A Utilização De Óleo Residual Para A Produção De Biocombustíveis



*Vera Lúcia Araújo Leite

Durante toda a existência do homem na terra, suas ações causaram impactos na natureza, inicialmente estes impactos eram de pequenas proporções e restritos aos locais onde existiam pequenos grupos, como queimadas e desmatamento. Porém com a evolução técnica estes prejuízos passam a ter proporções que atingem áreas além do próprio local onde as comunidades estão instaladas como a poluição do ar, da água , etc.

A utilização indiscriminada da natureza, retirando dela tudo o que fosse possível, deixando namesma os dejetos do processo produtivo, trouxe problemas em escala cada vez maior, colocando em risco a própria sobrevivência do ser humano.Os problemas não são novos. Destacam-se a contaminação das fontes de água, o aumento desmesurado do número de enchentes, a exigüidade da rede de esgotos, as dificuldades em gerir os resíduos sólidos e a interferência crescente do despejo inadequado de lixo em áreas potencialmente degradáveis em termos ambientais, e naturalmente os problemas da poluição do ar. (CASCINO et al)

Estes problemas são gerados na maioria pela ignorância do ser humano de sua dependência e relação com a natureza, existe ainda uma falsa idéia de que somos superiores e desintegrados da natureza. Não se percebe que tudo que somos vem da natureza, ou seja, somos parte integrante de uma grande teia e que a cada fio que movemos estamos interligados de um modo ou outro a este fio e portanto os prejuízos acabam chegando a nós (FADEL).

A contaminação das águas é um problema que muito tem preocupado os especialistas, pois muitas vezes e irreversível. Finalmente esta preocupação tem chegado a população que percebe tanto a má distribuição, como a péssima qualidade da água a que temos acesso. Os processos para a utilização desta água são cada vez mais dispendiosos, o que tem levado ao questionamento por parte dos leigos: é melhor gastar para preservar do que para tentar recuperar a qualidade da água?(BOM)

Um dos principais poluidores das águas é o lançamento de esgoto sem tratamento, sendo que neste esgoto são lançados os óleos residuais da alimentação humana.

Hoje, no Brasil, parte do óleo vegetal residual oriundo do consumo humano é destinada a fabricação de sabões e segundo MITTELBACH (1988) existe a possibilidade de utilização deste tipo de óleo para a produção de biodiesel com boa qualidade.

Entretanto, a maior parte deste resíduo é descartada na rede de esgotos. A pequena solubilidade dos óleos vegetais na água constitui como um fator negativo no que se refere à sua degradação em unidades de tratamento de despejos por processos biológicos e, quando presentes em mananciais utilizados para abastecimento público, causam problemas no tratamento da água. A presença deste material, além de acarretar problemas de origem estética, diminui a área de contato entre a superfície da água e o ar atmosférico impedindo a transferência do oxigênio da atmosfera para a água e, os óleos e graxas em seu processo de decomposição, reduzem o oxigênio dissolvido elevando a demanda bioquímica de oxigênio (DBO), causando alterações no ecossistema aquático (DABDOUB, 2006).

O óleo residual nos rios causa a impermeabilização dos leitos e terrenos, influenciando de maneira negativa na manutenção dos ecossistemas onde estes resíduos são lançados. Alem dos prejuízos, o óleo lançado no esgoto encarece o tratamento dos resíduos.

A produção de um biocombustível a partir deste resíduo traria inúmeros benefícios para a sociedade, pois haveria diminuição de vários problemas relacionados ao descarte deste resíduo, sendo que, além destes benefícios, ainda haveria a possibilidade de aumentar a produção e a utilização de biocombustível, como no caso o biodiesel, diminuindo a emissão de gases de efeito estufa, contribuindo com o meio ambiente.
Pela definição da lei nacional número 11.097 de 13/01/2005, (Publicada no D.O.U. de 14.01.2005, Seção I, página 8) o biodiesel pode ser classificado como um combustível alternativo, de natureza renovável, que possa oferecer vantagens sócio-ambientais ao ser empregado na substituição total ou parcial do diesel de petróleo em motores de ignição por compressão interna (motores do ciclo Diesel).

A produção de biodiesel pode se dar a partir de gorduras animais ou de óleos vegetais, existindo dezenas de espécies vegetais no Brasil que podem ser utilizadas, tais como: mamona, dendê (palma), girassol, babaçu, amendoim, pinhão manso, soja, óleos residuais e dentre outras .

O biodiesel se insere na matriz energética brasileira como um aditivo, segundo o marco regulatório (Lei nº 11.097/2005, publicada no Diário Oficial da União em 13/01/2005), cuja evolução vai, a contar da criação desta lei, até a obrigatoriedade do uso do B5 (adição de 5% de biodiesel ao diesel), a partir de 2013 (Figura 1).


 
Figura 1 – Evolução do marco regulatório do biodiesel na matriz energética brasileira.
Fonte: ABIOVE, 2005
Segundo CRISTOFF, estudos sugerem que a maior parte do aquecimento global é decorrente da emissão dos Gases de Efeito Estufa (GEE), provocada por atividades humanas (queima de combustíveis fósseis, desmatamento, crescimento desordenado das metrópoles entre outras). Os GEE impedem a saída da radiação do planeta, causando o denominado "efeito estufa". É indispensável um gigantesco esforço para reduzir essa emissão, em não ocorrendo, é quase certo que o clima do planeta venha a se alterar, com aumento da ocorrência de fenômenos climáticos extremos, o que pode ter conseqüências drásticas para todos os seres vivos.

A produção de biodiesel usando como matéria prima o óleo residual traz como benefícios a diminuição da poluição das águas e a redução dos gases emitidos pelo uso do diesel convencional.

Vários processos tecnológicos estão sendo utilizados para obtenção do biodiesel via transesterificação1. Na Figura 2, está mostrado um destes processos para a produção de biodiesel a partir de óleo residual de fritura, constituído por etapas de pré-tratamento da matéria-prima, reação de transesterificação e de purificação do biodiesel obtido.

  Figura 2 – Processo de obtenção de biodiesel a partir da transesterificação etílica do óleo residual de fritura.

Provavelmente este e um dos caminhos para a produção de biocombustíveis, sem que estejamos prejudicando a produção de alimentos que tanto tem sido questionada, pois estaremos usando um derivado da alimentação humana, dando portanto duas utilizações ao mesmo óleo produzido.

Vera Lucia Araújo Leite, professora na EAF-Machado – Escola Agrotécnica Federal de Machado - MG, Licenciado em Biologia pela FEM – Fundação Educacional de Machado e Mestranda em Sistema de Produção na Agropecuária na UNIFENAS -
Universidade José do Rosário Velano – Alfenas – MG

Bibliografia

CASCINO, Fábio, JACOBI, Pedro & OLIVEIRA, José Flávio de (org.). Educação, Meio Ambiente e Cidadania: Reflexões e Experiências. São Paulo, SMA/CEAM, 1998

FADEL David Antonio Filho O AQUECIMENTO GLOBAL E A TEORIA DE GAIA: SUBSÍDIOS PARA UM DEBATE DAS CAUSAS E CONSEQÜÊNCIASUniversidade Estadual Paulista, Campus de Rio Claro.

BOM, JoãoDarci- A INFLUÊNCIA DA QUALIDADE DA ÁGUA EM RESERVATÓRIOS DOMICILIARES NA QUALIDADE DE VIDA DA POPULAÇÃO DE UMUARAMA – PR - Florianópolis –SC -2002

MITTELBACH, M.: The importance of diesel fuel substitutes from non-edible seed oils. Graz, http://www.balu.kfunigraz.ac.at/~mittelba/, janeiro de 2000

CHRISTOFF, Paulo ÓLEO RESIDUAL DE FRITURA DA ASSOCIAÇÃO VIRA COMBUSTÍVEL (BIODIESEL). UNIFAE Centro Universitário Franciscano do Paraná. 2007


Autor: Vera Lucia Araujo Leite


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