O jarro.



Quando eu era criança, ficava admirada com a beleza de um jarro de flores, o quanto era belo aquele enfeite no centro da sala, perfumando, colorindo o ambiente, deixando tudo mais bonito.  Quando voltava do colégio, ficava a admirar as flores e sentindo seu aroma, e dizia: quando eu crescer, quero um jarro de flores para mim.

O tempo passou, cresci, no lugar da inocência veio a responsabilidade, já não admirava mais jarros de flores, tão pouco tinha tempo para sentia o aroma vindo delas. Então, em um belo dia, dei de cara com um jarro lindo, porém, vazio. Admirada, fiz de tudo para tê-lo, e consegui.  Cheguei em casa e coloquei ele exatamente como via na minha infância, no centro da sala, mas faltavam-lhe as flores, e logo providencie comprar as mais bonitas, e o decorei.

Meus olhos brilhavam cada vez que eu olhava aquele jarro, porém, percebia que com o passar dos dias, as flores murchavam, a água exalava no ambiente um mal cheiro, pétalas caíam no chão, coisas que eu não percebia quando era criança. Então, o que me trazia alegria, começou a me deixar triste, pois não sabia o tempo de vida de cada flor, então, era preciso trocar a água todos os dias, remover as pétalas caídas no chão, e mesmo assim, as flores não tinham mais o perfume como eu sentia quando criança. Foi quando percebi que as flores morriam lentamente quando as levava para casa, para o meu jarro, pois na verdade, o que eu gostava era da vitalidade daquelas flores, do seu  aroma, de suas pétalas vivas.

Ao visitar a minha mãe, comentei que tinha encontrado um belo jarro, e que o tinha como enfeite em minha sala, ela gostou muito da novidade, e eu continuava a falar. Ele é belo e trabalhoso, e não entendo como as flores do jarro da sala, desde a minha infância, são tão lindas, perfumadas, vivas, enquanto as minhas logo murchavam e ficavam feias.

Foi quando minha mãe me mostrou algo que nunca eu percebi, e me chamou para um cantinho reservado, logo após a cozinha, lá atrás, no quintal. Era um jardim de flores e rosas, de todos os tipos e cores. Nunca havia percebido esse jardim, e minha mãe me falou: As flores que você vê no jarro são perfumadas, vivas, porque são colhidas deste jardim onde me dedico a cuidar, diariamente, em recompensa, recebo brotos de flores para enfeitar e perfumar o meu lar. Dessa forma, o que eu tenho na sala são apenas presentes, por cuidar tão bem deste jardim. Na verdade, as flores precisam do ar puro, das abelhas para polonizarem, do orvalho, da terra, do sol, da chuva, e um pouco de mim. De nada adianta eu querer mudar essa realidade, pois fazendo, estarei matando a flor aos poucos, e quando eu perceber, ela estará sem vida, sem brilho, sem perfume. Então, me restará apenas a lembrança de como foi linda no início.

Abracei a minha mãe, e agradeci a ela pelo ensinamento daquela tarde, pois aprendi que nem tudo o que nos agrada deve ser retirado do seu ambiente natural ou modificado para se adaptar a nossa realidade. Que precisamos respeitar os limites de cada um, e cuidar, e dedicar-se, pois em troca, receberás as flores, como presente.

Assim somos nós, que nos apaixonamos por uma pessoa e sem ao menos conhecê-la, queremos modifica-las ao ponto de elas viverem para nos agradar, sem lembrar que nós somos responsáveis também em agrada-lo(a). Pensamos apenas no que nos faz feliz, mas esquecemos de proporcionar a felicidade do outro, ou quando o fazemos, se torna tão intenso, tão sufocante, que logo murcham e não há nada que se faça nesse momento a não ser, substituir, ou, ficar sem.

O amor, assim como as flores, precisa de um ambiente confortável, que lhe agrade, que tenha a liberdade de compartilhar com outras flores os momentos bons. Sentir o cheiro da terra, o frescor do orvalho, a brisa do ar puro, o brilho do sol, até mesmo o frio da chuva, tudo de forma moderada, sem deixar de perceber que a flor também se apaixonado por seu cultivador, e espera que ele esteja bem consigo mesmo, sem perder seu brilho interior, sua vivacidade. Dessa forma, o cultivador e flor, poderão viver em harmonia, felizes, pois um será o complemento do outro, sua essência permanecerá, sua personalidade, suas companhias, e entenderá que para ser feliz não é preciso escravizar o amor, nem tão pouco cortar suas flores e deixa-las em um vazo, esperando que elas permaneçam eternamente bonitas e cheirosas, mas cultivar diariamente, para que sempre haja um novo broto surgindo do chão!


Autor: Michele Almeida Da Silva


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