O panoptismo de Foucault: uma leitura não utilitarista
Pablo Spíndola[1]
Resumo de: Natanael Vieira de Souza[2]
Segundo Pablo Spíndola, “[…] Michel Foucault tenta entender o panóptico dentro das problematizações do espaço que, para ele, estariam ligadas às dificuldades, no século XVIII, de lidar com o crescente aumento populacional e as transformações oriundas desta demanda. O espaço precisa ser pensado em sua materialidade, e sua construção está inserida nas formas de direcionamento do poder enquanto ação. Assim sendo, o panóptico propõe resolver o problema de como controlar um número crescente de pessoas empregando um número reduzido de controladores. Preocupação, segundo Foucault, de uma sociedade burguesa em formação que necessita tornar mais sutis seus mecanismos de poder, para gerir um maior número de relações e pessoas”. (FOUCAULT, 1979: 211-214).
A ideia de Bentham sobre o panóptico é, principalmente a utilidade e economia de, tempo, espaço e “controladores” para lidar com o crescente numero de sujeitos. Portanto, requer fazer com que o detento, alvo da vigilância, se torne um objeto de informação, à medida que é visto e analisado e que no mesmo seja introjetado a sensação de vigilância permanente, mesmo que esta não seja efetivada em seu exercício, o recluso é coagido sob a indução de que está sendo observado.
A punição e a vigilância são poderes destinados a educar (adestrar) as pessoas para que essas cumpram normas, leis e exercícios de acordo com a vontade de quem detêm o poder. A vigilância é uma maneira de se observar a pessoa, se esta está realmente cumprindo com todos seus deveres – é um poder que atinge os corpos dos indivíduos, seus gestos, seus discursos, suas atividades, sua aprendizagem, sua vida cotidiana. A vigilância tem como função evitar que algo contrário ao poder aconteça e busca regulamentar a vida das pessoas para que estas exerçam suas atividades. Já a punição é o meio encontrado pelo poder para tentar corrigir as pessoas que infligem as regras ditadas pelo poder (através da punição as pessoas terão receio de cometer algo contrário às normas do poder).
Segundo Foucault para economia do poder seria mais rentável e mais eficaz vigiar do que punir. Isso pode ser facilmente observado se pegarmos o panoptismo como exemplo, pois é muito mais barato vigiarmos as pessoas para que estas não infrinjam as leis, do que posteriormente puni-las, pois na punição terá que ser gasto muito dinheiro para que a pessoa que infringiu a lei seja resociabilizada (reeducado). Além disso, com o sistema panóptico a vigilância fica ainda mais fácil, já que é possível vigiar várias pessoas ao mesmo tempo; a punição, para que alcance mesmo seu objetivo ela deve ser aplicada de maneira individual – pois cada um tem uma maneira diferente de ser reeducado e resociabilizado. Ainda podemos dizer que a vigilância ganhou espaço na economia do poder, pois é muito mais fácil vigiar as pessoas para ver se estas estão mesmo cumprindo suas funções, e com o panoptismo isso fica ainda mais fácil principalmente nas entidades tais como, hospitais, prisões e nas escolas.
Segundo Pablo Spíndola, o panóptico tem uma historicidade, tanto na trajetória filosófica de Foucault como na do seu criador, Jeremy Bentham. Ao pesquisarmos sobre essa historicidade precisamos levar em conta uma série de situações: Qual era o momento pessoal de Foucault ao falar sobre o panóptico que poderia ter ligação com sua escrita? Quem eram seus interlocutores? A que inquietações ele se relacionava e respondia? Estas mesmas perguntas podem ser feitas igualmente para Bentham, pois as respostas ajudam a entender como Foucault inventa, ao alargar a ideia de Bentham sobre um plano arquitetural, o panoptismo.
[1] Mestre pelo Programa de Pós-graduação em História Social da Universidade de São Paulo.
[2] Acadêmico do 7º Semestre do curso de História/UNEMAT/Cáceres - MT
Autor: Natanael Vieira De Souza
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