A Escola Como Ambiente De Formação Continuada E Em Serviço



A ESCOLA COMO AMBIENTE DE FORMAÇÃO CONTINUADA E EM SERVIÇO

A temática a que se refere este trabalho surgiu da inquietação em favor da formação docente dentro do seu próprio contexto escolar como pressuposto fundamental para um ensino de qualidade.

Muitas mudanças têm ocorrido no perfil de alunos que chegam às escolas sendo estas, resultado das constantes transformações políticas, sociais e econômicas da sociedade que acabam por influenciar na metodologia adotada por cada professor em sala de aula e no trabalho dos demais profissionais da educação. A sociedade exige uma formação global de nossos alunos, que eles sejam capazes de transformar qualquer informação em conhecimento. Porém, as escolas parecem não ter evoluído o suficiente para cumprir com esta função devido, em grande parte, ao despreparo dos seus profissionais. Temos percebido que os programas de formação continuada oferecidos pela Secretaria de Educação pouco contribuem para minimizar este problema. Portanto, sentimos a necessidade de repensar o nosso papel como educadores e buscar soluções viáveis em nossa esfera de atuação.

Cada escola possui um contexto que lhe é próprio e, portanto, por mais que um professor busque uma qualificação individual não será suficiente para atender as necessidades de seus alunos. Sendo assim, reconhecemos que podemos buscar uma formação de cunho coletivo no âmbito de nossas escolas com o intuito de oferecer um ensino significativo e articulado com a realidade extra-escolar. A procura por este tipo de qualificação advém da nossa vontade de solucionar os problemas que encontramos nas situações do nosso dia-a-dia. Parte dessa formação ocorre nos corredores, na sala de professores, na breve conversa durante as trocas de aula, nos intercâmbios de experiências vivenciadas por professores que querem compartilhar com os colegas seus sucessos e fracassos. De outro modo, as escolas podem se organizar físico e temporalmente a fim de promover o trabalho coletivo. Com este propósito, nada mais óbvio é a atitude de diretores e coordenadores em organizar as HTPCs (Hora de Trabalho Pedagógico Coletivo) de modo que os professores possam ampliar seus conhecimentos e renovar sua prática.

Atualmente, nos parece que a falta de discussão por parte do professorado da importância de se desenvolver profissionalmente tem levado a uma estagnação na busca de formação continuada em serviço, meio reconhecidamente favorável à avaliação e, conseqüente transformação e aperfeiçoamento da prática. As instituições escolares por sua vez, deixam muito a desejar no que se refere a organizar ações para que se faça um trabalho colaborativo que ofereça condições de mudanças na prática educativa em sala de aula. Se de um lado os professores se sentem acuados pelas precárias condições de trabalho, pelos baixos salários e pela desvalorização profissional, o que os leva a passividade e estagnação diante das mudanças sociais, por outro vemos a falta de estímulo da própria instituição e dos meios que a mantém que fazem com estes profissionais realizem um trabalho individualizado e muitas vezes fora do próprio contexto escolar.

Segundo Imbernón (2006), a formação personalista e isolada pode originar experiências de inovação, mas dificilmente levará a uma inovação da instituição e da prática coletiva dos profissionais. Ou seja, um professor pode realizar um excelente trabalho em sala de aula, mas se este trabalho fica restrito à sua aula e às paredes de uma sala, sem troca, compartilhamento ou discussão sobre o mesmo, pouco benefício trará para a escola como um todo e o seu trabalho se torna ineficiente. Além disso, é a partir da realidade escolar, de seus problemas, de seus anseios e aspirações que deve ser feito um trabalho educativo que vise a aprendizagem em sala de aula. A prática discutida em ambiente escolar contribui para o aperfeiçoamento docente e a procura por ele deve partir do próprio professor que sente a necessidade de mudança na sua prática educativa para atender às necessidades da sociedade que está em constante transformação. Neste sentido, a escola deve fornecer condições para que seus profissionais possam discutir seus problemas e buscar soluções num trabalho colaborativo. A defesa dessa idéia é apresentada por Imbernón (2006):

A formação centrada na escola envolve todas as estratégias empregadas conjuntamente pelos formadores e pelos professores para dirigir os programas de formação de modo a que respondam às necessidades definidas da escola e para elevar a qualidade de ensino e da aprendizagem em sala de aula e nas escolas. Quando se fala de formação centrada na escola, entende-se que a instituição educacional transforma-se em lugar de formação prioritária diante de outras ações formativas. A formação centrada na escola é mais que uma simples mudança de lugar de formação ( p. 80).

A escola é o local onde a interação entre os seus vários atores deve estar sintonizada em objetivos educacionais comuns, estabelecidos por meio da elaboração de um projeto coletivo, a fim de promover a formação não só daqueles que vão aprender, mas também daqueles que são responsáveis pela sua aprendizagem. A efetivação desses objetivos só se dará se todos que estão envolvidos no processo educativo se sentirem responsáveis por estabelecerem meios e ações para promover as mudanças necessárias que atendam às exigências da sociedade e, em especial, da comunidade na qual a escola está inserida.

É consenso entre os estudiosos da educação, a importância da formação continuada e em serviço para que de fato ocorram as mudanças necessárias a fim de garantir uma educação de qualidade que atenda a todos os alunos. Libâneo (2001), por exemplo, discute essa idéia destacando que

(...) os cursos de formação inicial têm papel muito importante na construção de conhecimentos, atitudes e convicções dos futuros professores necessários à sua identificação com a profissão. Mas é na formação continuada que essa identidade se consolida, uma vez que ela pode desenvolver-se no próprio trabalho ( p. 65).

É na escola que os professores aprendem mais sobre a sua profissão, no seu dia-a-dia, na análise dos resultados satisfatórios e insatisfatórios, na troca de experiências com seus colegas de trabalho, na avaliação de sua prática e na integração com os outros agentes escolares.

A formação continuada contribui para um bom desenvolvimento pessoal e profissional dos docentes, dando a esses, oportunidades, qualificação profissional e competência técnica. Esse aperfeiçoamento deve acontecer no espaço escolar, é ali que o professor desenvolve seu profissionalismo. É nesse espaço educativo que os professores podem trocar idéias, compartilhar as experiências bem-sucedidas e aperfeiçoá-las ainda mais.

O incentivo dos diretores e dos coordenadores é imprescindível para que os professores se sintam responsáveis pela busca da sua profissionalização. Podemos entender que a ausência de um trabalho participativo-colaborativo faz com que os membros de uma equipe escolar se sintam frustrados e descontentes com os resultados de suas avaliações, mas pouco se sentem responsáveis pela mudança deste panorama. Isto porque, na ânsia de buscar um culpado para as mazelas de seu ambiente de trabalho, esquecem-se de que a escola é mais do que um prédio, mas uma instituição formada por pessoas comprometidas em oferecer uma educação formadora e, para tanto é necessário buscar formas de aperfeiçoamento. Caso contrário, o trabalho pedagógico cai num vazio sem sentido e pouco alcançará sucesso na ação formadora de seus alunos.

A fim de exprimir totais sentimentos a respeito desse trabalho, vale resgatar Nóvoa (2002) quando diz que "é no espaço concreto de cada escola, em torno de problemas pedagógicos ou educativos reais, que se desenvolve a verdadeira formação do professor".

BIBLIOGRAFIA

IMBERNÓN, Francisco. Formação docente e profissional: formar-se para a mudança e a incerteza. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2006. (Coleção Questões da Nossa Época; v.77).

LIBÂNEO, José Carlos. Organização e gestão da escola. Goiânia: Alternativa, 2003.

NÓVOA, António. Professor se forma na escola. In: Nova Escola. Edição nº 142 (maio). São Paulo: Abril Cultural, 2002b.


Autor: Roseli Alves Meira


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