O alto-falante da igreja anunciava de tudo.



Creumir Guerra O ALTO-FALANTE DA IGREJA ANUNCIAVA DE TUDO. Ainda criança eu conheci um homem chamado de Tino. Salve engano o seu nome era Reinaldo. Ele era um alcoólatra que ficava perambulando pela cidade, sempre com um litro de cachaça pendurado no pescoço. Dentro havia raízes de losma, carqueja e outras plantas. Fiquei sabendo que ele perdeu parte do juízo quando foi injustamente espancado pela policia. Tino andava para baixo e para cima cantando uma musica: mora, mora... cutuca cutuca que cai... Também pedia uns trocados para aquisição da caninha. Não pedia dinheiro para comprar pão, como fazem alguns. Dizia que era para comprar cachaça mesmo. Um dia eu o vi pedindo dinheiro a um grande fazendeiro, que lhe deu uma moeda de dez centavos. O Tino ficou furioso com a mão de vaca do homem rico e mandou que ele enfiasse a prata naquele lugar. Isto não paga nem uma dose seu muquirana! Naqueles tempos a Igreja Batista tinha um serviço de alto-falante que avisava de tudo: nota fúnebre, achados e perdidos, avisos escolares, etc. O interessante que o Pr. Hermínio Capetini tinha uma musica para cada assunto. Tocava a musica e o povo já sabia que alguém tinha batido com a bunda na cerca. É evidente que os serviços religiosos da grei eram anunciados pelo alto-falante, que atingia a cidade inteira. Toca a musica e o Pastor avisa: quero avisar aos queridos irmãos e amigos que amanha teremos um culto matutino. O nosso amigo Tino, que não era bobo, esbravejou: É ruim, sartei de banda. Que negocio é esse de MATA O TINO? Perna, pra que te quero? No outro dia o Tino não foi visto nas ruas. Mas houve um dia em que a cidade ficou abalada com a noticia trazida pelo som da Igreja: Comunico a todos que se encontram perdidos os meninos João Erides e Rosangela, filhos de José Cardoso e Elcias Guerra, respectivamente. Quem souber o paradeiro das crianças favor entrar em contato com a Relojoaria Guerra. Todos saíram à procura dos meninos fujões e nada de encontrá-los, para o desespero dos pais e amigos. Em um dado momento alguém teve a idéia de olhar debaixo da cama e estavam os pobres anjinhos dormindo o sono dos justos. Eu não sei quem roncava mais, mas creio que era o irmão do Josemar Gonçalves. Houve uma nota que o Pastor recusou a avisar. Uma senhora chegou e falou que havia perdido a dentadura e queria que o aviso fosse feito. Com todo o cuidado o Reverendo falou: minha irmã! A senhora acha que alguém que encontra uma dentadura é capaz de apanhá-la? Que serventia teria? Eu acho que o Pastor deveria ter avisado. A coisa esta tão preta que na minha casa todo mundo usa a mesma escova pra economizar.
Autor: Creumir Guerra


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