Razão e fé: uma relação de completude



        De início deve-se dizer que a razão e a fé não se contrapõem, ao contrário, a verdadeira e inabalável fé sustenta-se firmemente em um sistema de raciocínio probatório, distanciando­-se da mera opinião pessoal que por vezes é iludida e fanática. De fato, proceder essa relação de interdependência e completude entre razão e fé é forçoso e por vezes não se brotam resultados satisfatórios, mas é plenamente possível. Por isso vale que seja feita a advertência de que a experiência religiosa é a manifestação humana mais precoce da humanidade, suscetível de construir preceitos, imperativos, valores e princípios que determinam o modo de viver e interpretar a sociedade, contudo deve ser alvo de constantes questionamentos a fim de estreitar o domínio da crença religiosa sobre a razão.

          Diante do exposto é regra reconhecer que o caráter de indispensabilidade da religião reside em um meio termo entre fé e razão, pois a fé na condição única e absoluta é capaz de destruir e construir impérios, além de ceifar milhares de vidas em prol de uma crença, todavia a ausência absoluta de fé revela o vazio, o ócio da existência da humanidade. Com isso se quer afirmar que o verdadeiro conhecimento se constrói quando se inicia na experiência e cumpre a razão elaborar e organizar.

         A religião que caminha dissociada da razão é instrumento de alienação para manter o indivíduo na escuridão, que inclusive utiliza deste recurso para suprir seus próprios interesses. Ao contrário da religião almejada, ou seja, aquela que fornece ao indivíduo mecanismos de emancipação racional e utiliza deste recurso para construir juntamente com este uma crença, uma ideologia capaz de transformar a realidade desprezível.

         É de suma importância apontar minha experiência a fim de proporcionar maior credibilidade aos argumentos alegados.

          Freqüentei a igreja católica muitos anos, uma tradição herdada de família, neste contexto da minha história identifico-me como uma pessoa extremamente intolerante e incapaz de discordar da dogmática cristã, mesmo sem compreender eu concordava plenamente, por temor. Ao entrar na universidade, surgiram inquietações justamente pelo fato de não conseguir exteriorizar a explicação acerca da minha fé e outras questões mundanas. Afastei-me da igreja e deixei de acreditar em um Deus absoluto, infalível e perfeito. Retornei a freqüentar a igreja, mas defendo veemente minhas concepções, mesmo que sejam contraditórias a crença religiosa, busco diariamente esclarecimentos lógicos e lúcidos para caracterizar a minha fé, se não for possível, não compartilho da mesma e menos ainda propago uma concepção ausente de efeitos probatórios. Desta forma reconheço que não sinto o vazio que resulta da ausência de uma religião e contribuo para filtrar racionalmente os preceitos que me são impostos pela dogmática cristã, afim de que a igreja não se solidifique através de charlatanismo, manipulação e ostentação, respeitando a liberdade que me é inerente e construindo um senso ético, subsidiado pelo pressuposto da fé.

        Vale ainda dizer que a maior riqueza advinda desta experiência foi o usufruto de valores que hoje compartilho como o respeito, tolerância e emancipação racional. Defendo ainda que seja improvável o retrocesso da minha condição atual para a anterior, pois, a convicção de legitimidade da minha postura somente não é maior do que a ânsia de resgatar pessoas que estão “cegas”, ou seja, impossibilitadas de vislumbrar a verdadeira fé consciente, aquela que evolui e se solidifica com a razão.




Autor: Tatiane De Gois Ferreira


Artigos Relacionados


Salva - Me

Minha InfÂncia

Depressão

15 De Outubro

Sinta Minha Dor

Inexplicável

Vento