Políticas Públicas Na Educação Infantil



OLIVEIRA, Isaura Fco. de. Estágio e Pesquisa na Docência da Educação Infantil: um caminho possível e necessário.

RESUMO:

O objetivo deste texto é apresentar elementos para uma discussão inicial sobre as políticas publicas para Educação infantil, posterior a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96, vislumbrando o ensino superior como espaço de formação profissional, discute-se a importância do estágio articulado à pesquisa e à docência nos trabalhos pedagógicos desenvolvidos na educação infantil pelos estagiários do curso de licenciatura em pedagogia. Partindo da hipótese de que o estágio nos espaços de educação infantil tem sido compreendido como uma articulação necessária à formação docente, o presente artigo propõe uma reflexão sobre a necessidade e possibilidades de desenvolver trabalhos que articulem pesquisa, estágio e formação docente no cotidiano da educação infantil. A metodologia de pesquisa deu ênfase à abordagem qualitativa por meio do estudo de caso e teve como instrumentos de coleta de dados: a observação participante, a análise documental, a entrevista semi-estruturada e grupo focal. A interligação entre os referenciais teóricos e as descobertas da pesquisa foi aqui desenvolvida em quatro eixos. No primeiro, a pesquisadora buscou retratar os motivos que direcionou a pesquisa, tendo como titulo “o curso de pedagogia e a formação para a docência na educação infantil” que apresenta uma discussão pautada no desconhecimento da atuação do pedagogo frente às necessidades atuais; o segundo eixo, intitulado “o ingresso das licenciandas no curso de Pedagogia”, faz uma reflexão sobre a normatização do curso na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, 9394/96, das Diretrizes Curriculares do Curso de pedagogia, traçando um paralelo com a proposta pedagógica da instituição pesquisada. O terceiro eixo apresenta “o estágio em educação infantil: um desafio que possibilitou muitas reflexões; no quarto eixo pontua-se algumas reflexões sobre a I Mostra de Estágio e Pesquisa na Educação Infantil e por fim apresenta-se a conclusão com algumas considerações. Os resultados da pesquisa, por meio das reflexões aqui destacadas apontam para compreensão de que as atividades de estágio e de pesquisa sobre o cotidiano da educação infantil, desenvolvidas nos cursos de licenciatura em pedagogia, se planejadas coletivamente, primando pelo princípio da ação-reflexão-ação, produzem o conhecimento teórico-prático necessário para qualificar o estudante de pedagogia para atuar da docência em educação infantil, bem como instigar o olhar da pesquisa, imprescindível à formação docente. A relevância do estudo está em sua possibilidade de contribuir para um repensar na proposta de estagio supervisionado, componente curricular obrigatório nos cursos de licenciatura, primando pelo aprender pela pesquisa como afirma Demo (2007) a pesquisa indica a necessidade de a educação ser questionadora, do indivíduo saber pensar, princípio possível de ser construído durante o estágio supervisionado.

PALAVRAS-CHAVE: Formação docente; estágio; pesquisa.

INTRODUÇÃO

O presente estudo tem como enfoque principal refletir sobre o papel do ensino superior, como espaço de formação profissional, tendo como direcionador o estágio na educação infantil, componente curricular obrigatório do curso de licenciatura em Pedagogia, porém dentro de uma perspectiva de pesquisa. A educação infantil, enquanto primeira etapa da educação básica, por seus atenuantes históricos tem sido compreendida de forma obsoleta e deturpada, modo semelhante ao século XIX, onde os requisitos básicos para aquela a docência na educação infantil eram: ser mãe e gostar de criança, como corrobora OLIVEIRA[1], (2007) "[...] do ponto de vista político-pedagógico, a construção da identidade dos profissionais da educação infantil tem sido historicamente marcada por mudanças ocorridas quer na concepção da infância," (. p. 58).

Os estudos e as discussões sobre estágio, pesquisa[2] e docência como atividade teórico-prática, tem se configurado entre as necessidades formadoras no atual cenário educacional. Neste sentido, este trabalho é fruto de um estudo de caso etnográfico que busca sustentar a idéia de que a pesquisa é parte do movimento de produção de conhecimento científico e, nesta dinâmica incluem-se as atividades docentes nas escolas-campo, vivenciadas pelos estagiários do curso de licenciatura em pedagogia com habilitação em docência na educação infantil e nas séries iniciais.

O artigo discute o estágio e a pesquisa na docência da educação infantil como um caminho possível e necessário. Para tanto, dividiremos a discussão em quatro eixos: no primeiro apresentaremos os motivos que direcionou a pesquisa, tendo como titulo "o ingresso das licenciandas no curso de Pedagogia", que apresenta uma discussão pautada no desconhecimento da atuação do pedagogo frente às necessidades atuais; o segundo eixo, intitulado "o curso de pedagogia e a formação para a docência na educação infantil" faz uma reflexão sobre a normatização do curso na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, 9394/96 e das Diretrizes Curriculares do Curso de pedagogia. Busca ainda traçar um paralelo com a proposta pedagógica da instituição pesquisada. No terceiro eixo relataremos "o estágio em educação infantil: um desafio que possibilitou muitas reflexões"; no quarto eixo pontuamos algumas reflexões sobre a I Mostra de Estágio e Pesquisa na Educação Infantil e por fim traçaremos, a título de conclusão, algumas considerações.

Como proposta metodológica utilizou-se a pesquisa etnográfica, do tipo estudo de caso, realizada em uma turma que cursa licenciatura em pedagogia em uma faculdade privada no interior do estado da Bahia. O presente estudo iniciou-se no segundo semestre do ano de 2007, quando as alunas ainda cursavam quarto semestre do curso de Pedagogia e foi concluída em julho de 2008, ao findar o quinto semestre com a I mostra de Estágio Supervisionado.

A relevância do estudo está em sua possibilidade de contribuir para um repensar do educador atuante nas classes de educação infantil, pois [...] hoje, mais do que ontem, sabemos da importância de considerar no trabalho pedagógico da educação infantil o contexto histórico-cultural como processos formativos de crianças e adultos que promovem, outrossim, o desenvolvimento profissional dos professores. (OLIVEIRA. 2007, p.58)

1 O curso de pedagogia e a formação para a docência na educação infantil

As políticas públicas para formação de professores, a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, 9394/96, tem apontado as instituições de ensino superior como responsáveis pela formação profissional dos professores. Partindo deste princípio o curso de pedagogia oferecido pela instituição pesquisada, uma faculdade privada no interior do Estado da Bahia, em sua proposta pedagógica, apresenta a idéia de que a pesquisa possibilita a ação-reflexão-ação, nas atividades teórico - práticas vivenciadas pelos licenciados do curso de licenciatura em pedagogia. A proposta do referido curso, está pautada nas Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Pedagogia[3], que trazem para o cenáriodos cursos de formação de professores em nível superior, a necessidade de criar uma identidade e nacional dos cursos de formação do pedagogo.Nesta dinâmica incluem-se as atividades docentes nas escolas-campo, vivenciadas pelos estagiários dos cursos de licenciaturas em pedagogia, tendo como eixo direcionador o estágio articulado à pesquisa na educação infantil.

O que motivou o presente estudo foi o fato dos alunos desconhecerem a proposta pedagógica do curso de pedagogia bem como se surpreenderem ao descobrirem que o primeiro estágio seria realizado na educação infantil. Assim, buscando compreender o que motivou os alunos, a maior parte deles professores atuantes na educação básica, a cursar pedagogia, nos propomos a elaborar um projeto o que nos possibilitou traçarmos os passos percorridos durante a pesquisa.

O desenvolvimento do presente estudo, portanto, além de revelar dados acerca da formação do licenciando na referida instituição, representa um momento singular de reflexão sobre o nosso próprio exercício profissional, enquanto professores formadores. Partindo do princípio de que é necessário construir o hábito da reflexão crítica no universo do ensino superior, particularmente no entorno da docência, base formadora do curso ora estudado, as atividades de estágios foram pensadas articulando teoria e prática, ação-reflexão-ação. Compreendemos, assim, frente aos pressupostos e configurações delineadas no estudo, acerca da Pesquisa e do Estágio Curricular Supervisionado, que tais disciplinas constituem-se pilares importantes na formação docente, campo político-pedagógico que poderá possibilitar ao futuro professor a construção/reconstrução dos elementos teórico-práticos do cotidiano da docência. Acreditamos, inclusive, que nosso estudo terá repercussões positivas tanto para os alunos, como para nós, professores formadores que atuamos no curso de pedagogia.

Para a análise das experiências vivenciadas, no Estágio I, pelos licenciandos, e pelas licenciandas nas instituições de educação infantil, respeitar-se-á as interfaces da dinâmica de organização da proposta pedagógica do Curso de Pedagogia oferecido pela instituição pesquisada. Esse dado é relevante porque, o presente estudo, reconhece a necessidade de se articular o estágio curricular à pesquisa nos cursos de licenciatura. Para Ludke & André (1986) os elementos práticos vivenciados nos estágios devem subsidiar a produção de conhecimento para o campo educacional.

Alguns autores estudados como Bagno (2005), Biasoli (1999), Fazenda (1992), Freitas (1996), Piconez (2002) dentre outros, não deixam dúvidas sobre a importância da articulação do estágio com a pesquisa sobre a prática pedagógica desenvolvida nas escolas. Respeitando os diferentes pontos de vistas, todos defendem a idéia de que é preciso construir novos modelos de estágios que dêem conta de articular os saberes de professores em serviço e dos estagiários acadêmicos de cursos de licenciatura.

A partir desta perspectiva, o estágio se coloca como eixo articulador entre teoria e prática, já que os elementos da prática são trazidos pelos estágios e reelaborados nos cursos de formação docente, garantindo a produção de conhecimento nas áreas específicas da docência.

Para Piconez (2002, a prática de ensino sob a forma de Estágio Supervisionado é, na verdade, um componente teórico-prático, isto é "possui uma dimensão ideal, teórica, subjetiva, articulada com diferentes posturas educacionais, e uma dimensão real, material, social e prática, própria do contexto da escola brasileira". (p.24),

Neste sentido, é importantedestacar que trazerpara o campo da formação docente reflexões sobre a relevância da pesquisa cientifica como mecanismo de articulação entre ciência da educação, formação de professores e cotidiano escolar, se configura como compromisso político com a produção e a socialização do conhecimento, imprescindível à profissionalização docente.

2 O ingresso das licenciandas e dos licenciandos no curso de Pedagogia

A pesquisa evidenciou que o ingresso das licenciandas e dos licenciandos no curso de Pedagogia não é, em geral, resultado de uma escolha, de uma opção. Esta necessidade foi motivada pela LDB 9394/96 em seu art. 87, § 4. °, das Disposições Transitórias que prevê "até o fim da Década da Educação somente serão admitidos professores habilitados em nível superior ou formados por treinamento em serviço". (BRASIL, 2006).

Durante a pesquisa realizada com alunas e alunos que cursam pedagogia vimos que muitos não tinham lido o referido artigo, mas sabiam afirmar o seu teor, pois já tinham ouvido falar. Ficou visível que muitos viram neste dispositivo um prazo finito para a existência da modalidade Normal em nível médio. Esse entendimento foi o principal fator direcionou os sujeitos pesquisados a ingressar no ensino superior.

As modificações que a Lei provocou foram reforçadas por outros dispositivos legais conforme disposto na Resolução CNE 03/97, que pontua "os professores devem ser incentivados a obter formação em nível superior, principalmente pela especificidade de seu campo de atuação e as exigências impostas pela natureza de sua ação pedagógica. (BRASIL, 1997). Assim, os relatos coletados no grupo focal revelam que o principal motivo do ingresso no curso superior foi atender à legislação que exigia a formação do professor em nível superior até o ano 2007.

O grupo pesquisado é composto por dezenove alunos (dezoito mulheres e um homem) entre vinte e três e quarenta anos. Desse total, cinco trabalham no comércio e os demais atuam na educação em diferentes áreas (secretaria, gestão, docência – das séries iniciais e finais do ensino fundamental e, apenas duas na educação infantil). Durante a pesquisa, vários foram os depoimentos a cerca da não identificação com a docência nos espaços de educação infantil.

"[...] sei da importância da docência, mas não levo jeito com criança. Não gosto. Acho que nem sei por onde começar. Há cinco anos trabalho com matemática de sétima e oitava série. (Acadêmica "D[4]").

"[...] estou no curso errado, sei disso. Mas não tinha outra opção. Nunca fui para uma sala de aula" (Acadêmico "E").

Esses depoimentos ilustram o sentimento da maioria dos sujeitos pesquisados. Do total de dezenove apenas duas alunas que participaram do estudo, tiveram posições diferenciadas para o ingresso no curso.

"o comprometimento social, à vontade de transformar a realidade por meio da educação é que direcionou a escolha do curso"; (acadêmica "A"[5])

A acadêmica B[6] manteve-se coerente durante todo o processo investigativo com a afirmação de que "o ato de educar vai além do domínio de métodos e técnicas, pois há uma necessidade de se compreender a sociedade em que vivemos, e contribuir para superação da exclusão a que a maioria dos educandos brasileiros está submetida, não podemos esquecer que fazemos parte dessa história".

Percebemos nestas falas que existe sim, a compreensão sobre a necessidade da formação, mesmo que representando minoria, as alunas trouxeram reflexões que fomentaram debates positivos no grupo focal.

Para traçarmos o percurso necessário à construção dessa identidade profissional nos propomos a estudar detalhadamente o Projeto Pedagógico[7] da instituição pesquisada comparando-o com as Diretrizes do curso de pedagogia. O curso de pedagogia [...] "destina-se a formar o licenciado em pedagogia para exercer a gestão e docência na educação infantil, nos anos iniciais do ensino fundamental e na organização do trabalho pedagógico da escola da educação básica esta voltado para docências na educação infantil e nas séries iniciais. (P.P.[8] 2006, p. 5)

Essa constatação foi seguida de desabafos como "eu não levo o menor jeito com a educação infantil", "vou trancar minha matrícula", "como vou saber me portar com as crianças, "nem sei se gosto de crianças" e entre debates calorosos percebíamos a necessidade de unir teoria e prática na construção da identidade dos licenciandos que ali se encontravam.

Essas angústias, sentidas por todos os professores formadores do referido curso, motivou inúmeras reuniões com o corpo docente para definirmos estratégias que possibilitassem a construção de uma identidade dentro do referido curso.

A partir de então o curso passou a ter um caráter interdisciplinar, onde os diferentes componentes curriculares, sob a responsabilidade de diferentes professores, passaram contemplar estudos de casos, momentos de observação e reflexão dos espaços de educação infantil, etc. Em outubro de 2006 idealizamos um fórum de discussão sobre a educação infantil, que por diversos motivos acabou por não acontecer.

Em fevereiro de 2008, iniciamos o quinto semestre do curso de pedagogia. Eu, como presidenta do núcleo de estágio e coordenadora de um grupo de estagiários e mais um colega com outra turma nos propusemos a elaborar, com a participação dos alunos, um projeto que contemplasse o estágio enquanto pesquisa. A pesquisa é atribuição da docência conforme advoga, Pimenta "[...] ao investigar o homem transforma a educação e é por ela transformado", (2000, p. 28), pois há a produção do conhecimento e associado aos saberes já existentes promovem mudanças.

Tendo como base a proposta pedagógica do curso onde o estágio supervisionado é um componente curricular do curso de licenciatura em Pedagogia que precisa proporcionar um conhecimento crítico-reflexivo da realidade profissional dos professores no exercício do trabalho pedagógico por meio da base comum que é a docência[9], nos propomos a elaborar, coletivamente, o projeto de estágio como contemplasse a legislação vigente, bem como as necessidades dos graduandos em compreender por meio da pesquisa, as especificidades da docência na educação infantil.

3 O estágio em educação infantil: um desafio

Para a elaboração da proposta de estágio do partimos do princípio de que a formação dos professores não está desassociada do trabalho docente, visto que, a docência se dá através de uma construção coletiva entre professores e alunos, onde os mesmos se inter-relacionam socializando suas construções sociais e coletivas adquiridas no decorrer de suas vidas para consolidação do conhecimento. De acordo com (TARDIF e LESSARD, 2005) a docência é:"uma construção social baseada em inter-relações entre atores que negociam suas funções mútuas dentro de perspectivas múltiplas" (p.50).

Nosso desafio agora consistia em idealizarmos um projeto de estágio que respaldado na proposta pedagógica da instituição, onde

[...] o processo de construção do conhecimento profissional se sustenta num diálogo reflexivo entre os saberes pedagógicos constituídos tanto na interpretação reflexiva da prática pedagógica experienciada nas escolas quanto na interlocução de seus profissionais num exercício profissional que é construído em diferentes situações promovidas pelo curso [...] (Projeto Pedagógico, 2006. p. 6),

possibilitasse essa reflexão e atendesse às necessidades das graduandas e graduandos em vivenciar teoria e prática no estágio de educação infantil de modo a:

·incentivar a busca do aprimoramento profissional e pessoal, complementando saberes, competências e habilidades desenvolvidas no decurso de sua formação acadêmica;

·possibilitar a adequação dos conhecimentos concernentes aos conteúdos curriculares à dinâmica das instituições, nas quais se efetiva o estágio;

·contribuir para a formação de um profissional crítico, reflexivo, que tenha compromisso com a sua aprendizagem e com o aperfeiçoamento contínuo e permanente de sua prática docente.

·transformar o estágio supervisionado num elemento real de contribuição para formação do pedagogo, oportunizando um contato com a prática, efetivando assim o processo de ação-reflexão-ação.

·desenvolver o olhar investigativo, por meio de um estagio fundamentado na pesquisa.

De posse desses objetivos traçamos os caminhos que seriam percorridos, ficando assim definido: a disciplina teria uma carga horária de cento e quarenta e cinco horas distribuídas entre várias atividades: dez horas para orientação e encontros semanais para estudo e aprofundamento teórico; quinze horas para observação diagnóstica; dez horas para elaboração de um projeto de intervenção pedagógica e cem horas para execução do projeto de estágio nas escolas, com carga horária diária de cinco horas/aula em dois dias por semana[10] e cinco horas aulas para orientação e apresentação da mostra de estágio.

Antes de iniciar o estágio propriamente dito o aluno deveria realizar um período de diagnóstico, cujo objetivo era conhecer a escola e os membros de sua comunidade a partir de um processo de investigação e pesquisa, subdividido no que denominamos momentos de aprendizagens, juntos tecerem o diagnóstico sobre a escola campo de pesquisa.

A partir do diagnóstico, as graduandas e graduandos deveriam elaborar um projeto de intervenção que seria desenvolvido durante vinte semanas, com dez horas semanais, totalizando cem horas estipuladas no projeto de estágio.

Como a proposta era de ação-reflexão - ação as graduandas e graduandos foram convidados a elaborar um portfólio[11] onde as informações coletadas subsidiariam a construção do relatório. A importância da escolha desse instrumento pode ser observada quando percebemos que nele foram registradas as ações, discutidos pontos de vista, descritos relatos, reconhecidos espaços e tempos, avaliados procedimentos, produzidos argumentos e considerados os papéis que alunos e estagiários durante todo o processo de estágio.

Por fim, o relatório deveria conter, no mínimo, os pressupostos teóricos que sustentariam a prática docente explicitada, a descrição do ambiente e do público onde o estágio seria desenvolvido, o planejamento das atividades, o relato do desenvolvimento das atividades, a descrição do processo de avaliação e a reflexão sobre prática docente. Além disso, foi combinado que após a conclusão do estágio e construção do relatório, realizaríamos uma mostra de estagio, onde cada estagiário (a) pudesse apresentar, sucintamente, as impressões construídas durante todo o processo.

A intenção da mostra de estágio era oportunizar a comunicação de uma pesquisa acadêmica, bem como demonstrar a cientificidade do processo realizado.

Durante todo esse processo, teríamos encontros semanais, não obrigatórios[12], onde a professora orientadora ficaria á disposição, na instituição, durante as sextas feiras, em horário de aula dos (as) acadêmicos (as), para os atendimentos necessários.Alem dessa disponibilidade, realizaríamos visitas agendadas[13] às escolas como o objetivo de acompanharmos os processos desenvolvidos.

Durante todo esse processo ficou combinado que tanto a professora poderia agendar encontros de orientação com os/as estagiários (as), bem como estas poderiam solicitar esses encontros.

Assim, partimos para a o estágio. Confesso que muitas foram as angustias vivenciadas durante as primeiras semanas. "Professora, tenho mesmo que ficar vinte semanas. Cinco foram suficientes para eu ter certeza de que nunca vou trabalhar na educação infantil".

Com a continuidade do estágio, referendados por muitas leituras, as angústias foram diminuindo e passamos a vivenciar momentos de encantamentos.

4 I Mostra de Estágio e Pesquisa na Educação Infantil

Depois de vinte semanas de estágio que tiveram a duração quatro meses, desenvolvidos durante um semestre letivo chegamos ao momento combinado como I "mostra de estágio".Percebemos que todo o cansaço, das horas de estudos e da realização do estágio, foi substituído pela ansiedade em comunicar os resultados das pesquisas realizadas por meio do projeto de Estágio Supervisionado I em educação infantil.

Este foi um momento impar, tanto para mim quanto para os/as acadêmicos (as), pois todas as demais turmas do curso de Pedagogia participaram desse evento, que para nós não se configurava o fim de um trabalho, mas como relato de muitas aflições, que já desencadearam novas inquietações. Entre elas registramos a seguinte fala:

[...] vale ressaltar que de nada adiantarão essas reflexões se não forem acompanhadas da consciência de nossa limitação e do desejo profundo de construção e reconstrução do próprio fazer pedagógico a partir do questionamento da própria prática, meio único capaz de nos fazer refleti-la para mudá-la, intervindo na realidade, não como tábua de salvação, mas como instrumento de mudança, capaz de pensar a educação como ela deve constituir-se de fato, uma prática de/para a liberdade. (acadêmica "A"),

Na fala da acadêmica "A" percebe-se a angustia das limitações em teorizar uma prática a partir dos conhecimentos construídos, porem a compreensão da importância em tematizar a própria pratica

Outra estagiária, afirmou que,

Apesar de já ter passado pelo diagnóstico e já possuir um conhecimento prévio da turma e da realidade em que estava inserida, o primeiro dia de aplicação do projeto, assim como os dias que o antecedeu, foram marcados de inúmeras expectativas e de um grande receio de que a teoria discutida no espaço acadêmico e que ora nos era apresentada como via de mudança e transformação, fosse burlada pela realidade e fragmentasse a relação dialógica entre teoria e prática. (Acadêmica "C")

Essa necessidade de unir teoria e prática e de dar conta do desafio proposto estava presente em todas as falas.

Não foram poucas as angústias nos momentos que antecederam o estágio, havia a sensação de ineficácia nas informações obtidas durante o estudo das disciplinas no espaço acadêmico, o receio de que não se traduzisse na prática a teoria estudada, o medo de não encontrar respostas para os problemas que certamente surgiriam no decorrer do estágio, porém estávamos diante de uma realidade inquestionável e da qual não podíamos fugir: Precisávamos passar pelo estágio e realizá-lo com empenho deveria ser a máxima de nossa ação e intenção. (Estagiária "D") [14]

Diante dos depoimentosdestacados foi possível averiguar que a proposta de estágio foi desenvolvida com compromisso e seriedade por todos os envolvidos no processo. Assim, ficou evidente que a pesquisa no cotidiano escolar, compreendendo a prática aliada à teoria, seja um processo incorporado pelo estágio e que os conhecimentos daí produzidos se transformem em produtos/processo do cotidiano escolar. Isso significa compreender a pesquisa como produtora do conhecimento, objetivo das atuais políticas públicas de formação de professores, onde escola e instituição de ensino superior possam unir-se em busca da melhoria da qualidade do ensino, principalmente na educação infantil.

Porém, para que o estágio permitisse alcançar esta amplitude foram necessários muitos estudos e debates, como advoga Vasconcelos (2007), "o professor é também um pesquisador. [...] ora, como sabemos, os desafios do cotidiano escolar são graves por demais; portanto para enfrentá-los com competência, o educador precisa estar sempre estudando, lendo, buscando. (p.123).

Ao concluir a experiência de pesquisa na educação infantil, busco acender a chama da esperança numa educação diferente da que ora contemplamos, certa de que tenho um papel importante nessa transformação. É bem verdade que anunciar transformação para a educação pode por hora parecer muito utópico, mas quem foi que disse que nós não podemos construir uma nova história para a educação. (Estagiária "A").

Ao se chegar ao final deste trabalho, não temos a certeza se podemos afirmar que conseguimos despertar em todas os/as estagiários (os) o gosto e a busca pelo conhecimento por meio da pesquisa, mas temos a certeza de que o estágio nos possibilitou conhecer melhor a educação infantil e compreender quem é a criança. Por fim, sabemos que esta pesquisa nos proporcionou muitas respostas, mas também muitas inquietações.

conclusões e considerações

Empreender uma proposta ousada, porém necessária, que é possibilitar ao ensino superior, atuar como espaço de formação profissional, tendo a pesquisa como articuladora do estágio aliado à docência nos trabalhos pedagógicos desenvolvidos na educação infantil pelos estagiários do curso de licenciatura em pedagogia, tornou-se para nós um campo extremamente rico em conhecimentos.

Por meio das falas registradas das estagiárias, bem como da análise dos relatórios e portfólios, foi possível constatar que a realização do Estágio I em Educação Infantil, para as/os graduandos (as) do curso de Pedagogia da instituição pesquisada, a princípio se caracterizou por uma ação árdua, angustiante uma vez que as preocupações centrais, manifestadas pelos acadêmicos, concentravam-se no cumprimento da carga horária exigida, bem como na necessidade de dar conta de outros componentes curriculares em andamento. Porém, com o desenrolar do estágio foi possível perceber uma mudança significativa na postura dos/as estagiários/as, pois a possibilidade da pesquisa, o tempo destinado para a aplicação, tornou-se para muitos, momentos impares na construção de sua identidade docente.

Dessa experiência ficou a certeza de construir a práxis não é e nunca será um empreendimento fácil, todavia o professor precisa considerar que prática pela prática não possui significado preciso, se essa não for atrelada à visão crítica de sua ação, ação que deve constituir-se pouco a pouco em práxis, rompendo o risco da fragmentação da dialética entre ação e reflexão. Esse foi o desafio proposto às estagiarias e a nós professores formadores.

Estudar a prática é um meio de pensá-la sob a ótica da mudança, abrindo caminhos para um trabalho de permanente transformação, considerando a formação como um processo contínuo e inacabado.

Assim, as experiências vividas ao longo dos meses de estudo e aqui relatadas e teorizadas são, no âmago de sua essência, experiências ímpares na construção da práxis daquele que almejando o caminho da docência, busca aprimorar-se no estudo da realidade que o cerca, conhecendo as nuanças da educação infantil de modo a partir do conhecimento do ser 'criança', criança que não deve ser vista como mais um sujeito, mas como peça-chave no processo em que o licenciando em pedagogia busca construir sua própria identidade como professor da educação infantil.

A busca por vivenciar, estudar e teorizar a própria prática concede ao licenciando alargar o seu olhar de pesquisador, tomar o objeto de trabalho como instrumento de pesquisa, transformando o espaço escolar e, especificamente a sala de aula, como um laboratório vivo e real

Nesse sentido, a compreensão que se consolida, a partir das constatações do estudo, é que a formação inicial docente e o ato de ensinar, precisam ser desenvolvidos, alicerçando a ação docente formadora em aspectos que caracterizam o pensamento prático reflexivo: conhecimento na ação (saber fazer sabendo, explicando o que faz); reflexão na ação (pensar no que faz na medida em que atua); reflexão sobre a ação e sobre a reflexão na ação (reflexão posterior à ação), a exemplo do que recomenda Schön (2000).

Assim, apontamos nossas conclusões, sem, contudo, afirmar que chegamos ao fim, pois, nesse estudo, foi possível vivenciar a realidade da pesquisa e que esta ratificou um tema muito discutido em nossas aulas: a educação como Ciência e o professor como pesquisador. Mas estamos apenas no início. Não encerramos aqui as nossas reflexões e nossa luta, pois é preciso definir novos caminhos e realizar reflexões que se somam e se desvendam, através da investigação da realidade, na busca de maiores dados sobre o que está acontecendo na prática formativa do professor para possibilitar outras reflexões, outros questionamentos que orientem novos estudos sobre a formação do professor e a profissionalização docente.

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Autor: Isaura Oliveira


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