Minha história



Aquela era mais uma tarde comum, bem, não tão comum levando em conta que eu tentaria o suicídio e que quase conseguira (apenas não morri por ter sido rapidamente socorrido) apenas alguns dias depois. Você pode me falar que apenas idiotas tentam suicídio, porem eu posso lhe garantir, você também já quis morrer, a grande diferencia e que a pessoas com vidas mais propensas a isso do que as outras e as providencias da vida fazem facilitar o que esta por vir. Como diria minha mãe, quando a mente esta vazia o diabo atenta.
Tem alguma relação entre o fim de ano (principalmente o natal) que magoa as pessoas ao ponto de querer desistir de tudo, pessoas como eu que nunca tiveram uma família de verdade, tendem a odiar o natal (acho que não preciso dizer o porque).
Foi no dia 25 de dezembro, depois de toda a formalidade natalina a qual eu não queria estar perto em minha casa, que a coisa se deslocou de vez em minha mente, logo pensando por que não? É por que não? Eu não tinha a minima vontade de ver o novo ano nascer, isso de algum modo já estava fixo, grudado em minha mente com uma super cola. Eu tinha o que precisava para fazer isso sem qualquer dor, seria sem erro que com 3 cartelas de Valium e alguns anti-depressivos eu não teria qualquer problema e isso me deixou quase feliz e triste ao mesmo tempo.
O que aconteceu no dia 25 de dezembro foi que passaria o dia com a família da minha namorada, nunca fiquei tão deslocado. Ali eu entendi o que era 'não fazer parte'. Mas foda se, eu estava com ela e poderia vir qualquer demônio que eu não me importava. No fim das contas, por estar com ela, aquele dia me fez bem, como as tardes fazem bem as pessoas, mas no fim, sempre vem a noite, ela pode ser linda as vezes, mas na maior porte não é.

Irei agora falar um pouco sobre minha família

Nossa relação é de um grande amor, porem muito conturbada, se as coisas não são fáceis pra mim, posso entender que nosso sentimento é mutuo, ela quase nunca esteve do meu lado quando precisei, mas sei que ela queria estar, e por mais que isso me magoe as vezes, aqui estou eu continuando nessa vida.
Tenho que contar um pouco da minha historia e da dela também para ser bem entendido este relato. Ela não teve uma vida fácil, disso sei muito bem, mas sempre foi uma mulher batalhadora, qual começou a trabalhar jovem ainda nos anos 80, morava com sua avó que não era uma pessoa de posses materiais, mas uma pessoa muito amada, não me lembro muito de dona Olga, mas sei que era uma alemoa muito querida e que nos amava, minha mãe era muito bonita e conheceu meu pai com dezesseis anos, engravidou uma primeira vez mas perdeu o bebe e aos seus vinte anos eu nasci, ela era feliz nessa época, meu pai era bom com ela assim me contava e até meus quatro anos tudo ia razoavelmente bem, mas a vida é realmente dura.
1996
O primeira ano realmente ruim.
Como em uma tragedia grega a felicidade se dissipou, com a morte de meu irmão (filho do primeiro casamento de meu pai) que tinha apenas 13 anos na época veio a torrente de lagrimas, todos mudaram um pouco, principalmente meu pai, que sempre se culpou por isso.
Pouco tempo depois
Uma nova tragedia antes do fim do ano, a dor e novamente para nos, minha querida vozinha dona Olga morre de um infarto, segundo o que me contaram foi por que ela não superou a morte de meu irmão. A tristeza nos abala novamente, e agora quem mais chora é minha mãe.
1997
Quando as coisas estão ruins tendem a piorar.
Esta foi realmente minha vez de chorar eu tinha apenas cinco anos, e perdi a terceira pessoa a qual amava, sem nem mesmo entender direito isso. Foi esse ano em que meu pai morreu.
Foi em maio de 1997 já fazia quase um mês que ele tinha me feito uma grande festa de aniversario, foi a festa mais feliz que eu tive, a única que me lembro dessa época.
Sabemos realmente que a vida é dura quando uma criança que acabara de sair das fraudas, que ainda não tinha aprendido a andar de bicicleta sem rodinhas e que queria ser igual ao se pai quando crescesse vê seu pai ser assassinado na esquina de casa, querendo ou não essa é a lembrança mais forte que tenho de minha infância.

Quero falar mais um pouco sobre minha mãe
“Por que eu odeio o jeito que ela me ama”
Depois de tudo, agora era apenas eu e ela, minha mãe quase se matava para conseguir pagar agora um aluguel e as contas de casa sozinha, ela fazia de tudo pra que eu não ter de sofrer mais ainda por toda essa perda, nunca irei dizer que ela não me foi uma boa mãe, pra mim não vai existir outra melhor, o problema em si era o tempo, e eu tive de lidar com ele, tive de aprender a me virar, aprendi principalmente que eu tinha que ajudar de alguma forma, e foi desta maneira que eu fiz.
O principal detalhe para mim, era não atrapalhar mais, e assim eu agia, sempre me virei sozinho, e em nenhum momento eu reclamei, fazendo isso eu sentia que estava facilitando as coisas, então enfrentava sozinho desde fazer minha própria comida até enfrentar os valentões da escola. Ela nunca precisou ir a escola por mim, fazer minhas tarefas, assinar meu caderno, me dar dinheiro por que queria tal brinquedo, ou me fazer dormir. Eu sabia que tinha que ser como gente grande, e mostrar que eu podia fazer era primordial.
O grande problema com tudo isso, foi ter que chorar sozinho por tanto tempo, foi não ter amigos, era não poder contar com mais ninguém.
O meu padrasto
A verdade é que ele era um cara legal, quando o conheci, mas as coisas mudam. Algum tempo depois eu não era quem ele queria chamar de filho como no começo, eu era o cara que tinha que fazer a comida e arrumar a casa enquanto minha mãe trabalhava e ele dormia a manhã inteira. Eu não tinha muito tempo pra brincar até por que se eu não deixa se tudo certinho provavelmente ia apanhar.
Não quero aqui falar muito dessa parte, então deste momento de minha vida apenas falarei de um dia que me marcou.
Foi meu aniversario de sete anos, foi em uma quinta-feira, dia dezoito de março de 1999, foi um dia bem solitário e eu estava triste, mas não lembrava que era meu aniversario, aquele dia meu padrasto tinha brigado comigo, por ter atrasado o almoço (não lembro o motivo do atraso) lembro que quando já era de noite estava esperando minha mãe chegar do trabalho sentado na frente de casa, quando eu a vi, ela estava sorrindo, não era algo muito normal, e isso me deixo feliz, ela estava trazendo uma cesta na mão e quando me deu tinha vários chocolates e um bilhete, que dizia “eu te amo filho, feliz aniversario” e um desenho com baloes. Foi o dia mais feliz dessa parte de minha vida.

Ressumo do resto
Minha mãe acabou se separando dele e fomos viver em outra casa, mas ai eu já tinha quinze anos, trabalhava, fazia um técnico e estudava tudo por conta própria (realmente sempre fiz por mim mesmo).
Aos dezoito anos quase dezenove, tive um cão que amei, e uma cadela também, eram o Jihmy e a LISA, Jihmy era um filhote vira lata (muito manhoso), Lisa era uma rottweiller linda e enorme, os dois morreram em novembro de 2010 o que fez aquele dezembro ficar ainda pior, e com toda a minha tristeza no dia vinte e nove de dezembro de 2010 eu morri.
Fui atendido pelo samu e levado as pressas ao hospital, considerado morto por aproximadamente uma hora voltei, e quando voltei descobri algumas coisas.

Minha namorada realmente era a garota de minha vida.
Minha mãe não estava sempre comigo, mas sempre se importou.
E agora eu ia viver, viver de verdade, pois tinha nascido novamente.

Estou escrevendo isso, pois agora quero viver.

Esta é uma historia real sobre mim, Carlos Alexandre Pio, hoje tenho 20 anos e estou aprendendo a viver, e não quero mais apenas passar a vida.


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