A contemporaneidade presente em microfísica do poder de Michel Foucault



A CONTEMPORANEIDADE PRESENTE EM MICROFÍSICA DO PODER DE MICHEL FOUCAULT
Ailton da Costa Silva Júnior

Paul-Michel Foucault nasceu na cidade de Poitiers, localizada no centro-oeste da França, em 15 de outubro de 1926, estudou na Escola Normal Superior de Paris onde mais tarde diplomou-se em psicologia e psicopatologia, tendo conhecido Pierre Bourdieu, Jean-Paul Sartre e Paul Veyne. Em 1949 realiza sua graduação em filosofia na Sorbonne e obteve doutorado em 1961 com sua tese intitulada Histoire de La Folie a L'âge Classique (1961; História da Loucura).
As obras de Michel Foucault são fontes de discussão entre diversos pesquisadores, não apenas pelo brilhantismo com o qual elas foram concebidas, apresentando como objeto de estudo as instituições sociais e sua correlação com o Estado, mas também no que diz respeito a sua filiação intelectual, sendo descrito por alguns críticos, inicialmente como estruturalista e mais tarde como pós-estruturalista.
O interesse de Foucault pelo estudo de transtornos psíquicos ganha mais ênfase depois dos trabalhos desenvolvidos no Hospital Psiquiátrico de Saint-Anne. Seus estudos giram em torno do Estado e da complexidade com a qual as instituições atuam no processo de manutenção da ordem e validação do poder.
É em 25 de Junho de 1984 que Michel Foucault vem a falecer em função de uma série de complicações de saúde advindas da AIDS.
 Os hospitais, onde o autor analisa as práticas psiquiátricas e os métodos falhos aos quais elas permaneceram fundamentadas como as prisões e o sistema de encarceramento e vigilância tornaram-se alguns de seus principais temas. O Pan-óptico de Bentham, o qual é tema da obra Vigiar e Punir: O Nascimento da Prisão é tomado como exemplo em vários debates dobre o sistema carceirario e hospitalar.
Sobre o poder e as técnicas utilizadas pelo Estado no processo “disciplinar da sociedade” surge uma reunião de artigos, entrevisas e aulas no Collège de France no decorrer dos anos de 1973 até 1980, que deram origem ao livro Microfísica do Poder que foi organizado por Roberto Machado (Doutor em Filosofia e aluno de Michel Foucault).  
Nesta obra são analisados o poder e os diferentes mecanismos e microestruturas de sua afirmação, para Foucault o poder não existe, existindo em demasia um número incontável de práticas de poder, onde o sujeito também é um dos principais agentes no exercício desse poder, mas o Estado vai alem dessas práticas de controle, onde a produção de verdades também passa a ser compreendida como de suma importância no processo de adestramento e fabricação dos chamados “corpos dóceis”.
A ideia de verdade é elaborada por um maquinário do poder que trabalha para o Estado, fundamentando práticas de conduta e disciplina. “A verdade é deste mundo; ela é produzida nele graças a múltiplas coerções e nele produz efeitos regulamentados de poder.” (p. 12).
A figura do intelectual frente às tomadas de decisão da sociedade também é analisada sobre o ponto de vista do autor, em se tratando da produção de “verdades” que acompanha nossa evolução histórica, tais verdades são utilizadas para alienar e estabelecer a ordem da massa e obediência total aos que detém o poder. “Parece-me que o que se deve levar em consideração no intelectual não é, portanto, “o portador de valores universais”; ele é alguém que ocupa uma posição específica, mas cuja especificidade está ligada às funções gerais do dispositivo de verdade em nossas sociedades.” (p. 13).
A ordem hospitalar e, sobretudo a psiquiatria e seu sistema de internação de inválidos é amplamente discutido por Foucault, o ponto analisado são as relações de poder que se originam a partir de práticas entre médicos e pacientes. “Como se pode ver tudo é questão de poder: dominar o poder do louco, neutralizar os poderes que de fora possam se exercer sobre eles, estabelecer um poder terapêutico e de adestramento, de “ortopedia”.”  (p. 126).
Para Michel Foucault o sujeito da contemporaneidade é uma síntese dos efeitos do poder das instituições, bem como a disciplina, a vigilância e as práticas corretivas que se destinam ao controle social as quais foram modelando esse sujeito, “Quando o discurso contemporâneo define repetidamente o poder como sendo repressivo, isto não é uma novidade” (p. 175).
Para se compreender a práticas de controle utilizadas pelas instituições é necessário analisar os discursos e a complexidade existente em sua essência. Foucault observa que a repressão do discurso da massa é historicamente concebida, com o propósito de gerar o controle e inibir a ação de mudança no seio da comunidade. O poder da palavra deve ser detido pelo Estado e suas instituições, toda a ordem e controle emanam desse dispositivo e suas instituições.
A contemporaneidade é regida por um sistema de poder que se interliga com a velocidade nos meios de comunicação, a informação automática reduziu o mundo de forma a esquadrinhá-lo trazendo uma nova ordem instrumental de controle social. A propaganda é o principal elemento de imposição de vontades, o bombardeio de informações sofridos em nosso cotidiano na contemporaneidade é proveniente da evolução das práticas de controle citadas por Foucault.
O capitalismo moderno adequasse em função dessa lógica de velocidade no trâmite de informações ao redor do globo. Foi em função desse sistema econômico que o homem alcançou um significativo distanciamento de sua civilidade cultural. O sujeito disciplinado tornasse muito mais útil ao sistema, tanto política quanto economicamente.
O sujeito permanece acorrentado a um sem número de formas de subordinação, as quais vão gerando uma identidade, dessa maneira o indivíduo está sempre sendo construído por procedimentos disciplinares.
Foucault também chama a atenção para o problema do crescimento da população na contemporaneidade, em se tratando do controle desse número de indivíduos pelos elementos de soberania estatais, como é citado por ele: “As técnicas de governo se tornaram a questão política fundamental e o espaço real da luta política, a governamentalização do Estado foi o fenômeno que permitiu ao Estado sobreviver.” (p. 292)
O poder não emana apenas do Estado por meio de seus mecanismos de vigilância, ele alcança patamares maiores, propagando-se quase que invisivelmente através dos agentes simples existentes na sociedade. Esse processo disciplinar atravessou o tempo tornando-se complexo e ativo por meio dos diferentes processos históricos.
Nossa complexidade identitária é concebida mediante as imposições feitas pelo meio em que vivemos, sendo constituídos de forma social e coletiva. As inúmeras teias institucionais que são responsáveis pelo tipo de comportamento dos indivíduos que é desenvolvido em prol de uma ordem hierarquizada advêm do século XVI. “A partir do século XVI até o final do século XVIII, vê-se desenvolver uma série considerável de tratados que se apresentam não mais como conselhos aos príncipes (...) mas como arte de governar”. (p. 277).
Em outras palavras, Foucault discorre neste ponto sobre o poder que o Estado afirma possuir, o qual deve ser mantido ativamente no sentido de promover o bem entre todos. É sobre esse ideal de benfeitoria total que Foucault expõe sua crítica, com o propósito de tornar conscientes seus leitores dos perigos que podem surgir da complexidade dessa proposta.

REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA
FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder; organização e tradução de Roberto Machado.  Rio de Janeiro: Graal, 1979.

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Autor: Ailton Da Costa Silva Júnior


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