A questão síria no contexto do mundo árabe



A Questão Síria no contexto do Mundo Árabe

 

 

                No mosaico do sistema internacional dos Estados, existe uma estreita correlação de acontecimentos, que em determinado momento servem para satisfazer as necessidades e desejos das grandes potências internacionais, sendo requisito fundamental para esta breve análise, muita atenção e cautela.

                Assistimos um mundo de muita agitação geopolítica e geoeconômica em 2011 e com muito sofrimento tive que assistir sem poder analisar.  Contudo, vale ressaltar que os eventos que varreram o Mundo Árabe, foram significativos, pois trata-se de uma das regiões mais complexas do globo, para não dizer a mais.

                O Mundo Árabe, composto por países de origem islâmica, foi um dos principais palcos do período da Guerra Fria no século XX e com o amplo processo de globalização e difusão do capitalismo, transformou-se em uma espécie de reduto de resistência ao sistema capitalista, como forma de manter a sua cultura e religião, indissociáveis ao conceito de política.

                Para conseguir alinhamentos automáticos com as duas grandes potências da Guerra Fria, surgiram incentivos para a implantação de ditaduras, sendo que estas se adaptaram bem a estes países recém independentes e outros de pouca ou nenhuma tradição democrática, muito diferente da América Latina, do Norte e Europa. Os governos autoritários do Mundo Árabe sempre foram violentos.

                Neste contexto, estas ditaduras perduraram até 2011 sendo que o planeta tinha  percebido a fúria dos grupos radicais em seu evento máximo, que foram os ataques aos Estados Unidos em 2001. Terroristas para os ocidentais e heróis para o Mundo Árabe. Terrorista pelo fato de atacar a civilização; heróis por defender o seu povo da “ civilização”.

                Neste contexto, dos três novos inimigos do EUA e do Ocidente, a Coréia, Síria e Irã, dois são ditaduras do Mundo Árabe, com predisposição para proteger e incentivar os grupos radicais e desafiar as ordens e projetos da pax americana para os árabes e também barrar Israel em suas atitudes na região.

                A Síria é um dos elementos mais emblemáticos da região árabe, por ter guerreado com Israel, ter se aliado e receber armamentos da antiga União Soviética, por proteger o Líbano e por acobertar o Hezbollah, no Líbano e o Hamas no território árabe –palestino em plena guerra contra o terror ( guerra estadunidense, diga-se de passagem).

                Sendo assim, a Síria foi classificada pelos EUA como parte do Eixo do Mal, na gestão George W. Bush, em função do seu passado de resistência e de persistência contra as propostas nem sempre decentes dos Estados Unidos e Israel para o Mundo Árabe.

                Caro leitor, observe : dos três inimigos oficiais dos Estados Unidos e do Ocidente, dois são ditaduras árabes que se respaldam. Seria interessante que as ditaduras de todo Mundo Árabe viessem abaixo ?

                Talvez. A queda de Hosni Mubarak no Egito foi prova do sacrifício do Ocidente, em que os EUA imolaram o ditador, dando-lhe as costas a este aliado no momento da crise. Contudo, no alvorecer da Primavera Árabe, o saldo é muito positivo, pois com a queda de vários ditadores o povo pode se libertar (será ?), a democracia pode ser implantada ( e esta é a bandeira do Ocidente) e derrubar ditadores para manter projetos geopolíticos para a região é mais barato do que guerrear ( e as antigas potências estão falidas : entenda-se Estados Unidos e Europa).

                Diante deste mosaico internacional do Mundo Árabe, com a presença das potências ocidentais, o regime da Síria se mantém como é possível, contudo, a que tudo indica, terá que ratificar a vontade internacional e popular e passar o poder. A Liga Árabe pressiona e pede o apoio da ONU para o caso. A ditadura síria ridicularizou o pedido e a chamou de ingerência internacional. Para completar, China e Rússia não autorizam uma intervenção armada do Ocidente ou da própria Liga Árabe.

                Derrubar o regime da Síria para os Ocidentais é enfraquecer o Irã, e minar as forças do Hamas e Hezbollah, ou seja, abrir caminhos para que os projetos e imposições do Ocidente sejam aceitos e a ampliação de poder  geopolítico seja feita. A Síria é hoje o foco do nervoso da complexa região árabe e a mudança de seu governo não somente mudará o país, mais todo o balanço de poder da região, onde dificilmente a supremacia americana será abalada.

 

Ivan Santiago Silva – é geógrafo, articulista e autor do livro Brasil : Imperialismo e Integração na América Latina


Autor: Ivan Santiago Silva


Artigos Relacionados


Estados Unidos E A Guerra Iraque: O Fim Que Hegemonia Americana

A Líbia De Kadafi E Os Rebeldes Da Onu

"comÉrcio Brasil X PaÍses Árabes"

Marrocos Discute No Conselho De Segurança A Situção Em Síria

Estados Unidos X Irà : O Acordo De Lula Na Contra-mão Da História.

Caso Bin Laden : O Príncipe, O Beato E O Mulçumano.

Coréia Do Sul E Coréia Do Norte : Paz Impossível, Guerra Improvável.