Governança em tecnologia da informação



Governança em Tecnologia da Informação

Paulo Edson da Silva Rezende / 2011

  Introdução

 A expressão “Governança em Tecnologia da Informação” é um tema novo, é um ramo da Governança Corporativa, hoje muito aplicada no mundo dos negócios.  Ela vem para substituir aquele antigo conceito de que a TI era apenas utilizada para reparos e montagem de computadores.

 Neste artigo faço uma pequena descrição dos termos Governança e Governança Corporativa, por se tratarem de conceitos chaves para o entendimento do conceito proposto neste trabalho, Governança em Tecnologia da Informação. 

O conceito de Governança Corporativa, surgiu nos estados Unidos e na Inglaterra no final dos anos 90, sendo relacionado a forma com que as empresas são dirigidas e controladas. Hoje muitas empresas procuram adotar medidas que estão de acordo com boas práticas de Governaça Corporativa, como exemplos de empresas podemos citar: a Eternit, a Petrobrás, a Localiza, o Banco do Brasil, a Marcopolo e o Bradesco.

 A Governança é um tema que ganha grande destaque nas relações comerciais ou em empresas estatais, porque utilizam os princípios de Governança Corporativa, como a transparência, o accountability, equidade e a responsabilidade corporativa. Termos que em um mundo cada vez mais competitivo é utilizado como referência a empresas que se preocupam com a qualidade da prestação de serviços a seus clientes.

As boas práticas são fundamentais para o alinhamento do servico de TI e a gestão dos serviços. Entendemos que a ITIL possue uma série de boas práticas para a construção dos processos de TI, mas o COBIT é que vai fornecer o alinhamento estratégico necessário. COBIT possui como missão pesquisar, publicar e promover um modelo para a Governança em TI, confiável, atualizado e internacionalmente aceito e que possa ser adotado por empresas e utilizado no dia a dia por gerentes de negócios, profissionais de TI e auditores.

Governança

A expressão governança, segundo Gonçalves (2005), surge a partir de reflexões conduzidas principalmente pelo Banco Mundial, tendo em vista aprofundar o conhecimento das condições que garantem um Estado eficiente. O foco da expressão, que era a atenção as implicações estritamente econômicas da ação estatal, se desloca para questões envolvendo temas sociais e políticas da gestão pública. A capacidade do governo não pode ser medida apenas pelos resultados das políticas do governo, mas também pela maneira a qual este conduz o seu poder de governo.

 Segundo Diniz (1995 apud, Gonçalves, 2005) o Banco Mundial, em seu documento Governance and Development, de 1992, a definição geral de governanca é “o exercício da autoridade, controle, administração, poder de governo”. Assim seria a maneira pela qual o poder é exercido na administração dos recursos sociais e econômicos de um país, visando o seu desenvolvimento.

 A Governança pode ser representada pela capacidade das sociedades humanas de se dotarem de sistemas de representações, de instituições e processos, para que possam se gerir em movimentos voluntários.

 Governança Corporativa

Segundo Gonçalves (2005), o IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa) define Governança Corporativa desta forma:

“é o sistema pelo qual as sociedades (empresas) são dirigidas e monitoradas, envolvendo os relacionamentos entre acionistas/cotistas, conselho e administração, diretoria, auditoria independente e conselho fiscal. As boas práticas de governança corporativa têm a finalidade de aumentar o valor da sociedade, facilitar seu acesso ao capital e contribuir para a sua perenidade.”

Diante da complexidade das organizações, da concorrência do mundo dos negócios atuais, a necessidade de se possuir uma política de Governança era inevitável. As boas práticas de governança corporativa aumentam o valor da sociedade e facilitam o seu acesso ao capital, o que hoje tem se tornado fundamental para a transparência dos negócios. As empresas hoje têm maior facilidade em negociar suas ações na bolsa, facilitando sua valorização no mercado e possibilitando que um pequeno investidor possa adquirir as mesmas. Aquele conceito em que a empresa era apenas administrada pelos sócios se desfaz diante de um cenário globalizado, onde a empresa pode nem conhecer seus acionistas presencialmente.

De acordo com Esmeraldo (2010), em 2001 houve um fato que acelerou a adoção de práticas de Governança Corporativa no mundo, os escândalos financeiros de grandes empresas americanas como a Enron, que fraudava suas demonstrações financeiras para encobrir os prejuízos que ela vinha tendo, fazendo com que quando descoberto as fraudes, muitos acionistas perdessem o investimento de uma vida inteira. Esse fato foi de encontro com os ideais da Governança, que é baseada nos princípios da transparência, independência e prestação de contas (accountability) como meio para atrair investimentos para a organização.

 A Governança Corporativa é uma fórmula importantíssima para a eficiência econômica. Ela pode ser considerada o alicerce crucial que define os objetivos da empresa, bem como a maneira de atingí-las e ainda pode fiscalizar seu desempenho. A boa governança corporativa deve estimular a administração e a diretoria, para que os demais integrantes sejam contaminados por estas boas praticas que estão sendo desenvolvidas dentro do ambiente organizacional.

 
 Governança em Tecnologia da Informação

Hoje podemos nos comunicar com uma infinidade de pessoas, mesmo estando muito distantes geograficamente. Com a evolução das telecomunicações, os computadores tomaram um lugar de destaque em nossas vidas, digamos que quase inseparáveis, se comparar-mos a anos atrás, onde os mesmos eram máquinas grandeosas, que tornavam possível automatização de algumas tarefas em instituições de ensino, pesquisa, grandes empresas e alguns órgãos governamentais.   

Segundo Lunardi et al (2010) a Governança em TI, propriamente dita, envolve a aplicação de princípios de Governança Corporativa para dirigir e controlar a TI de forma estratégica, preocupando-se com o valor que a TI proporciona à organização, o controle e a diminuição dos riscos associados a ela.

Temos em mente que sempre foi almejado a informação e com os avanços tecnológicos, surge a expressão Tecnologia da Informação, diante da necessidade crescente de informação. A informação é tão importante que pode gerar perdas, quebras, lucros, entre outros itens, que mantém os negócios de uma empresa.  Podemos exemplificar citando o que poderia acontecer se uma empresa, uma instituição financeira, um banco, se perdesse todas as informações referentes a seus clientes, será que a mesma sobreviveria neste nosso mundo globalizado?

A TI encontra-se no período considerado como “estado da arte”, que se formalizou a apartir dos anos 90 e se encontra até hoje. Atualmente a TI é uma área que pode se relacionar com o negócio, assim como as outras áreas da empresa, sendo desde uma pequena sala na empresa até um grande departamento de TI. 

De acordo com Beal (2001), o termo "Tecnologia da Informação" serve para designar o conjunto de recursos tecnológicos e computacionais para a geração e uso da informação.

Para Alecrim (2011) a Tecnologia da Informação pode ser definida como o conjunto de todas as atividades e soluções providas por recursos de computação que visam permitir o armazenamento, o acesso e o uso das informações. Podemos perceber que as aplicações e definições para TI são várias, estando ligadas a diversas áreas. Na minha simples concepção, digo que a TI é um conceito ainda em aberto, que a qualquer momento pode ser completado com novas informações e novas descobertas. 

A preocupação hoje seria como determinar a melhor maneira de utilizar as informações, o problema seria em como gerenciar toda esta questão, que pode prejudicar o funcionamento de uma empresa ou instituição ou ainda órgãos governamentais. A idéia de Governança em TI se coloca em um espaço necessário, neste contexto.

A Governança em TI ganha espaço no cenário atual, onde a competitividade do mundo dos negócios e cada vez maior. Uma necessidade cada vez maior pela adoção das práticas de TI, onde se utilize de mecanismos que permitam estabelecer objetivos, avaliarem resultados, examinar de forma detalhada e concreta se as metas foram alcançadas. Diante do cenário atual, antigos manuais de procedimentos não estão mais atendendo as necessidades das empresas que estão em uma crescente evolução. Percebemos hoje que a gestão está se dividindo em várias áreas, inclusive a de TI, o que no passado era apenas uma simples questão de gestão e organização.

A Governança de TI pode ser definida como uma estrutura bem definida de relações e processos que controla e dirige uma organização no atual cenário de forças econômicas em extrema competição. Para Alecrim (2011), o foco da Governança em TI é permitir que as perspectivas de negócios, de infra-estrutura de pessoas e de operações sejam levadas em consideração no momento de definição do que mais interessa à empresa, alinhando a tecnologia da informação à sua estratégia. A Governança em TI ainda compreende métodos para tornar mais transparentes, organizadas e legítimas as práticas de direção e monitoramento do desempenho das empresas.

A Governança em TI utiliza o COBIT (Control Objectives for Information and Related Technology) e o ITIL (Information Technology Infrastruture Library). O COBIT assume a missão de pesquisar, desenvolver e promover um conjunto de objetivos de controle necessários ao dia a dia da empresa. O COBIT, ainda auxilia a associação entre os riscos do negócio, as necessidades de controle e os aspectos tecnológicos, fornecendo boas práticas através de uma matriz de domínio e processos estruturados de maneira lógica e gerenciável.  Juntamente com o COBIT, a Governança em TI, pode criar um projeto para que o processo de TI esteja de acordo com o planejamento, organização, aquisição, implementação, entrega, suporte e monitoramento da empresa. O COBIT é uma ferramenta que pode ser utilizada para avaliar as operações financeiras da empresa, de certa forma aliado aos controles internos. Ferramenta que se encontra alinhada a um conjunto de diretrizes de praticas, controles de TI e auditorias de processos.

 A empresa hoje pode optar por duas vertentes, ter uma postura reativa e esperar que as pressões externas ou internas a conduzam para um caminho mais confortável, que muitas das vezes pode ser muito dispendioso para mesma. Ou a empresa pode agir de maneira proativa e buscar melhoria em suas áreas de processos utilizando modelos de boas práticas ou normas existentes.

O COBIT possui informações sobre controles que devem ser uma meta e os indicadores-chaves de desempenho em todas as áreas de TI, porém ele não possui informações sobre como a organização faz para amadurecer em todas essas áreas. O COBIT define 34 áreas de processo da TI (gerenciamento de pro­jetos de TI é somente uma delas) e fornece formas de medir a maturidade de cada uma.

A empresa ainda necessita de normas de boas práticas e a ITIL é a responsável por fornecer essas normas. A ITIL possue processos com a função de melhorar o sistema de gerenciamento de serviços da TI, um padrão internacional, composto de documentos que reúnem as melhores práticas para o gerenciamento de serviços de TI e que pode ser utilizado por qualquer empresa que possua uma área destinada a TI e que necessite otimizar sua gerência em serviços.

A ITIL não é um manual de instruções e sim uma maneira bem acertiva de nos mostrar o caminho para um bom planejamneto e entrega de serviços, um conjunto de conceitos. A ITIL permite a implantação da governança de TI em um nível mais tático, ela aborda a TI como uma prestadora de serviços que fornece requisitos básicos para a operação do negócio e dentro de parâmetros definidos.

 A implementação da ITIL não necessariamente precisa ser realizada por completo, a empresa pode optar por estabelecer níveis de maturidade para suas implementações. A implementação pode ser concedida aos poucos, como sabemos pessoas reagem de maneiras diferentes a processos de mudanças, uma mudanda de maneira brusca e repentina pode não surgir os resultados esperados.

Conclusão

Hoje as organizações que compreendem que atender ao conceito de boas práticas é um bem necessário, conseguem incorporar os objetivos da governança em sua estrutura, adquirem condições para aperfeiçoar o gerenciamento de sua infra-estrutura e serviços de TI. Estas boas práticas atuam como guias para o estabelecimento de controles e métricas que se alinham para o alcance da governança. Temos neste sentido os conceitos mencionados neste trabalho como o COBIT e a ITIL, um agindo em um nível mais estratégico e o outro de maneira mais tática.  Juntos estes conceitos constituem um importante recurso para o aprimoramento dos controles internos e conformidades ás práticas regulatórias.

Os conceitos de Governança e Governança Corporativa têm em muito auxiliado as ações das empresas nas áreas de TI, pois estas fornecem ferramente que no mundo atual e globalizado, não permitem o desprezo das ações de accountability, transparência e responsailidade administrativa. Atuar com níveis de Governança desejáveis facilitam as empresas a pleitear empréstimos a juros menores, ter mais acesso a capital, e ainda conquistar uma maior e melhor performace para empresa. Diante da importância do termo Governança, o G7 (grupo das nações mais ricas do mundo), considera a Governança Corporativa como o mais novo polo da arquitetura econômica global. 

           

Referências:

- Alecrim, Emersom. O que é Tecnologia da Informação (TI)? Artigo publicado em 24/02/2011. Disponível em: Acesso em 15/11/2011.

- Beal, Adriana. Artigo. Introdução à gestão de tecnologia da informação. Maio de 2001. Disponível em:<http://2beal.org/ti/manuais/GTI_INTRO.PDF> Acesso em: 29/10/2011.

 - Dorow, Emerson. O que é Governança de TI e para que existe?Disponível em: <http://www.governancadeti.com/2010/07/o-que-e-governanca-de-ti-e-para-que-existe/> Acesso em: 29/10/2011.

- Esmeraldo, Cícero. Trade In Technology 2010. Otimizando Recursos. Disponível em: Acesso em: 29/10/2011.

 - Gama, Fernanda de Assis e Martinello, Magnos.  Governança de Tecnologia da Informação: Um Estudo em Empresas Brasileiras. Disponível em: <http://www.fucape.br/_admin/upload/prod_cientifica/gama%20%20governanca%20de%20tecnologia%20de%20informacao.pdf> Acesso em: 29/10/2011.

 - Gonçalves, Alcino. O Conceito de Governança. Disponível em: http://www.ligiatavares.com/gerencia/uploads/arquivos/24cccb375b45d32a6df8b183f8122058.pdf> Acesso em: 29/10/2011.

 - Lunardi, Guilherme Lerch, et al. Governança de TI e suas Implicações para a Gestão da TI: um Estudo acerca da Percepção dos Executivos. XXXIV encontro da ANPAD 2010. Rio de Janeiro. Disponível em: Acesso em 16/11/2011.


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Autor: Paulo Edson Da Silva Rezende


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