O balcão da discórdia



O dicionario nos diz que discordar nada mais é que o ato de não concordar, de divergir. Podemos acrescentar que descordar é , também, o ato de não combinar, de estar em proporções desiguais, de desafinar quando todos estão no ritmo certo, de ter uma opinião contraria. Todos nós temos o direito de discordar de algo que não condiz com nossos princípios ou que de algum modo hostiliza nossas crenças, de igual modo podemos ser o alvo da discórdia. Talvez, esse seja um dos maiores pilares da democracia, se não o maior dentre muitos outros. Discordar ou concordar é exercitar a liberdade de pensamento que logo se torna liberdade de expressão e de expressão praticada.

Imaginem como se sentia os oprimidos nos campos de concentração nazistas, que sofrendo toda desgraça possível não podiam nem ao menos murmurar dizendo ser contra, precisavam engolir seu bem mais precioso, a liberdade de expressão. Imaginem como era ser negro e escravo no período feudal, onde a discordância não era aceita e se manifesta era logo inibida, suprimida, massacrada, pelos açoites dos feitores das fazendas de café ou por torturadores oficiais. Imaginem, como era viver em países dominado pela ditadura, onde sua liberdade de expressão se limitava a repetir palavras de submissão, “sim senhor”, “não senhor”. Nesses casos o ato de discordar não foi exercitado de maneira plena, talvez ainda não esteja sendo. Ademais, descordar não é só ser contrario pelo simples fato de querer ser contra, isso é no minimo ser irresponsável e incompetente com toda ética possível e necessária. Mas, lamentavelmente tem quem entenda que o discorda pelo discordar o torna revolucionário, defensor de sua própria ideologia. Ideologia que tem matado muito mais que as balas perdidas em campos de guerra. As duas grandes Guerras e as que são locais, e que muitas vezes não são conhecidas por todos, só aconteceram por causa de ideologias. Os atentados monstruosos de indivíduos que viviam ideologias suicida provocaram terrorismo de brutalidade bestial.

Discordar é de fato algo como uma faca de dois gumes. O que é um faca de dois gumes? Literalmente pode ser qualquer instrumento cortante que independe do lado provocará sempre o mesmo efeito. Como força de expressão, representa situações de difícil decisão para alguém, imagine que esse alguém precise decidir o que deve ser feito e as opções do momento parecem ser boas ou pode acarretar prejuízos. Um lado da faca, opção primeira, pode ferir alguém ou, segunda opção, pode machucar que a segura, a si mesmo. Faça um exercício hipotético para entender o que quero dizer, imagine que você caro leitor esteja precisando se decidir sobre algo que pode ser um beneficio para você e que, também, apresenta possibilidades prejudiciais, o que fazer nesse momento? Muitas coisas podem ser feitas, como fechar os olhos e se lançar no precipício da discórdia, ou abrir as janelas da percepção e tomar o caminho mais correto e que, certamente, exigirá mais da sua honestidade consigo mesmo e chamará as responsabilidades para sua própria vida. Mesmo, assim, o caro leitor pode dizer que não entendeu ou o que foi oferecido como solução não se parece com solução. Isso é um ato de descordar de si mesmo ou de descordar das alternativas mais corretas, mais honestas. Então, discordar pode ser uma faca de dois gumes sim, mais ainda quando o discordar não está se voltando para alguém ou para uma ideologia, ou para algo, e sim quando o ato de descordar se volta contra quem descorda.

Descordar de si mesmo é uma faca de dois gumes. Qual dentre vocês não conhece alguém ou conheceu alguém que aparentam ter como única função da vida descordar dos outros? Quando você diz direita, a outra pessoa está dizendo esquerda, ou quando você escolhe branco o outro diz que é melhor preto. Você poderá dizer que essas atitudes são apenas uma questão de preferencias, mas as preferencias não causam sensações de angustia, de depreciação ou de raiva, as preferencias apenas revelam preferencias. Mas a discórdia causa sentimentos desnecessários que são produzidos por comportamentos hostis, e esses são induzidos por ações externas, muitas vezes provocadas pelos que descordam apenas para se manter contrários, em desarmonia com o ritmo da convivência saudável.

O pior dilema é como lidar com pessoas assim, que descordam apenas para ser contrario a sua opinião ou suas escolhas? Primeiro entenda os motivos que levam o outro a ter essa atitude rude; entenda porque você se deixa abalar pelas palavras proferidas pelo outro; e desconstrua as frases e os seus pensamentos que provocam sensações ruins. Não importa se quem discorda o faz apenas para não concordar com suas opiniões e escolhas, o que importa é como você se percebe nessa situação e como você está dando enfase demais ao que o outro diz. Lembra quando era criança e te renomearam com um pseudônimo, um, apelido, e você não gostava e demonstrava que não gostava porque realmente não gostava? Imagine se nessa época você não valorizasse o que ouvia que era contrario a sua saúde mental, se você tivesse desconstruído o peso da ofensa, o poder da palavra e principalmente a sua auto defesa errada de algo que só te agredia por que você entendia como algo muito comprometedor! Certamente você não teria sofrido tanto. Os seus pais lhe disseram pra não ligar porque se você ficasse irritado (a) com o apelido eles iriam continuar a chama-lo (a) pelo apelido tão poderoso e que pode ter moldado sua vida atual. A velha dica dos pais continua valendo na vida adulta, desconstrua os significados da discordância e tudo se resolve sem mais esforço.

Mas, quando estamos no balcão da discórdia trocamos uma moeda de valor por outra com valor negativo. E depois descobrimos que estamos sendo lesados. Essa palavra (lesado) é interessante porque revela a lentidão dos pensamentos ou a aceitação de experiencias ruins e a absorvição das mesmas por aquele que foi lesado. Todos que trocam suas moedas de ouro por moedas estragadas no balcão da discórdia são pessoas que se frustraram, que se magoaram, que produziram pensamentos ruins sobre si mesmos. Não é preciso fazer trocas, não é preciso comprometer sua integridade emocional em balcões onde se vende discórdia ou se faz trocas injustas. A culpa é sua até onde você se posiciona a frente desse balcão para empenhar coisas boas em troca de nada benéfico. Porém, não podemos deixar de enfatizar que a discórdia não vem só dos outros, também está em si, em você. Quando discordar é uma maneira simples de resolver um problema ou de encarrar suas justificativas pessoais para não assumir suas responsabilidades, então é preciso desconstruir a desonestidade com que está tratando a si mesmo e se deixar perceber do alto para ver em que você está se transfonando, para onde você está indo. Porém, se essa imagem pessoal é agradável a seus olhos e te faz bem, então continue na sua empreitada para sua autorrealização.

Todos nós somos senhores de nossas ações e dos resultados que elas acarretam.


Autor: Chardes Bispo Oliveira


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