Zeno e Enzo
Porto de Mileto, Grécia, século III A.C.
Sentado num muro próximo ao porto, Enzo observava o mar e o cais. Ao lado dele, absorto, Zeno fitava a cidade. No cais estavam dois navios. As embarcações com duas fileiras de remos e uma vela, que somente era usada com vento favorável, percorriam até cem quilômetros por dia. As viagens eram feitas margeando a costa, ou seguindo o rumo das estrelas.
De um dos barcos os marinheiros desembarcavam fardos de tecidos de linho, lã e produtos de cerâmica. Do outro, madeira, marfim, penas de avestruz e rolos de linho. Em frente ao porto ficava a praça do mercado com suas lojas, tendas de comercio e uma profusão de forasteiros vindos de todas as partes, misturando-se a ovelhas, cabras e cavalos, enquanto os comerciantes ofereciam suas mercadorias.
Enzo tocou o irmão com o cotovelo.
- Olhe, está chegando outro navio!
A embarcação recolhia os remos e aproximava-se do cais.
- Vamos. Disse Zeno e os dois irmãos desceram pela escadaria para a praça. Para evitar a multidão, contornaram o templo e desceram outro lance de escada para o porto. Ficaram perto da entrada do cais, esperando o navio encostar-se ao molhe. Quando a embarcação foi amarrada e a prancha estendida, alguns homens desceram. Zeno chamou o capataz do porto.
- Vocês novamente! Exclamou o homem.
- Senhor, ajuda-nos. Queremos voltar para casa!... Disse Zeno, com uma expressão triste.
- E o que vocês querem que eu faça, afinal?
- Aquele navio vai para a Córsica? Perguntou Enzo.
- Ainda não sei. Mas, vocês têm dinheiro para pagar a passagem? Se não tem, não poderão embarcar.
- Não temos dinheiro, mas podemos trabalhar como marinheiros. Explicou Zeno.
- Posso arranjar um lugar para vocês, se me pagarem. Consigam dinheiro e voltem a me procurar. Respondeu o capataz e se afastou em seguida.
Um dos passageiros que havia desembarcado passou pelo portão e se dirigiu para a praça do mercado. Zeno foi atrás dele e o irmão o seguiu.
- Senhor, permita-me fazer-lhe uma pergunta.
O homem estacou e olhou para os dois rapazes.
- Sim? O que querem?
- Me chamo Zeno e este é meu irmão, Enzo. Somos de Tulum, na Córsica e queremos saber se aquele navio vai para lá.
- Estão sozinhos?
- Sim, senhor.
- Que idade tem vocês?
- Tenho vinte e um anos e meu irmão, vinte.
- E o que fazem tão longe de vosso lar?
Zeno fez um gesto de desalento.
- Ah! Fomos enganados.
- Enganados, como?
- É uma longa historia. Respondeu Enzo. - Não temos dinheiro, mas pretendemos pagar a passagem com nosso trabalho. Lavaremos o convés e trabalharemos na cozinha.
- Compreendo. Mas, aquele navio vai para a Alexandria.
- E onde fica Alexandria? Perguntou Zeno. O homem apontou para o horizonte, onde o mar e o céu pareciam misturar-se.
- Do outro lado do mar, além de Creta.
Os dois irmãos se espantaram.
- Mas, lá não tem nada, somente o abismo! Exclamou Enzo.
O homem sorriu.
- Compreendo o vosso desconhecimento da verdade.
- Que verdade? Perguntou Zeno.
- Bem, antes de falar sobre isso, vamos comer alguma coisa. A comida do navio é muito ruim e eu estou com fome. E vocês?
- Sim, ainda não comemos hoje. Respondeu Enzo.
- Então vamos ao mercado, pagarei uma refeição para vocês.
- Ainda não sabemos o seu nome, bom senhor. Disse Zeno.
- Meu nome é Arquimedes, Arquimedes de Siracusa. Vou para Alexandria...
