Redes anti-sociais



 

Redes Anti-Sociais

 

Atônito assisto à veloz evolução da tecnologia. Iphones, Ipods, Ipad, “I isso”, “I aquilo”. Não conheço uma única criança de 4 ou 5 anos que não possua um celular de última geração, “X-box”, “PlayStation”, “Mac-Air”.

São inegáveis as “benéfices” trazidas por estas “geringonças”, se é que assim posso chamar estes aparelhos tecnológicos. Não podemos mais viver sem dar uma espiadinha na tela de LED (afinal, LCD já está ultrapassado), de nosso “smart-phone” para ver se alguém nos ligou. A cada vez que nosso celular “apita” corremos para verificar o “e-mail” ou o “sms” que acabou de chegar. Alguém atualizou o seu “status” no Facebook, um outro fez o “check-in” na padaria da esquina, fulano atualizou a foto do seu perfil.

A tecnologia evoluiu e junto com tão avançadas parafernálias eletrônicas surgiram novas formas de relacionamento humano, as redes sociais.

Poucos são os que hoje não possuem uma conta em pelo menos uma das famosas redes sociais, tais como Facebook, Orkut, Twitter, Linkedin. Alguns fazem questão de possuir uma conta de cada, há aqueles que não possuem mas que já escutaram falar sobre elas, há outros que já possuíram, mesmo que por curiosidade.

Meus pais, tios e tias, hoje todos eles “sessentões” e alguns até “setentões”, possuem uma conta em uma destas redes sociais. São assíduos frequentadores, comentam, “curtem”, postam, “twitam”, “cutucam”. Famílias inteiras estão “conectadas” por estas contas.

Eu mesmo, que, no início desta “febre social”, não possuía um “perfil”, hoje possuo umas 2 ou 3 contas. Certo dia eu me surpreendi com a quantidade de “amigos” que eu tenho, alguns realmente meus amigos, outros, velhos colegas de escola, companheiros de trabalho e tinha até alguns que eu nunca vi na vida, mas solicitaram-me a “amizade” não faço ideia do porquê.

Alguns de meus “amigos”, de tantos “amigos” que possuem tiveram que abrir um segundo e até um terceiro perfil pois atingiram a capacidade máxima suportada pelas contas.

Ouvi falar que a intenção das redes sociais é a de aproximar as pessoas, que é para que possamos re-encontrar velhos amigos, para que possamos nos manter informados (o que aconteceu com os jornais e revistas?). Mas há as redes que promovem o adultério, o livre relacionamento, o fim da família.

Cá eu tenho minhas dúvidas quanto à proposta de aproximação das pessoas, principalmente quando chegam as datas especiais como os aniversários, Natal, Páscoa, Réveillon. Antigamente, não muito mais do que três, quatro anos atrás, era comum eu ligar ou receber ligações de meus amigos no meu aniversário, desejávamos boas festas uns aos outros, “feliz Natal e ano novo”, quando não pessoalmente, no máximo pelo telefone fixo ou celular.

Hoje em dia é um “Feliz Ano Novo” coletivo, um “Bom Natal para todos os meus amigos e amigas da minha rede social”, “Parabéns meu amigo, felicidades, pelo seu aniversário”, aniversário este que a rede social lhe fez o favor de “lembrar”.

Onde está a tão prometida aproximação das pessoas? Onde estão meus amigos? O que aconteceu com os calorosos encontros de família nas festas natalinas e nos aniversários?

Vejo fotos de pessoas “felizes” por possuírem 500, 600 amigos no Orkut ou no Facebook e outros 300 seguidores no Twitter, são perfis que escondem seres solitários, enfurnados atrás de seus teclados, escrevendo abertamente sobre suas vidas para que todos que quiserem possam ler, comentar, “curtir”.

A frieza das redes sociais é impressionante, estamos nos esquecendo do verdadeiro significado da palavra “amizade”, do verdadeiro sentido das datas especiais. O mundo tornou-se totalmente anti-social. As pessoas estão cada vez mais solitárias, mesmo com tantos “amigos” em seus perfis. Não nos preocupamos mais em nos conhecer, criar laços afetivos, nos relacionar (pessoalmente).

Os novos relacionamentos sociais são virtuais, são frios, são irreais, são vazios Fomos contaminados por uma frieza hipócrita, de amigos inatingíveis. Só curtimos alguma coisa se ela for escrita no Facebook, ou no Twitter.

O mundo está se tornando vazio, não é mais um mundo real. A rede “anti-social” está afastando as pessoas, está destruindo os relacionamentos, as famílias, as amizades

Não estou criticando as pessoas que agem desta forma, que “twittam” o dia inteiro desesperados atrás da atenção de seus “amigos” pois também sou viciado na “magia” destas redes. Estou ficando velho e já fui contaminado, mas preciso curar-me e voltar a acreditar nos antigos relacionamentos, no verdadeiro significado da palavra amizade antes que, no dia do “Game Over”, meus amigos ao invés de comparecer no meu velório postem mensagens de pesar nos meus perfis, ou pior ainda, “Curtam” o meu “status” nas redes “anti-sociais”.

 

Eduardo Augusto Lindenberg Vargas

02-01-2012

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