Quando senti na pele como se morrem os passarinhos



Creumir Guerra QUANDO SENTI NA PELE COMO SE MORREM OS PASSARINHOS Eu não rompi a relação que mantenho com meu tio que mora em Boston-MA-EUA por que tenho medo que ele se jogue nas aguas turvas do Rio Manteninha. Na ultima vez que sai aqui da roça para visita-lo no estrangeiro ele não foi nem na rodoviária me buscar. Ainda bem, por que eu cheguei pelo aeroporto, que fica a menos de uma légua da casa dele. A pressa é inimiga da procissão, como diria o velho Chico Anísio. Depois de uma noite dentro do avião estava doido para chegar, me encontrar com o tio de braços abertos e com sua van com o porta malas escancarado para mim. Chegamos, Dalvani e eu, e nada de tio. Peguei as malas e as coloquei no chão. Disse a Dalvani que era para vigiar as bagagens para eu ver o local onde estavam estacionados os taxis. Segui o corretor, como já fizera antes quando o meu tio também não foi me buscar, andando de passos largos. Empurrei uma porta de vidro de duas bandeiras, com aquelas barras de proteção, e avistei a área onde ficavam os taxis. A porta, a maldita porta. Não tinha aduelas. Não tinha maçaneta e nem mesmo um sujinho sequer. Acreditei que se tratava de um lugar de passagem livre, do tamanho de uma porta 0,80x2,10. Avancei com tudo para cima daquele vão e senti no nariz como se morrem os passarinhos. O nariz foi o primeiro a chegar ao vidro e senti os miolos chocalhar dentro do meu crânio e o sangue jorrar do nariz. Este explodiu igual tomate. Não houve corte. Voltei zonzo para onde estava a Dalvani e ela se assustou quando me viu com a mão cheia de sangue levada ao rosto. Nesta hora bolsa de mulher vale para alguma coisa. Ela sacou de lá uma toalhinha e me deu para estancar o sangue do nariz. O segurança do aeroporto me aconselhou a procurar o serviço médico do estabelecimento, mas eu não dei nem bola. Segurando o nariz com uma mão e empurrando um carrinho com a outra me dirigi até aos taxis. As malas foram jogadas no taxi e seguimos em direção à casa do meu tio. Ele não estava em casa e fui recepcionado pela sobrinha dele, que mora no apartamento debaixo. Ela me viu naquele estado e perguntou o que havia acontecido. Depois pegou um punhado de gelo e colocou em um pano para eu usar para desinchar o nariz. Colei um band-aid no local e o resto era questão de tempo. Chega o meu primo e pergunta: O que aconteceu com o seu nariz? Na sequencia o meu tio, a mulher do meu tio, as filhas do meu tio, o meu irmão, a mulher do meu irmão, os meus sobrinhos, o padeiro, o açougueiro e a torcida do flamengo em Boston perguntaram: O que você arranjou que machucou o nariz? Um dos primos me disse uma coisa diferente e que eu deveria ter feito. Ele me disse que se fosse com ele teria caído ao chão, esperado a maca, aceitado o serviço medico de urgência e depois chantageado a direção do aeroporto com um pedido de indenização. Falei que a culpa era minha em não observar as coisas direito, Não, ali tinha que ter uma placa avisando que era uma porta de vidro fixa e sem um sujinho, rebateu ele.
Autor: Creumir Guerra


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