Educação: Novos Paradigmas E Motivação



A educação brasileira vem passando, sobretudo nas últimas décadas, por uma profunda crise, onde se destacam a falta de excelência na sua qualidade, a má formação dos educadores, o desestímulo desses educadores e o abandono dos estudantes por parte de suas famílias. Em meio a esse quadro desolador, há profissionais de educação que têm buscado métodos que possam despertar o interesse dos educandos na busca pelo conhecimento, como descrito no trabalho de Silva e Monteiro (2007, p. 01):
(...) a prática da narração de histórias, como forma de conhecimento, desencadeia o desenvolvimento da imaginação, da sensibilidade, da manipulação crítica e criativa da linguagem oral. E isso é possível em todas as fases de desenvolvimento do ser humano (...)
Entretanto o que me motivou a refletir sobre o assunto foi o convite que recebi da secretaria de educação de um município do interior para oferecer um treinamento para professores-contadores de histórias, já que a referida secretaria estaria implantando uma metodologia de ensino com base em histórias narradas. Preocupou-me, em princípio, o vínculo criado entre a figura do professor e o contador de histórias. Entretanto, essa secretaria já havia preparado uma articuladora bastante esclarecida quanto a esses fatos.
A partir desse momento iniciei uma preparação que consistia em pesquisar técnicas específicas para contar histórias, bem como dicas de interpretação, entonação de voz e sensibilização, sobre tudo levando em consideração as dicas contidas em McWilliams (1996), no livro intitulado Principles of Story Telling.
Fui recebido por um público simpático que retornava de suas férias anuais, apesar de reclamarem muito do cronograma (antes mesmo de iniciar o curso) por lhes tomar parte do fim-de-semana. De fato no primeiro dia (sexta-feira) contamos com 45 participantes, sendo que, no sábado, foram apenas 34.
Era evidente a insatisfação daqueles educadores, alguns desanimados, outros cumprindo uma penosa obrigação. Na verdade, um pequeno grupo realmente vibrava com o trabalho, sempre disposto a fazer melhor. Temi que fosse minha comunicação um tanto inadequada, cansativa, mas, a mim, atribuíram (na avaliação) notas satisfatórias (na maioria, pois três participantes demonstraram insatisfação em relação ao ministrante). Percebi, no entanto, que, em relação aos próprios participantes, 26% avaliou de forma insatisfatória, quanto ao interesse e a motivação.
Apesar de tirar dos meus ombros o fardo da incompetência, preocupou-me aquela apatia, pois ela não era exclusiva daqueles educadores que apenas reproduziam uma tendência observada em quase todos os educadores com os quais tive contato até hoje em minha carreira de 15 anos de trabalho na educação (tanto nas escolas públicas, quanto particulares).

Dos educadores e sua motivação

Uma notícia, publicada no site http://www.universia.com.br/ em 20/06/2003, já nos dava um alerta sobre um mal que, aparentemente, vem crescendo entre os educadores:
“O que já era fato, virou estatística. Uma pesquisa da Universidade de Brasília revelou que 40% dos professores do país não têm motivação para dar aulas. Os principais motivos são os baixos salários e a falta de infra-estrutura para realizar um bom trabalho.”
Minha contribuição para a lamentável constatação é acrescentar que esse índice parece ter aumentado consideravelmente, tendo em vista crescentes casos de depressão na categoria, conforme Souza (2008, p. 19) nos alerta:
“Embora digna de registro em departamentos médicos dos estados e municípios pela sua ampla ocorrência, a depressão de professores não é tema que têm merecido a necessária análise por parte de pesquisadores. Em geral, aparece associada ao assunto, hoje em voga, da violência na escola. Em função do crescimento da violência escolar, nos últimos vinte anos, a depressão docente é apresentada como reação de impotência diante de agressões ou da indiferença que sofrem por parte dos alunos. A depressão que envolve os professores remete assim ao sentido amplo da violência escolar como ruptura dos laços pedagógicos, como sintoma da ausência de sentido instalada no coração do projeto de escolarização.”
Além disso, o crescente desinteresse dos pais pela escola pode ser constatado no discurso docente e parece engrossar essa lista de insatisfações de educadores.
Segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas de 2007, a maioria dos jovens abandona a escola simplesmente porque não querem mais estudar, fato que conta com a conivência da família. Temos observado também um número crescente de jovens que freqüenta a escola regularmente, sem, no entanto, participar do processo de construção do conhecimento. Esses jovens gostam do convívio social que a escola proporciona (talvez seja um dos poucos ambientes sociais onde possa conviver com pessoas de sua idade).

Da resistência ao novo

Tendo em vista a nossa vivência em sociedade, é possível afirmar que inovações em quaisquer áreas são sempre exigidas, mas mal recepcionadas, pois, de repente, todos percebem que devem mudar e isso tira do conforto até mesmo o mais inovador dentre os membros de uma certa instituição.
Para Messina (2001):
“Nas ciências sociais, qualquer reflexão sobre a mudança se associa com ordem e regulação. Mudar significa alterar as regras do jogo, aprender novos códigos culturais, desnaturalizar ou refletir sobre os padrões habituais. (...)”.
(...) Os professores caracterizam-se como pessoas que têm sobrecarga de tarefas, que realizam seu trabalho em condições de fragmentação e isolamento, em especial isolados de outros adultos, que estão sempre exaustos e sem esperança e que contam com poucas oportunidades de reflexão. A pressão pelo imediatismo e a sobrecarga são as armadilhas da vida cotidiana que dificultam a mudança. A partir desse diagnóstico, destaca-se que os professores devem ser formados para que: a) aprendam a trabalhar em condições de incerteza e de ansiedade e b) tenham confiança nas pessoas e nos processos.

Da resposta dos estudantes a metodologia de projetos

Conforme informa Aguillera, em publicação no site http://www.webartigos.com:
“A idéia central da Pedagogia de Projetos é articular os saberes escolares com os saberes sociais de maneira que, ao estudar, o aluno não sinta que aprende algo abstrato ou fragmentado. O aluno que compreende o valor do que está aprendendo, desenvolve uma postura indispensável: a necessidade de aprendizagem.”
O trabalho com projetos tem se revelado uma excelente maneira de trabalhar o conhecimento com estudantes de todas as idades e séries, apesar de demandar períodos prolongados e, não raras vezes, investimentos para os quais não há receita. Contudo, representam importante momento do protagonismo jovem.


Discussão

São inegáveis as dificuldades e limitações na educação observadas no momento histórico em que vivemos. Tais dificuldades, porém, somadas a maneira com os educadores de modo geral têm encarado esse contexto, geram um ciclo vicioso.
Urge, portanto, que se promova uma quebra desse paradigma, tendo como ponto de mutação a figura expressiva do educador.
Parece-nos que nenhuma instância externa ao educador é capaz de transformar a educação, sem que tal mudança comece por ele próprio.
Assim, o educador deve procurar resgatar sua auto-estima, o prazer em realizar seu trabalho (conquistando, dia-a-dia, o respeito e o reconhecimento pela sua categoria), eliminando, por si só, as imensas barreiras que os cercam. Ensinar através de projetos pode ser um caminho na busca por essa motivação de ambos os lados (educadores e educandos).
Difícil constatação é entender que não se pode contar com ajuda externa, senão com os pares, num processo de apoio mútuo e organização.

Referências:

AGUILLERA, Cinthia Gonzaga. Pedagogia de projetos. Webartigos.com. Londrina – PR. 2007.
MESSINA, Graciela. Mudança e inovação educacional: notas para reflexão. Cadernos de Pesquisa, n. 114. São Paulo – SP. 2001.
SILVA, Marcelo Messias da. MONTEIRO, Regina Clare. Contar histórias: Metodologia de apoio ao ensino-aprendizagem. Campinas – SP, 2007.
SOUZA, Maria Cecília Cortez Christiano de. Depressão em professores e violência escolar. Porto – Portugal, 2008.

Sites:
http://www.webartigos.com/articles/1020/1/pedagogia-de-projetos/pagina1.html http://www.alb.com.br/anais16/sem08pdf/sm08ss03_09.pdf
http://www.scielo.br/pdf/cp/n114/a10n114.pdf
http://www.hottopos.com/notand16/cecilia.pdf
http://www.bernerartes.com.br/ideiasedicas/dicas/contarhist2.htm
Autor: Paulo Henrique Alves Machado


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