A Necessidade De Deus No Universo



Apresentação

“Achar que o mundo não tem um criador é o mesmo que afirmar que um dicionário é o resultado de uma explosão numa tipografia.”

Benjamin Franklin


Este artigo surgiu da sugestão de amigos, parentes e colegas de profissão que me estimularam a escrever algo para justificar filosoficamente argumentos que venho defendendo acerca da existência de Deus, desta forma estou a propor nestes escritos idéias que apontam Deus como argumento lógico nos campos da metafísica , epistemologia , ética e moral.

Ao ler este artigo observe as notas de rodapé para obter informações sobre os termos adotados no texto, pois será de grande utilidade para esclarecimento das expressões citadas neste artigo.

Metafísica e o dilema de existir

O campo da metafísica é responsável pela análise da existência do ser. Inclui-se neste campo a existência humana bem com o existir de tudo que podemos conceber enquanto ser vivo ou não.  Segundo Sarte , “a existência precede a essência”, isto significa que o homem primeiramente existe, se descobre, surge no mundo; e que só depois se define.  Nesta perspectiva, a existência do ser se define pelo fato de existir.

O homem é um ser finito e pessoal, entretanto, o behaviorismo entre outras formas de determinismo  afirmam que o homem não é um ser pessoal que se difere de outros seres impessoais levando a concepção que torna o ser humano em uma máquina. O critico do behaviorismo, Noam Chomsky, apresentou uma importante limitação do Comportamentalismo para modelar a linguagem, especialmente a aprendizagem.  O Behaviorismo não pode segundo Chomsky  explicar satisfatoriamente fenômenos lingüísticos como a rápida apreensão da linguagem por crianças pequenas. Chomsky afirmava que, para um indivíduo responder a uma questão com uma frase, ele teria de escolher dentre um número virtualmente infinito de frases qual usar, e essa habilidade não era alcançada perante o constante reforço do uso de cada uma das frases.

Outro ponto sobre o ser humano é a de que somos sujeitos morais, e esta moral está sujeita a valores e a visão que temos de mundo, valores que nos tornam seres ímpares, mesmo em nossa homogeneidade enquanto seres humanos.

Agora temos duas esferas do pensamento filosófico: a metafísica e a ética, se vamos considerar a existência como uma resposta para o existir de nós mesmos, coexistindo com o universo, precisamos partir de algo, pois é necessário ter a  causa da existência. Há ainda a possibilidade de tudo ter vindo do nada, entretanto para considerar esta resposta é preciso compreender que o nada já é algo, então entendamos que ao nos referir ao nada como causa é mister não considerarmos a existência de qualquer tipo de energia, massa ou movimento.  Caso esta premissa  seja adotada, teremos uma incógnita ainda maior, pois, como pode haver tantas variedades e natureza de seres se partimos do nada? O nada não tem a capacidade de gerar algo porque se assim fosse, não seria nada e já seria algo. Caso aceite esta exposição deve-se estar ciente que não há espaço para a idéia de causa e efeito no universo. Para Benjamin Franklin, esta possibilidade é ridícula, “Achar que o mundo não tem um criador é o mesmo que afirmar que um dicionário é o resultado de uma explosão numa tipografia”

A Necessidade de Deus

Muitos filósofos racionalistas enfrentaram este problema da causa primária da existência de tudo, pois deve-se estabelecer um ponto de partida. Platão, Descartes, Spinoza e Leibniz, todos estes racionalistas adotaram diferentes pontos de partida. Platão começou com valores eternos.  Descartes, o qual afirma que não podemos supor que não existimos enquanto duvidamos das “verdades” que nos são apresentadas. A fundamentação da filosofia de Descartes, afirma a existência de um sujeito (eu) que conhece através do pensamento, o qual permite a partida, edificar todo o saber, o sujeito intui a sua existência: “penso, logo existo”; a descoberta desta primeira verdade está ligada ao critério que se baseia na clareza e distinção com que são apreendidas as idéias.  Leibniz  apresenta a impossibilidade de duvidar de todas as coisas (cogito ergo sum).

Parece que os racionalistas não concordam sobre um ponto de partida, um axioma sobre o qual o sistema deles deve ser baseado. Para o filósofo naturalista Leucipo ( 500 a.C) “ nada acontece casualmente, existe uma razão necessária para tudo” . Platão(427-347 a.C )foi um dos primeiros filósofos a aceitar a Terra como um planeta  de forma arredondada, Platão propôs que o universo é regido por leis que foram criadas por alguém com um propósito específico.

Em uma segunda exposição filosófica Deus seria algum tipo de força, movimento ou energia não pessoal, ou seja, Ele não teria valores morais e éticos, seria a força da natureza como expõe Spinoza, um panteísta cujo Deus sive Natura (“Deus, isto é, natureza”). Caso aceite esta visão, você estará diante de um tipo de reducionismo, o pensamento reducionista afirma que tudo existente no universo, isso inclui eu e você, pode ser explicado reduzindo qualquer elemento a partículas mais simples, a fim de explicá-los, a suas partes constituintes. Se partirmos do impessoal como partículas individuais tal como o homem pode ter qualquer sentido tendo em vista que o sentido está no todo.  Para uma partícula de água ter sentido ela precisa estar no lago ou mar que se encontra sobre a terra que a acolhe, a Terra por sua vez está no universo regido por leis físicas que necessita de uma fonte de referência para manter sua harmonia. O homem é ainda mais complexo, pois é dotado de identidade única. Reduzir nosso universo à partículas para analisar (reducionismo) não traz sentido à existência, pelo contrário as coisas existentes não terão qualquer sentido ou relevância, visto que não existe lugar para a ética e a moral na impessoalidade. Partir da impessoalidade é afirmar que tudo pode e deve ser explicado tendo como ponto referencial a impessoalidade aliada à idéia de tempo e probabilidade. Não há outro fator na questão de tudo existir.

O filósofo Karl Popper  escreveu: “Na ciência não há conhecimento no sentido que Platão e Aristóteles usaram a palavra, no sentido que implica finalização; na ciência, nunca temos razão suficiente para crer que alcançamos a verdade”. Nesta afirmação, Popper quer reafirmar a necessidade da filosofia mesmo quando se trata de ciência, não cabe a ciência o papel de deusa do saber.  Percebe-se mais uma vez que o reducionismo científico deve ser questionado para que ofereça uma resposta coerente e racional no quesito existência no cosmo, bem como no existir antropológico . 

O próximo ponto a ser abordado, trata da existência de um Deus pessoal e criador de tudo, deve-se deixar os pré-conceitos religiosos e manter a mente aberta para compreender de forma racional o porquê da necessidade de Theus  existir.

A existência de um Deus pessoal e criador de tudo

Neste ponto percebe-se que esgotam-se as possibilidades mais discutidas no campo da filosofia, resta agora apresentar a origem pessoal de tudo.

Para melhor compreender esta linha de pensamento imagine um lugar onde somente um único ser exista, ele cria tudo por livre espontânea vontade, não há nada para influenciar a sua criação que não esteja vindo de si mesmo. Ele cria tudo com o propósito que só a ele pertence, desde então tudo passa a existir, pois este ser criador assegura a existência de tudo, como sendo a causa primaria de todas as coisas, desde o elemento mais simples, ao mais complexo no cosmo. 

A primeira coisa a questionar-se sobre isso é: De onde veio este Ser que tudo criou?  Uma segunda questão deve ser respondida também: Seria racional um Ser criador e inteligente abandonar sua criação e não se relacionar-se com ela?

Acerca de onde veio este Ser criador, a questão é bem controversa, entretanto, se utilizarmos o argumento da perfeição onde um objeto mais aperfeiçoado e racional tem as condições necessárias para avalizar seres menos aperfeiçoados. Tomemos um relógio como exemplo. Ao encontrar tal objeto, podemos nos deslumbrar com a engenharia aplicada na sua criação, temos a capacidade de desmontá-lo e julgar seu grau de perfeição, contudo a análise de quem o confeccionou não a podemos fazer pelo simples motivo de não conseguir analisar ou “desmontar” o criador do relógio para detectar o grau de perfeição. Quando falamos de cosmo, consideramos a possibilidade de não haver apenas o nosso universo como demonstrado na Teoria M de Lisa Randall  a tentativa de descobrir de onde este Deus veio torna-se uma tarefa ainda mais complexa, percebemos que este Criador é muito mais evoluído e aperfeiçoado do que nós, seres humanos, então como pode um ser menos evoluído e aperfeiçoado analisar um ser de grau de aperfeiçoamento muitas vezes maior?  Pense, vimos que o reducionismo se aplicado aqui, não obtém sucesso em sua proposta.

“O mundo intriga-me. Não posso imaginar que este relógio exista e não haja relojoeiro”

Willian Paley

Partir de um Deus pessoal é afirmar que algo pessoal deu origem a tudo, simples, assim o homem passa ter um sentido, pois tudo passa a ter um ponto de referência.  Mesmo pensadores que buscavam negar esta idéia, tem em seus escritos pontos que deixam transparecer a necessidade de Deus existir. Feuerbach  afirma: ” Deus é uma lágrima de amor derramada no mais profundo segredo sobre a miséria humana”.

Carl Sangan  foi em busca das probabilidades do universo ter evoluído até o aparecimento do homem, o resultado foi de 1 em 102.000.000.000.2 , isto é afirmar que a  probabilidade do universo existir partindo do big-bang sem a intervenção de Deus  até o momento atual  considerando todas as diversidades existentes é de 1 seguidos de dois bilhões de zeros a direita. Emile Borel  demonstrou que um evento com probabilidade  1 entre 1.050  não ocorre.

“Seria ilógico pensar na existência de uma inteligência que teria produzido tal complexidade? Seria irracional concluir que tal complexidade é resultado dessa inteligência? “  Adauto Lourenço  ( Como Tudo Começou, p. 35)

Para o Cientista Francis Collins  as respostas para as perguntas acerca de um Ser criador é “acredito que o ateísmo é a mais irracional das escolhas”  . O filosofo Tomás de Aquino traz uma exposição de que Deus é o princípio e o fim de todas as coisas. O cosmo é um conjunto de forças ordenadas e distintas uma das outras e como conseqüência exige-se uma causa primaria distinta do próprio universo, esta causa é Deus. Descartes  propõe que a inércia absoluta e totalmente passiva da matéria somente pode transmitir um impulso recebido, entendendo que o movimento físico da matéria exista, este provem do movimento metafísico, da vontade e ação que tem sua origem na causa primaria, Deus.

O livro dos cristãos, a bíblia, traz uma exposição sobre o porquê algumas pessoas depois de analisar fatos e racionalizar ainda tendem a não aceitar a existência de Deus, “Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade o pode ser”  .

Por mais que haja razão e evidências, quer sejam filosóficas ou físicas, jamais alguém aceitará algo contra a qual tem preconceito, pois o posicionamento preconceituoso impede a verdade de entrar na mente humana.

Como argumentação final, considere a não existência de um absoluto mesmo não tendo provas para esta afirmação.  Se tal inexistência passasse a existir criaria o primeiro absoluto, ora, absolutos não podem existir segundo esta idéia.  Desta forma, se aceitar a inexistência de um absoluto, estará criando um  e provando que um ser absoluto deve existir.  Kepler  afirma, “o mundo da natureza e o do homem, o mundo de Deus: todos eles se encaixam”. 

Não creio que a fé em Deus seja “um salto no escuro”, acredito que é a compreensão de verdades baseadas não apenas no ato de crer, mas também na capacidade de raciocinar, de perceber alguém ainda maior e magnífico e entender que fazemos parte desta magnitude criada.  Esta compreensão atinge as dimensões de nossa existência, não são apenas verdades proporcionais, tomam-se vivas à medida que as assimila.  Albert Einstein  afirmou que “a mente que se abre para uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho original”.  È necessário manter a mente aberta para verdades que podem exceder nossa compreensão, isso é um ato de reconhecimento de nossas limitações como já propunha Descartes.












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Autor: Renato Borges


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