Sobre Eric-emmanuel Schmitt



Sobre Eric-Emmanuel Schmitt:

É impressionante ver que todas as pessoas que começam a escrever ou falar de Schmitt sempre iniciam o texto ou a conversa dizendo que nos últimos 10 anos ele se tornou um dos escritores mais lidos e aclamados do mundo.

Eric-Emmanuel Schmitt nasceu no dia 28 de março de 1960, na França. Fez doutorado em filosofia e pode ser considerado um dos maiores especialistas a respeito do escritor e filósofo francês Denis Diderot.

Em 1991 ele realizou sua primeira peça La nuit de Valognes encenada pela Royal Shakespeare Company, o que é não só uma honra, mas uma excepcional maneira de deixar seu nome em evidência.

A peça chamada Le Visiteur, outra bela obra de Schimitt, é uma história baseada em um diálogo entre Freud e Deus. Em 1994 esta peça rendeu ao escritor 3 prêmios Molières. Após esses eventos, o autor se tornou febre mundial e resolveu deixar seu trabalho de professor de filosofia na universidade de Savoie para se dedicar a escrever em tempo integral.

Com peças sendo encenadas nas cidades mais importantes do mundo, e tendo os atores mais consagrados disputando entre si para atuar como protagonistas em suas peças, Schmitt não só pode, mas deve ser considerado um dos melhores autores desse século.

Talvez um dos fatos mais interessantes sobre ele é que em 10 anos ele escreveu um número extremamente elevado de obras, incluindo peças, livros (ficção, e não ficção), inclusive um roteiro para filme. E por ser um apaixonado por música, ele traduziu uma série de óperas para o idioma francês.

Outro fato sobre ele que deve agradar muito aos diretores de teatro com quem trabalha, é que ele acredita que o ator e o diretor podem conduzir suas idéias, de uma maneira mais eficiente e mais honesta, se tiverem a liberdade de alterar o texto original. Ele acredita que mantendo apenas 20% do texto escrito por ele, e dando ao diretor a liberdade de conduzir a peça e ao ator o direito de encarnar no papel, o espetáculo terá muito mais profundidade. Não é à toa que ele é considerado o mais genial dos autores contemporâneos.

O que mais me impressionou enquanto estava estudando Schmitt foi uma frase que ele disse em uma entrevista:

Em parte eu me tornei teatrólogo para poder expressar o que eu realmente sinto, usando o filtro da ficção. Eu preciso que outras pessoas me dêem suas vozes e corpos, eu não consigo me dizer. Esses são os momentos em que eu sou mais sincero, são os momentos em que eu estou usando essa máscara.

A lista de prêmios que esse autor ganhou nos últimos 10 anos é imensa e nem um pouco desmerecida. Quem já leu ou viu algo que ele escreveu entende muito bem o que eu estou falando. Essa é provavelmente a primeira vez que eu tenho a chance de escrever sobre um autor que ainda está vivo e que me fascina. O que me leva a pensar que, nesse exato minuto, enquanto eu escrevo sobre sua genialidade colocada em papel no passado, ele deve estar vivendo mais alguma esplêndida aventura e a transformando em palavras através de seu teclado.

Sobre a peça pequenos crimes conjugais (Partners in crime).

Lendo os comentários escritos pelo autor sobre a peça eu passei a compreender um pouco mais sobre a obra. Talvez a grande dúvida da peça seja se ela é um drama ou uma comédia.

Estando mais uma vez o tema do amor eterno em questão, o autor coloca a eterna frase e foram felizes para sempre dos contos de fada, em perspectiva. Quando o autor escreveu a peça pequenos crimes conjugais, ele questionou um ponto muito mais delicado do que a existência do amor de verdade. Ele trabalhou o tema da convivência, do desgaste e do efeito do tempo no amor. Também não esqueceu de narrar com precisão às inseguranças que o tempo traz e o medo da perda, que às vezes nem é o medo da perda da pessoa, mas o medo da perda da segurança, do senso de identidade. Ou até o medo da perda do vazio que se instala entre duas pessoas que já coexistem, porém não existem mais conjuntamente.

A peça trata de um casal, onde o marido após um acidente perde a memória, e ao retornar a sua casa ele começa a questionar sua esposa sobre sua vida e sobre seu casamento antes do acidente. Ele lida com a sua amnésia não apenas como parte de uma condição temporal. Ele entende que por muito tempo parou de questionar sobre seu relacionamento, sobre a mulher com quem ele divide a mesma cama e principalmente sobre o fato de que parou de olhar para fora de si mesmo. Devido essa cegueira temporária ele se esqueceu de ver as necessidades da sua esposa que nesse momento para ele não é nada mais do que uma bela estranha.

Ela por seu lado também cessou a comunicação entre eles, e passou a confinar suas mágoas na bebida.

A peça mostra uma dura realidade de maneira explícita e neutra. Não se pode dizer quem é o culpado pelo distanciamento do casal, porém ele existe, e tem que ser trabalhado.

A peça não é uma imagem pessimista do amor, mostrando apenas as partes sórdidas da deterioração de uma relação. Ela retrata com honestidade um fato, uma verdade nua e crua.

O ponto de foco da história é que muitas vezes o amor não deixa de existir, porém a distância entre um casal se torna tão grande que é impossível de se achar um caminho de volta.

Essa distância pode ser causada por medo do envolvimento, por receio de que após se entregar totalmente a uma pessoa, um dia essa pessoa saia de sua vida deixando para trás apenas o sentimento vazio da perda.

Muitas pessoas para evitarem sofrer a perda, resolvem se trancar dentro de si, e passam a viver relações medíocres, porém estáveis. Essa estabilidade de certa forma traz conforto, que com o tempo se transforma em um processo de entorpecimento, chegando ao ponto de poder ser comparada com uma droga, um vício. Essa situação permite a pessoa viver e conviver até que algo faz com que o efeito acabe a verdade se perca e a pessoa acorde sem saber ao certo quem é.

A combinação desses fatores e a adição do fator tempo é o que faz essa peça se tornar uma montagem tão cheia de conflitos e ao mesmo tempo tão cheia de ternura.

Eu vejo a peça como uma redescoberta, uma segunda chance de um dia acordar e perceber que a realidade da vida a dois é o que faz com que os contos de fadas acabem sempre no momento em que a princesa se casa com o príncipe.

Às vezes a pessoa acorda a tempo de perceber que está vivendo o amor de sua vida, às vezes não. Na peça pequenos crimes conjugais você tem a chance de ver esse tão doce momento do despertar para recomeçar acontecendo.

http://www.minharua.com

Autor: Adriana Zimbarg


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