Aleitamento Materno



Viviane Medeiros Pasqualeto Etcheverry*

Maria Rita Krahl**

Fernanda Viana Louzada**

* Fonoaudióloga Docente do Curso de Fonoaudiologia da Feevale (RS).

** Acadêmicas do curso de Fonoaudiologia, do Centro Universitário Feevale (RS).

1. INTRODUÇÃO

A lactação é um processo fisiológico, natural. Contudo, o aleitamento materno requer aprendizagem, tanto da mãe quanto do bebê.

O aleitamento materno é o método mais natural e seguro de alimentação para a criança pequena, devendo ser exclusivo até os 6 meses. A partir dessa idade, deve haver uma complementação com outros alimentos, e manter o aleitamento materno. As crianças devem continuar a ser amamentadas, pelo menos, até completarem os 2 anos de idade. Nos primeiros dias de vida, o bebê se alimentará de colostro, um leite denso e amarelado, chamado de "primeiro leite". É um leite repleto de substâncias nutritivas, rico em proteínas e sais minerais, importante para os primeiros dias de vida, quando o bebê deve se adaptar ao novo mundo externo e precisa compensar a perda de peso para iniciar bem o seu crescimento. E, além disso, o colostro vai fornecer ao bebê determinados anticorpos. Próximo ao terceiro ou quarto dia, o colostro modifica seu aspecto tornando-se mais claro e cremoso. É o leite de transição que serve para ir acostumando o bebê ao leite que virá a seguir. Aos poucos, diminuem as proteínas e aumenta o conteúdo de açucares, indispensável para o crescimento dos tecidos cerebrais, e de gordura que se transformam em energia. Ao completar 10 dias, o seio materno produzirá finalmente o "leite perfeito", mais fluido e de sabor doce.

O leite materno é uma importante fonte de água, o que garante o equilíbrio hídrico do organismo do bebê; e é também uma excelente fonte de energia. Outras substâncias nutritivas compõem o leite materno, como as proteínas; lipídios; carboidratos, enzimas e células vivas, as vitaminas e sais minerais (o leite materno apresenta uma quantidade suficiente de vitamina C, D e E, além de cálcio, fósforo e um pouco de ferro). O leite materno traz benefícios nutricionais, imunológicos e psicológicos. Essas qualidades adquirem certa relevância em se tratando de recém-nascidos pré-termo, por sua maior vulnerabilidade.

O manejo fonoaudiológico adequado da lactação é um facilitador para a amamentação bem-sucedida em recém-nascidos. A literatura evidencia a importância do acesso das mães de recém-nascidos prematuros a serviços de apoio ao aleitamento materno para que mantenham uma produção láctea suficiente; entretanto, aspectos práticos de estímulo à alimentação com leite humano estão cada vez mais sendo incorporados às rotinas de atendimento de prematuros na maior parte das unidades neonatais.

O incentivo ao aleitamento materno continua sendo um grande desafio em saúde pública, considerando-se o alto índice de desmame precoce. Segundo Bueno, (2004) estes problemas podem ser minimizados através de ações sistematizadas de incentivo ao aleitamento materno incluindo cuidados básicos no aleitamento materno como:

1) Pré-Natal:

O pré-natal é o momento ideal para iniciar o trabalho de preparação para o aleitamento materno, através da formação de grupos de gestantes e atendimento individual. O fonoaudiólogo deve desenvolver dinâmicas de grupo, com a participação ativa das gestantes, buscando trabalhar com o conhecimento que elas têm sobre a amamentação, principais tabus existentes abordando temas como: a anatomia da mama, fisiologia da lactação, cuidados com a mama, nutrição, aspectos emocionais e importância do leite materno para o bebê.

2) Período Peri-Natal:

A equipe hospitalar deve incentivar e promover a amamentação ainda na sala de parto.A mamada na primeira meia-hora após o nascimento, traz vários benefícios: reforça o vínculo mãe-bebê; facilita o início da amamentação, previne problemas na mama; auxilia a involução uterina e protege a criança e a mãe contra infecções hospitalares. Durante o trabalho de visitas às maternidades, realizados por fonoaudiólogos, é fundamental que sejam reforçadas com a mãe as orientações sobre aleitamento, cuidados com as mamas e que a mãe seja orientada a procurar a Unidade de Saúde para realizar o teste do Pezinho e da Orelhinha, consulta pós-parto, vacinação e acompanhamento de mães que apresentam maior risco de desmame (baixa renda, adolescentes, baixa escolaridade).

3) Período Pós-Natal:

- O ideal é que mãe e filho permaneçam em alojamento conjunto.

- Deve-se orientar à mãe sobre os reflexos do bebê que auxiliam a mamar: Reflexo de busca; Reflexo de sucção; Reflexo de deglutição.

- A mãe deve ser orientada sobre como colocar o bebê no peito, as posições que facilitam a mamada, sobre a importância do esvaziamento das mamas, evitando complicações.

2. OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

- Enfocar a atuação do fonoaudiólogo na assistência ao aleitamento materno e a sua promoção no manejo da amamentação de recém-nascidos pré-termo.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Verificar o quantitativo de fonoaudiólogos e as condições estruturais das maternidades para a atuação do fonoaudiólogo na assistência ao aleitamento materno;

- Identificar quais os profissionais que compõem o grupo de promoção, incentivo  e apoio ao aleitamento materno durante a assistência ao aleitamento materno;

- Identificar como o fonoaudiólogo sistematiza a assistência ao aleitamento materno.

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Atuação Fonoaudiológica junto à maternidade: Bebês Prematuros

Segundo Lagrotta e César (1997), o fonoaudiólogo passou a atuar e ingressar no hospital desde a década de 1980 com entradas e processos distintos na sua implantação, visando dois objetivos iniciais:

1. Prevenção e detecção precoce de possíveis alterações relacionadas ao desenvolvimento do RN.

2. Promoção do bem estar dos Recém-Nascidos e suas mães, a fim de que estas se sintam seguras ao alimentar e lidar com os seus bebês.

Para o fonoaudiólogo que atua na UTI Neonatal, os recém-nascidos de risco são aqueles privados de alimentação por via oral e de estímulos táteis, visuais e auditivos prazerosos; além dos RNs de risco para a deficiência auditiva.

Geralmente os bebês da UTI Neonatal que necessitam de acompanhamento fonoaudiológico são:

·RNs Pré-Termo: São considerados pré-termo os RNs antes de completar 37 semanas de gestação. Os reflexos orais de procura, sucção, deglutição e a coordenação de todos, que é fundamental para a efetividade da alimentação, ocorrem ainda no interior do útero, quando o bebê encontra-se na 34 semana de gestação. Portanto o RN com idade gestacional inferior a esta, ou ainda, peso menor que 1500 g, necessita do uso de sonda para alimentar-se sem riscos de aspiração.

·RNs de Baixo Peso: São considerados RNs de baixo peso aqueles nascidos com peso inferior a 2500 g, independentemente da sua idade gestacional. Os bebês pré-termo e com baixo peso apresentam muitas vezes imaturidade pulmonar, gástrica e dificuldade no ganho de peso. Demonstram uma desorganização global-postural, isto é, podem estar no padrão de extensão enquanto deveriam estar em padrão total de flexão.

·RNs Sindrômicos e/ou com Malformação de Cabeça e Pescoço – Como:

* fissuras labiais e/ou palatinas

* atresia de esôfago

* atresia de coana

* agenesia de língua

* síndromes genéticas associadas à encefalopatia

·RNs com Encefalopatias: Sendo uma das causas mais conhecidas a asfixia perinatal.

Os RNs de risco, na maioria das vezes, recebem todos os tipos de estimulação e manipulação, porém são manuseios necessários e pouco prazerosos, como: colocação e retirada de sondas para a alimentação, barulhos intensos no berçário como conversas altas e outros exemplos que poderíamos enumerar.

Assim sendo, estes bebês são mais estressados, dificultando a sua própria organização corporal, acarretando um menor ganho de peso do RN, conseqüentemente, retardando a alta hospitalar.

A região oral é o início do contato do RN com o mundo, é a primeira fonte de prazer e uma das primeiras formas de comunicação. O ato de sucção é uma forma encontrada pelo RN para acalmar-se e satisfazer-se, por isso achamos fundamental promover para o RN, que está privado da sua alimentação por via oral, a possibilidade de sugar, mesmo sendo uma sucção não nutritiva como o dedo do fonoaudiólogo enluvado, despertando assim a atenção para essa região oral.

O bebê, ao ser alimentado por sonda, pode acarretar problemas futuros quanto à aceitação da alimentação pela via oral. Com a possibilidade de experienciar a "sucção prazerosa" essa dificuldade pode ser atenuada.

Na atuação fonoaudiológica, podemos inclusive ensinar manuseios prazerosos para a mãe fazer no seu filho quando este está hospitalizado, facilitando primordialmente o vínculo mãe/bebê, pois é fundamental essa troca de conhecimento e descobertas para o próprio desenvolvimento da linguagem.

Quando o bebê, que estava sendo alimentado por sonda, inicia a alimentação por via oral e está bem clinicamente, incentivamos a mãe a amamentar, ressaltando a importância desse ato, mas contanto que seja uma situação prazerosa e não desgastante para mãe e bebê.

O fonoaudiólogo está preocupado em desenvolver um trabalho mais humanizado por meio da orientação às enfermeiras e alertando para os inúmeros manuseios desagradáveis que o bebê recebe, proporcionando um posicionamento mais adequado dos RNs.

É de suma importância o fonoaudiólogo estar inserido na equipe multidisciplinar do berçário e acompanhar o quadro clínico para que determinado bebê possa ser iniciado no trabalho de estimulação, observando atentamente como o bebê responde a este trabalho, a fim de sabermos a efetividade da estimulação.

Berçário

 Na UTI Neonatal o trabalho do fonoaudiólogo visa à detecção precoce e promoção de um melhor bem estar do RN hospitalizado.

A atuação se dá principalmente com os bebês apresentando dificuldade de sucção-deglutição, que, na maioria das vezes, fazem uso de sonda nasogástrica ou orogástrica quando não têm condições de serem alimentados por via oral.

As crianças que precisam ser estimuladas são indicadas geralmente pelos médicos. Os bebês são avaliados quanto à postura e organização, tônus, reação aos estímulos e, principalmente, quanto às funções neurovegetativas. É realizado posteriormente um trabalho de estimulação dos órgãos fonoarticulatórios com massagens intra e extra-orais específicas (estimulação não-nutritiva) e a estimulação com sabores diversos como glicose e leite (estimulação nutritiva). Acompanhando sempre e observando como o bebê responde a esses estímulos pelo seu batimento cardíaco, sua cor e suas próprias feições.

Ressaltamos que durante todo o processo de estimulação tomamos o cuidado com o posicionamento do bebê, para favorecer a organização corporal, promovendo um melhor bem-estar do mesmo.

Acreditamos que muitas dificuldades encontradas pelo fonoaudiólogo ao atuar dentro do berçário de alto risco devem-se pela atuação ter se iniciado há pouco tempo e prematuramente.

Anatomia e Fisiologia da Amamentação

 Dentro da mama estão os alvéolos que são pequenos sacos feitos de células secretoras de leite.

A prolactina faz com que estas células produzam leite.

Em torno dos alvéolos há células musculares, as células mioepiteliais, que se contraem e expulsam o leite para fora dos alvéolos.

A ocitocina provoca a contração dessas células musculares.

Pequenos tubos, ou ductos, levam o leite dos alvéolos para o exterior. Sob a aréola, os ductos tornam-se mais largos e formam os seios galactóforos, onde o leite é coletado em preparação para a mamada. Os ductos tornam-se outra vez mais estreitos à medida que passam através do mamilo.

Os alvéolos e os ductos estão rodeados por tecido de sustentação e por gordura. A gordura e o tecido de sustentação é que dão a forma à mama.

Quando um bebê mama, impulsos sensoriais vão do mamilo para o cérebro. Em resposta, a parte anterior da hipófise na base do cérebro segrega prolactina. A prolactina vai através do sangue para a mama, fazendo com que as células secretoras produzam leite.

Quanto mais o bebê suga, mais leite é produzido.

• Mais prolactina é produzida à noite; portanto, amamentar durante a noite é especialmente importante para manter a produção de leite.

• A prolactina faz com que a mãe se sinta relaxada e algumas vezes sonolenta.

Se o reflexo da ocitocina não funciona bem, o bebê pode ter dificuldade em receber leite. Pode se ter a impressão que as mamas deixaram de produzir leite.

As mamas continuam a produzir leite, mas este não flui.

A ocitocina provoca a contração do útero no pós-parto, o que ajuda a acelerar a involução uterina.

 O ALEITAMENTO MATERNO

 Entendendo que o conhecimento sobre a amamentação não é inerente à mulher, ou seja, o aleitamento materno requer aprendizagem, tanto da mãe quanto do bebê. O pré-natal é um período de importância para sensibilizá-la e prepará-la para o ato de amamentar.

No pré-natal devem ser enfatizados positivamente os aspectos nutricionais e as vantagens do aleitamento materno. O exame das mamas é parte indispensável da atenção pré-natal às gestantes.

A mãe deve ser orientada a deixar que a criança sugue em livre demanda, isto é, quando manifestar fome através do despertar do sono, do choro ou do movimento de busca do seio. A mãe deve ser encorajada a amamentar o recém-nascido após o parto. O contato íntimo entre os dois logo após o nascimento, além de contribuir para o desenvolvimento do vínculo afetivo, também ajuda na adaptação da criança ao novo meio ambiente.

Para manter a amamentação com sucesso, devem ser eliminados, na medida do possível, fatores que diminuam a duração, eficiência e freqüência de sucção pelo lactente. Estes fatores incluem a limitação do tempo da mamada, horários fixos, posicionamento incorreto, uso de objetos orais (chupeta, mamadeira), fornecimento de líquidos como água, chás, soluções açucaradas e outros leites.

O esvaziamento total de uma mama antes de oferecer a outra e a alternância destas ao iniciar a mamada propiciam maior estímulo de produção, garantia de ingestão do leite mais rico em gorduras – leite final, controle da saciedade. Algumas crianças se satisfazem com o leite de apenas uma das mamas; neste caso orientar a alternância da mama oferecida e observar a necessidade de ordenha manual.

Vantagens do Aleitamento Materno

O leite materno é um alimento vivo, completo e natural, adequado para quase todos os recém-nascidos.

Segundo Chaves 2007, as vantagens do aleitamento materno são múltiplas e já bastante reconhecidas, existindo um consenso mundial de que a sua prática exclusiva é a melhor maneira de alimentar as crianças até aos 6 meses de vida.

Para crescer e desenvolver-se, o RN precisa de alimentação apropriada, de proteção contra as infecções e de um ambiente adequado. Segundo Bueno 2004, graças às propriedades nutricionais, anti-infecciosas e imunológicas do leite materno, os bebês amamentados apresentam menos alergias e têm melhor desenvolvimento psicológico.

Para além de todas estas vantagens, o leite materno constitui o método mais barato e seguro de alimentar os bebês. No entanto, é fundamental que todas as seguintes condições sejam cumpridas: aleitamento materno exclusivo até aos seis meses; continuar com o aleitamento materno, complementado por outros alimentos, desde os seis meses, até aos dois anos de idade.

Vantagens do aleitamento materno para a mãe

Entre as vantagens do aleitamento natural para a mãe, sobressai o papel que desempenha na recuperação fisiológica após o parto, pois facilita a involução uterina, devido ao aumento transitório de ocitocina produzida durante a amamentação, diminuindo o risco de hemorragias e de infecções pós-parto e, consequentemente, prevenindo a anemia.

Em geral, as mães que amamentam recuperam mais rapidamente o peso anterior à gravidez. O aleitamento materno exclusivo estimula a produção de prolactina, que facilita a atividade da lipoproteína lipase na mama, diminuindo o tecido adiposo.

O aleitamento materno também contribui para prevenir as depressões pós-parto, pois, a ocitocina que se liberta quando da sucção do bebê, além de favorecer o sentimento de proteção, proporciona à mãe um efeito tranqüilizador e de bem-estar.

undefinedVantagens Econômicas

Do ponto de vista econômico, é mais barato alimentar um recém-nascido com leite materno do que com leites artificiais. Por outro lado, é mais prático, está sempre pronto e à temperatura ideal, não necessitando de qualquer procedimento especial para a sua preparação. Além disso, o recém-nascido aleitado ao peito terá, em princípio, menos infecções e menos perturbações digestivas, reduzindo os custos com a manutenção da sua saúde.

O leite humano é único, especializado, natural e específico para o bebê.

Contra-indicações do aleitamento materno

COntra-indicações temporárias

Existem situações que, enquanto não resolvidas, impedem temporariamente as mães de dar o peito aos seus filhos. Um exemplo são as mães com algumas doenças infecciosas, como a varicela, herpes com lesões mamárias, tuberculose não tratada, ou ainda situações em que seja necessário recorrer a certos tipos de medicação. Os bebês, durante esses períodos, devem ser alimentados com leite artificial, por copo ou colher, mas a produção de leite materno deverá ser estimulada e incentivada, a fim de possibilitar a relactação, quando superado o impedimento.

              Contra-indicações definitivas

As contra-indicações definitivas do aleitamento materno não são freqüentes, mas existem. Mães com doenças graves, crônicas ou debilitantes, mães infectadas pelo vírus da imunodeficiência humana (SIDA), mães que necessitem prolongadamente de fármacos nocivos para os bebês, e ainda bebês com certas doenças metabólicas. As mães com hepatite B e hepatite C, porém, podem dar o peito aos seus filhos e só se tiverem fissuras nos mamilos é que devem abster-se de amamentar.

SUCESSO E INSUCESSO NO ALEITAMENTO MATERNO

A maior parte das mulheres poderão amamentar com sucesso desde que devidamente esclarecidas, encorajadas e apoiadas na sua prática. Como processo interativo de satisfação das necessidades físicas e psicológicas do bebê e da mãe, a amamentação bem sucedida depende de uma opção fundamentada em vivências pessoais, sociais e educativas facilitadoras da amamentação, e requer apoio familiar, confiança da mãe na sua capacidade para amamentar e para cuidar do filho, um bebê capaz de mamar eficazmente, que cresce e se desenvolve, e assistência por fonoaudiólogos capazes de atuar de forma motivadora e de ensinar a agir, de modo a tornar a amamentação um êxito e a propiciar prazer em amamentar e em mamar.

O sucesso do aleitamento materno pode ainda ser definido pela qualidade da interação entre mãe e bebê, durante a mamada, pois esta proporciona a oportunidade de contato físico e visual e a vivência da cooperação mútua entre eles.

Um aleitamento materno com sucesso ocasiona, habitualmente, uma boa transferência de leite entre a mãe e o bebê. A transferência de leite refere-se, não à quantidade de leite que a mãe produz, mas à que o bebê obtém, sendo a atuação do bebê particularmente importante na regulação da quantidade de leite que ingere, na duração da mamada e na produção do leite pela mãe.

Em suma, o sucesso do aleitamento materno depende mais do desejo da mãe amamentar o seu filho do que de qualquer outro fator. Porém, é preciso que esta, além de motivada, esteja preparada e disponha de condições para fazê-lo.

Políticas ativas de promoção do aleitamento materno

A promoção, a proteção e o apoio à amamentação com leite materno são ações de saúde pública de primeira ordem, que responsabilizam, em primeiro lugar, o poder político e as instituições a que compete administração da saúde pública, e, em segundo lugar os profissionais a quem cabe a missão de apoiar a mãe e o bebê. Mas também tem de ser uma preocupação prioritária das comunidades e da sociedade em geral.

A promoção do aleitamento materno é uma prioridade mundial e deve ser alvo de vários esforços comunitários, sociais e individuais. Deve iniciar-se antes do parto, nomeadamente nas escolas, nos hospitais, em postos de saúde, de forma a difundir-se em toda a sociedade, recuperando uma "cultura de amamentação".

A amamentação requer cuidados de profissionais que permitam às mães ganhar confiança e lhes mostrem o que fazer e as protejam de más práticas. Se, na nossa cultura, esta cadeia de cuidados se perdeu ou apresenta falhas, devemos corrigi-la através dos serviços de saúde.

A promoção do aleitamento materno é uma questão que diz respeito a todos os profissionais de saúde que se relacionam com a mulher no período pré-natal, no momento do parto e no período pós-parto. Além disso, cada vez mais é considerado o papel dos fonoaudiólogos no aconselhamento pré-natal, ao explicar os cuidados ao recém-nascido na maternidade e posteriormente nos centros de saúde, aproveitando o momento para proporcionar informação acerca do aleitamento materno.

Depois de receberem alta hospitalar, é importante que as mães tenham seguimento médico e fonoaudiológico, nos primeiros dias de aleitamento materno, pois costumam ser os momentos em que aparecem os problemas relacionados com as mamas, como mastite, ingurgitação ou mamilos dolorosos. Por outro lado, nessa altura também se manifestam as alterações características do bebê, como o choro excessivo, as cólicas e os problemas de sono, fatores todos eles que predispõem ao abandono do aleitamento materno. Assim, durante os primeiros dias pós-parto, é necessário reforçar o apoio às mães.

Precocidade da decisão de amamentar

A maioria das mulheres, antes de engravidar, já decidiu a forma de alimentar o seu bebê. Uma decisão tardia pode conduzir ao insucesso no aleitamento materno. Apesar de que um grande número de mulheres começarem por dar o peito, é também verdade que a maior parte delas abandona esta prática no primeiro mês pós-parto.

Com base em estudos que sugerem que, geralmente, a tomada de decisão em amamentar acontece antes, ou no início, da gestação, e que só um pequeno número de mães deixa essa decisão para depois do parto, consideramos que a gravidez é uma boa altura para se preparar a futura mãe para a amamentação. Essa preparação é um processo complexo, dependente de múltiplas variáveis, cujo peso relativo varia provavelmente de pessoa para pessoa, de acordo com a pressão social, o imaginário coletivo e as opiniões pessoais e em que as experiências próprias e as opiniões de pessoas significativas são determinantes, bem como certos fatores perinatais que tanto podem incrementar como debelar as decisões tomadas previamente.

Uma mãe motivada para amamentar antes do filho nascer tem habitualmente mais autoconfiança e descontração a seguir ao nascimento, sendo a possibilidade de sucesso muito maior, se a decisão de amamentar for tomada antes do nascimento. O desejo de amamentar já na gravidez é um sinal positivo para o seu êxito. Apesar das dúvidas, mais freqüentes no primeiro filho, dar de mamar é um ato fácil e acessível a quase todas as mães.

Contudo, se depois de informada a mãe decidir não amamentar, ou se existir alguma contra-indicação válida, não deve, em nenhuma circunstância ser ou sentir-se culpada.

É importante ter a noção de que a decisão de amamentar depende do binômio mãe/filho. Uma das primeiras contra-indicações para amamentar é a mãe não querer. Compete-nos explicar as vantagens, mas se mesmo assim a mãe recusa, há que evitar criar sentimentos de culpa cuja influência se pode refletir negativamente na relação mãe/filho.

Muitas mulheres se sentem pressionadas durante a gravidez a tomar a decisão firme e segura acerca da amamentação.

Os conflitos sobre se serão adequadas como mães, as memórias da maneira como as suas mães davam de mamar aos bebês, as preocupações sobre a forma dos seios, tudo isto pode interferir com uma decisão racional, pelo que habitualmente estimula as mães a tomarem a decisão quando tiverem os bebês nos braços, o que é facilitado pelas reações do bebê e pelo desejo instintivo de o alimentar.

Associada à vontade inata de querer amamentar, é a atitude dos profissionais de saúde que se torna decisiva no suporte de uma mãe que o pretende fazer. Durante a gravidez as dúvidas são muitas e a futura mãe interroga-se muitas vezes se deve ou não dar de mamar, debatendo-se com uma série de sentimentos contraditórios que em nada a ajudam a tomar uma decisão, por um lado desagrada-lhe ficar com os seios flácidos, por outro pensa nas vantagens da amamentação.

contato mãe-filho

O contato precoce, pele com pele, após o nascimento, o alojamento conjunto, assim como a oportunidade do bebê mamar na primeira meia hora pós-parto, são fatores importantes para o sucesso da amamentação. Porque, imediatamente após o parto, o bebê está muito sensível, esse momento deve ser aproveitado para iniciar a vinculação mãe-filho e a primeira adaptação do recém-nascido ao seio. Após o parto, tanto a mãe como o bebê vivem momentos de grande receptividade. É durante este período que se deve proporcionar contato precoce, não tanto com fins nutritivos mas para estabelecer um bom vínculo inicial.

Para que se forme uma ligação mental e nutritiva entre a mãe e o filho, ligação que ambos necessitam, é necessário que o contato ocorra o mais precocemente possível, após o parto.

O contacto precoce entre mãe e filho pode ser um fator importante para o sucesso do aleitamento materno, através da melhor integração e comportamento afetuosos da díade. Assim, a separação mãe-filho logo após o nascimento desperta insegurança materna, dificulta o aleitamento e priva o bebê do carinho e cuidado da sua mãe.

Imediatamente após o parto normal, os reflexos de busca e de sucção do recém-nascido são particularmente vigorosos e a mãe geralmente está ansiosa por ver e tocar o seu filho. Encorajar o contato entre a mãe e o filho e permitir que este sugue a mama será benéfico, reforçará a ligação afetiva mãe-filho e estimulará a secreção láctea.

              4. METODOLOGIA

Este trabalho constitui-se numa revisão bibliográfica sobre o tópico, sendo selecionado material oriundo de livros e artigos publicados selecionados a partir de pesquisa na base de dados SCIELO e LILACS referente ao período de 1997 a 2008, utilizando as palavras-chave Aleitamento Materno, Fonoaudiologia, Práticas em Aleitamento Materno.

 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Autor: Maria Rita Krahl


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