Movimento estudantil universitário - Sergipe
MOVIMENTO ESTUDANTIL UNIVERSITÁRIO- SERGIPE
Um dos movimentos que mais contribuiu para a fomentação do debate político no mundo e especificamente no Brasil foi o movimento estudantil. Seus congressos se constituem espaços de decisões e aprovação dos projetos que regem suas atividades políticas e suas intervenções junto à sociedade. Os estudantes motivados se engajaram nos movimentos por mudança social. Melucci (1997) aponta que o jovem possui capacidade de ser mais afeito a enxergar a ampliação de possibilidades e entender que tudo pode ser conhecido, tentado, e tudo pode ser mudado. Esta predisposição favoreceu também aos jovens do século passado o engajamento na luta pela democratização.
O movimento estudantil, com a expansão da universidade brasileira, demonstrou na sua trajetória significativa participação nos projetos da sociedade. Gradativamente construiu sua hegemonia junto a outros movimentos, tanto de categorias, como de representações de gênero, éticos e ambientais. Evidentemente que passou a ocupar e configurar com força combativa mais acentuadamente no período do golpe militar. Tornaram-se despojados no empate do regime militar pelo enfrentamento e cerceamento que estes impuseram aos estudantes, nas suas sedes, prendendo muitos estudantesem congressos. Taisatos tinham como objetivo conter a luta dos estudantes, os quais reivindicavam pela ampliação de vagas, eliminação das taxas de cobranças nas universidades públicas, mais verbas e liberdades para as escolas, pela melhoria da qualidade estruturais das universidades. Segundo Buonicore (2009, p. 17):
Os estudantes foram os primeiros a se confrontarem abertamente com o regime militar. Colocaram-se contra a Lei Suplicy de Lacerda, que buscava atrelar suas entidades ao Estado Ditatorial, em plebiscito, pela União Nacional dos Estudantes, a maioria dos universitários repudiou a lei.
A atuação do movimento estudantil é marcada pela imposição de mudanças radicais na universidade brasileira no combate aos resultados gerados pelos governos militares, na conquista da radical democratização do ensino brasileiro, tais como política de acesso, universalização do ensino superior de qualidade, bem como uma política de engajamento no desenvolvimento nacional[1].
Como característica de quase todos os movimentos, inicia com poucas pretensões políticas, apenas como agremiações interessadas na defesa e organização de sua categoria. No início do século XX, é criada a Casa do Estudante do Brasil, que durou cerca de 36 anos.
Em 1937, com o Estado Novo instalado, é fundada a União Nacional dos Estudantes (UNE), agora com maior abrangência nos estados brasileiros, mesmo com as limitações impostas na sua ação política, moral e intelectual. Neste contexto, e de acordo com Lessa e Souza (2001), o movimento estudantil sergipano integra ao movimento brasileiro.
Um marco importante foi a criação do Centro de Cultura Popular, um setor da UNE que contribuiu para a proliferação em todo país da discussão sobre a reforma universitária, somado aos Movimentos Eclesiais de Base – MEB`s, criados pela teologia da libertação, ao da Juventude Universitária Católica – JUC, Juventude Operária Católica – JOC, Juventude Agrária Católica - JAC e da Juventude Estudantil Católica. Desencadeia-se, em Sergipe, grande mobilização em defesa da universidade brasileira e por justiça para todos os cidadãos. Coube à igreja a responsabilidade de liderar tal mobilização, estando à frente o D. José Vicente Távora, arcebispo que à época respondia pela arquidiocese.
O Departamento de Cultura Popular serviu como motivador de uma campanha onde os próprios acadêmicos passaram a alfabetizar as pessoas na periferia da cidade, sindicatos, associações de bairros, proliferando as ideias de Paulo Freire, grande educador brasileiro, que inovou uma metodologia no processo de alfabetização para jovens e adultos, integrado a uma visão política no processo de aprender com consciência da realidade e perceber a necessidade de mudanças pelas quais o país passava.
Ressalta-se que, em 1960, o presidente da UNE, Manoel Joaquim de Barros, vem a Sergipe onde se reúne com os representantes da Faculdade Católica de Filosofia, da Escola de Serviço Social, da Faculdade de Direito, de Química e de Economia, para discutirem e mobilizarem todos os estudantes contra os dispositivos da Lei de Diretrizes e Bases que ameaçavam o ensino público gratuito. Os estudantes motivados realizam passeatas contando com o apoio de professores, políticos e de outras lideranças.
Em 1964, com o golpe militar, o movimento estudantil sofre uma redução e ressurge em 68 com características que, segundo Lessa e Souza (2001, p. 3) têm:
Um caráter espontaneísta, como movimento de massa. A ideologia de então dava conta de que era preciso manter o poder sob contestação permanente, isto é, fazendo oposição, não se subordinando às estratégias do poder oficial e principalmente representando o pensamento e os anseios das massas populares. Mesmo sob vigilância e com as atividades reduzidas a encontros culturais, os estudantes sergipanos se reúnem e discutem a situação política.
É com a promulgação do AI-5 que o movimento estudantil em Sergipe passa por um período de ações mais voltadas para eventos culturais. Dessa forma, a década de 70 tem uma ação importante, entretanto refreada pelo regime que só se refrigera com a abertura política.
Em meados de 70 e início de 80, os estudantes intensificam a luta pela falta de verbas para as universidades públicas. O Diretório Central dos Estudantes - DCE da Universidade Federal de Sergipe se filia à UNE, desencadeia uma campanha esclarecendo a população estudantil sobre a importância da UNE na defesa dos interesses da categoria.
O regime militar gerou dois tipos de reação nos jovens. Enquanto alguns estavam utilizando seu tempo ocioso com conversas “bobas”, fofocas, cuidado excessivo com o corpo e outras futilidades, outros encontravam na militância social e política, em partidos – considerados pelas forças conservadoras como de extrema esquerda – a oportunidade de concretizarem seu projeto de sociedade. Uma vez que o Partido Comunista Brasileiro (PCB) se encontrava na ilegalidade, esses jovens vislumbraram no MDB um espaço de atuação política e de disseminação de seus ideários. Ocupavam seu tempo livre lendo e discutindo os panfletos e as cartilhas do Partido Comunista, ainda clandestino na época. Esses ativistas, ao centrarem suas leituras em livros como “Manifesto Comunista” e “O Capital” de Karl Marx, “O Príncipe” de Maquiavel, etc., foram assimilando hábitos e comportamentos centrados nessa literatura.
Livros acadêmicos com outras concepções teóricas eram adquiridos, como expressa Augusto dos Santos, em entrevista: “Em 1974 iniciando os estudos de nível superior em Economia, para ter conhecimento em Economia planificada, tínhamos que estudar por livros de edição portuguesa ou espanhola, que entravam clandestinamente no Brasil. É evidente que poucos estudantes tinham acesso a essa literatura. Lembro-me de que acertávamos os locais de estudo na casa de um companheiro na sexta-feira, tudo tinha que ser no mais absoluto segredo. Mas era a única forma de buscar informações naquela época”.
Convém frisar que o curso de Economia situa-se entre os cursos que muito contribuíram para a formação e atuação do jovem como cidadão esclarecido, participativo na vida política local e nacional. A partir dessa formação os jovens militantes políticos passaram a se engajar nos movimentos sociais.
Do movimento estudantil universitário, em Sergipe destacaremos Marcelo Déda Chagas e Edvaldo Nogueira Filho. Ambos são representativos da categoria do nosso estudo, uma vez que viveram numa mesma época, no mesmo espaço, na efervescência dos movimentos estudantis, participaram juntos na militância política estudantil no mesmo contexto, além de percorrerem a trajetória do legislativo às funções de governo, gradativamente.
[1] Cartilha da UNE, março de 2009- Projeto de Reforma Universitária dos estudantes brasileiros.