Homem-fobia



Homem-Fobia

 

Há início do ano, o professor da Universidade Federal do Tocantins, Cleides Antônio Amorim, no fim da noite de um bar de Tocantinópolis, parou. Antes da facada que o vitimou, seus amigos contam que, mesmo vendo claramente as intenções do algoz, não correu por sua vida, como todos haviam feito. Nesses milésimos de segundos – seé verdade o que contam os que quase se foram – editam-se filmes do que já foi visto. Imagino as ofensas, desde pequeno, compactadas à sua frente. Imagino a empatia com todos os que são chamados pelos mais agressivos palavrões. Imagino a clarividência, naquele instante, de que erguer-se contra a intolerância somente é possível quando se escrutina o olhar do agressor. Quando se expõe a facadas... Quando a vida é cobrada. Certamente, ele soube que não seria seu último ato contra a surdez: vozes se ergueriam.

Apesar da comoção em redes sociais, passeatas, lutos e abaixo-assinados, o réu, pela tartaruguice de nosso sistema judicial, está foragido: teve tempo hábil para escafeder-se. Algemados com o que criamos para nos aceitarmos “civilizados”, seguimos nos esquivando. Hoje, um mês após o assassinato do professor Cleides, é o silêncio de outros dias que hoje nos engasga. Quando as injustiças e olhares tortos não passaram de repúdio distanciado, com a cômoda certeza de que tudo se resolveria com o tempo. Esse “pilatear” faz parte de nossa revolta orgânica de cinco minutos e próxima tragédia: começam com mãos na boca ao assistir programas jornalísticos e terminam no intervalo da novela das nove.Ouvimos, há dois meses, numa reunião em Palmas, o professor Cleides Amorim declarar seu cansaço e desgaste com esse círculo de omissões. E absorvidos pelos vícios no bojo do “eu concordo, agora vamos para casa”, não nos atentamos ao tom profético de seu desabafo. Na verdade, temos essa sina em só perceber a grandeza dos gestos poéticos depois que os poetas se tornam mártires.

Hoje, nos engasga não tê-lo abraçado, buscando conforto mútuo, em reafirmar que não ficaremos impassíveis à injustiça. Que sairemos de nossos 36,7ºC para combater efetivamente o preço que a ignorância cobra. E não podemos nos enganar: essa insensibilidade é produto de temores que escolhemos desconhecer. Cansemo-nos! Chega de comoção com prazo de validade! A inquietação precisa ser compartilhada, porque não pode ser mérito/peso/responsabilidade daqueles que podem pensar alguns centímetros além do bem-estar de seus familiares. Essa dor, traduzida em luto pela despedida forçada de Cleides, não precisa ser a próxima angústia esquecível. Aliás, é alimentar esse sentimento que deve nos direcionar a não sermos complacentes com a falta de informações ou, no mínimo, de uma reflexão. Aqueles que matam sob a justificativa do ódio ao diferente, na verdade, confrontam o mesmo engasgar por não entender como homens e mulheres, tão geneticamente irmãos, podem ser tão afastados.    

A luta que se seguirá é um brinde em riste às batalhas que Cleides não ousou se esquivar. E de que a impunidade, motor das ações mal pensadas, será combatida antes das espadas saírem das bainhas. A epifania de nosso colega, que justificou sua expiação, nos fará reagir contra a intolerância e a violência, quando ela aparecer, mesmo disfarçada de piadas e banalidade.Chega de sentir medo em nos assumirmos homens e mulheres! 

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Autor: Elson Santos Silva Carvalho


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