Jovem aguarda quinze horas para receber diagnóstico em hospital de Porto Alegre



Saguão lotado e dividido entre pessoas que tossem, cochilam, andam de um lado para o outro, inquietas pelo tamanho da espera.  Um jovem rapaz ao fundo, atrás de uma mesa feita de mármore, chama, uma a uma dessas pessoas, exaustas e doentes, através de um microfone, para que, derepente, se a pessoa chamada esteja na rua, devido a falta de espaço, possa escutar seu nome e ser atendida. Este é o ambiente da emergência do Hospital Nossa Senhora da Conceição de Porto Alegre.

Segunda-feira, 25 de maio de 2012, a jovem Graziele Alves, 18 anos, sentindo dores na região lombar, na altura do rim esquerdo, há alguns dias, impelida pela sua mãe, a dona de casa, Márcia Regina Alves, 36 anos, deu entrada na emergência do hospital conceição às 12.20 h. Esperou cerca de quarenta minutos para passar pela triagem, onde, mediu a pressão, a temperatura e os batimentos cardíacos. Retornou à recepção para aguardar o atendimento médico. Meia hora depois a mãe da jovem resolve perguntar a previsão de atendimento para a enfermeira, que responde enfaticamente:

- Apartir das 17 horas.

Passando das 14 horas, mãe e filha, sem almoçar, vão a um restaurante próximo. Almoçam e retornam ao hospital. Em todo tempo a emergência está lotada. Alguns minutos antes do informado, Graziele é atendida pelo doutor. Ele, após examiná-la, solicitou os seguintes exames: raio-x, sangue e urina. A suspeita é que ela esteja com pedra nos rins. Feito os exames a jovem é informada que os resultados ficarão prontos em até seis horas e que terá que marcar uma nova consulta, após os resultados estarem prontos, para receber do médico o diagnóstico e o tratamento adequado. A dor persistia e nenhum medicamento fora lhe aplicado até o momento.

Confirmado que os resultados dos exames estavam prontos, eram 22h, em ponto, uma nova consulta é marcada. Previsão de atendimento: apartir das 3.30h da madrugada. Segundo a enfermeira Grazi(como é chamada pelos colegas), que estava trabalhando na sala de triagem, a emergência estava superlotada e a dos demais hospitais da região também. Informou, inclusive, que a emergência do hospital santa casa de misericórdia estava fechada. O motivo: não haviam mais leitos disponíveis. A enfermeira também informou que a demora no atendimento se dava pelo médico. A triagem trabalhava rapidamente, porém, quando chegava na hora do médico atender, havia demora na chamada.

Passava da meia noite, muitas pessoas entram na recepção para serem atendidas, poucas são chamadas a passarem ao consultório do médico. Algumas pessoas desistem e vão embora. Estão aguardando o atendimento há muito tempo. Pouco a pouco a sala vai ficando vazia, restam apenas vinte pessoas. Por ironia os nomes que estão sendo chamados pelo microfone são somente daqueles que já foram embora. Uma televisão sintonizada na RBSTV, posicionada às costas dos pacientes, transmitia a sessão de gala com o filme brasileiro Sonhos Roubados. Mais uma ironia da noite: milhares de brasileiros vivem diariamente o significado do título desse filme. O sonho de ter um país que proporciona um hospital digno a sua população é roubado por políticos corruptos que estão mais preocupados com a sua conta bancária do que em investir dinheiro público para melhoria dos hospitais do país. O silêncio que está no local é rompido por um senhor que entra amparando a sua esposa e pedido, em alta voz, por socorro. Aparentemente debilitada a senhora é passada pela triagem e de imediato é encaminhada, pela enfermeira Grazi, ao médico. Todos os pacientes começam a conversar sobre o que aquela senhora teria, pois era visível, a qualquer um, que ela estava mal. Abre-se a porta que separa a sala de recepção as salas de atendimento do médico, minutos depois, próximo das 2hs, de forma brutal. Um senhor grisalho, alto e forte, usando óculos reclama com a enfermeira asperamente sobre a necessidade de passar à frente dos demais essa senhora que a pouco havia entrado no hospital. De forma rude falou:

-Você não sabe fazer o seu trabalho, está observando mal os pacientes.

Todos se indignaram com a posição do médico. A senhora era de idade muito avançada e aparentava realmente necessitar de um atendimento urgente. A alma de todos foi lavada com a resposta da enfermeira:

-O senhor não está aqui para escolher pacientes, o senhor está aqui para trabalhar. Disse ela.

Ele sai da recepção e retorna a sua sala. Nesse momento os pacientes desabafam, outros choram. Não agüentam mais! Ouve-se uma mulher que há três dias busca socorro para a filha. Já passou pelo hospital da cidade de canoas/RS, sem sucesso, e agora só vai sair dali depois que a filha seja atendida. Um senhor reclama da demora em atender a mulher que está com infecção no ouvido, passaram das 3hs da manhã e ela, que está ali desde às 21hs, ainda não foi atendida. Às 6.30h ele tem que estar no serviço.

A nossa Jovem Graziele Alves é atendida às 4h e 15 minutos da manhã de terça-feira. Para sua sorte, os exames não mostraram nenhuma alteração. Segundo o médico a dor é muscular e não há pedras nos rins como o médico da manhã achara. Foi medicada com e ao passar pelo corredor, quando saia da sala de medicação, observou algo: o médico estava brincando com sua caneta na mesa, enquanto havia uma dezena de pacientes aguardando atendimento na sala de espera. Esse é o motivo oo porque as consultas com o médico demorarem. Enquanto uma jovem senhora chorava de dor dizendo que queria ser atendida e que não queria morrer longe do filho, que estava em casa, o médico brinca com sua caneta em cima de sua mesa.

Graziele necessitou de, aproximadamente, 15 horas para receber o diagnóstico de sua dor. Quantas horas os demais ainda tiveram que aguardar?

Autoridades informam que 70% dos pacientes poderiam ser atendidos nas unidades básicas de saúde dos seus bairros, mas, ninguém fala que: uma unidade básica não atende emergência. Só vão atender o paciente que amanhecer em uma fila para tirar uma ficha para consultar com um clínico geral. Esquecem-se de perceber que, muitas vezes, o cidadão acorda mal e carece de atendimento imediato, porém, pelo horário, não há mais ficha disponível nos postos. Além do que, não há equipamentos necessários em uma unidade básica de saúde para tirar um raio-x, fazer um exame de sangue. Como o próprio nome diz, é básico, básico demais, para ter um atendimento digno e receber um diagnostico correto.

Para mudarmos a situação das emergências dos grandes hospitais, os nossos governantes terão que investir, e investir pesado, nos postos de saúde.

Jacson Dantas                  

 

 

 

 

 


Autor: Jacson Dantas


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