Artigo: a execução sumária e covarde do ditador líbio Muammar Kadafi



Roberto Ramalho é jornalista, advogado, blogueiro, articulista e pesquisador

 

A violenta morte de Muammar Kadafi, após ser capturado num tubo de esgoto por rebeldes, e ferido, durante a fuga de Sirte, encerrou uma era de 42 anos na Líbia. Antes de sua captura, o comboio em que ele viajava foi atacado por caças da OTAN, sendo atingido em cheio.

Imagens impressionantes do ditador vivo, mas bastante ferido e sangrando, sendo levado por rebeldes correram o mundo e, segundo o jornal “O Globo”, do Rio, alimentam especulações sobre sua execução, negada pelo Conselho Nacional de Transição.

O filho de Muammar Kadafi, Mutassim, também foi morto e Saif al-Islam, seu herdeiro político, teria sido capturado pelos rebeldes.

Aos 69 anos, Muammar Kadafi, que se intitulava "o rei dos reis da África", morreu sem julgamento na mais sangrenta das revoltas da Primavera Árabe, que já derrubou o ditador do Egito, Hosni Mubarak, entre outros ditadores do Oriente Médio.

A reportagem afirma que Muammar Kadafi teria implorado aos rebeldes, a quem chamava de ratos, para que não atirassem nele.

Em minha opinião como advogado e jornalista a morte de Muammar Kadafi foi uma execução e um crime bárbaro, cruel e brutal. Os rebeldes líbios se comportaram como bestas humanas ao capturá-lo e depois matá-lo, exibindo seu corpo como um troféu.

Não creio que haverá democracia na Líbia. Esse crime deplorável contra um ser humano indefeso – mesmo tendo ele sido um ditador cruel – não se justifica.

Antes do tiro de misericórdia ter sido dado nele, pedia por sua vida. Um dos filmes em que ele ainda está vivo ele implora em árabe por clemência.

O primeiro-ministro interino da Líbia, Mahmoud Jibril, disse à BBC de Londres que queria que o ex-líder Muammar Khadafi não tivesse sido morto.

Afirmou ele a BBC: "Sinceramente, em um nível pessoal, eu gostaria que ele estivesse vivo".

Antes ele havia dito "Eu quero saber por que ele fez isso com o povo líbio", durante o programa HardTalk, se referindo aos 42 anos que Khadafi passou no poder.  "Eu queria ser o promotor em seu julgamento."

Mahmoud Jibril também afirmou a Rede BBC ser a favor de uma investigação completa sobre as circunstâncias da morte do coronel Khadafi, na quinta-feira, como defende a ONU, desde que as tradições funerárias islâmicas sejam respeitadas.

As declarações vieram antes que os novos líderes da Líbia decretassem a libertação formal do país na cidade de Benghazi, a primeira a derrotar as forças de Khadafi, neste domingo, dia 23 de outubro. As eleições devem ser marcadas para acontecer até junho de 2012. "Esperamos muito por este momento. É a hora do começo de uma nova Líbia", anunciou o premier do Conselho de Transição, Mahmoud Jibril.

No sábado, dia 22 de outubro, o comandante das forças que capturaram Khadafi assumiu publicamente a BBC a responsabilidade pela morte do ex-líder Líbio Muammar Khadafi.

Em entrevista exclusiva à BBC, Omran el Oweib disse que o coronel Khadafi foi arrastado para fora do cano de drenagem onde ele foi encontrado, deu cerca de dez passos e caiu no chão ao ser atacado por um grupo de combatentes furiosos. El Oweib afirmou ainda que é impossível dizer quem deu o tiro fatal no ex-líder líbio.

O comandante afirmou ainda que tentou salvar a vida de Khadafi, mas que ele morreu na ambulância a caminho do hospital, nos arredores de Sirte.

Muammar Khadafi, que chegou ao poder após um golpe de Estado em 1969, e foi derrubado pela chamada “Primavera Árabe”, revoltas populares que terminaram derrubando diversos líderes de países árabes, entre eles o ex-presidente do Egito Hosni Mubarak, entre outros, foi assassinado de modo covarde por aqueles que foram perseguidos por seu governo.

O ato selvagem como esse não justifica uma ditadura de 42 anos. Será que daqui prá frente existirá um governo democrático na Líbia, com a eleição dos grupos rebeldes que tomaram o poder na Líbia?

Esse premier afirma que não mandou, que não deu ordens para a execução de Muammar Kadafi. Mas ele demonstrou que é pior de que ele. E mandou sim matá-lo a sangue frio, e a OTAN tem sua parcela de culpa nisso tudo porque bombardeou o comboio onde estava o líder Líbio e familiares mais próximos, além de alguns militares de sua estreita confiança. Todos eles acabaram mortos pelos rebeldes líbios a sangue frio.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, festejou o fim de Muammar Kadafi, que, segundo ele, serve de alerta para os regimes autoritários. Já a presidente Dilma disse que a morte de qualquer líder não deve ser comemorada.    

Cabe agora a ONU pedir uma investigação séria e isenta, e sem parcialidade, sobre esse crime e punir os culpados pelas leis internacionais em vigor.   

E o nascimento de um novo país será uma verdadeira incógnita, já que existem dezenas de grupos e facções, que desejam somente o poder, como o teve e usufruiu Muammar Khadafi.


Autor: Roberto Jorge Ramalho Cavalcanti


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