"Tira bom de tiro"



Tem dia que Delegacia de Polícia em cidade grande está mais movimentada que estádio em decisão de campeonato. A imprensa chega para trabalhar e não sabe por onde começar,visto o número de ocorrências. Dá até para escolher qual fato será mais trabalhado, seja para o próprio dia, no caso das rádios e TVs ou para o outro dia, no caso de jornais. Histórias de tiroteios entre policiais e criminosos sempre chamam a atenção, às vezes pelo desenrolar violento e outras por fatos inusitados e que depois viram motivos de brincadeira entre os policiais, como é o "causo" de hoje.

O Plantão Policial está agitado naquela manhã... Tinha ocorrido uma troca de tiros entre investigadores e suspeitos de serem ladrões de teipes de carros. Um dos acusados foi preso e um experiente policial baleado, mas sem gravidade, o tiro acertou na perna. O estranho era que os colegas de corporação não estavam revoltados. Ao contrário, alguns formavam grupinhos e riam da situação, mas mudavam de assunto quando algum repórter se aproximava.

Podem acreditar, mas até há uns 15 anos, mesmo nas grandes cidades, como a Capital ou Campinas, era possível fazer uma reportagem policial com mais romantismo, bem diferente das cenas de violência pura e explícita muito exploradas nos dias de hoje. Estranhei o fato de um policial admirado pelos demais ter sido baleado e mesmo assim seus amigos não demonstrarem revolta e quis saber mais da história.

Pergunto daqui, pergunto dali, escuto uma versão aqui e outra ali e então fico sabendo que o policial tinha sido atingido na parte de trás da perna durante a perseguição aos suspeitos. Imagino que ele foi pego de surpresa, ou seja, teria outro suspeito na cobertura. Mas isso não seria motivo para revoltar os colegas do "polícia" baleado?

É então que fico sabendo que o parceiro da vítima, um policial mais jovem, que também estava na perseguição, foi quem atirou para tentar acertar os suspeitos e acertou acidentalmente seu colega. Entendi então que, por certo, a turma do "deixa disso" procurava uma forma de não prejudicar o policial menos experiente, mesmo porque a situação dos fatos apontava para um lamentável acidente.

Esse espírito de corpo existe mesmo e não é apenas na Polícia, mas na maioria das categorias. Na verdade, os demais policiais estavam preocupados com a forma que o caso repercutiria na imprensa, já que o único baleado no tiroteio era policial e foi ferido pelo próprio colega de profissão.

Passada a tensão da ocorrência e com o policial ferido restabelecido, alguns amigos deles e outros, diria eu, "mui amigos", dariam uma versão piada para o caso. Segundo eles, o tira baleado e seu parceiro realmente estavam correndo atrás dos suspeitos, mas estavam ficando para trás quando um terceiro policial teria falado ao mais jovem: "atira no ladrão, atira no ladrão..." e pimba, ele atirou no parceiro... 

Mais tarde, o jovem policial se justificaria dizendo: "como eu não conhecia os outros caras, atirei em que eu já conhecia e que sei ser ladrão... nos jogos de truco, ué?!...". Maldade pura... mas é assim, os tiras mais antigos podem até perder alguns velhos amigos, mas dificilmente perdem a chance de fazerem uma nova piada...   

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Autor: Edson Terto Da Silva


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