"Tira de fé e de café"



 A violência urbana cresceu na Região Metropolitana de Campinas(RMC), principalmente a partir do fim dos anos 80, mas, graças à Deus, começou apontar índices de queda desde 2002. Em 1989, um caso, em Campinas(SP), chamou a atenção, tanto pela história violenta, como pelo incansável trabalho dos policiais, que recorreram, digamos, até ao misticismo religioso para ajudarem na solução do crime.

 Uma universitária, filha do dono de uma empresa de transporte, foi encontrada assassinada. O corpo, enrolado num carpete foi deixado dentro do Fusca, veículo em nome da vítima. A tarde era chuvosa e a decisão dos peritos foi desastrosa, ou seja, examinar o corpo da vítima em plena rua, na frente dos demais policiais, da imprensa e de um grupo de curiosos.

 A garota apresentava profundo ferimento no rosto e, na hora, nem peritos decifraram que tipo de arma foi usada. A seguir, o corpo foi deixado nu para constatações de outros possíveis ferimentos. A frieza do trabalho e o fato dele ser feito em plena rua, provoca comentários de repulsa entre muitas pessoas que o presenciava, mas os peritos agem com a frieza que sobra aos profissionais acostumados com tais situações.

 Próximo do seio direito da vítima são constatadas marcas que, para leigos, lembram queimaduras feitas com cigarro. Os peritos constatariam que se tratava de estocadas com algum estilete... Começava ali a investigação de mais um crime misterioso e os trabalhos só parariam após mais de 40 horas com consecutivas, com prisão e confissão do criminoso... se tratava de um caso passional.

 A identificação da vítima e as investigações em seus cadernos e em seu diário foram decisivas para a Polícia chegar ao criminoso: um empregado da família com quem a moça mantinha um namoro, mas tinha decidido acabar, pois seus familiares não aceitavam o relacionamento. O acusado foi preso quando se encaminhava, normalmente, para trabalhar na empresa do pai da vítima, como se nada tivesse acontecido. Ele chegou voltar para casa logo após ser parado na rua pelo grupo de policiais, que depois o prenderia. O criminoso alegaria, depois, que pensava ser assaltantes, os homens(policiais) que o abordaram sob pretexto de pedir  informação.

 Espera dali e espera daqui até que chegar o horário de cumprir o mandado de prisão, e os policiais entram na casa do suspeito. O interrogatório é longo, regado a muito café e, depois da confissão, com direito até a bolo e bolacha. O acusado confessa ter usado um bujão de gás para acertar o rosto da garota- isso explicava a dificuldade dos peritos para identificar a arma usada -.

 Ele ainda levaria os policiais até a casa onde cometeu o crime e entregaria uma espécie de punhal- disfarçado em martelo de checar calibragem de pneus - usado para estocar o peito da garota.

Faltava a chave do Fusca, que ele dizia ter jogado no matagal, próximo ao lugar onde abandonou o corpo. Parecia uma busca de agulha no palheiro, até que um experiente investigador, pouco conhecido por métodos místicos ou religiosos, pede permissão ao delegado da missão para fazer a oração de São Longuinho, aquela do que "se achar, dá três pulinhos".

O delegado, também muito experiente, acredita ser uma brincadeira após mais de 35 horas seguidas de trabalho, mas o autoriza. E não é que deu certo?  O investigador enfia a mão no matagal, pergunta ao acusado se ele usou luva cirúrgica e quando o mesmo diz que sim, o policial “saca” do mato, como se fosse mágica, a luva de borracha ainda presa nas chaves. Contente, o tira pagou os pulinhos na hora, enquanto que o acusado foi para a cadeia, foi julgado, amargou alguns anos de prisão e, como a história tem mais de 15 anos, se bobear, já deve estar, pelo menos, em liberdade condicional...           

 


Autor: Edson Terto Da Silva


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