A presença da maquina de costura “singer” em minha infância.



A presença da Maquina de costura “Singer” em minha infância.

Odalberto Domingos Casonatto

Para meus pais falar em maquina de costura, só existia uma: a legendária “máquina de costura Singer”, o pai era alfaiate e a mãe costureira e estas maquinas foram as que aguentarem o ritmo do trabalho diário de longas jornadas e dos anos a fio de trabalho.

No início importadas da Inglaterra, faziam parte do enxoval de qualquer moça que quisesse ter sua casa com o indispensável em bem viver. Era dote que as moças levavam para o casamento, recebiam mesmo antes de casar para serem introduzidas na arte da costura, e os pais sabiam muito bem quanto poderia ajudar na economia domestica.

Meu pai desde sua Juventude aprendeu o oficio de alfaiate, mesmo porque seus pais não tinham mais terras para dar aos filhos e depois do casamento do segundo ou terceiro filho os outros deveriam apreender uma profissão. Assim o pai teve que sair de casa e morar em uma cidade vizinha iniciando como aprendiz em uma alfaiataria próxima de sua casa, conheceu as maquinas Singer e a arte em bem usa-las na confecção dos ternos para a população. Tinha uma missão ritual que deveria executar a pedido de seu patrão, todos os sábados limpar as máquinas e com o óleo próprios para maquinas de costura lubrifica-las, pois na próxima semana iria girar muito na mão dos alfaiates fazendo ternos.

Depois com uma profissão na mão foi par um centro maior, e iniciou sua vida profissional em Passo Fundo, na “Alfaiataria Schneider” ali fez milhares de ternos para a elite Passo Fundense, durante os mais de 10 anos que trabalhou antes do casamento. Ali o pagamento era por terno entregue ao freguês e então o trabalho era sem limites, manhã, tarde e noite, apenas o domingo para descansar.

Uma vez casado foi para o comércio, mas não durou muito para voltar em sua antiga profissão voltando a trabalhar como alfaiate deixando o Comércio. A mãe tinha aprendido a trabalhar com a máquina Singer ainda na adolescência, e depois por longos anos continuou a trabalhar, junto com o Pai em uma sala de costura. Foram muitos anos a fio, serviram milhares de pessoas fazendo camisas com tecidos escolhidos pelos fregueses, calças com tecidos especiais, sem falar de Jalecos para os Médicos, ou estudantes de Medicina da capital etc. Os fazendeiros, quando iam para o Uruguai sempre traziam finos tecidos ingleses, em especial tecidos de lã, para serem feitas calças etc. O pai sempre recordava da ousadia de um oficial do exercito, pedindo que se fizessem camisas com tecido de paraquedas inutilizadas. E as camisas foram feitas. Ficaram resistentes e de rara beleza.

Com maestria, trabalhar com maquinas de costura par eles não tinha segredo algum. O som RSRSRS, era orquestrado durante o dia inteiro na atmosfera da casa. As máquina nunca ficaram paradas, rodaram sempre, se consumiram em suas peças especiais feitas de aço nas siderúrgicas inglesas. Mas resistiram e somente após anos de uso não valia mais apena consertar. Não existiam peças de reposição. Sua grande preocupação era trazer o técnico para arrumar alguma delas quando paravam de girar. Como o técnico era o único da cidade, o conserto de uma maquina se tornava um ato de diplomacia até convence-lo em vir arrumá-la.

A diarista Raimunda, aproveitando pedaços de tecido de lã, que sobrava e iriam para o lixo, reaproveitava estes retalhos, fazendo chinelos com rara beleza, reforçando sua receita. Afinal ter que limpar o chão de uma sala de costura, com tantos retalhos, linhas não é nada fácil. Mas convivíamos com as linhas e pedaços de tecido espalhados pela casa.

Assim ouvindo este som RSRSRS, conversa de maquinas de costura, trabalho a ser feito e entrega ou atender a porta quando um freguês chegava passei minha infância e adolescência. E tem mais, este som do RSRSRS vinha da maquina Singer da Mãe costureira, que estava na sala de costura na parede oposta da cabeceira da minha cama. O pior que todas as noites tinham o serão noturno, à noite o Pai trabalhava num segunda máquina Singer, com um RSRSRS, interminável até a meia noite. Hoje a mãe com 86 anos continua insistindo em fazer ainda alguns trabalhos indispensáveis. Lamenta-se quando precisa do técnico para arrumar alguma peça que se arrebenta e ele nunca chega para arruma-la. Com uma paciência infinita espera, implora até que o técnico coloca novamente a maquina em funcionamento. Mas o que está atrapalhando e a dificuldade de enfiar a linha na agulha da máquina, pois a visão enfraqueceu.... O trabalho continuo diário de meus pais, por longos anos terminaram com quatro máquinas Singer, sem falar de uma Leonam, nome invertido do Português Manoel, fabricante da marca, que era utilizada para fazer as caseas das camisas. Mas naquela casa não se conseguia viver bem sem ouvir o RSRSRS interminável ..., mas os dois heróis, meus pais, conseguiram o pão para nossa mesa....fazendo girar interruptamente estas máquinas fenomenais. E a lembrança do RSRSRS, das maquinas continuam ser cantiga de ninar, nas noites de insônia que muitas vezes nos abatem.


Autor: Odalberto Domingos Casonatto


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