É tão dificil ser justo



É tão difícil se justo...

 Por que faço coisas que são contrárias ao meu modo de pensar? Por que aceito as situações tal como elas a mim se apresentam, abaixo a cabeça e concordo, mesmo não as aceitando? E sofro por isso, sem ao menos rebelar-me. O que devo fazer? Resguardar-me? Mas resguardar-me do que? De mim? Do outro? Da vida? Faço o que, Meu Deus? “Ah, se pudesse pesar minha aflição e pôr na balança meu infortúnio, seriam mais pesados que a areia do mar...”. Jó 6,2.                                                                                              Não gosto ser chamada ao tribunal da vida para atuar como juiz de causas que não quero, das quais não gosto. Mas mesmo assim o sou. Mas como não aceito que me manipulem, dou-me então o direito de apenas olhar e com meu olhar, expressar o que penso e não falo,covarde  ou corajosa que sou, ao abster-me de proferir palavras que podem voltar-se contra mim. Fico então em cima do muro, não a defender-me, mas para que o outro cresça, sem usar-me como bengala que não sou.                                                          O que faz com que eu aja assim? Por que não brigo, grito,  esbravejo, me imponho, me faço ouvir? Eu calo a minha voz e calando consinto com o que não quero. Sou omissa, penso ter adquirido o direito do silêncio... E então não digo nada. É como se minha voz já não fizesse parte de mim. Despersonalizo-me. Sinto que meu corpo se revolta e nada faço. E essa revolta desequilibra-me, descentraliza-me e traz para mim doenças que não quero, que não preciso, mas que vem como forma de chamar minha atenção, para dizer-me que algo não vai bem e que minhas atitudes, a mim, são negativas. Ela me mostra o que quero esconder.                      Será que com isso causo divisões entre as pessoas que me rodeiam, com as quais convivo? Então por que não faço um exame de consciência para saber se é isso que acontece? Mas será que sei o que é consciência? Será que sei o que é saber e para que o serve?  São essas as perguntas que me faço e as respostas... As respostas eu não as encontro, pois não estão em mim, vagueiam sem rumo e não sei onde encontrá-las... “Grita para ver se alguém te responde” Jó 5,1.                                                                                  A noite vem e com ela chegam  as perguntas, uma a uma, a atrapalhar meu sono, meu descanso.  Sinto minha cama como se pregos tivesse. Nem mexer-me posso. Sofro na imobilidade das soluções que teimam em não vir. As horas passam, ouço o tique taque do relógio a lembrar-me cada minuto, cada segundo de vida que não vivo, pois estou à procura de soluções impossíveis e que poderiam ser tão simples, se eu conseguisse dançar no ritmo da vida. É tão difícil ser justo, aferir a balança, tomar partido de alguém, julgá-lo mais certo que o outro, apoiá-lo, pois ao julgar uso dos meus parâmetros, penso sempre que se fosse eu, faria assim e então fico ao lado do que faz igual a mim. Mas quem me garante que estou certa? As opiniões são adversas. Então me calo... “Nossas dúvidas são traiçoeiras e nos fazem perder o bem que poderíamos conquistar se não fosse o medo”. Shakespeare.                                  A vida nos dá tantas oportunidades de agir, de seguir o caminho correto, de estar ao lado do bem, de tomar atitudes cabíveis a quem de direito. Mas pensamentos diversos, palavras ouvidas, vidas partilhadas, deixam em nós marcas profundas, que embaçam nossos olhos e nos fazem ver de maneira distorcida, o que é tão fácil de ver. É a dualidade que herdamos e nos atrapalhamos. Muitas vezes falamos demais por nos pensarmos donos da verdade. Muitas vezes nos omitidos, por imaginar que a verdade que é tão nossa, pode não ser a do outro. Mas existem as verdades universais, aquelas que estão e estarão sempre ao nosso redor, sempre a nos lembrar de como tudo deve ser. Mas como enxergá-las, com nossa visão distorcida? Ao calar-me, ao deixar que o outro tome as suas decisões, as decisões que eu deveria ajudar a tomar, sou omissa. Deixo para o outro a responsabilidade do erro e do acerto, enquanto passo o tempo a pensar se... Se eu tivesse coragem para dizer tudo que eu quero, tudo que o penso, tudo que vejo... Como será que seria? A justiça seria feita? Mas que justiça, se cada um vê, pensa e age de acordo com os seus parâmetros, com as leis que julga suas e tão certas? Cada um tem a sua interpretação a respeito de tudo. E quer ser compreendido pelo outro que também assim pensa. E aí?  Será então que a justiça está em não tomar partido, em não ajudar o outro a definir sua situação? Será que devo envolver-me em outras vidas e agir como se juiz fosse? Mas eu não quero. Não me sinto capacitada para ajudar o outro a agir com sabedoria, integridade, com o coração livre de todos os sentimentos inerentes ao se humano que somos. E aí me calo e erro. Erro? Aquele que erra e o sabe, foge do confronto e em fugindo se denuncia, torna claro o que quer escuro. Pensa fechar a cortina e a abre. Apresenta-se claramente para o olhar perspicaz de quem o acompanha. Desnuda-se e não o percebe. E ai... Aí o mundo gira, gira... E eu fico parada a observá-lo e nada faço do que penso deveria fazer...                      Ah, pudéssemos voltar atrás dos riscos não assumidos...             Como se possível fosse.


Autor: Heloisa Pereira De Paula Dos Reis


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