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Quando um não quer dois não se beijam

Quando eu ainda exercia a advocacia fui procurado para uma consulta um tanto inusitada. Uma mulher havia andado a pé várias léguas para falar comigo. De olhar já se via que se tratava de pessoa muito simples, cansada da lida na roça. Doutor, eu tenho até vergonha de conversar isto com o senhor, por que pra mim o doutor parece um menino. Também não falei do assunto com nenhuma viva alma. Dona fulana, não quero lhe aborrecer, mas tenho outras pessoas para atender. Qual é o seu problema? Doutor, eu sou obrigada a “servir” o meu marido todos os dias? Fiquei matutando para responder, afinal o Código Civil reza que os cônjuges têm obrigações e deveres um para com o outro, incluindo o “servir” um ao outro. Para uns um direito e para outros uma obrigação. Olha, penso que a Senhora deve conversar com o seu marido, achar um meio termo, não digo todos os dias, entretanto, quem sabe uns três dias por semana. Vou falar a verdade, diz a mulher, se dependesse de mim eu não queria nem um dia por semana. Sabe doutor, ele vai lá pra roça e trabalha o dia inteiro e quando chega, sem mesmo tomar um banho, me pega como se posse uma lasca de braúna e me joga em cima da cama. Até se ele tomasse um banhozinho. Infelizmente, talvez eu não possa lhe ajudar, como advogado o meu negócio e fazer o divórcio, se essa querência diária dele tornar a sua vida insuportável. Acho melhor o casal procurar uma terapia. O que? Isto é carro? Não sei, mas deve custar uma saca de café por consulta ao profissional especializado. É doutor, vou pensar. Vai com Deus dona Maria. Secretaria, a próxima, por favor. E a Senhora, qual o problema? Doutor, eu quero me separar. Dá pro Senhor mandar uma cartinha para o meu marido vir aqui fazer amigável? Claro, mas ele quer separar? Eu acho que não. Querendo ele ou não eu vou me separar, ele não esta resolvendo nem de dia e nem de noite. Pensei, apenas pensei, o seu problema diurno eu não resolvo, mas quem sabe o noturno.

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