A Educação Brasileira, Formação Docente E Os Avanços Tecnológicos



O processo de industrialização no Brasil estabelece a necessidade de criar mão de obra especializada para o trabalho em série das grandes fábricas têxteis. A escola nesse contexto tem como objetivo atender ao interesse do capital, perdendo seu papel de formadora de opiniões, passando a atender aos interesses do mercado de trabalho.

De acordo com Oliveira 1990, "a escola ao estar inserida numa sociedade dividida por interesses antagônicos, por lutas de classes, serve para a reprodução das relações de dominação para a preparação de força de trabalho dócil para o capital (OLIVEIRA, 1990, pg.110)".

O mundo muda, os recursos materiais e intelectuais de que necessitamos para viver, agir, realizar nossos projetos renovam-se diante das mudanças tecnológicas. Com isso, muda também as desigualdades sociais que condicionam o acesso aos recursos. No campo da comunicação, a emergência escrita e, posteriormente, a invenção da imprensa transformou nossa relação com o mundo; mais tarde o telefone, o rádio, o cinema, depois a televisão e o vídeo fizeram o mesmo. Hoje a multimídia, as redes mundiais, a realidade virtual e o conjunto de ferramentas que compõem a informática parecem transformar nossas vidas. Elas transformam as relações sociais e as formas de trabalhar, de se informar, de se distrair, de consumir e, mais fundamentalmente de falar, de escrever, de entrar em contato, de consultar, de decidir e talvez, pouco a pouco, de pensar. A escola não pode manter-se à parte dessas transformações. Nem todos estão desinteressados, para incitá-la a aderir à "Era da informação". A alienação e as desigualdades intelectuais e culturais manifestam-se de maneiras diversas diante da sociedade e das novas tecnologias, mas não desaparecem como num passe de mágica e podem inclusive agravar-se momentaneamente, ou mesmo permanentemente se não tomarmos cuidado.

As novas tecnologias e o aumento das informações levam a uma organização de trabalho em que se faz necessário: especializar-se e ir de encontro aos saberes; a colaboração transdiciplinar; o fácil acesso à informação e a consideração do conhecimento como um valor precioso, de utilidade na vida cotidiana. Diante disso, um paradigma está surgindo na educação e o papel do professor frente às novas tecnologias será diferente.

A questão da formação do professor é discutida por Valente (1993), pois se faz necessário distinguir, capacitação por meio de cursos de treinamento e capacitação por meio de cursos de formação. A primeira restringe-se a adicionar conhecimentos e técnicas de informática ao que o professor já realiza em sala de aula. O curso de formação, por sua vez, deve propiciar condições para que ocorra mudança "[...] na maneira do profissional da educação ver sua prática, entender o processo de ensino-aprendizagem e assumir uma nova postura como educador"(VALENTE, 1993, p. 115-116).

É preciso ter a consciência de que os problemas que a educação tem a resolver não serão solucionados pela simples introdução de computadores nas escolas. Mas o professor pode pleitear mudanças significativas por meio do seu papel na mediação do conhecimento. É o professor - "[...] elemento fundamental para que um projeto inovador tenha sucesso na sala de aula [...]" (ALMEIDA, 1998, p. 66) - munido de conhecimento que pode organizar atividades interessantes com o uso da tecnologia do computador.

Almeida (1998, p. 65-66), coloca que:

É preciso investir na formação do professor, não somente em instrumentalizá-lo para o uso da máquina. Tentar "modernizar" a educação com máquinas, em um contexto de velhas concepções não é significativo. "A preparação dos professores para tais utilizações não tem tomado parte nas prioridades educacionais na mesma proporção, deixando transparecer a idéia equivocada de que o computador e o software resolverão os problemas educativos" (ALMEIDA, 1998, p. 65-66).

Com o aparato das novas tecnologias pode-se desenvolver um conjunto de atividades com interesse didático-pedagógico, como: intercâmbios de dados científicos e culturais de diversa natureza, proporcionando uma interação social e no desenvolvimento de um espírito de colaboração e de autonomia nos alunos.

Neste processo, o professor pode atuar de forma efetiva à medida que quanto mais conhece sua prática social, mais poderá intervir com habilidade na educação de seus alunos.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em vigor desde 1996, já preconizar a necessidade da "alfabetização digital" em todos os níveis de ensino, do fundamental ao superior, o censo escolar do Ministério da Educação (MEC) realizado em 1999 revelou que apenas 3,5% das escolas de ensino básico tinham naquele ano acesso à Internet e cerca de 64 mil escolas do país não tinham sequer energia elétrica. Nos últimos anos, esse quadro está mudando, com iniciativas governamentais a nível federal, estadual e municipal, além de apoios privados e do terceiro setor, mas a exclusão digital nas escolas brasileiras ainda é grande.

Embora os índices de informatização nas escolas tenham aumentado consideravelmente de 1999 para 2001 (último ano com dados globais levantados pelo MEC), a pesquisadora Neide de Aquino Noffs da Faculdade de Educação da PUC-SP diz que a inclusão digital nas escolas da rede pública ainda não é uma realidade. "O laboratório de informática existe, mas não é usado com freqüência. Não é uma atividade rotineira para os alunos; não é como a biblioteca, que fica aberta o tempo todo". (NOFFS, 2006, p.65-72)

Para que haja uma inclusão digital na educação não basta instalar computadores nas escolas. É preciso capacitar o professor para que ele dinamize sua aula utilizando a ferramenta digital, ou seja, inclua a informática no seu processo de ensino-aprendizagem.

A experiência tem mostrado que formar um professor que seja capaz de usar informática como recurso de ensino-aprendizagem, não significa adicionar ao seu conhecimento as técnicas ou conhecimentos de informática. É necessário que o educador domine o computador afim de integrá-lo à sua disciplina. Entretanto, o domínio do computador não ocorre imediatamente. Dependendo do conhecimento desse profissional, a capacidade de dominar o computador pode passar por um processo de formação de conceitos que se assemelha muito à formação do conceito de permanência de objeto que uma criança desenvolve durante os seus primeiros anos de vida (SILVEIRA, 1988, p. 30-37).

A tecnologia educacional não irá resolver os problemas da educação, que são de natureza social, política, ideológica, econômica e cultural, os meios por si só, não são capazes de trazer contribuições para a área educacional e que eles são ineficientes se visto como ingrediente mais importante do processo ensino-aprendizagem, sem a reflexão humana.

É importante que a escola perceba que o valor instrumental "não está nos próprios meios, mas na maneira como se integram na atividade didática, em como eles se inserem no desenvolvimento da ação". (SILVEIRA 1998, p. 87).

De acordo com o MEC, apesar de o número de computadores instalados nas escolas brasileiras até 2002 ter ficado abaixo das metas estabelecidas pelo governo anterior, a capacitação de professores superou as expectativas. Essa também tem sido uma preocupação nas iniciativas de estados e municípios. Em Recife, por exemplo, existe um programa municipal de formação continuada de professores para trabalhar nas 70 escolas que possuem laboratórios de informática. A Secretaria de Educação da capital pernambucana também fez uma parceria com uma associação francesa para inclusão digital de crianças em idade de alfabetização, através de correspondência com estudantes de outros países.

Os índices oficiais do MEC, em 2000 informou que, praticamente todos os 2,7 milhões de alunos que estavam matriculados no ensino superior já contavam com acesso à Internet, sendo 67% deles estudantes de instituições privadas, 18% de instituições públicas federais, 12% de instituições públicas estaduais e 3% de instituições públicas municipais. Na educação básica a informatização é bem menor, apesar dos programas lançados pelo governo federal.

Em 2001 25% dos 35,3 milhões de alunos matriculados no ensino fundamental já acessavam a Internet, e no ensino médio esse índice chegava a 45% dos 8,4 milhões de alunos matriculados. Naquele mesmo ano, dos 177.780 estabelecimentos de ensino fundamental do país cerca de 10% contavam com laboratórios de informática -, e nas 20.220 escolas de ensino médio esse índice era de aproximadamente 50%.

O MEC criou em 1997, o Programa Nacional de Informática na Educação (ProInfo), com o objetivo de introduzir novas tecnologias de informação e comunicação nas escolas públicas de ensino médio e fundamental. De 1997 a 1999, o governo federal investiu cerca de R$ 113,2 milhões no ProInfo, tendo destinado 85,5% desse recurso para compra de hardware e software e montagem de laboratório de informática nas escolas. O restante foi utilizado na capacitação de professores.

De acordo com o MEC, até dezembro de 2002 o total investido no Proinfo chegou a R$ 206 milhões. O número de computadores instalados no programa ficou bem abaixo das metas estabelecidas pelo próprio governo: apenas 51% dos 105 mil que se esperava atingir. Apesar disso, o Proinfo superou as expectativas em relação à capacitação: nas 4.629 escolas atendidas pelo programa 137.911 professores foram capacitados, além de 10.087 técnicos de suporte e 2.169 professores que atuam como multiplicadores. Segundo o MEC de 1997 a 2002 cerca de 6 milhões de alunos foram beneficiados pelo programa.

O MEC pretende ainda este ano investir 400 milhões de reais em programas de inclusão digital. "Em 2008, deve-se implantar 25 mil laboratórios de informática". De acordo com o Secretário de Educação a Distância, Carlos Eduardo Bielschowsky, responsável pelo Programa Nacional de Informática na Educação (Proinfo). A meta é que as 55 mil escolas com pelo menos 50 alunos (80% do total) tenham máquinas conectadas à Internet de banda larga até 2010. O programa Um Computador por Aluno, que distribuiria laptops de baixo custo, está parado. A aquisição das máquinas foi cancelada em fevereiro, e não há data marcada para nova concorrência.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Segundo Perrenoud (2000), as novas tecnologias da informação e da comunicação são instrumentos que podem ser criadores ou recriadores da realidade atual das escolas, onde em nosso país prevalece um sistema arcaico, que ainda não se adaptou as mudanças da modernidade.

Alguns podem pensar na Informática Educativa como um "modismo", como uma estratégia da indústria de informática para a conquista de novos consumidores, o que é verdade em alguns aspectos, afinal vive-se numa sociedade capitalista onde a busca por mercados consumidores é uma prática vital de sobrevivência. Por fim, A prática pedagógica através do estudo das relações entre a tecnologia, e o desenvolvimento conceitual, no processo ensino aprendizagem, passa desta forma a influenciar na formação de professores diversificando os caminhos na busca da eficiência para garantir seu espaço no campo profissional de atuação e nele avançar.

BIBLIOGRAFIA:

- ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação. São Paulo, 1996: ed. Moderna; 2ª edição.

- LÉVY, P. Cibercultura. São Paulo: Ed. 34, 1999.

- SILVEIRA, Sergio Amadeu da. Exclusão Digital: a miséria na era da Informação. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2001.

- OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. SituaçãoTendência de Geografia, ed. Contexto. São Paulo: CONTEXTO, 1990, p. 15 a 19.

- http://www.almeida.info/textos/socinfo_jb210201.htm. Acessado em: 09/04/2008 às 14:30h.

- PERRENOUD, Philippe. 10 Competências para Ensinar. Porto Alegre, 2000: ed. ArtMed.

- OLIVEIRA, Lívia de. O ensino / aprendizagem de geografia nos diferentes níveis de ensino. In: PONTUSCHKA, N.N.; OLIVEIRA, A. V. (org.). Geografia em perspectiva. 3ª ed. São Paulo: Contexto,2004.


Autor: Márcia Assis


Artigos Relacionados


A Ética Docente Como Influência No Ensino – Aprendizagem De Crianças Nos Anos Iniciais Do Ensino Fundamental

Psicologia E Educação

Refletindo A EducaÇÃo

Fantasma Da Corrupção

Emancipação Da Educação

Educação Física E Qualidade De Vida

Capacitação No Ensino Médio