A construção social e histórica da infância segundo Phillippe Ariès: principais aspectos abordados



A construção social e histórica da infância segundo Phillippe Ariès: Principais aspectos abordados.

Vânia Roseane Pascoal Maia[1]

 

Segundo Ariès, na Idade Média as crianças não eram percebidas da mesma forma que vemos hoje, pelo contrário, eram despercebidas e tratadas apenas como um “adulto em miniatura”. 

"Até por volta do século XII, a arte medieval desconhecia a infância ou não tentava representá-la. É difícil crer que essa ausência se devesse à incompetência ou à falta de habilidade. É mais provável que não houvesse lugar para a infância nesse mundo."  (ARIÈS,1981, p.17)

            Havia, portanto, uma indiferença com relação às crianças, o que nos remete as consequências da grande mortalidade infantil da época, fruto das condições demográficas do período.

            Em torno do séc. XVII inicia-se a diferenciação entre adulto e criança, segundo os estudos deste autor,perdendo um pouco a idéia de que são apenas miniaturas dos maiores.

"Foi no século XVII que os retratos das crianças sozinhas se tornaram numerosos e comuns. Foi também nesse século que os retratos de família, muito mais antigos,tenderam a se organizar em torno da criança, que se tornou o centro da composição." (p.28)

            Neste período, as igrejas e os moralistas compreendem as crianças como “seres inocentes”, como “puras criaturas pequeninas de Deus”, que precisam ter sua inocência preservada e precisam ser educadas, vigiadas e corrigidas. Percebe-se agora, também, uma diferenciação com relação aos trajes.

"(...) a criança, ou ao menos a criança de boa família, quer fosse nobre ou burguesa, não era mais vestida como os adultos. Ela agora tinha um traje reservado à sua idade, que a distinguia dos adultos (...)" (p.32)

            Porém, essa diferenciação era notada em relação aos meninos e sendo estes de classes sociais favorecidas:

"Se nos limitarmos ao testemunho oferecido pelo traje, concluiremos que a particularização da infância durante muito tempo se restringiu aos meninos. O que é certo é que isso aconteceu apenas nas famílias burguesas ou nobres. As crianças do povo, os filhos de camponeses e dos artesãos, as crianças que brincavam nas praças das aldeias, nas ruas das cidades ou nas cozinhas das casas, continuaram a usar o mesmo traje dos adultos: jamais são representados usando vestido comprido e mangas falsas. Elas conservavam o antigo modo de vida que não separa as crianças dos adultos, nem através do traje, nem através do trabalho, nem através dos jogos e brincadeiras." (p.41)

            Com a chegada da modernidade havia um sentimento contraditório que atribuía à criança ingenuidade e inocência e, ao mesmo tempo, a imperfeição e a incompletude, transformando as atitudes sociais primeiramente em “paparicação”, o que fez com que as crianças fossem consideradas como “bichos de estimação”, para o divertimento das mulheres. Em um segundo momento a “moralização”, demonstrada por alguns setores da sociedade, como os educadores, acabou por se refletir como uma oposição na orientação dos modos clássicos de inserção dos novos sujeitos à sociedade, vindo a configurar a infância como objeto de estudo, instrução e escolarização.

Passou-se a admitir que a criança não estava madura para a vida e que era preciso submetê-la a um regime especial, a uma espécie de quarentena, antes de deixá-la unir-se aos adultos.

Essa nova preocupação com a educação, pouco a pouco iria instalar-se no seio da sociedade, e transformá-la de fio a pavio.

"A família deixou de ser apenas uma instituição do direito privado dos bens e do nome, e assumiu uma função moral e espiritual, passando a formar os corpos e as almas." (p.194).

            Por fim, vimos que começou a haver, além da preocupação com a educação das crianças, uma preocupação também com a saúde física e higiene das mesmas, sempre com um objetivo moral e demonstrando assim o papel central que a criança viria a ocupar no âmbito social e familiar.

 

Referências:

Ariès, P. História Social da Criança e da Família. 1981. Rio de

Janeiro: Zabar Editores.

 

[1] Pedagoga; Integrante do grupo de pesquisa da FURG “Política, Natureza e Cidade”; Mestranda em Educação Ambiental. Email- [email protected]

 


Autor: Vânia Roseane Pascoal Maia


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