Plano de vida
Planejar e tentar que a vida siga tal determinação é o que me foi ensinado. Tentei, freneticamente, cumprir o caminho que tracei para minha vida. Tudo seria maravilhoso.
Um certo dia de abril, ao entardecer, antes de uma prova de Direito Penal fui ao médico receber o resultado de um exame que havia feito dias antes. Eu saberia se estava com câncer ou não. O resultado foi: carcinoma basocelular que significa que eu estava com câncer.
Escureceu, não vi nada mais, um ou dois segundos foram suficientes para que todos meus planos sumissem. Repentinamente, tudo ficou sem significado. Que poder! De onde veio esse poder? De um papel assinado pelo laboratório, do médico ou de mim?
A gente nunca pensa que vai ter uma doença grave. Algo parou; senti um vazio e ao mesmo tempo, um certo alívio. Todos os “tem que” sumiram. A partir daquele momento, eu precisava tentar fazer o que realmente era importante: viver da melhor maneira possível, com ou sem chance de cura.
Sentir a possibilidade da morte por perto me fez pensar na vida. Foi uma sensação muito estranha, pois sabemos que a morte é certa para todos, mas é preferível a negação do inevitável. O diagnóstico de uma doença séria me fez perceber o quanto meus planos eram pueris. Se estes fossem lastreados em objetivos sólidos não teriam se desmoronado tão rapidamente.
Pensei em tudo que eu gostava de fazer e não fazia porque a prioridade era seguir meu roteiro, agora surreal. Coisas simples que deixei para trás, agora mostravam-se muito importantes, como a conversa com um amigo, passear, olhar as flores, enfim ver o que há de belo na vida. E deixar de lado o mecanicismo diário que impomos em nossas vidas, sem um propósito maior, como trabalhar sem parar, tornar-se uma pessoa ausente para o mundo e para as pessoas importantes de nossa vida.
Percebi que passei a maior parte do tempo tentando fazer a vida me obedecer. Querendo que tudo andasse como eu imaginava que deveria ser. É claro que isso não funcionou, e eu estava exaurida.
O tempo! Que bem precioso temos em nossas mãos. Quanto vale uma conversa com um amigo! Um abraço! Um teatro! Uma música! Um livro!
Após um choque, minha alma foi curada pelo câncer e passei a viver cada instante. Repensei minha vida. Não deixei de fazer planos, mas estes, atualmente, são mais sólidos, como por exemplo: eu me tornar uma pessoa melhor a cada dia. Comecei a fazer mais o que gosto e posso. E passei a me perguntar diariamente: se hoje fosse meu último dia de vida onde quero estar? A minha resposta, nos últimos seis anos tem sido sempre a mesma: aqui. Meu plano de vida passou a ser: viver agora.
Autor: Daniela Machado Da Silveira
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