Almoço de domingo (publicado na revista cultural no. 12 da editora novitas)
Clemente estava nervoso, seria o primeiro almoço que faria para receber a mãe depois de casado e nada poderia dar errado.
Antes das oito da manhã acordou Paula, sua esposa, que após reclamar devido a ter que sair da cama tão cedo no domingo levantou e foi direto para a cozinha preparar o almoço, nada podia dar errado.
Paula escolheu fazer uma moqueca de siri, sua especialidade. Clemente não estava muito confortável com a escolha da mulher por não saber se seria do gosto da mãe, mas acabou por concordar após a longa explanação feita por Paula dizendo que ficaria uma delícia.
D. Gertrudes, a mãe de Clemente, chegou pontualmente ao meio dia. Sentou-se na sala e ficou a observar todos os detalhes e já estava ficando incomodada com a demora da nora para vir lhe dar as boas vindas. – Clemente! Onde é que está a sua mulher que até agora não veio falar comigo? O filho tentou acalmar a mãe dizendo que a mulher estava terminando o almoço, mas de nada adiantou D. Gertrudes permaneceu contrariada com a demora da nora e mais ainda com o atraso do almoço, afinal haviam marcado ao meio dia e ela chegou na hora.
Finalmente, após longos quarenta minutos de espera, Paula surgiu na sala carregando uma grande travessa que fumegava e exalava um cheiro bom, porém não identificado por D. Gertrudes que por mais que estivesse apreciando, mesmo sem saber o que era, fez questão de não demonstrar.
Os três sentaram a mesa e o clima ficou mais ameno e descontraído, apesar do mau humor de D. Gertrudes. – Bem minha sogra, esse prato é minha especialidade e fiz em sua homenagem. Não vou dizer o que é, vou deixar para senhora degustar e adivinhar. Tenho certeza que vai gostar. Paula fingia não ver o descontentamento da sogra e fazia força para parecer simpática e feliz com sua presença, embora com grande esforço.
D. Gertrudes comeu com gosto, mas sem fazer um elogio se quer. Comeu várias vezes, com a desculpa de que estava tentando descobrir o que era o que realmente não havia conseguido saber. No final do almoço, passaram para a sala de estar onde Paula serviu café e tentou travar uma conversa com a sogra sobre o que havia achado de sua especialidade, mas parou de falar de repente e a olhou com cara de espanto. – Por que está me olhando assim? Perguntou D. Gertrudes ao perceber que Paula estava fixa a olhar para ela – É que a senhora está ficando toda inchada e vermelha, o que é isso? Respondeu Paula um pouco sem jeito. D. Gertrudes correu para o espelho para poder se ver e começou a gritar perguntando o que afinal tinham comido no almoço e quando Paula disse o que era a sogra ficou histérica e acusou a nora de querer lhe matar, pois ela tinha alergia a siri. Clemente olhou para a mulher em busca de uma explicação e Paula disse que não sabia, mas que era muita implicância a sogra ter alergia logo a sua especialidade. – Eu sabia D. Gertrudes, a senhora nunca gostou de mim, essa sua alergia só pode ser para implicar comigo. Paula esbravejava e D. Gertrudes não cansava de gritar que a nora queria lhe matar e as duas ficaram discutindo e Clemente olhando com pesar o seu tão esperado almoço de domingo em família, em que nada poderia dar errado, se transformar num verdadeiro fiasco.
Bia Tannuri
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Autor: Bia Tannuri
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