Porque O Gerenciamento Não É Prioridade



Gerenciamento não é prioridade nem na nossa casa que dirá nas empresas. Os cursos de Economia Doméstica tem se esforçado para formar pessoas capazes de auxiliar as famílias a se organizarem e administrarem melhor os seus parcos recursos. Percebe-se que não tem sido fácil. Parece que a nossa cultura tem certo avesso à qualquer tipo de controle ou regra. Ele sempre precisa ser indireto para funcionar.

Assim, essa característica é extrapolada para as empresas, onde fazemos somente o necessário neste campo. Preocupamo-nos mais com a gestão fiscal do que com a gerencial. Cremos mais no feeling do que nos números. Mais na esperteza do que na expertise. Mais na decisão de bombeiro do que no planejamento. Valorizamos muito quem resolve problemas ao invés daquele que age pro-ativamente para evitar que eles aconteçam. Além de certa aversão a novas idéias e tecnologias. Mas isso tem um pé na cozinha, ou na casa, como queiram.

Do mesmo modo que a educação, a gestão (que é um ingrediente da educação) começa dentro de casa. Queremos que nossos filhos gastem menos, controlem os seus recursos e embravecemos quando a mesada termina antes do final do mês. Mas eles nunca viram os seus pais controlar e planejar os seus gastos.

Fluxo de caixa, custo fixo familiar, receitas esperadas e coisas do gênero soam estranhas. O destino do dinheiro é uma incógnita para a maioria dos lares. Sem falar, que mesmo sem dinheiro, sucumbimos aos argumentos dos pupilos na fila de espera do caixa, diante da prateleira de brinquedos ou da vitrine. Sempre arrumamos um argumento para driblar o orçamento. Desse modo, sem perceber, fazemos escola. Não é por acaso que o Brasil é um dos países de pior poupança doméstica.

Lembro de minha mãe anotando num caderninho e controlando os gastos familiares cada vez que ia ao mercado (na época, na roça onde eu morava, não tinha supermercado) e as receitas da lavoura ou do leite e queijo sempre que tinha uma operação nessas atividades.

Até hoje, desde 1958, ela mantém os registros das atividades da propriedade. Tinha até uma balança para conferir as compras feitas a peso. Era comum ver os meus pais discutirem quanto cada atividade colaborava com a renda. Deve-se considerar que o meu pai foi um ano na aula e minha mãe fez a quinta série. Talvez por isso hoje ache o gerenciamento uma coisa normal e necessária. Assim como escovar os dentes.

Existe uma falsa idéia de que as empresas urbanas fazem gerenciamento melhor que as rurais. Ledo engano. Infelizmente é tal e qual. A origem sócio-cultural das famílias é a mesma. Na verdade até acho que ultimamente os produtores rurais tem se preocupado mais com isso do que os empresários da cidade. Acredito também que esse fato seja cíclico. Cada vez que temos dor, tomamos remédio, mas esquecemos de ir ao médico para nos prevenir quando ela passa.

A questão cultural sobre a gestão autocrática paterna tem contribuído para entendermos esse fenômeno. Embora tenhamos avançado bastante, ainda existe no meio uma proeminência do pai sobre a mãe, do filho homem sobre a filha mulher, do mais velho sobre o mais moço, e do planejamento e controle "de cabeça" sobre o escrito e auditado.

É mais fácil mudar o planejamento e a execução ao sabor das vontades e do humor quando não o tenho registrado. Esse talvez seja o maior motivo. A maioria dos empresários não gosta de planejamento colaborativo e registrado porque "perdem a liberdade". Puro ranço cultural de casa para a empresa.

A despreocupação e até imprudência com o gerenciamento tem um outro motivo muito importante nas empresas rurais em detrimento das urbanas. E ele está de que na cidade é mais fácil fechar uma empresa em dificuldade e abrir outra. Os ativos imobilizados são infinitamente menores. No campo não. Uma vez o seu ativo foi pro espaço, já era. Para adquirir outra propriedade e começar de novo será necessária pelo menos outra vida. Na verdade não conheço ninguém no meio rural que tenha quebrado literalmente e conseguido voltar à atividade.

Pensemos nisso. À todos um bom gerenciamento da semana para que a próxima seja ainda melhor que esta.


Autor: Eleri Hamer


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