Alienação social e alienação escolar



Alienação social e alienação escolar

 

                O erro de tais teses é deslizar da ideia de que a escola é um instrumento a serviço das forças de opressão social para a ideia de que a própria escola é a fonte da opressão social. Mas de fato, a escola não é a fonte da alienação social. A alienação nasce de condições de vida econômica e socialmente determinadas, e não da transmissão cultural. As significações ideológicas da escola não fazem senão traduzir uma organização social onde reina a dominação de classe. O que é alienante é, de início, o modo de produção econômico e as estruturas sociais opressivas que engedra, é a divisão capitalista do trabalho, é a dominação de classe.

                E a escola só é alienante na medida em que reflete uma alienação social que lhe preexiste. A escola não é portanto, a fonte da alienação; é apenas um instrumento a serviço das forças sociais alienantes. Suprimir a escola não será, portanto, suprimir a própria alienação, pois a sociedade permanecerá alienante. A destruição da escola levaria a classe dominante a encontrar novamente seus modos anteriores de transmissão ideológica ou a criar outros novos. A criança seria complemente abandonada à ideologia dominante, veiculada pela família, por seu ambiente social. A supressão da escola não permitiria libertar uma espontaneidade natural da criança; entregaria simplesmente a criança à ideologia difusa invertida em todos os estereótipos que a sociedade lhe propõe.  Na realidade, a criança seria liberada da interpretação escolar dos fatos, mas, não de toda a interpretação ideológica. Não existem fatos brutos, como a epistemologia mostrou há muito tempo.

                 A escola não é fonte de ideologia, da alienação, da opressão. Mas, não está menos a serviço da classe dominante. A escola é uma instituição social que transmite uma ideologia que não criou. Ela se proclama como meio educativo com finalidades culturais. Mas a escola não inventa a cultura; ordena-se a concepções culturais que são geradas pela própria sociedade, isto é, de fato pela classe dominante. A cultura é fenômeno social antes de ser fenômeno escolar. É, aliás, por essa razão que pudemos analisar as significações ideológicas das noções de cultura e de infância antes mesmo de falar de escola. As concepções culturais ideológicas são difundidas em todas as sociedades; não se trata, nesse caso, de obra da escola, é antes de tudo, conseqüência da própria vida social, que gera ideologias. Entretanto, isso não significa que a escola reflete passivamente a ideologia dominante que é difundida por toda parte. A escola é uma instituição social com intenção educativa e funciona segundo as suas finalidades institucionais específicas. Não se contenta em refletir a ideologia social, o que lhe traria toda a utilidade verdadeira: se a escola fizesse o que faz a própria sociedade, a sociedade não teria necessidade dela.

               

 


Autor: Elizabeth De Jesus Santana


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