O ímpio



Estava lá ele, sentado e a espera de não sei o quê. Em um lugar público, mais ou menos freqüentado, onde passava meia dúzia de pessoas a cada minuto. O que havia em seus pensamentos era uma incógnita, o que fazia ali também. Era um rapaz, parecia ser boa gente, da alta classe, com trajes apresentáveis, mas não chamativos, boa aparência de fato, cabelo cortado, barba feita, dentes e unhas limpas, tudo em harmonia, só o que destoava era a sua aparente dissociação da realidade.
Ele ficou ali e assim por um tempo, até que a sua atenção foi roubada por um tipo que se aproximava, um senhor. Este também parecia boa gente, de não tão alta classe, mas ainda assim bem vestido, até de mais, sejamos francos. Um terno de cor escura e difícil de se definir, ficava entre o preto e o azul marinho escuro, cabelo penteado com gel, barba feita, dentes e unhas não tão limpos quanto aos dos rapaz, mas também apresentáveis . Só que ele tinha um acessório, uma pasta preta que levava na mão direita. Mas o que chamou a atenção do rapaz para esse tipo foi o fato deste, durante o seu caminho ir abordando as pessoas, entregando-lhes algo e tendo com eles por alguns segundos, tudo isso, ao seu ver, de forma insistente e irritante. Não querendo ser o próximo, o rapaz tornou a voltar-se para si mesmo.
O senhor continuou o seu caminho e a abordar as pessoas também, pegou pelo caminho umas quatro pessoas até dar com o rapaz. Uma pareceu ter lhe dado atenção, outras duas foram gentis e educadas e um terceiro foi, ao seu ver, grosso e mal educado, típico de um infiel, mas isso não importava, não era importante se as pessoas lhes davam atenção ou não, o importante era que ele havia cumprido o seu papel como crédulo fazendo com que houvesse a disseminação da Palavra.
Continuou o seu caminho e de longe fitou o rapaz e começou a fazer elaborações: “o que aquele jovem está fazendo ali, só, parado, com o olhar perdido? Deve ser mais um desses de má conduta, afinal, cabeça vazia, oficina do Diabo. Eu devo ir até lá mostrar-lhe a Palavra, salva-lo, mostrar o amor de Deus”.
E assim foi, aproximou-se, esperou alguma reação, um sinal de interlocução, mas nada. Daí então resolveu interpelo com um panfleto na mão:
- Ei, jovem, aceita a Palavra de Deus?
O rapaz sem se mover e ainda com o olhar perdido, porém de forma educada, o respondeu:
- Não senhor, obrigado.
Ele não pôde acreditar. Como que alguém não aceita a Palavra de Deus? Para ele, esta era uma prova da perdição do rapaz, de sua má conduta. Mas não desistiu, e perguntou de forma veemente:
- Como um jovem pode não aceitar a Deus? Você não tem mãe, família?
O jovem, sem fazer questão de responder apenas disse:
-Não aceitando. E sim, tenho mãe e família.
A revolta do senhor era evidente, não podia acreditar naquilo que ouviu, e quando o jovem disse que tinha mãe e família, pensou consigo mesmo que tipo de mãe e família seriam: “como pode uma mãe não criar o seu filho segundo os princípios da bíblia? E que família pode ser essa sem Deus em seu ceio?”. Após isso, o senhor voltou a ter com rapaz e questionou de forma altiva:
- E em quê, belo rapaz, você acredita?
Ainda sem dar muita atenção o jovem rapaz respondeu:
- Em nada...
Tamanho foi o espanto de seu interlocutor! A cara retraída, sobrancelhas arqueadas em sinal de repúdio e reprovação, um ar de censura, até mesmo de superioridade e pretensão. A indignação se fez:
- Mas como isso é possível?!
O jovem permaneceu calado. O senhor ainda indignado e sem entender interpelou novamente com certa arrogância e ar de condenação:
-Por que?!
Com a intenção de por fim a tão enfadonho diálogo, o jovem saiu de si mesmo, posicionou-se, olhou para o senhor e disse:
- Porque não tenho obrigação. Não preciso acreditar em que quer que seja, Deus, Diabo ou o que for, em absolutamente nada. Não acredito em nada e ainda assim consigo viver.
Depois de se recuperar da leve agitação dos ânimos, o jovem voltou-se para si mesmo e a perder o seu olhar no horizonte.
O senhor estava de fato extremamente irritado e incrédulo na situação que vivenciava, e com essa mesma irritação o tal senhor proferiu:
- Eis um ímpio, um infiel, herege, que não acredita em Deus e nem em sua palavra. Você há de queimar no inferno por proferi tamanha blasfêmia, Deus há de te castigar, você será julgado.
O jovem pareceu nem ouvir o senhor praguejar, permanecei inerte e com o olhar compenetrado no nada. O pobre senhor ao se dar conta disso seguiu o seu caminho, ainda um pouco enfurecido. Mas ele precisa se acalmar, e se acalmou, pois deveria continuar a espalhar a Palavra por aí, propagar o evangelho e os ensinamentos, à quem de qualquer empecilho ou infiel, o importante era cumprir sua missão. No seu caminho, até se perder no horizonte, o perseverante senhor ainda deu com umas dezenas de pessoas, mostrando-lhes a Palavra e A Verdade, encontrando ainda pelo caminho meia dúzia de infiéis, ímpios, os quais relevou e continuou o seu caminho.


Autor: Josimar Antônio De Alcântara Mendes


Artigos Relacionados


O Arremessador De Estrelas

O Pastor Que Ensina Mas Não Faz!

Obtenha A Palavra De Entendimento Para Viver Bem Em Tudo.

Notícias Do Dia

Oh! Coice.

A Arte De Viver Com ... Esperança.

Orando A Palavra