A mediação didática na história das pedagogias brasileiras



D’ÀVILA, C. A Mediação Didática na História das Pedagogias Brasileiras. Revista da FAEEBA- Educação e Contemporaneidade. Salvador 2005.

 

RESUMO

 

A MEDIAÇÃO DIDÁTICA NA HISTÓRIA DAS PEDAGOGIAS BRASILEIRAS

 

            O texto de Cristina d’Avila fala sobre as tendências pedagógicas, enfatizando o tipo de mediação didática mais marcante, buscando uma síntese das tendências apresentadas e uma possibilidade superadora mais criativa e construtiva.

Analisando as articulações com um olhar integrado ao que vivemos e ao processo educacional brasileiro, a autora parte de estudos teóricos mais significativos em nosso país, a pedagogia tradicional jesuítica, primordial no Brasil como modelo formal de ensino e propulsor de outras teorias pedagógicas.

Representando um importante eixo na compreensão deste processo, a pedagogia da Escola Nova, influenciou significativamente os ramos da educação nacional na mediação didática entre o docente e o educando na qual o professor deixa de ser o detentor absoluto do saber e passa a ser um orientador da aprendizagem.

Também nesse mesmo contexto histórico da educação no Brasil, a tecnopedagogia está inserida num momento de silêncio político em pleno regime militar, ao viabilizar uma possibilidade de luta e transformação contra o que se estabelecia como poder naquele momento através de Paulo Freire, que pretendia colocar em prática o seu sonho pedagógico fora do país, por força do exílio. Almejando ser um mediador político que em consideração o meio social de cada educando, buscou a elaboração de um pensamento crítico de conscientização política necessária à transformação social.

Emerge então em oposição à teoria tradicional, Escola Nova e ao ideário Freireano a pedagogia histórico crítica de Anísio Teixeira, na qual o professor é responsável por uma mediação de natureza sociopolítica com objetivo de transmitir conteúdos de caráter universal na tentativa de encabeçar as lutas pela transformação das estruturas sociais do país.

 No momento em que os olhares se voltam à aprendizagem significativa do conhecimento e a capacidade de construção e reconstrução de saberes do educando, percebemos a teoria construtivista e socioconstrutivista como mediação didática voltada para a compreensão dos processos de aprendizagem e desenvolvimento cognitivo. Nessa pedagogia o professor é um mediador de saberes que faz com que o aluno reconstrua e dê um novo significado, de acordo com seu conhecimento internalizado. A metodologia nesse caso não se resume a transmissão do conhecimento elaborado, mas às possibilidades de reelaboração por parte dos alunos que colocarão sua significação pessoal.

A pedagogia da companhia de Jesus era de caráter tradicionalista e clássico com formação exclusivamente literária, baseadas nas humanidades clássicas. Os alunos eram direcionados ao aprendizado do latim e do grego. A fixação era facilitada com exercícios de memorização. Com métodos avaliativos restritos a exames, com objetivos baseados na capacidade de análise dos estudantes o qual ia além da memorização incentivando a capacidade criadora dos alunos, embora com conteúdos cheios de ideologia cristã, mas com espaço para que o espírito analítico fosse exercitado. A mediação didática do mestre que não se resumia a transmissão de conhecimentos era um ponto de partida, a aula iniciava com uma explicação do que o aluno deveria estudar e a função do professor era mais a de ajudar a análise do que favorecer o acúmulo de conhecimento.

Segundo a autora, a mediação docente na pedagogia da Escola Nova, a qual foi idealizada por Anísio Teixeira a partir das influências que recebeu especialmente de John Dewey (1859 – 1952), pedagogo norte – americano. Tem no professor um parceiro de jornada. Essa pedagogia posicionou- se de forma contrária aos métodos da escola tradicional, almejando um espaço pedagógico construído pelos alunos, promovendo o saber prático através da experimentação e se apoiando nas atividades comuns com a participação deles, e com o objetivo de despertar, total interesse pelo aprendizado, firmando um elo estreito com as necessidades cotidianas da criança, refletindo a vida em comunidade e aproveitando as situações para despertar o sentimento de cooperação mútua e as relações interpessoais. Respeitando sua personalidade, liberdade, capacidade de ação e esforço individual, no qual o papel e a mediação do professor são exercidos mediante orientação das atividades didáticas e não de imposição de conteúdos abstratos.

A probabilidade tecnológica na educação brasileira surgiu na década de 1960, como uma alternativa para a educação popular, a qual deveria garantir um produto que atendesse às necessidades do modelo econômico e político vigentes: a ideologia empresarial, que lhe deu origem.

 A tecnopedagogia está mais voltada ao mercado de trabalho, diminui-se a importância das relações interpessoais e mantêm-se o individualismo não desenvolvendo a afetividade. A mediação é feita pelos recursos tecnológicos, dentre os quais os manuais didáticos, fragmentados em instruções. O professor dá apenas um suporte didático, ele não é um mediador, e sim um executor que vai a escola apenas para apresentar o que está nos formulários.

A mediação docente na pedagogia de Paulo freire, revolucionou práticas educacionais em várias partes do mundo. Essa pedagogia defendia uma posição mediadora, desenvolvendo no aluno suas capacidades de raciocínio e prática fazendo com que o homem reflita sobre si mesmo, seu tempo e seu papel na cultura. Rejeita a tecnopedagogia e contribui com a interação social, mediação docente, diálogo e desenvolve a afetividade.

O maior objetivo da metodologia de Freire residia na conscientização política. O elemento forte da mediação didática não era a transmissão de conteúdos abstratos, mas o saber que dela resultava, a partir de metodologias ativas da comunidade alfabetizada.

A mediação docente na pedagogia Histórico – crítica surge no Brasil num momento em que todos almejavam viver numa sociedade livre e justa. Conseguiu articular uma contra-ideologia que, no caso dos brasileiros, serviu de argumento e estímulos contrários à ditadura militar. Quanto ao professor, seu papel era de mediador político, de uma pedagogia revolucionária, estava reservada a tarefa de munir os alunos de classes desfavorecidas, das mesmas armas que possuía a classe burguesa para avançar nas lutas sociais por transformações. Trabalhando a consciência política e aguçando no aluno seu senso crítico, a reflexão sobre o momento em que ele vivia, incentivando–o a ir à busca de uma nova realidade.

Após o período do regime militar, percebeu-se a necessidade de um seguimento pedagógico que pudesse abranger a compreensão do ato de aprender e ensinar, bem como apropriar-se de modos de mediação pedagógicas mais instigantes e prazerosos. O conteúdo não era à base de tudo, o professor também seria o mediador, desenvolvendo todas as atividades junto ao aluno numa aprendizagem autônoma na qual o aluno como ser social é levado a interagir com colegas e professor que, assumindo o seu papel, mostra o caminho, fazendo o aluno desenvolver-se de acordo com sua bagagem.

A mediação didática docente no construtivismo pedagógico vem absorver um pouco de todas as outras escolas. A experiência da escola Nova; O aparato tecnológico da tecnopedagogia; Os textos, os questionamentos, a consciência política Freireano; O desenvolvimento do trabalho de forma eficiente, a função social, a busca por conhecer o aluno da pedagogia histórico-crítica.

O construtivismo veio abarcar tudo isso num processo compartilhado no momento em que recebe do professor a ajuda necessária para poder mostrar-se de forma progressiva, competente na resolução de tarefas, na utilização de conceitos, na prática de determinadas atitudes num processo construtivo que surge das necessidades mais relevantes dos educandos como seres humanos aprendizes e cidadãos que são.


Autor: Maria Arabela Sampaio Campos


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