Quero aprender com você



Dificilmente encontramos uma biografia com os detalhes positivos ou negativos da vida de uma pessoa. Geralmente o intuito de uma biografia é fazer parecer perante o público, um homem ou uma mulher perfeitos em sua área de atuação. Isso acontece porque os chamados “interessados” (família, colegas de trabalho, amigos etc.) estão preocupados com a reputação da família por causa dos prováveis ganhos que deixariam de receber se vazassem informações que não fossem interessantes, ou para evitar ferir susceptibilidades mesmo após a morte do biografado.

Recentemente terminei de ler um livro que esta mudando o conceito de “santidade” com o qual a maioria das biografias são escritas. Na biografia oficial de Steve Jobs (oficial porque ele mesmo a encomendou), Walter Isaacson (2011) faz uma descrição desapontadora para aqueles que pensavam encontrar em Steve Jobs um super-herói de história em quadrinhos. A história é profunda e cativante. Se desenrola com a simplicidade de uma novela, apresentando tanto qualidades incríveis quanto defeitos desastrosos do protagonista que, se não tivesse vivido em nossos dias, seria difícil acreditar na polaridade das descrições contidas em uma pessoa do mundo real.

Pois é. É difícil mas não impossível. Enquanto muitas são as qualidades que todo jovem deveria desenvolver imitando Steve Jobs (inovação, amor pela tecnologia, curiosidade), outras são as características das que todo jovem deveria fugir com essa mesma intensidade (falta de empatia, incompreensão e impaciência). Não pretendo ser um simples critico ou um assíduo defensor de Steve Jobs. É mais fácil criticar do que defender, destruir do que construir; todos tem a liberdade de pensar como bem lhes entender, ou seja, diferente ou não. Mas devo reconhecer que durante nosso caminhar pelo mundo, deveríamos pensar melhor na vida das pessoas cujas biografias nos mostram as duas faces de suas vidas, e os primeiros a desenvolverem esta visão, deveriam ser os jovens. Isso faria com que estes empreendedores naturais conhecessem melhor a vida da forma mais realista possível. Todos somos imperfeitos, ainda aqueles considerados gênios!

Nem todas as atitudes de uma pessoa notável precisam ou podem ser imitadas. Nem tudo o que esta escrito precisa ser aprendido. A capacidade de discernimento precisa ser desenvolvida, usada, praticada e finalmente ensinada. O fruto do discernimento é a sabedoria. Através dela seremos pessoas melhores, teremos uma família melhor, uma sociedade melhor e um mundo melhor que parabenize o desenvolvimento humano e elimine a ignorância.

Pouco tempo antes de morrer, Walter Isaacson conversou com Jobs por algumas horas. Quando Jobs ficou em silencio, Isaacson decidiu que o deixaria descansar. Mas quando ele se levantou para sair, Jobs pediu para que esperasse mais um pouco e confessou que estava realmente preocupado com o projeto do livro. Isaacson finalmente lhe fez uma pergunta cuja resposta ecoará por gerações: “Por que você aceitou?”. “Eu queria que meus filhos me conhecessem... quando fiquei doente, percebi que outras pessoas escreveriam sobre mim se eu morresse, e eles não saberiam de nada. Entenderiam tudo errado. Então, quis garantir que alguém ouvisse o que eu tinha a dizer.”, respondeu Jobs.

Conhecemos verdadeiramente uma pessoa quando conhecemos honestamente suas virtudes e seus defeitos. É neste profundo conhecimento que o processo de aprendizagem é mais completo e mais gratificante. Talvez Jobs estivesse pensando nisso quando decidiu nos contar sua história.

Saber o que aprender e o que não aprender produz tanto crescimento quanto saber ajudar alguém a superar seus defeitos. Só assim aprenderemos com os outros, desfrutaremos dos relacionamentos interpessoais e enxergaremos a diversidade de virtudes que as pessoas desenvolvem para não “encaixotá-las” como inteligentes ou idiotas, ou como diria Steve Jobs, como “gênios ou babacas”. Podemos aprender com todos, em qualquer momento e em qualquer lugar. Essa é a verdade!

Bibliografia:

ISAACSON, Walter. Steve Jobs. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

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Autor: Marco Cuadros


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