, as principais características da PAIR são: ser sempre neurossensorial, irreversível e geralmente similar bilateralmente; raramente leva à perda auditiva profunda, pois, quase sempre, não ultrapassa os 40dB nas baixas freqüências e os 75dB nas freqüências altas. Manifesta-se, primeiro e predominantemente, nas freqüências de 6, 4 ou 3 kHz e, com o agravamento da lesão, estende-se às freqüências de 8, 2, 1, 5 e 0,25 kHz, as quais levam mais tempo para serem comprometidas e uma vez cessada a exposição ao ruído intenso não deverá haver progresso da PAIR.

A Norma Regulamentadora nº 9 (NR-9) considera o ruído como uma das formas de energia a que o trabalhador pode estar exposto.

O limite de tolerância para exposição diária ao ruído contínuo ou intermitente permitido pela Norma regulamentadora nº 15 (NR-15) é de 85 dB para 8 horas. A cada 5 dB de aumento da intensidade, o tempo permissível de exposição diminui pela metade, conforme a Tabela 1 abaixo. Não é permitida a exposição a níveis de ruído acima de 115 dB(A) para indivíduos que não estejam adequadamente protegidos (BRASIL, 1978).

 

 

Tabela 1 – Limites de tolerância para Ruídos Contínuos ou Intermitentes (NR15).

Nível de ruído dB(A)

Máxima Exposição Diária Permitida.

85

8 horas

86

7 horas

87

6 horas

88

5 horas

89

4 horas e 30 minutos

90

4 horas

91

3 horas e 30 minutos

92

3 horas

93

2 horas e 30 minutos

94

2 horas

95

1 hora e 45 minutos

98

1 hora e 15 minutos

100

1 hora

102

45 minutos

104

35 minutos

105

30 minutos

106

25 minutos

108

20 minutos

110

15 minutos

112

10 minutos

114

8 minutos

115

7 minutos




FONTE: Norma Regulamentadora nº 15 (guiatrabalhista, on line)

A instalação da PAIR é, principalmente, influenciada, por três fatores: as características físicas do ruído (tipo, espectro e nível de pressão sonora); o tempo de exposição a este nível de pressão sonora elevado (quantas horas por dia e há quantos anos este indivíduo encontra-se exposto) e a suscetibilidade individual (VIEIRA, 1999).

Segundo PARAGUAY (1999), a suscetibilidade individual jamais deve ser esquecida, pois algumas pessoas possuem maior facilidade em adquirir a doença, quando expostas às mesmas condições ambientais que outras. Está relacionada com o sexo, idade, características hereditárias e doenças do ouvido.

O diagnóstico da PAIR deve ser realizado através da obtenção de uma história de exposição em ambiente ruidoso, exame otorrinolaringológico com ênfase na otoscopia e exame audiométrico tonal limiar (ARAÚJO, 2002).

De acordo com o Ministério da SaÚde (2006), outros agentes causais das perdas auditivas ocupacionais que independentemente de exposição ao ruído ou que ao interagir com este, potencializam os seus efeitos sobre a audição, tais como agentes químicos como Monóxido de Carbônico (CO), agentes físicos como vibrações, radiações o calor e agentes biológicos, como vírus e bactérias (LACERDA et al, 2005; Silva & Mendes, 2005).

4.2 EFEITOS EXTRA-AUDITIVOS DO RUÍDO

Além dos Sintomas Auditivos, o ruído exerce ação geral sobre várias funções orgânicas. Segundo OKAMOTO E SANTOS (1996 apud MELLO, 1999) a exposição a ruído contínuo diminui a habilidade e o rendimento do indivíduo, acarretando um provável aumento de acidentes de trabalho.

FILHO et al (2002), afirmam que indivíduos submetidos a ruído intenso podem sofrer constrição dos pequenos vasos sangüíneos, reduzindo o volume de sangue e

conseqüente alteração em seu fluxo, causando taquicardia e variações na pressão arterial.

De acordo com CARMO (1999), durante a exposição ao ruído ou mesmo após, muitos indivíduos apresentam alterações vestibulares, como vertigens, que podem ou não ser acompanhada de náuseas, vômitos e suores frios, dificultando o equilíbrio e a marcha.

Segundo RIGO (2001) o ruído gera também alterações de humor, falta de atenção e de concentração, cansaço, inapetência, cefaléia, ansiedade, depressão e estresse.

Quando o indivíduo é submetido à tensão em ambientes com níveis elevados de ruído, ocorre aumento dos índices de adrenalina e cortizol plasmático, que possibilitam o aumento da prolactina, que gera diminuição da potência sexual (COSTA, 1994 apud CARMO, 1999).

GOMEZ (1983 apud MEDEIROS, 1999)afirma que a ação do ruído ocupacional pode ocasionar diminuição do peristaltismo e da secreção gástrica, com aumento da acidez, enjôos, vômitos, perda do apetite, dores epigástricas, gastrites e úlceras e alterações que resultam em diarréia ou mesmo prisões de ventre.

Outro efeito do ruído é sua interferência na profundidade e qualidade do sono, surtindo efeitos no dia-a-dia do trabalhador, principalmente em tarefas que exijam concentração. Os ruídos escutados durante o dia podem atrapalhar o sono de horas após, os pacientes reclamam de dificuldade para iniciar o adormecimento, de insônias, e de despertares freqüentes, o que determina cansaço no dia seguinte (SELIGMAN, 1997).


5 MATERIAIS E MÉTODOS

5.1 PÚBLICO ALVO DA PESQUISA

Os dados foram coletados junto a empresa de transporte coletivo de Itaperuna-RJ com motoristas de ônibus que trabalham em veículos de motor dianteiro, sendo variados o tempo de uso e estado de conservação dos veículos e o tempo de trabalho do profissional.

5.2 METODOLOGIA

Inicialmente os motoristas foram informados sobre os objetivos e procedimentos da pesquisa e após concordarem em participar eles assinaram um termo de consentimento livre esclarecido de sua participação no estudo.

A seguir foi aplicado um questionário autopreenchível (Anexo I) referente a antecedentes otológicos, principais sintomas da exposição contínua ao ruído, hábitos e estado de saúde em geral. Após este levantamento, foi feita uma análise das respostas obtidas observando os principais sintomas encontrados e comparando-a com a literatura.


6 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A aplicação do questionário ocorreu entre os dias 18 e 26 de setembro de 2007. Foram entrevistados dezessete motoristas da Empresa Santa Lúcia, representando 29,31% do total de motoristas da empresa.

A seguir serão apresentados a caracterização da amostra pesquisada e os resultados obtidos através da aplicação do questionário.

6.1 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA

A Empresa de ônibus Santa Lúcia é a única representante do transporte coletivo circular (intramunicipal) na cidade de Itaperuna. Além dos trajetos dentro da própria cidade a empresa é responsável também pelo transporte para alguns municípios vizinhos.

Os motoristas trabalham 8 horas por dia em ônibus com estado de conservação variado. A seguir serão descritas as principais características da amostra pesquisada.

6.1.1 Faixa Etária

Pesquisou-se entre os entrevistados a faixa etária de cada um deles. Dos dezessete motoristas que participaram da pesquisa, três (17,65%) estão na faixa etária de 20 a 29 anos. Entre 30 e 39 anos foram encontrados quatro (23,53%) trabalhadores. Já entre 40 e 49 anos seis (35,29%) motoristas participaram da pesquisa, De 50 a 59 anos foram encontrados três (17,65%) motoristas, e totalizando a amostra um (5,88%) motorista encontra-se na faixa etária de 60 a 65 anos.

6.1.2 Tempo de Serviço

Foi pesquisado o tempo de serviço como motorista na empresa em que trabalha atualmente. Entre 1 e 9 anos foram encontrados cinco (29,41%) motoristas; de 10 a 19 anos de serviço, quatro (23,53%) ; de 20 a 29 anos cinco (29,41%); Entre 30 e 39 anos de trabalho encontramos dois (11,76%) participantes e um (5,88%) dos indivíduos pesquisados não respondeu a questão.

6.1.3 Outros serviços exercidos com exposição ao ruído

Perguntou-se aos entrevistados se já tiveram outros trabalhos e por quanto tempo, com o objetivo de identificar o tempo total de exposição ao ruído ocupacional. Dos dezessete trabalhadores pesquisados, cinco (29,41%) não tiveram outros trabalhos; quatro (23,53%) tiveram outros trabalhos mas sem exposição ao ruído contínuo e oito (47,06%) já tiveram outros trabalhos com exposição ao ruído.

Dentre os oito (100%) motoristas que já exerceram outros serviços com exposição a níveis elevados de ruído perguntou-se o tempo de duração desse(s) trabalho(s). Um (12,50%) indivíduo afirmou que esse labor durou de 1 a 5 anos; um (12,50%) relatou que a duração do trabalho foi de 11 a 15 anos; um (12,50%) informou que o serviço durou de 21 a 25 anos e cinco (62,50%) não responderam a questão.

6.2 MORBIDADE E HÁBITOS REFERIDOS PELA AMOSTRA

Pesquisaram-se algumas doenças e hábitos dos entrevistados, uma vez que estes podem estar relacionados a algum dano à audição não relacionado ao trabalho, mas que quando associados ao ruído podem contribuir com o aparecimento e/ou potencialização da alteração auditiva.

6.2.1 História familiar de déficit auditivo

Uma vez que possíveis danos auditivos podem ter relação com herança genética (GODINHO; KEOGH; EAVEY, 2003) torna-se importante investigar a presença de alguma possível alteração auditiva não relacionada ao trabalho.

Investigou-se quantos dos indivíduos entrevistados possuem antecedentes familiares com perda auditiva, e o resultado obtido foi que quinze (88,24%) motoristas não possuem parentes com surdez e dois (11,76%) possuem algum familiar com perda auditiva.

6.2.2 Tabagismo

Segundo HUNGRIA (2000), alguns fatores inerentes ao indivíduo, como o tabagismo, podem criar condições de maior suscetibilidade aos efeitos nocivos do ruído. Sendo assim, pesquisou-se a história atual ou pregressa de tabagismo. Dos dezessete motoristas participantes da pesquisa três (17,65%) fumam, três (17,65%) pararam de fumar, onze (64,70%) não fumam.

6.2.3 História pessoal de hipertensão e diabetes

Segundo MELLO (1999), um distúrbio de natureza bioquímica ou metabólica, como é o caso da diabetes, pode agravar ou predispor a perdas auditivas, principalmente, quando interagem com o ruído ou outros fatores de risco.

Sendo assim, foi perguntado aos participantes se apresentavam diabetes mellitus e nenhum (0%) deles relatou ter a doença, este fato pode ser decorrente de nenhum exame laboratorial ter sido solicitado aos sujeitos da pesquisa.

Segundo SELIGMAN (1993 apud MELLO,1999), na hipertensão arterial, o ruído pode agir diretamente sobre o calibre vascular, podendo desencadear taquicardia e aumento da viscosidade sangüínea, influenciando assim a oxigenação das células e levando a possíveis alterações teciduais. Dos dezessete trabalhadores entrevistados, apenas um (5,88%) referiu ter hipertensão arterial.

Como em toda ciência, existem ainda discordâncias quanto a influência nociva no sistema cardiovascular do indivíduo, vários autores confirmam a presença desta alteração, outros, no entanto, não concordam.

6.2.4 Gastrite e Úlcera

OKAMOTO E SANTOS (1996 apud MELLO, 1999) afirmam que o ruído pode causar gastrite e úlcera, uma vez que ruídos de baixa freqüência podem se captados por barorreceptores de órgãos ocos como o estômago e o intestino desencadeando uma a estimulação neuroquímica com indução de vasoconstrição e, conseqüentemente podendo ocasionar diversos problemas digestivos.

Nesta pesquisa a presença de gastrite foi mencionada por quatro (23,53%) motoristas e a úlcera não foi relatada por nenhum (0%) dos entrevistados.

6.2.5Traumatismo Craniano

Investigou-se a história prévia de traumatismo craniano e dezesseis (94,12%) indivíduos disseram nunca ter sofrido um traumatismo craniano e um (5,88%) dos pesquisados possui história previa de traumatismo craniano.

A existência pregressa de alterações auditivas conseqüentes a fenômenos traumáticos servem, basicamente, ao diagnóstico diferencial da PAIR (MELLO,1999)

6.2.6 Exposição extra-ocupacional ao ruído

CARMO (1999) afirma que algumas atividades de lazer oferecem riscos e tendências à perda auditiva. Tais atividades incluem prática de tiro, a freqüência a casas de danças, hábito de soltar fogos, costume de freqüentar festas e bailes com intensidade excessiva dos sons musicais, entre outros.

Para identificar estes costumes foi perguntado aos motoristas se freqüentam festas barulhentas, se têm o hábito de soltar bombas/fogos ou se possuem o hábito de usar arma de fogo. O resultado obtido foi que doze (70,59%) motoristas não possuem esses hábitos e cinco (29,41%) relataram que às vezes tem o costume de praticar um desses itens.

6.3 MONITORAMENTO AUDIOLÓGICO NA EMPRESA

De acordo com a Norma Regulamentadora nº 7 (NR7) devem ser submetidos a exames audiométricos de referência e seqüenciais, no mínimo, todos os trabalhadores que exerçam ou exercerão suas atividades em ambientes cujos níveis de pressão sonora ultrapassem os limites de tolerância estabelecidos pela NR 15, Conforme mostrado na Tabela 1 do capítulo 4, para uma exposição diária de 8 horas aNR 15 considera até 85 dB(A) como nível de ruído permitido.

Sendo assim, considerou-se importante pesquisar se os trabalhadores já haviam passado por algum tipo exame audiológico pela empresa em que trabalham. Treze (76,47%) motoristas referiram nunca ter feito algum exame auditivo ocupacional pela empresa e apenas quatro (23,53%) entrevistados disseram já ter sido submetido a avaliação da audição, entretanto os quatro motoristas disseram ter feito apenas o exame admissional.

Pôde ser observado que os quatro indivíduos que responderam ter passado pelo exame admissional são empregados recentes da empresa o que possivelmente indica que o processo de implementação de um Programa de Conservação da Audição está começando a ocorrer nesta empresa, entretanto, ainda não ocorreu como deveria nem atingiu a todos os funcionários como determina a normatização vigente.

Cabe ao Ministério do Trabalho, por meio das Delegacias Regionais do Trabalho (DRT), e ao serviço de vigilância à saúde a fiscalização do cumprimento da legislação pertinente. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002).

6.4SINTOMAS

6.4.1 Distúrbios Comportamentais

O ruído pode gerar alterações de comportamento, segundo CARMO (1999), os principais sintomas deste aspecto são: mudanças na conduta e no humor, falta de atenção e de concentração, cansaço, cefaléia, ansiedade e estresse. Para MEDEIROS (1999)estes sintomas podem aparecer isolados ou mesmo juntamente.

No presente estudo ressaltou-se o grande número de trabalhadores pesquisados, que relatou um ou mais sintomas deste grupo, como podemos observar na Figura 1 abaixo.

O cansaço foi o sintoma mais referido pelos motoristas, apenas um (5,88%) não o relatou; treze (76,47%) responderam que o apresentam às vezes; um (5,88%) afirmou sentir-se freqüentemente cansado e dois (11,76%) disseram sempre estar cansados.

A presença da cefaléia (dor de cabeça) também foi pesquisada, sete (41,18%) motoristas declararam não a possuírem; oito (47,06%) mencionaram sua presença às vezes, nenhum (0%) afirmou senti-la freqüentemente e dois (11,76%) relataram ter dor de cabeça sempre.

Quando perguntados sobre a questão da ansiedade, sete (41,18%) disseram não a possuir; nove (52,94%) afirmaram senti-la às vezes; um (5,88%) referiu apresentá-la freqüentemente e nenhum (0%) mencionou tê-la sempre.

Foi perguntado também sobre a presença da Irritação e nove (52,94%) individuos responderam não tê-la; sete (41,18%) relataram que se sentem irritados às vezes; nenhum (0%) declarou apresentá-la freqüentemente e um (5,88%) mencionou estar sempre irritado.

Dentre os sintomas comportamentais a dificuldade de concentraçãofoi a menos relatada, dezesseis (94,12%) participantes disseram não apresentar esta dificuldade e apenas um (5,88%) relatou senti-la às vezes; nenhum (0%) entrevistado citou tê-la freqüentemente ou sempre.

Figura 1:Distúrbios comportamentais relatados pelos motoristas de ônibus com motor dianteiro da empresa de transporte urbano de Itaperuna.

 

Os dados acima evidenciam a presença de distúrbios comportamentais no grupo em estudo, reforçando os achados teóricos que descrevem tais alterações, como conseqüência da exposição a ruídos excessivos

Em pesquisa realizada por MEDEIROS (1999) numa empresa de Metalurgia de Porto Alegre - RS, 77% dos entrevistados responderam afirmativamente à existência de algum sintoma comportamental. Foram citados: Cansaço/Estresse -60%; Irritação - 36%; Ansiedade - 35%; Nervosismo - 27%; Falta de concentração - 19%; Depressão - 15%; Falta de atenção - 6%.

6.4.2 Distúrbios Digestivos

OKAMOTO E SANTOS (1996 apud MELLO, 1999) afirmam que ruídos de baixas freqüências são captados por barorreceptores de órgãos ocos (vasos de grosso calibre, estômago e intestino) desencadeando a estimulação neuroquímica com indução de vasoconstrição e, conseqüentemente, ocasionando gastrite, úlcera gastroduenal, diarréia e prisão de ventre.

Para CARMO (1999), além dos sintomas citados por OKAMOTO E SANTOS, o ruído pode causar também a inapetência.

Pesquisou-se então a presença de distúrbios digestivos nos motoristas, como mostra a Figura 2a seguir. Encontrou-se um número bastante significativode respostas positivasalgum tipo de problema digestivo.

Quando questionados sobre prisão de ventre o resultado obtido foi que dez (58,82%) disseram não a possuírem; cinco (29,41%) relataram tê-la às vezes; um (5,88%) afirmou apresentar prisão de ventre freqüentemente; um (5,88%) declarou sempre ter prisão de ventre.

Outro item pesquisado foi a diminuição do apetite (inapetência), onze (64,70%) entrevistados disseram não encontrar esta dificuldade; cinco (29,41%) relataram que às vezes apresentam diminuição do apetite; nenhum (0%) afirmou tê-la freqüentemente e um (5,88%) referiu a inapetência como um sintoma sempre presente.

Figura 2: Distúrbios digestivos apresentados pelos motoristas de ônibus urbano de Itaperuna.

Estes dados estão de acordo com a maioria das pesquisas encontradas, como por exemplo, no estudo realizado por MEDEIROS (1999) 46% dos trabalhadores pesquisados apresentam algum tipo de problema no sistema gastrointestinal. Os sintomas mais citados foram a queimação no estômago e prisão de ventre.

6.4.3 Distúrbios auditivos / comunicação

Ruídos elevados podem causar transtornos de comunicação, prejudicando a compreensão da fala, principalmente se o indivíduo tiver deficiência auditiva, o que tornará mais difícil o reconhecimento da fala (MEDEIROS, 1999).

COSTA e KITAMURA (1994 apud MELLO, 1999) relatam que individuos expostos a altos níveis de pressão sonora podem ter reduzida a capacidade de distinguir detalhes dos sons da fala em condições ambientais desfavoráveis, principalmente nos momentos de conversação em grupo ou para acompanhar um programa de televisão em meio ao ruído doméstico, pois apresentam a cóclea lesada, o que acarreta a incapacidade de distinguir freqüências superpostas ou subseqüentes.

Ainda como manifestação auditiva, a exposição ocupacional ao ruído se associa ao zumbido, que também é chamado de acúfeno ou tínitus e pode ser definido como uma ilusão auditiva, isto é, uma sensação sonora não relacionada com uma fonte externa de estimulação (DIAS et al, 2006).

No presente estudo, investigou-se a dificuldade de ouvir em ambiente ruidoso e o zumbido como mostra a Figura 3 a seguir.

Quanto à dificuldade de comunicação em ambiente ruidoso, doze (70,59%) disseram que estes episódios não ocorrem; quatro (23,53%) afirmaram possuí-la às vezes; nenhum (0%) citou esta ocorrência freqüentemente e um (5,88%) declarou sempre possuir esta dificuldade.

Quando perguntados sobre o zumbido, onze (64,70%) motoristas disseram não apresentá-lo; cinco (29,41%) relataram senti-lo vezes; um (5,88%) respondeu que este ocorre freqüentemente e nenhum (0%) mencionou que estes episódios ocorrem sempre.

Figura 3: Distúrbios auditivos e de comunicação referidos pelos motoristas de ônibus de Itaperuna.

Em pesquisa realizada em uma empresa metalúrgica por ARAÚJO (2002), os sintomas auditivos mais freqüentes foram o zumbido com 13%; a dificuldade de compreensão da fala 12%, hipoacusia, 7%, otorréia, 6% e sensação de plenitude auricular, 4%.

O estudo realizado por MEDEIROS (1999), na questão que aborda os distúrbios de comunicação, foram colocadas duas situações a dificuldade para entender o que as pessoas falam em casa e a dificuldade para entender o que as pessoas falam no trabalho. Destacou-se a diferença de respostas em casa e no trabalho, 12% disseram ter dificuldade para entender o que as pessoas falam em casa e 24% relataram possuir esta dificuldade no trabalho.Estes dados indicam a interferência negativa do ruído para a comunicação, pois provavelmente no ambiente profissional o ruído apresenta-se mais intenso dificultando o entendimento.

Caldart et al (2004), realizaram uma pesquisa com trabalhadores de uma industria têxtil da cidade de Brusque-SC. Os sintomas auditivos mais freqüentes foram hipoacusia (30,8%), dificuldade de compreensão da fala (25%), zumbido (9,6%), plenitude auricular (5,8%) e otalgia (3,8%).

6.4.4 Distúrbio Vestibular

De acordo com CARMO (1999), durante a exposição ao ruído ou mesmo após, muitos indivíduos apresentam alterações vestibulares, como vertigens, que podem ou não ser acompanhadas de náuseas, vômitos e suores frios, dificultando o equilíbrio e a marcha.

A Figura 4 abaixo mostra o resultado obtido no que se refere à presença de tontura.Dezesseis (94,11%) entrevistados responderam não sentir tontura; um (5,88%) relatou que isto ocorre às vezes e nenhum (0%) afirmou apresentá-la freqüentemente ou sempre.

Figura 4: Distúrbio vestibular (tontura) mencionado pelos motoristas de ônibus urbano de Itaperuna.

Na pesquisa realizada por ARAÚJO, 2002 com trabalhadores de uma metalúrgica de Goiânia, 12% dos entrevistados relataram a presença de tontura. Diferindo-se do resultado deste estudo. Porém, em estudo realizado por CALDART et al (2004), a tontura foi um sintoma referido por 3,8% dos individuos entrevistados. Este resultado mostra-se mais compatível com o obtido neste trabalho.

6.4.5 Distúrbio Hormonal

Quando o indivíduo é submetido à tensão em ambientes com níveis elevados de ruído, ocorre aumento dos índices de adrenalina e cortizol plasmático, possibilitando o aumento da prolactina, que acarreta em diminuição da potência sexual (COSTA, 1994 apud CARMO, 1999).

Mesmo sabendo da dificuldade em obter os reais valores a respeito da impotência sexual esta questão foi pesquisada e o resultado obtido foi que quatorze(88,24%) motoristas responderam não ter este sintoma; três (11,76%) afirmaram às vezes ocorrer a impotência sexual e nenhum 0% relatou apresentar este problema freqüentemente ou sempre.

Figura 5: Distúrbio hormonal citado por motoristas de ônibus urbano da cidade de Itaperuna.

Embora a questão das alterações hormonais já tenham sido objeto de estudo, não foram encontrados dados estatísticos de outras pesquisas que abordassem a questão do distúrbio hormonal decorrente de exposição prolongada a altos níveis de pressão sonora, impossibilitando, neste aspecto, a comparação deste estudo com outros.

6.4.6 Distúrbio do sono

É incontestável a importância de uma noite "bem dormida" para o bom desempenho do indivíduo em suas tarefas, principalmente as que exijam concentração e habilidade, refletindo num melhor rendimento no seu trabalho e na sua vida social. Um dos perturbadores mais importantes do ritmo do sono é o ruído (CARMO, 1999).

Os ruídos escutados durante o dia podem interferir na qualidade do sono horas depois, gerando dificuldade para iniciar o adormecimento, insônias, e despertares freqüentes, podendo assim, surgir o cansaço no dia-a-dia do trabalhador (SELIGMAN, 1997).

Segundo ASDA (1990 apud PIMENTEL-SOUZA, 1992), 5% das insônias são causadas por fatores externos ao organismo, principalmente pelo ruído, 10% são devidas a má higiene do sono, ou seja, comportamento inadequado para o sono, principalmente nas duas horas que o precedem, e 15% são resultantes de internalizações no cérebro dos fatores perturbadores externos.

Na Figura 6, apresentada abaixo, encontram-se os resultados referentes à incidência de dificuldade para dormir.

Figura 6: Distúrbio do sono apresentado pelos motoristas de ônibus da empresa de transporte urbano de Itaperuna.

 

Dos dezessete entrevistados, onze (64,70%) afirmaram não ter dificuldade para dormir; cinco (29,41%) mencionaram que às vezes apresentam este distúrbio; um (5,88%) respondeu freqüentemente possuir problemas para dormir e nenhum (0%) citou que este fato ocorre sempre.

No grupo pesquisado por MEDEIROS (1999), na questão referente ao sono, 19% apresentam problemas para dormir, evidenciando que o ruído age sob várias formas no sono.

6.5CORRELAÇÃO ENTRE O TEMPO DE SERVIÇO E AUMENTO DOS SINTOMAS

Sabendo que a exposição prolongada ao ruído traz prejuízos ao longo do tempo para o individuo, decidiu-se investigar a correlação entre o tempo de serviço com exposição ao ruído e possível aumento dos sintomas pesquisados.

O grupo de motorista pesquisado foi dividido de acordo com o tempo de serviço em que se encontra exposto ao ruído, a divisão ocorreu da seguinte forma: Grupo 1, motoristas com até 5 anos de serviço; Grupo 2, de 10 a 19 anos de trabalho; Grupo 3, de 20 a 29 anos e Grupo 4 com motoristas com mais de 29 anos exposto ao ruído ocupacional. Não foi entrevistado nenhum motorista cujo tempo de serviço estivesse entre 6 a 9 anos, por isso este período não foi sistematizado.

É importante ressaltar que se considerou o tempo total de trabalho exposto ao ruído e não apenas o tempo de serviço na atual empresa. Não obstante vale ressaltar que cinco dos entrevistados que já tiveram outros empregos com exposição ao ruído não especificaram o tempo destes serviços anteriores, então, para estes considerou-se apenas o tempo de serviço na empresa atual.

A Tabela 2 a seguir apresenta os resultados obtidos da correlação entre o tempo de serviço com exposição ao ruído e aumento dos sintomas.

Tabela 2: Correlação entre o tempo de serviço com exposição ao ruído e aumento dos sintomas

SINTOMAS

TEMPO DE SERVIÇO

Grupo 1

Grupo 2

Grupo 3

Grupo 4

1 a 5 anos

10 a 19 anos

20 a 29 anos

Mais de 29 anos

n

%

n

%

n

%

n

%

Comportamentais

4

100%

4

100%

6

100%

2

100%

Digestivos

2

50%

2

50%

3

50%

2

100%

Auditivos

1

25%

1

25%

5

80%

2

100%

Vestibular

1

25%

0

0%

0

0%

0

0%

Hormonal

0

0%

0

0%

0

0%

2

100%

Sono

0

0%

2

50%

2

33,3%

2

100%

Os sintomas comportamentais (cansaço, cefaléia, irritação, ansiedade e dificuldade de concentração) foram citados ao menos uma vez por todos (100%) os motoristas entrevistados independentemente do tempo de serviço. Isto indica que os sintomas comportamentais começam a manifestar-se desde o inicío da exposição ao ruído e com a manutenção desta exposição os sintomas também se mantêm.

Os sintomas digestivos (prisão de ventre e inapetência) mantiveram-se estáveis para os trabalhadores com 1 a 5 anos, 10 a 19 anos e de 20 a 29 anos de serviço ocorrendo em 50% de cada um destes grupos e aumentando para 100% para os trabalhadores com mais de 29 anos de exposição ao ruído. Indicando um aumento da queixa desses sintomas ao longo do tempo de trabalho.

Os distúrbios auditivo e de comunicação (zumbido e dificuldade para ouvir em ambiente ruidoso) mantiveram-se estáveis para os grupos de 1 a 5 anos de serviço e de 10 a 19 anos com 50% de ocorrência para cada um destes grupos. Já no grupo dos indivíduos entre 20 e 29 anos de trabalho houve um aumento dos sintomas, aparecendo em 80% destes. Nos motoristas com mais de 29 anos de serviço a queixa desses distúrbios cresceu ainda mais, sendo mencionada por 100% do grupo. Demonstrando aumento desses distúrbios com o passar dos anos de exposição.

No que se refere à alteração vestibular (tontura) encontrou-se apenas um caso no grupo dos motoristas de 1 a 5 anos de serviço (representando 25%).Nos demais grupos não houve ocorrência deste sintoma.

Sobre a alteração hormonal (impotência sexual) apesar da dificuldade em obter as reais respostas, pode-se observar o aparecimento do sintoma para 100% dos motoristas com mais de 29 anos de trabalho. O que não ocorreu para nenhum dos motoristas com menos tempo de serviço. O que indica crescimento do sintoma para os motoristas com mais de 29 anos de trabalho

No que se refere ao distúrbio do sono (dificuldade para dormir) foi encontrado um aumento dos sintomas do Grupo 1 (até 5 anos de serviço) para o Grupo 2 (de 10 a 19 anos de serviço). No primeiro grupo nenhum (0%) dos entrevistados relatou ter dificuldade para dormir, enquanto no segundo grupo metade (50%) dos participantes apresenta distúrbio do sono. Já do Grupo 2 (10 a 19 anos de serviço) para o Grupo 3 (20 a 29 anos de trabalho) houve uma diminuição do relato deste sintoma, pois enquanto no Grupo 2 metade (50%) dos entrevistados relatou apresentar dificuldade para dormir no Grupo 3 essa queixa diminuiu para 33,33%. Entretanto do Grupo 3 (20 a 29 anos de trabalho) para o Grupo 4 (mais de 29 anos de serviço) houve novamente um crescimento do sintoma, de 33,33% do Grupo 3 para 100% do Grupo 4. Este fato pode ter ocorrido devido ao limitado número de participantes dos grupos.

Uma Pesquisa realizada por FILHO et al (2002) apontou evidências da influência do tempo de trabalho como motorista urbano e a ocorrência da PAIR. O estudo de Cordeiro et al (1994) também encontrou uma associação entre o tempo de trabalho e a PAIR.

Estes dados não contribuem para relacionar o tempo de trabalho exposto ao ruído com o aumento da PAIR, pois este estudo não realizou avaliação audiológica nos motoristas, entretanto pode-se observar que a maioria dos sintomas pesquisados aumentou com o tempo.

Os achados desse estudo sugerem a necessidade de um acompanhamento fonoaudiológico para ações de prevenção da saúde auditiva desses trabalhadores.

7Considerações finais

Face ao exposto, este trabalho vem contribuir para uma grande discussão, que é o cuidado com a saúde dos trabalhadores e, neste caso, em especial, com relação à questão do risco ruído.

Sabendo das conseqüências que tal risco traz para o ser humano, devem ser tomadas medidas protetoras e exigidas, no ambiente do trabalho, meios de controle às emissões sonoras prejudiciais, com vistas a evitar agravos futuros à saúde do trabalhador.

No caso da população estudada esta questão reveste-se ainda mais de importância e complexidade, uma vez que a população estudada encontra-se exposta a duas fontes de ruído principais, o ruído urbano e o ruído do ônibus.

Faz-se então necessário um acompanhamento fonoaudiológico nas ações preventivas e na realização de exames auditivos admissional, periódico e demissional destes trabalhadores através de um Programa de Conservação Auditiva. As ações educativas junto aos trabalhadores são importantes para que eles compreendam a dimensão do problemae as formas de evitá-lo, permitindo assim, que esses profissionais possam desfrutar uma vida orgânica saudável e emocionalmente equilibrada.

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Anexo I

QUESTIONÁRIO COM MOTORISTAS DE ONIBUS URBANO DE ITAPERUNA

Data _________________ Idade_________________

1. Há quanto tempo trabalha como motorista?__________________________________________

2. Quantas horas você trabalha por dia e qual sua escala de trabalho? ______________________

3. Teve outros trabalhos? () NÃO() SIMQual a função? Por quanto tempo?______________ __________________________________________________________________________________

4. Você tem parente com problema auditivo?() NÃO() SIM

5. Você fuma? () NÃO () SIMdesde quando? ________ () PAREIquanto tempo? ________

6. Você tem?() HIPERTENSÃO() DIABETES() GASTRITE() ÚLCERA

7. Sofreu algum traumatismo craniano?() NÃO() SIM

8. Já fez exame de audição pela empresa?()NÃO() SIMQual?() Admissional() Periódico

9. Você apresenta?

Irritação() não() às vezes() freqüentemente() sempre

Dor De Cabeça() não() às vezes() freqüentemente() sempre

Ansiedade () não() às vezes() freqüentemente() sempre

Cansaço() não() às vezes() freqüentemente() sempre

Tontura() não() às vezes() freqüentemente() sempre

Prisão De Ventre() não() às vezes() freqüentemente() sempre

Impotência Sexual () não() às vezes() freqüentemente() sempre

Diminuição do Apetite() não() às vezes() freqüentemente() sempre

Dificuldade Para Dormir() não() às vezes() freqüentemente() sempre

Dificuldade de Concentração() não() às vezes() freqüentemente() sempre

Dificuldade para ouvir em ambiente ruidoso () não() às vezes() freqüentemente() sempre

Zumbido (como se fosse um chiado ou um apito no ouvido)

() não() às vezes() freqüentemente() sempre

10. Freqüenta festas barulhentas?() não () às vezes() freqüentemente() sempre

11. Tem hábito de soltar foguetes/ bombas?() não () às vezes() freqüentemente() sempre

12. Tem hábito de usar arma de fogo?() não () às vezes() freqüentemente() sempre


Autor: Thaís Torres


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